quarta-feira, 10 de setembro de 2008

II – “Liberdade Religiosa”: Razões que levaram o Papa a fazer o Baptismo


A propósito da conversão ao Catolicismo do jornalista Magdi Allam, o Pe. Federico Lombardi S.I., director da Sala de Imprensa da Santa Sé, esclareceu que “para a Igreja Católica toda a pessoa que recebe o Baptismo, após uma profunda busca pessoal, uma decisão plenamente livre e uma adequada preparação, tem o direito de o receber”.
O porta-voz do Vaticano acrescentou que o Santo Padre administrou o Baptismo no decorrer da Liturgia Pascal aos catecúmenos que lhe foram apresentados, sem fazer acepção de pessoas, ou seja, considerando a todos igualmente importantes diante do amor de Deus e bem-vindos à comunidade da Igreja.
Numa carta escrita recentemente no “Il Corriere della Sera”, Allam, que como baptizado recebeu o nome de “Cristiano”, explica que na sua conversão desempenharam um papel decisivo os testemunhos de católicos que, pouco a pouco, se converteram em pontos de referência no âmbito da certeza da verdade e da solidez dos valores.
Entre eles, cita o presidente do movimento eclesial Comunhão e Libertação, Pe. Julián Carrón; o reitor-mor dos Salesianos, Pe. Pascual Chávez Villanueva; o Cardeal Tarcísio Bertone, secretário do Estado do Vaticano; e o Bispo Rino Fisichella, Reitor da Pontifícia Universidade Lateranense, que o acompanhou pessoalmente no caminho espiritual de aceitação da fé cristã.
Mas reconhece que, talvez, o papel mais decisivo tenha sido desempenhado por Bento XVI, “a quem admirou e defendeu como muçulmano pela sua mestria para criar o laço indissolúvel entre fé e razão, como fundamento da autêntica religião e da civilização humana, ao qual aderiu plenamente como cristão para “inspirar-me com nova luz no cumprimento da missão que Deus me reservou”.


“Para mim é o dia mais belo da minha vida”, reconhece. “O milagre da Ressurreição de Cristo reflectiu-se na minha alma, libertando-a das trevas de um discurso religioso em que o ódio e a intolerância em relação ao diferente, condenado acriticamente como inimigo, prevalecem sobre o amor e o respeito ao próximo que é sempre e, em qualquer circunstância, pessoa”.


Ao terminar, Cristiano Allam voltou a pedir um respeito recíproco no que se refere à liberdade religiosa, dizendo que em Itália há milhares de convertidos ao islamismo que vivem serenamente a sua fé. Todavia, também há milhares de convertidos ao cristianismo, que se sentem obrigados a ocultar a sua nova fé, com medo de serem assassinados pelos extremistas islâmicos, que se infiltram entre eles.

Maria Helena Henriques Marques
Professora do Ensino Secundário

segunda-feira, 8 de setembro de 2008

I – “Liberdade Religiosa” – a conversão de um muçulmano



A liberdade religiosa é um direito fundamental da pessoa humana, ínsito na sua dignidade, pois o ser humano foi criado à imagem e semelhança de Deus.
Desde sempre a Igreja Católica defendeu o direito à liberdade de consciência, de culto e de escolha da própria religião. (“Dignitatis Humanae”).
Uma nota da Congregação para a Doutrina da Fé, de 14 de Dezembro, recorda que a evangelização não está ultrapassada, mas sim que mantém o que é essencial da fé cristã, como há dois mil anos, na sua plena actualidade. A nota sublinha ainda que o Evangelho mostra como é Cristo quem chama todos os homens à conversão e à Fé, e quem confiou à Igreja a missão de chegar a todas as pessoas de todas épocas.
Todos têm direito de ouvir a “boa nova”; compete aos cristãos o dever de evangelizar que significa não apenas “ensinar uma doutrina”, mas também dar a conhecer o Senhor Jesus com a palavra e com as obras.
“A palavra e o testemunho vão em uníssono”, afirma-se mais adiante.
A conversão exige a fé; esta por sua vez, exige a adesão ao Evangelho: “Convertei-vos e crede no Evangelho” (Mc 1, 15).
Toda a conversão se inicia a partir de um chamamento de Deus, para que nos aproximemos mais d’Ele e cumpramos melhor os Seus Preceitos e Mandamentos. Para seguir a conversão, é preciso deixar o que não é compatível com a Fé e com os planos de Deus, e abraçar essa vida nova que Ele chama um “tesouro” ou uma “pérola” (cf. Mt 13, 44-46). Pensemos por exemplo, no amor à verdade, na prática da humildade, na caridade que se deve ter para com o próximo... Tudo isso é a “pérola” que encontramos no ensinamento de Cristo.
O jornalista, Magdi Allam, reconhece que foi decisivo para a sua conversão, o exemplo de Bento XVI.
Assim, no dia 22 de Março de 2008, durante a Vigília da Páscoa, cinco mulheres e dois homens de diferentes países, entre eles este jornalista de origem egípcia, Magdi Allam, convertido do Islão, foram baptizados pelo Papa, Bento XVI.
Na sua Homilia, o Papa dirigindo-se a todo o baptizado, disse: “Sempre de novo nos devemos tornar `convertidos`, com toda a vida voltada para o Senhor. E sempre de novo devemos deixar que o nosso coração seja subtraído à força da gravidade, que puxa para baixo, e levantá-lo interiormente para o alto: para a verdade e o amor”.
Como é tradição, nesta noite o Papa administrou, além do Baptismo, os outros dois sacramentos da iniciação cristã (Confirmação e Comunhão) a estes adultos, de diferentes nacionalidades e condição, que realizaram o necessário caminho de preparação espiritual e catequética que, na tradição cristã, se chama “catecumenato”.
As sete pessoas que receberam o baptismo eram originárias da Itália, Camarões, China, Estados Unidos e Peru.
Magdi Allam, de 55 anos de idade, subdirector do “Il Corriere della Sera”, jornal de maior tiragem na Itália, que vive no país há 35 anos, tem recebido protecção policial há já 5 anos pelas ameaças recebidas por causa das suas críticas ao islamismo radical violento.
Maria Helena Henriques Marques
Professora do Ensino Secundário

Famílias Felizes - preservar o afecto e a alegria



Embora sabendo que nenhuma família é um recôndito de paz as 24 horas do dia, existem algumas formas para se conseguir preservar o afecto, a alegria e a satisfação nas relações mais intensas e ao mesmo tempo mais difíceis, mas também gratificantes e enriquecedoras que mantemos na nossa relação com os outros, designadamente as que temos com nossos parentes mais próximos.
Na família convém não haver "vencedores ou vencidos", porque, segundo um velho provérbio, "a melhor vitória é aquela na qual ganham todos". A "chave mágica" para consegui-la tem três pilares: harmonia, equilíbrio e comunicação.


1- Trate seus parentes como amigos.
Evite reservar sua parte mais sombria - queixas, cansaço, impaciência, maus momentos - para os que mais ama.
As relações familiares, assim como as existentes entre amigos, devem ser cultivadas e regadas com respeito, tolerância, demonstrações de afecto e alegria compartilhada. No início parece sempre um pouco difícil dizer o quanto se gosta de alguém, com palavras ou por meio de pequenos gestos.



2- Desligue a televisão enquanto come
A televisão desempenha uma atracção quase hipnótica que em algumas ocasiões faz com que a vejamos como marionetes, sem nos importar com a programação.
A menos que se trate de um programa interessante, é importante apagá-la e aproveitar esses momentos para brincar com seus filhos e o marido/esposa e mostrar ainda mais envolvimento na vida familiar.
Não é melhor aproveitar quando todos estão à mesa para falar e compartilhar experiências ou sobre o que aconteceu ao longo do dia, em vez de todos assistirem à televisão como marionetes?



3- Preveja os momentos de irritação e mantenha a calma
Em vez de se deixar levar pela ira, pelo ego ferido ou outras justificativas mesquinhas, que o/a afastam da real importância de um determinado assunto, procure manter-se centrado na solução, com serenidade e firmeza.
Se percebe que está a ser levado pela impulsividade, respire fundo e volte a buscar soluções e saídas, em vez de ficar obcecado pelo problema.
Discutir "em família" as diferentes opções para se sair do atoleiro, é um exercício que dá resultados surpreendentes.



4- Peça perdão e tente compreender
Em todas as relações próximas e contínuas é fácil "ferir o outro", sem que depois desculpas ou pedidos de perdão bastem. É preciso colocar-se no lugar do outro para o compreender.



5- Alguns erros que todos devem evitar




  • Recorrer a agressões ou ameaças,


  • revirar o passado,


  • fazer promessas que não podem ser cumpridas,


  • tentar solucionar a vida dos demais,


  • falar em vez de ouvir,


  • dizer as coisas por meio de terceiros,


  • punir alguém por dizer a verdade,


  • querer ter sempre a razão.

Se evitar esses comportamentos e atitudes, sua vida familiar começará a funcionar com menos conflitos e atritos.


Adaptação de: Reportagens de Maria de Jesus Ribas
Publicado no Portal da Família em 01/09/2008

sexta-feira, 18 de abril de 2008

A urgência de um “Novo Feminismo”

Realizou-se em Roma, de 7 a 9 de Fevereiro, um Congresso Internacional sobre a mulher: “Mulher e Homem, a totalidade do humano”, para celebrar os vinte anos da carta apostólica do Papa João Paulo II, “Mulieris Dignitatem” (1988-2008).

Nesta exortação apostólica, João Paulo II defende um feminismo cristão que não é de ontem nem de hoje. Remonta ao tempo da Criação. “Deus criou o homem à sua imagem; criou-o à imagem de Deus: criou-os homem e mulher” (Gén. 1,27).


Possuem igual dignidade diante de Deus. Rege-os uma lei universal, gravada no coração- a lei natural- intrínseca, que é e será sempre, um desafio a toda a lei positiva. Lei positiva que, para ser humana, deve dinamizar a existência do homem em dignidade, não podendo desconhecer, nem contradizer, essa lei fundamental impressa no mais íntimo do ser humano: homem e mulher.

Foram criados em perfeita igualdade enquanto pessoas humanas, no seu respectivo ser de homem e de mulher (Cat. da Igr. Cat.). A mulher possui, com o mesmo título que o homem e no mesmo grau, a natureza de ser racional e livre. A um e a outro Deus atribuiu a missão de submeter a terra (Gén.1,28) e de trabalhar (Gén. 2,15). Deus quis a criatura humana, por si mesma, de onde deriva a dignidade da mulher e do homem, seres que têm relações pessoais com Deus (Gén. 3, 9-10).

Abstraindo-nos do relato da criação, vemo-nos na impossibilidade de penetrar o profundo sentido da personalidade da mulher, da sua feminilidade e do papel insubstituível que é chamada a desempenhar na vida da humanidade.


A vocação da mulher não é uma vocação para a dependência; é-o para a alteridade, a complementaridade, na igualdade da natureza. A pessoa-homem e a pessoa-mulher, não podem realizar-se senão por um dom desinteressado de si porque, ser pessoa, significa tender à própria realização, explica João Paulo II.

Tornar-se um dom, diz respeito a todo o ser humano, seja homem, seja mulher, que o realizam na peculiaridade própria de cada um (MD, 7), “não sendo certamente os recursos pessoais da feminilidade menores que os recursos da masculinidade, mas diversos” (MD, 10).

Um sã exaltação do papel da mulher leva a reconhecer que ela é chamada a levar à família, à sociedade civil, à Igreja, alguma coisa de característico, que lhe é próprio e que só ela pode dar: a sua delicada ternura, a sua generosidade incansável, o seu amor ao concreto, a sua agudeza de engenho, a sua capacidade de intuição, a sua piedade profunda e simples, a sua tenacidade...A feminilidade não é autêntica se não reconhece a formosura dessa contribuição insubstituível e não a incorpora na própria vida (Temas actuais do cristianismo).

O desafio que se espera do verdadeiro feminismo é tornar a mulher verdadeiramente feliz, colocando-a no lugar que por direito divino lhe pertence: Mulher, Esposa e Mãe!

Na audiência concedida aos congressistas, na sua maior parte mulheres, o Papa Bento XVI reconheceu “persistir ainda uma mentalidade machista, que ignora a novidade do cristianismo, novidade que reconhece e proclama a igual dignidade e responsabilidade da mulher em relação ao homem”.

O Papa continuou, referindo que há lugares e culturas nos quais a mulher é discriminada e menosprezada só pelo facto de ser mulher, fazendo dela objecto de maus-tratos ou de abusos na publicidade e na indústria do consumo e da diversão.

Mais adiante salientou que “perante correntes culturais e políticas que tentam eliminar, ou pelo menos ofuscar e confundir, as diferenças sexuais inscritas na natureza humana, considerando-as como uma construção cultural, é necessário recordar o desígnio de Deus que criou o ser humano homem e mulher, com uma unidade e ao mesmo tempo uma diferença originária e complementar”.

Neste contexto, o Papa reivindicou o direito dos filhos de “poderem contar com um pai e uma mãe para que cuidem deles e os acompanhem no seu crescimento. O Estado, pela sua parte, deve apoiar com políticas sociais adequadas tudo o que promove a estabilidade e a unidade do matrimónio, a dignidade e a responsabilidade dos cônjuges, no seu direito primordial insubstituível, como educadores dos filhos”. Por fim, exigir que se permita à mulher colaborar na construção da sociedade, valorizando o seu típico “génio feminino”.

O Cardeal Canizares, na sua intervenção, alertou os participantes do Congresso para o poder destruidor da ideologia do género, referindo tratar-se de uma “revolução cultural em todos os âmbitos”, mais insidiosa e destruidora do que se possa pensar... Continuou, salientando que “Mulieris dignitatem” é mais actual do que nunca porque, nesta carta, João Paulo II expressa “a verdade do homem, que é homem e mulher, e indica os seus princípios antropológicos”.

Recordou que na ideologia do género, a sexualidade não se aceita “propriamente como constitutiva do homem” – mas “o ser humano seria o resultado do desejo de escolha”, de maneira que, “seja qual for o seu sexo físico” a pessoa – seja mulher ou homem –“poderia escolher o seu género” e modificar a sua opção, (antinatural! ) quando quiser: homossexualidade, heterossexualidade, e outras coisas igualmente aberrantes... Adverte que a mudança cultural e social que o fenómeno origina, é de grande alcance, uma vez que para esta ideologia não existe natureza, não existe a verdade do homem...

Nesta pseudo revolução cultural, “o nexo indivíduo-família – sociedade perde-se e a pessoa reduz-se a indivíduo”, ao mesmo tempo que se questiona a família e a sua verdade – o matrimónio entre um homem e uma mulher aberto à vida- e toda a sociedade.

Afirma que “Mulieris dignitatem” sublinha com veemência que homem e mulher “são criados como pessoas à imagem de “Deus – Amor”, para viverem em comunhão”; daí a sua reciprocidade e que a pessoa esteja chamada também a existir para os demais, convertendo-se em um dom.

A consequência é de extrema importância, porque assim, na família, “os filhos encontram-se no solo de uma realidade sólida e percebem que viver é uma possibilidade gozosa e uma graça – aponta; não uma desgraça ou um azarado destino”.

De acordo com a agência de notícias católica Ecclésia, o Cardeal Stanislau Rylko pediu que os leigos católicos empenhados na política promovam leis justas, que respeitem a dignidade e a vocação da mulher, em plena coerência com o magistério eclesial. Alertou para a urgência em denunciar qualquer abuso, injustiça e marginalização das mulheres, em diversos contextos sociais e culturais, assim como os riscos dos novos paradigmas culturais, como o do “género”.

Considerou ser urgente a promoção de um “Novo Feminismo” que reconheça o “génio feminino” e trabalhe pela superação da discriminação, já que todos os dias se assiste a um rápida e profunda transformação dos modelos da identidade feminina e masculina, e da relação entre sexos.

O Cardeal polaco apontou também o dedo a duas tendências dominantes: o “feminismo radical”, que pretende defender a identidade feminina fazendo da mulher a antagonista do homem, e a “ideologia de género” que pretende suprimir a diversidade sexual.

Sublinhou ainda o ensinamento de João Paulo II: “feminilidade e masculinidade complementares entre si, não apenas desde o ponto de vista físico e psíquico, mas ontológico”; graças à dualidade do masculino e do feminino o ser humano realiza-se plenamente.

Recordou também que foi o próprio João Paulo II que convidou os leigos “a tornar -se promotores de um novo feminismo”, que supõe reconhecer e expressar o verdadeiro “génio feminino” em todas as manifestações da convivência civil, trabalhando pela superação de toda a forma de exploração, reconhecendo que ser mulher é uma autêntica, sublime e insubstituível missão.



Maria Helena Henriques Marques
Professora do Ensino Secundário

Ser e Parecer



Começo por contar uma pequena história.
Um dia, um jovem professor contratado, de brinco na orelha e “piercing” no sobrolho, foi substituir uma colega do 1º ciclo numa aldeia. Os pais das crianças, quando o viram, tiveram uma imediata reacção de desconfiança, aliás apercebida pelo professor que se apressou a falar com eles para lhes transmitir serenidade e confiança.

Os psicólogos sociais demonstraram, por exemplo, que a imagem do conferencista é o factor mais importante para o êxito de uma conferência, estando acima do próprio conteúdo e do tom de voz.

É que a aparência, sem ser o mais importante, conta.

Inconscientemente, quando não conhecemos alguém, fazemos um juízo dessa pessoa, rapidamente, em poucos segundos – como um flash fotográfico – baseando-nos nessa aparência.

Os fins do vestuário podem-se resumir a três: o 1º é o de servir de protecção ao frio, ao calor, etc. O 2º é o de resguardar a intimidade. O 3º pode referir-se como sendo de adorno, já que pode, de algum modo, contribuir para elevar a dignidade humana.

Uma boa peça de vestuário consegue os três fins ao mesmo tempo. Um bom estilista não precisa de se servir do sexo para chamar a atenção. Se numa moda o que se observa primeiro é o sexo, estamos perante um modelo escasso de ideias e originalidade.

A moda hoje é suficientemente versátil para que cada qual – sobretudo a mulher, eternamente atraída pela beleza – saiba encontrar, na panóplia de cortes, padrões, materiais, cores, acessórios, o seu estilo próprio.

Ser elegante mais do que usar o que está “in fashion” é saber tirar o melhor partido do que a natureza nos concedeu.

“Diz-me como te vestes, dir-te-ei quem és”. O modo como cada qual se apresenta, tem muito a ver com a interioridade da pessoa, embora haja excepções à regra.

Uma “Maria mal pronta” demonstra pouca cortesia, provavelmente, falta de diligência ou reflexão. Noutro extremo, as “fashion victims” demonstram falta de espírito crítico, por vezes futilidade e escassa intimidade.

Actualmente a mulher e sobretudo, na estação quente que se aproxima, necessita de ideias muito claras e uma forte personalidade para não se deixar arrastar pelo ambiente.

Uma mulher, esclarecida, sabe ser e parecer aquilo que é.


Rosa Lopes

As Mães - II


Mãos de fada, essas da nossa Mãe!

Vejo-a na cozinha a preparar coisas boas, também aí aproveitando frequentemente outras tantas coisas boas restantes de outras refeições. Ai aqueles croquetes de puré de batata com picado de carne! Ai os "ninhos de andorinha", para dar saída ao pão duro! Ai os sonhos de bacalhau, espremidos pelo bico, em forma de estrela, de um saco de pano! Ai os pastelinhos folhados, com a massa tendida pela Mãe sobre a mesa da cozinha, com dobras e voltas certas, segundo um rigorosíssimo critério!

Certo dia, frequentava eu o 5.° e último ano da Faculdade, o saudoso Professor de Ontologia Doutor Júlio Fragata, após um exame oral de cerca de três horas e já em tempo de conversa informal, pediu-me que lhe falasse dos meus Pais. Creio ter sido sua intenção observar traços de hereditariedade porventura visíveis na minha maneira de ser, que ele foi conhecendo ao longo do curso.

Lembro-me de lhe ter apresentado um Pai, há muito falecido (eu só tinha então quinze anos), como uma das mais talentosas pessoas que eu já conhecera, de um brilho polifacetado, a estender-se desde o dom de bem escrever ao de cantar e tocar guitarra com uma alma e uma sensibilidade únicas. Depois de mostrado ao Professor tal retrato do Pai, assim destacado e enaltecido, ele atalhou com este luminoso comentário: "Se um homem sensível, inteligente e brilhante, como diz que era o seu Pai, escolheu para partilhar a vida a mulher que é sua Mãe, não precisa de me falar dela. Deve ser uma pessoa de muito valor".

Disse tão pouco, nestas linhas, sobre a minha Mãe, que está quase a partir! Apenas aqueles flashes instantâneos que, como uma fixação, se instalaram na minha mente esta noite, na hora em que lhe peguei nas mãos enrugadinhas, com alguns dedos muito tortos das artroses, e as recordei, habilidosas e desembaraçadas, sempre, sempre trabalhando para nós. Umas mãos que sabiam fazer tantas coisas! Até pintar, em tempos mais recuados.

Meu Deus, que falta me vai fazer a minha Mãe!

Eu, que tenho a ventura de também ser mãe, sinto com uma força tremenda a intensidade desta relação visceral, que me une à minha Mãe e me une aos meus filhos! Nenhuma outra relação é assim. Aos que trouxemos dentro de nós e à que nos trouxe dentro de si sentimo-nos ligados para sempre por um elo indestrutível e único.

Eu não sei se o meu leitor é dos que têm uma Mãe velhinha; mas, se tiver, aproveite bem o tempo de a ter, o tempo de a sentir, o tempo de a ajudar nas coisas mais elementares e simples, o tempo de a ouvir com paciência contar mil vezes a mesma história, o tempo de ter de lhe repetir as coisas, porque não as ouve, o tempo de se encantar com ela! Aproveite mesmo, porque, quando a perder, vai sentir-se tão sozinho, tão vazio e tão desprotegido que só terá lugar, no seu coração, para uma imensa saudade.


Maria Luísa Lamela

As Mães - I



Ter uma Mãe muito velhinha, na casa dos 90 anos, uma Mãe que não é rabugenta nem exigente, uma Mãe linda que acha sempre que tudo está bem, uma Mãe que passa longas horas com um trozinho de lã, fazendo pequenos presentes para nos dar, ter uma Mãe assim é uma bênção!

No momento em que escrevo estas linhas, eu tenho uma Mãe assim, quase a fazer 93 anos! Mas no momento em que estas linhas forem lidas, provavelmente, já não terei essa felicidade.

A minha Mãe velhinha está a chegar ao fim, e só um suplemento permanente de oxigénio a mantém ainda na caminhada da vida.
E porque em situações emocionais de grande densidade me assalta um incontido desejo de escrever, debruço-me hoje sobre essa experiência íntima, comum a todos os filhos contemplados com a ventura de terem Mãe até tarde, da dolorosa espera pelo seu momento final.

Como é possível que uma pessoa tão velhinha, tão incapaz de fazer o que quer que seja, até de comer sozinha ou de caminhar, tão dependente e tão frágil, nos faça tanta falta?! Como se explica este vazio desolador que se nos instala na alma depois da sua ausência?! Porque ficamos nós, do lado de cá, cheios de saudades de tudo - das inquietações que ela nos deu, de todo o tempo que com ela gastámos, dos esforços para a segurar e a ajudar a andar, da canseira com as sopas e as comidas passadas para não se engasgar, da paciência a ouvi-la contar e recontar as mesmas coisas?!

Sinto neste momento uma tristeza infinita e uma saudade prematura que me não deixa sossegar. Ter Mãe é uma felicidade, e muito em breve eu vou deixar de ter Mãe.
Dou comigo a recordar-me de como ela foi ao longo de tão longa vida.
Uma Senhora linda, lindíssima e donairosa – "uma estampa!", dizia-se na terra - de rosto simpático e sorridente, uma Senhora que o meu Pai amou imensamente e que, com alegria repetida em cada nascimento, trouxe à luz do dia seis rijos bebés (cinco raparigas e, sete anos depois, um único rapaz).

Lembro-me, com absoluta nitidez, de anos muito recuados da minha infância (3, 4, 5 anos), e de como era a minha Mãe nesse tempo, numa casa com tanta gente!
Usava eu então, para não me sujar enquanto brincava, babeirinhos ou bibes, feitos por vezes com encaixes e aplicações de tecidos diferentes, retirados de roupas desfeitas das irmãs mais velhas.
Que lindos eram esses babeirinhos, feitos de aproveitamentos, que patenteavam o bom senso, o bom gosto e o esmero da Mãe!

Lembro-me de ir para a escola muito aprumada e arranjadinha - um primor de asseio - com um laçarote no cabelo, que a Mãe me fazia antes de sair. Lembro-me das ocasiões especiais em que era de regra estrear roupa nova: o Domingo de Páscoa e o dia da Senhora da Saúde, dia de festa em Esposende, onde morávamos. Ah, também havia luxos na memorável data do exame da 4ª classe, farpelinha toda "nova em folha", dos pés à cabeça, incluindo sapatos a apertar com presilha e soquetes com dobrinha, tudo adequado à solenidade do momento. A Mãe punha-nos num "brinquinho" para irmos fazer exame!

Lembro-me de a ver tricotar para nós camisolas lindas, algumas também com recurso a lãs desfeitas de outras peças, e com combinações de cores de vistosos efeitos. Era ainda o tempo das meias de quatro agulhas, que a Mãe manobrava com grande agilidade, sendo que algumas destas obras, confeccionadas às escondidas das mais pequeninas (eu era a mais nova de todas), vinham depois parar aos sapatinhos, na noite de Natal, como sendo prenda do Menino Jesus.
Seguia-se então, muito arregalados os olhos inocentes, a surpresa geral: "Como é que o Menino Jesus adivinha os tamanhos, para trazer tudo a servir às pessoas?"

Maria Luísa Lamela

terça-feira, 1 de abril de 2008

Inmaculada Echevarria: Trata-se de eutanásia ou não?




A retirada do respirador de Inmaculada Echevarria e a sedação terminal para aliviar as dores da sua agonia, com o resultado final da sua morte, provocou diversas reacções e interpretações.




Há quem fale...



de eutanásia,
de eutanásia passiva,
de suicídio assistido ou até
de limitação do esforço terapêutico.

O “ABC” foi a imprensa que recolheu o maior número de opiniões sobre este caso.

César Nombela, Catedrático de Microbiologia, considera que “é impossível subtrair-se à ideia de que o respirador supõe a aplicação de um tratamento tão comum como é a alimentação mediante a sonda gástrica ou por via parentérica ao enfermo incapaz de se alimentar de forma normal. É muito difícil, portanto, evitar a conclusão de que o que se praticou é uma eutanásia, mesmo voltando a insistir naquilo que defendem os que pensam que simplesmente se omitiu uma terapia desproporcionada”.
Alfonso López de la Osa, professor de Direito Administrativo, também é da mesma opinião ao dizer que “é uma constatação que a execução do acto, a desconexão do respirador, é um acto directo que tem como fim imediato acabar com a vida de uma pessoa consciente”.

Direito à retirada de um tratamento

Também no mesmo jornal, José Miguel Serrano, professor de Filosofia do Direito, declarou que depois do consentimento para receber tratamento através do respirador, Inmaculada “mantinha o direito de se opor a tal tratamento em qualquer momento”, a decisão do Conselho Consultivo de Andaluzia seria “correcta”, embora reconhecendo que “estamos nos limites”.

Xavier Gómez-Batiste, presidente da Sociedade Espanhola de Cuidados Paliativos, por seu lado, garantiu que “não é eutanásia” porque “se trata de uma decisão individual legítima de limitação do esforço terapêutico”, embora reconhecesse que “este caso tem características que o tornam mais chocante, pelo facto da relação entre o abandono de tratamento e a morte ser imediata (e mediática), quando comparada com um doente que decide abandonar a hemodiálise ou não se tratar de uma obstrução intestinal”.
Miguel Bajo, catedrático de Direito Penal, por outro lado, salienta que esta morte “não é punível porque existe um direito a recusar o tratamento conforme estipula o artigo 2.4 da nova Lei de Autonomia do Paciente”. De modo que “tal como um paciente hospitalizado pode recusar, em qualquer momento, a ingestão do medicamento mediante uma decisão racional, quem só mantém os sinais vitais mediante meios técnicos pode igualmente opor-se à conexão”.

Enrique Molina, professor de Teologia Moral da Universidade de Navarra, defende que “retirar a um paciente em estado terminal os meios terapêuticos que o mantêm com vida, não pode ser considerado eutanásia: não se causa nem induz directa ou indirectamente a sua morte. A dificuldade está em avaliar se os meios que permitem a conservação da sua vida são proporcionados ou não ao fim que se pretende. A respiração assistida é um meio que pode ter mais de desproporcionado que de proporcionado”, ainda que “à hora da verdade, somente quem conhece muito bem a situação médica do enfermo e a sua evolução passada e previsível, esteja em condições de valorizar o meio terapêutico, e, portanto, determinar se a actuação médica ao retirá-lo, contando sempre com o paciente, é ou não eutanásia”.

Manuel Gómez Sancho, director da Unidade de Cuidados Paliativos do Hospital Doctor Negrín, nega categoricamente a possibilidade de considerar este acto como eutanásia, porque “era uma doente e como tal tinha direito a recusar um tratamento com o que não estava de acordo. Noutro momento quando o poderia ter feito não o fez, talvez tenha achado ser este o momento adequado para o fazer. Ninguém pode ser obrigado a submeter-se a receber um tratamento, salvo algumas excepções, e nenhuma dessas é o caso actual”.

El País recolhe outras opiniões: Dolores Espejo, presidente da Fundação Bioética, referiu que “neste caso não se trata de um tratamento médico mas sim de uma medida de suporte vital. É evidente que a eliminação de uma vida é um modo desproporcionado para tratar a dor, qualquer outra doença, ou uma deficiência, tal como o sofrimento de uma pessoa não justifica a sua eliminação”.
Maria Dolores Vila-Coro, titular da cátedra de bioética da Unesco, discorda, por seu turno, dizendo: “Não é eutanásia libertar a pessoa do aparelho que a mantém artificialmente, se o deseja, para que a natureza siga o seu curso normal e actue por si mesma, quando o processo de morte já é irreversível. Ao desconectar a Inmaculada não se abre nenhuma porta à eutanásia pois tudo depende do uso que se faça e do alcance que se lhe outorgue”.

Outras opiniões

Numa nota de imprensa, a “Federação de Associações Pró-vida” manifestou “o seu profundo desgosto e preocupação pela morte de Inmaculada Echevarria pois reconhece tratar-se de um claro caso de eutanásia passiva, por omissão de um meio proporcionado e necessário”.

Enquanto, por outro lado, a plataforma “Hay Alternativas”, através do seu porta-voz, a Dra. Gádor Joya, afirma que “temos de evitar cair na armadilha que nos querem preparar os partidários da morte, tentando aproveitar este caso para trazer a debate o tema da eutanásia, uma vez que o caso de Inmaculada poderia situar-se dentro de um quadro de limitação do esforço terapêutico”.

Aceprensa, 16-03-2007


Tradução de Maria Helena H. Marques
Professora do Ensino Secundária

terça-feira, 18 de março de 2008

Famílias rebeldes e numerosas III


Aliados secretos


Na guerra cultural, as famílias têm também os seus aliados secretos.


Quando, de repente, aparecem uns desconhecidos que dizem ”tem uns meninos preciosos!” ou “é um valente!” ou “que sorte tem!”, ao pai abatido se lhe eleva a moral, como a um soldado nas trincheiras depois de saber que os reforços vêm a caminho.


Sabendo isto, faço, agora, um esforço consciente para felicitar os pais e mães com filhos pequenos, para os ajudar a abrir uma porta ou para os ajudar com o carrito. Um sorriso cúmplice que diga “a paternidade não é para pusilânimes” é, por vezes, o elixir que um pai necessita de ouvir para superar um ou outro “desastre infantil”.


Conto um episódio que aconteceu comigo:

Por causa de uma série de circunstâncias complicadas, há pouco tempo a minha mulher teve de ir sozinha à igreja com a nossa filha pequena. No final da Missa, a pequena Catarina chorava tão alto que muitos voltaram a cabeça. Minha mulher corou e pareceu-lhe eterno o caminho até à porta. Mas o que de mais importante sucedeu neste episódio foi que um desconhecido se aproximou dela, felicitou-a por ter solucionado o problema dizendo-lhe que sabia quão difícil era a sua tarefa.


Apesar de se ter sentido tão mal, quando mais tarde me contou, estava radiante. Nunca é demais que se dê ânimo!


No mundo actual, os pais e as mães necessitam disso mais do que nunca.

Aceprensa, 20-06-2007


Tradução e adaptação: Maria Helena Henriques Marques

Professora do Ensino Secundário

Famílias rebeldes e numerosas II



O recurso mais valioso: a geração futura



Se dissipamos a cortina de fumo, veremos o que os índices de natalidade mostram: uma sociedade contrária às crianças.




Qualquer país necessita de um mínimo de 2,1 filhos por mulher (Estados Unidos, por exemplo) só para sobreviver. Uma sociedade que ama as crianças não pode ter uma taxa de fecundidade de apenas 1,5 filhos por mulher, como no Canadá, ou de 1,3, como em Espanha, Itália e Grécia. De facto, toda a Europa tem populações implosivas, a julgar pelas suas taxas de fecundidade.



Até há pouco tempo, quando numerosos países ocidentais se depararam com a crise de natalidade, não se oferecia qualquer tipo de benefício fiscal às famílias que geravam o recurso mais valioso: a geração seguinte.



O que acontece, hoje em dia, em quase todos os países ocidentais, momentos após uma mulher ter dado à luz uma criança, é uma enfermeira dar-lhe uma palestra sobre os métodos anticonceptivos. As Nações Unidas disponibilizam fundos, colocando-os à disposição da organização de planeamento familiar Planned Parenthood que gasta mais dinheiro em pôr fim às gravidezes que em qualquer outra coisa, mas quando os casais têm filhos, escondem esses recursos.




Enviam-se crianças para os infantários, mas não há nenhum adulto que levante a mão quando se pergunta: Quem teria preferido o infantário a estar com a sua mãe quando era menino?



O mundo ocidental padece de algo pior que um desdobramento da personalidade: o que é uma bênção para uns, é uma carga para outros.



Quando as duas partes se encontram, os acontecimentos podem dar uma volta curiosa.




Certa pessoa bem conhecida levou todos os seus cinco filhos às compras. Quando o funcionário da caixa se inteirou de que todos os meninos eram dela, comentou: “há grandes avarentos”.




Que estranho!...Não?



Porém, os comentários depreciativos de que são alvo as mães, em muitos casos, não são dirigidos a elas, mas sim à pessoa que os pronuncia. São, muitas vezes, justificações para a mulher que decidiu não ter filhos e agora se arrepende porque esperou demasiado.



Geralmente, a hostilidade dos homens não é mais que o mesmo egocentrismo de sempre.




Deparei-me com esta situação, pela primeira vez, quando o meu primeiro filho tinha seis meses e o levei a um restaurante onde me encontrei com pessoas conhecidas. Para o jovem casal que tinha ao lado, ter família não entrava nos seus planos devido às consequências para a figura dela, à vida sexual de ambos, às noites de hóquei dele e aos seus planos de viagem de ambos. O marido, inclinando-se para nós para expressar a sua opinião, cruzou os indicadores das mãos, colocou-os à frente da cara do meu filho e como se se protegesse de algum mal, disse desafiante que, para eles, ter filhos estava, absolutamente, fora de toda e qualquer discussão. Ela nada disse.



Vendo agora este episódio à distância, creio que esta cena foi uma mensagem para ela, não para mim.

Aceprensa, 20-06-2007



Tradução e adaptação: Maria Helena Henriques Marques
Professora do Ensino Secundário

Famílias rebeldes e numerosas I


As mães e os pais de famílias numerosas necessitam de um arsenal de ideias e frases para responder à mentalidade anti-natalista. Quem tem filhos encontra-se na primeira linha de fogo da guerra cultural. Contrastando com o ditado “um filho é uma bênção”, há casos de uma patente hostilidade.

Contemos um caso:

Maria López e seu marido, Alex vivem na capital do Canadá, Otava, e quando vão ao restaurante com os seus 4 filhos recebem mais sorrisos do que más caras, mais elogios que menosprezo. Porém, assombra-os que tenham também de ouvir críticas.


Num mundo em que a maioria nos tem ensinado que, quando não temos nada de agradável para dizer, é melhor não nos pronunciarmos, não deixa de ser revelador que as pessoas condenem abertamente as famílias que tomaram a decisão de ter mais filhos quando, segundo parece, não se deve ter mais do que dois.


Em certa ocasião, uma mulher, referindo-se a um homem com cinco filhos, disse a López: “Será que este não ouviu falar de controlo de natalidade?” López restorquiu-lhe do modo mais suave que pôde: “Afinal, não é a favor da liberdade de escolha? Pois isto foi o que ele escolheu”.

Frases com gancho - é a resposta!


Na era das frases curtas com gancho, as mães e os pais encontram-se na primeira linha de fogo na batalha das ideias tentando defender a família.


Como pai que sou de quatro filhos, estava eu com um pequeno grupo de famílias canadianas, quando a conversa girou para o tema da hostilidade que existe contra os que têm mais de dois filhos. A nossa conversa converteu-se, então, numa sessão estratégica improvisada acerca do modo como responder, de maneira coerente, a esses ataques. Todos estávamos de acordo em que, depois do insulto, o melhor é actuar com rapidez.


Os que atacam, apresentam-se com um sorriso complacente mas, na realidade, não querem discutir a filosofia da norma (regra) não escrita dos dois filhos. Ao contrário, os pais atacados gostariam de poder responder, prontamente, com uma máxima que conduzisse, posteriormente, a uma reflexão. “Creio que o melhor presente que podes oferecer a um menino é dar-lhe irmãos” foi a resposta ganhadora.

Agora, imagine que tem, por exemplo, dez filhos. Ora, um casal do Texas com dez filhos conta que a maior parte das pessoas fica maravilhada ao vê-los. É frequente nos restaurantes, perguntar-se-lhes a que acampamento pertence o grupo.


Contudo, uma vez, disseram-lhes: “Acham que são pessoas responsáveis tendo dez filhos?”
A esta inusitada pergunta a mãe, Catherine Musco Garcia-Prats, respondeu: “Nós não medimos o nosso sentido de responsabilidade pelo número de filhos que temos, mas sim pelo que fazemos com eles”. (Por esta resposta, nota-se que tem prática em responder às críticas).


Quando, noutra ocasião, lhe perguntaram se tem tempo para amar a tantos, Garcia-Prats responde: “O amor multiplica-se. Cada um deles conta com nove irmãos que o adoram. Eu não digo que ter filhos significa contar com alguém que venha ver-me quando for velho. Esta é que é uma resposta egoísta! Prefiro dizer que as crianças convidam ao sacrifício e estimulam a bondade das pessoas. Os meninos fazem do mundo um lugar melhor na medida em que obrigam os pais a amadurecer ao fazer-lhes pensar nas necessidades dos outros.

Aceprensa, 20-06-2007



Tradução e adaptação: Maria Helena Henriques Marques
Professora do Ensino Secundário

“Diz-me como te vestes, dir-te-ei quem és”

Começo por contar uma pequena história.

Um dia, um jovem professor contratado, de brinco na orelha e piercing no sobrolho, foi substituir uma colega do 1º ciclo numa aldeia. Os pais das crianças, quando o viram, tiveram uma imediata reacção de desconfiança, aliás apercebida pelo professor que se apressou a falar com eles para lhes transmitir serenidade e confiança. É que a aparência, sem ser o mais importante, conta.

Os psicólogos sociais demonstraram, por exemplo, que a imagem do conferencista é o factor mais importante para o êxito de uma conferência, estando acima do próprio conteúdo e do tom de voz.

Inconscientemente, quando não conhecemos alguém, fazemos um juízo dessa pessoa, rapidamente, em poucos segundos – como um flash fotográfico – baseando-nos nessa aparência.

Os fins do vestuário podem-se resumir a três: o principal é o de servir de protecção ao frio, ao calor, etc. Outro é o de resguardar a intimidade. O terceiro pode referir-se como o de adorno, já que pode de algum modo contribuir para elevar a dignidade humana.

Uma boa peça de vestuário consegue os três fins ao mesmo tempo. Um bom estilista não precisa servir-se do sexo para chamar a atenção. Se numa moda o que se observa primeiro é o sexo, estamos perante um modelo escasso de ideias e originalidade.

A moda hoje é suficientemente versátil para que cada qual – sobretudo a mulher, eternamente atraída pela beleza – saiba encontrar na panóplia de cortes, padrões, materiais, cores, acessórios o seu estilo próprio.

Ser elegante mais do que usar o que está “in fashion” é saber tirar o melhor partido do que a natureza nos concedeu. “Diz-me como te vestes, dir-te-ei quem és”. O modo como cada qual se apresenta, tem muito a ver com a interioridade da pessoa, embora haja excepções à regra.
Uma “Maria mal pronta” demonstra pouca cortesia, provavelmente falta de diligência ou reflexão.
Noutro extremo, as “fashion victims” demonstram falta de espírito crítico, por vezes futilidade e escassa intimidade.

Actualmente a mulher e sobretudo na estação quente que se aproxima, necessita de ideias muito claras e uma forte personalidade para não se deixar arrastar pelo ambiente.
Uma mulher, esclarecida, sabe ser e parecer aquilo que é.

Rosa Lopes

quinta-feira, 28 de fevereiro de 2008

Uma história deliciosa






A avó
Uma avó é uma mulher que não tem filhos, por isso gosta dos filhos dos outros. As avós não têm nada para fazer, é só estarem ali.
Quando nos levam a passear, andam devagar e não pisam as flores bonitas nem as lagartas.
Nunca dizem - "Despacha-te!".
Normalmente, são gordas, mas mesmo assim conseguem apertar-nos os sapatos. Sabem sempre que queremos mais uma fatia de bolo ou uma fatia maior.
As avós usam óculos e, às vezes, até conseguem tirar os dentes. Quando contam histórias nunca saltam bocados e nunca se importam de contar a mesma história várias vezes.
As avós são as únicas pessoas grandes que têm tempo. Não são tão fracas como dizem, apesar de morrerem mais que nós.
Toda a gente deve fazer o possível para ter uma avó, sobretudo se não tiver televisão."
(Composição de uma menina de 8 anos)

quinta-feira, 7 de fevereiro de 2008

As incertezas da mudança climática


John R. Christy, um dos cientistas que trabalham no Painel Intergovernamental sobre Mudança Climática (IPCC), não tem tanta segurança como Al Gore no que respeita às mudanças climáticas.

Num artigo publicado em The Wall Street (1 de Novembro 2007), explica que os prognósticos acerca do aquecimento da Terra e suas consequências são, meramente, hipotéticas.
Para ele, o mundo tem outros problemas mais certos e mais urgentes.

Christy é director do Centro de Ciências da Terra na Universidade de Alabama e membro da equipa de cientistas do IPCC que, com Al Gore, recebeu o Nobel da Paz de 2007.

O IPCC e Al Gore foram premiados por difundir a mensagem de que a temperatura da Terra está a aumentar devido a causas humanas:
  • o consumo de combustíveis fósseis
  • e outras emissões de gases de efeito estufa...

O comité Nobel teceu elogios, a ambos, por alertarem contra uma possível catástrofe e por estimularem mudanças para uma economia de baixo consumo de carvão.


Christy diz que não vê a potencial catástrofe nem a pistola fumegante que assinala a actividade humana como culpável da maior parte do aquecimento que observamos. Mas antes vê uma dependência de modelos climáticos que são úteis, mas que nunca serão uma prova – "a coincidência de que as mudanças na concentração de dióxido de carbono e as temperaturas terrestres se correspondem aproximadamente”.


“Não há dúvida – precisa Christy – de que o dióxido de carbono atmosférico aumenta principalmente por causa da produção de energia à base de carbono”.

O que não está claro são as consequências que daí se podem extrair.

“Alguns continuamos tão sobrecarregados com a tarefa de medir e entender o extraordinariamente complexo sistema do clima, que somos cépticos acerca da nossa capacidade de entender o que está a acontecer e porquê. Sou eu quem agora sente uma certa vergonha quando vejo a presunção com que alguns descrevem a evolução prevista das tendências climáticas nos próximos cem anos, sobretudo quando considero o quão difícil é predizer com exactidão o comportamento do sistema nos próximos cinco dias”.

Não é a primeira vez

Contra as conclusões precipitadas que se costumam ouvir, disse Christy, não é verdade que tudo se deve às acções humanas, pois que todas as mudanças que se observam no clima já aconteceram antes:

  • o nível do mar varia continuamente;
  • não é a primeira vez que se reduz a casquete polar árctica...

Outra dificuldade que o estudo do clima global apresenta, é a de se poder ter uma perspectiva global, uma vez que grande parte das investigações se baseia em dados obtidos em pontos dispersos da Terra. Por exemplo, uma recente reportagem da CNN, intitulada “Planeta em perigo”, dá muita atenção à diminuição do gelo do Árctico, mas não mencionou o facto de, no mês anterior, a extensão do mar gelado à volta da Antárctida ter alcançado o valor mais alto registado desde que se fazem medições.


Por isso, Christy não acredita que seja tão urgente reduzir as emissões de dióxido de carbono, como atender outras necessidades da humanidade, se se avaliar a realação custos-benefícios.

"Imaginemos", disse, "que no mundo inteiro se iria aplicar a recente lei californiana que obriga a melhorar o rendimento dos automóveis, de modo a que gastem, em média, não mais que 5,5 litros de combustível por 100 quilómetros. O que se conseguiria? Segundo os modelos usados pelo IPCC, o aquecimento previsto no final deste século reduzir-se-ia em 3 centésimas de grau. Ou então se se construíssem mil centrais nucleares para substituir os 10% da produção de energia que actualmente resulta de combustíveis fósseis, conseguir-se-ia uma forte redução de emissões, mais ou menos como se as dos Estados Unidos se reduzissem a metade; de acordo com as projecções elaboradas pelo IPCC, o aquecimento apenas diminuiria 0,1 graus por século.

Em contrapartida, Christy acredita, seguindo Bjorn Lomborg, que haverá muito mais proveito por cada dólar investido para remediar necessidades cruciais no Terceiro Mundo tais como o fornecimento de água potável à população do que investir na redução das emissões do dióxido de carbono. O que importa é analisar e avaliar a relação custos-benefícios!...

“Há que ponderar e comparar as incertas consequências do aquecimento do planeta num futuro distante com os desastres actuais que temos à vista...

Dada a incerteza científica e a nossa relativa impotência no que se refere à mudança climática, o imperativo moral parece-me claro”.

Aceprensa, 7 Novembro 2007



Tradução e adaptação: Maria Helena Henriques Marques
Professora do Ensino Secundário

“Spe salvi” (salvos na esperança),




Lugares para aprender a esperança

O Papa indica quatro lugares nos quais a esperança se pode aprender e exercitar.


O primeiro é a oração. “Quando já ninguém me escuta, Deus escuta-me sempre. Quando já não posso falar com ninguém, nem invocar a alguém, sempre posso falar com Deus. Se já não há ninguém que possa ajudar-me – quando se trata de uma necessidade ou de uma expectativa que supera a capacidade humana de esperar – Ele pode ajudar-me”.


Como exemplo, recorda a experiência do cardeal vietnamita Nguyen Van Thuan, que passou treze anos no cárcere, nove deles no isolamento.

Outros lugares são o actuar humano e o sofrimento. Também aqui recorda um vietnamita, o mártir Pablo Le-Bao-Thin (1857), que escrevia: “Em meio destes tormentos, que aterrorizariam a qualquer pessoa, pela graça de Deus estou cheio de gozo e alegria, porque não estou só, mas sim que Cristo está comigo”. O Papa afirma que “a grandeza da humanidade está determinada essencialmente pela sua relação com o sofrimento e com o que sofre”.


“Também a capacidade de aceitar o sofrimento pelo amor do bem, da verdade e da justiça, é constitutiva da grandeza da humanidade porque, em definitivo, quando o meu bem estar, a minha incolumidade, é mais importante que a verdade e a justiça, então prevalece o domínio do mais forte; então reinam a violência e a mentira”.


Juízo final


Particularmente sugestivas são as passagens que o Papa dedica ao Juízo Final como lugar de aprendizagem e exercício da esperança. “Já desde os primeiros tempos, a perspectiva do Juízo teve influência nos cristãos, também na sua vida diária, como critério para ordenar a vida presente, como chamada à sua consciência e, ao mesmo tempo, como esperança na justiça de Deus”.


O Papa refere que na época moderna a ideia do Juízo final se desvaneceu. A incompreensão do que significa o Juízo Final demonstra-se no ateísmo dos séculos XIX e XX, e na sua pretensão de estabelecer a justiça no mundo: “Uma vez que não há Deus que crie justiça, parece que agora é o mesmo homem que está chamado a estabelecer a justiça”. Desta premissa, sem dúvida, derivaram as maiores crueldades e violações da justiça.

“A fé no Juízo Final é antes e acima de tudo esperança, essa esperança cuja necessidade se tornou evidente precisamente nas convulsões dos últimos séculos. Estou convencido de que a questão da justiça é o argumento essencial e o argumento mais forte em favor da fé na vida eterna.


A necessidade meramente individual de uma satisfação plena que se nos nega nesta vida, da imortalidade do amor que esperamos, é certamente um motivo importante para acreditar que o homem está feito para a eternidade; mas apenas em relação com o reconhecimento de que a injustiça da história não pode ser a última palavra em absoluto, chega a ser plenamente convincente "a necessidade do retorno de Cristo e da vida nova.

Aceprensa, 5 de Dezembro de 2007


Tradução e adaptação: Maria Helena Henriques Marques
Professora do Ensino Secundário

terça-feira, 5 de fevereiro de 2008

O matrimónio está a salvo; o homem em perigo


O matrimónio é de interesse público?
(Ricardo Benjumea)

Passará esta geração à história como a que destruiu o matrimónio? Não.

As leis carecem de poder para aniquilar uma instituição

que nasce da própria natureza humana.

Podem apenas gerar uma massa de indivíduos desgraçados.

É este o futuro que nos espera?

Um grupo de intelectuais norte-americanos acredita que a polémica sobre o “casamento homossexual” pode ser uma ocasião de ouro para encontrar

“o caminho de regresso a casa” para essa instituição natural chamada matrimónio.



Em “The Meaning of Marriage. Family, State, Market and Morals”, editado por Robert P. George y Jean Bethke Elshtain, um grupo de especialistas propõe-se abordar este tema submetendo, todos os postulados, à prova. A premissa é que “falta rigor intelectual” às partes nesta discussão por demais influenciada por preconceitos ideológicos e por excesso “moralista”. A aprovação por via judicial do chamado “casamento homossexual” no Estado de Massachusetts gerou, nos Estados Unidos, o “debate público mais polémico das últimas décadas”, no dizer Elshtain, professora de Filosofia Política.


I – A noção de matrimónio não é indiferente


No prefácio, Jean Bethke Elshtain apresenta uma linha argumental que se repete em vários ensaios: toda a sociedade tem tido uma concepção determinada do matrimónio, que experimentou variações no tempo. “Contudo, a flexibilidade tem limites”, e sempre existiram características comuns, que certas sociedades, culturas e religiões souberam realizar, proteger e potenciar melhor que outras.
O matrimónio é, em todo o caso, a união de um homem e uma mulher, e a mais adequada para procriar e educar os filhos,bem como moralizar o comportamento sexual humano.
Roger Scruton, da Universidade de Buckingham, sustenta que o matrimónio sempre foi mais que um “contrato para se viver juntos”. “Um casamento é, antes de mais, um rito de passagem de uma condição social para outra” que tem, desde as suas origens, “uma aura sagrada” inclusivamente quando, com o direito romano, surgiu o matrimónio civil, nunca equiparável a um contrato.
David F. Forte analisa as características do vínculo matrimonial ao longo da história e chega à mesma conclusão.
Já Aristóteles tinha também descoberto que a forma de matrimónio determina o tipo de sociedade, e que “ os bárbaros não possuíam uma pólis porque tinham famílias imperfeitas, onde a mulher era escrava do marido”.
Não é indiferente, ao desenvolvimento do potencial humano, a definição que se quiser dar desta instituição, tal como não o é viver sob uma tirania ou sob um governo justo.
Segundo Scruton, a união matrimonial chegou à sua máxima perfeição com o cristianismo: “os pais compreenderam a sua relação para com os filhos como ‘ágape’ (a forma mais elevada de amor)”, ao mesmo tempo que “a combinação de consentimento livre com o componente espiritual converteu o sacramento do matrimónio na forma mais elevada de amizade”. Nem sempre os esposos viveram assim a sua relação, mas os princípios estavam definidos, e o papado moderno soube depurar o sacramento e denunciar os costumes que o profanavam.


II – Nas mãos do Estado


Simultaneamente, surgiu uma contestação filosófica e cultural de primeira ordem. A ilustração escocesa e, depois, a francesa introduziram, pouco a pouco, a concepção do matrimónio como contrato, e com ele o Estado se arrogou da potestade de fazer e desfazer uma instituição que apenas, tangencialmente, tinha pertencido à sua esfera de poder.
Como expõe Jennifer Roback Morse, foi esta a lógica que abriu as portas a todas as formas experimentais de “família” que hoje conhecemos, e tem conduzido à própria dissolução do matrimónio. Em muitos lugares, entre eles, a Espanha, a união matrimonial está ainda menos protegida que um contrato. Do lado contrário, “ o juiz estaria muito interessado em saber quem o rompeu e porquê”. Morse acredita que esta tendência pode chegar a devastar a sociedade desde os seus fundamentos, e se o processo ainda não se precipitou, com toda a sua força, é devido à influência de muitas pessoas viverem de acordo com uma concepção do matrimónio distinta da que o Estado propõe.


III – A perda de significado do matrimónio só pode conduzir ao empobrecimento da vida em comum.


Para reflectir sobre esta realidade, sugere-se uma imagem ilustrativa:
§ Uma empresa encomenda um camião de cimento, mas este não chega, e todos os empregados passam o dia desocupados. O transportador, ao ser chamado à atenção, alega que não lhe apeteceu respeitar o contrato, dizendo: “Este é um país livre! Não sou teu escravo”.
Extrapolada esta forma de actuar ao matrimónio, o que é que aconteceria?
§ “Exactamente o que teria previsto um economista: menos filhos, menos qualidade e mais custos”. E no final, mais Estado e mais impostos, uma vez que alguém deve resolver os problemas que, anteriormente, o costume e a lei educavam e incentivavam para que fossem resolvidos dentro do matrimónio.
Quando chegam esses problemas, diga o que se disser a lei, não resta mais remédio que admitir que o matrimónio não é apenas uma coisa de dois. Maggie Gallagher, presidente do Institute for Marriage and Public Policy, sintetiza um dos aspectos mais politicamente incorrectos hoje: os efeitos da ruptura matrimonial – e, mais ainda: da inconsistência das uniões de facto – para a mulher e para os filhos, e a importância de haver um rol masculino e outro feminino na educação dos filhos.


IV – Os fundamentos biológicos


A questão sobre o matrimónio é também uma questão acerca do ser humano.
Robert P. George, de Princeton, põe à prova a tese do sociólogo James Q. Wilson que concebe o matrimónio como “aliança reprodutiva”, e diversas outras ideologias que questionam o núcleo matrimonial, desde os pensadores ilustres até à teoria de géneros. Há em qualquer caso, uma questão prévia que exige resposta.
Se partirmos do princípio de que o matrimónio é mais uma invenção social, ou que é uma criação do Estado, as consequências serão bem diferentes do que se chegarmos a demonstrar que nasce por necessidade do mesmo homem: da sua divisão sexual, da sua natureza social e moral e do desamparo com que nasce.
Este último aspecto, exposto em quase todos os ensaios, acarreta um paradoxo nada fácil de assumir para a mentalidade ocidental contemporânea: a situação da radical dependência com que nasce o homem e que é também o fundamento biológico da sua liberdade e da sua sociabilidade. Até as espécies animais evoluídas têm uma ínfima margem de manobra diante dos ditames da natureza física. O bébé, contudo, nasce incompleto, porque não dispõe de um manual de instruções nos seus genes. Tem é acesso ao que aprenderam milhares de milhões de seres humanos que nasceram antes dele. E tem, em primeiríssimo lugar, o exemplo dos que o rodeiam que talvez, inconscientemente, lhe transmitem um legado cultural de muitas gerações bem como uma panóplia de valores essenciais pelos quais se poderá orientar ou não, em função da coerência e da autenticidade que perceber na forma de viver dessas pessoas. Por isso é livre, e por isso está aberto ao sentido, à transcendência e à moral. Mas há um requisito para que o bebé se converta num adulto livre: necessita da presença constante de outras pessoas. A conclusão, pela negativa, é que não existe o homem solitário.


V – A favor da criança


Mas há agora outra resposta no sentido positivo: sabemos com certeza que o ingrediente necessário para o desenvolvimento saudável de uma criança é o clima de amor e de estabilidade. Ora, são estas as necessidades do bébé que, dificilmente, poderão ser satisfeitas pelo Estado ou pelo mercado. No entanto, salvo raras excepções, o homem e a mulher que o conceberam estão capacitados para o fazer.
Assim se cria uma nova realidade: a família que adquire uma identidade própria muito para além da soma dos seus membros. Por tudo isto, é este o lugar onde se recebe a primeira e fundamental educação.
Os deputados norte-americanos, explica Forte, tiveram muito presente esta ideia da família como escola da virtude, ideia a que, na Europa Continental, Montesquieu não foi alheio: a família é a instituição fundamental para educar os indivíduos na virtude pública necessária para a sustentação de uma república, em contraste com o governo despótico, regido pelo medo.

Aceprensa, n.º 81/06 de 25/7/2006



Tradução de Maria Helena Henriques Marques

sábado, 26 de janeiro de 2008

Ser feliz



"Se alguém não encontra a felicidade em si mesmo, é inútil que a procure noutro lugar"

La Rochefoucauld

Todos nós sabemos que ser feliz é um dos mais antigos direitos da humanidade. E também sabemos que não há ninguém que não mereça auferi-lo. Há, no entanto, quem pense nunca poder alcançar esse dom.


E isso resulta de uma certa insatisfação e de um conceito errado de o que é a felicidade. O homem foi criado para ser feliz e seria insensato imaginar um Deus cujo prazer consistisse em submetê-lo a contínuas desgraças.


Essa ideia seria demasiado humana para ser divina e, quando assim pensamos, estamos a fazer um Criador à imagem da nossa imbecilidade e à semelhança da nossa estupidez. Porém, a causa, é bem diferente.


Neste mundo estereotipado em que vivemos, a felicidade deixou de ser um ideal do indivíduo para ser uma aspiração das multidões. Todos querem ser felizes da mesma maneira. Convencionou-se que não há felicidade sem automóvel, sem uma casa repleta de electrodomésticos, de electrónica, de móveis de estilo, de livros caros (mas que nunca se lêem), de imitações de objectos e de quadros antigos (dos quais não se sabe falar), sem roupas e calçado de marcas badaladas... enfim e para resumir, sem todos esses sinais exteriores de riqueza que por aí se vêem.


Quanto a boas maneiras, civilidade, educação ou cultura, tudo isso é secundário. O que é preciso é ter dinheiro. E como nem todos o podem ter para se fazerem passar por aquilo que não são, daí a "infelicidade" de muitos. Uma infelicidade que gera invejas, revoltas e que, infelizmente, está a transformar a sociedade num viveiro de insatisfeitos, de egoístas e de falsários.


Há na terra milhões de pessoas a sonhar a mesma coisa e a desejar os mesmos bens. E é assim que os espíritos simples se asfixiam numa atmosfera de estupidez. E são cada vez mais os que não conseguem viver fora desse esquema.


Cada vez se deseja possuir mais. Cresce, dia a dia, a inveja pelo vizinho. A ânsia de "também querer ser" aumenta no sentido inverso do "querer fazer". Atropelam-se os princípios mais sagrados para chegar mais depressa a um lugar que se cobiça, mas que não se merece. O que mais interessa é "parecer".


É uma luta feroz e constante entre aquilo que se tenta aparentar e a verdadeira realidade daquilo que se é. Parece que fica assim, mais ou menos, traçado, ainda que com pálidas pinceladas, o retrato daquele que quer ostentar coisas superiores aos seus recursos e à sua mentalidade. E é esse, de facto, o protótipo do verdadeiro infeliz.

E é tão fácil ser feliz! Contentarmo-nos com o que temos e orgulharmo-nos de sermos, apenas, como somos, é já o começo da felicidade.


Manuel Ventura da Costa

sexta-feira, 25 de janeiro de 2008

“Cérebro e Educação - Diferenças sexuais e aprendizagem”



  • Educação diferenciada


Estudos neurológicos lançam nova luz sobre as diferenças sexuais na aprendizagem.



O reconhecimento das diferenças dos cérebros masculino e feminino, e a sua consideração no processo educativo poderiam supor uma revolução no rendimento académico e facilitar uma redução notável dos actuais níveis de insucesso escolar, tendo em conta as conclusões de uma jornada convocada pela Associação Europeia de Educação Diferenciada (EASSE). Uma das estratégias que esta entidade propõe – apoiando-se na liberdade de ensino – é a possibilidade de separar as aulas de rapazes e raparigas por níveis etários, coincidindo com os diferentes períodos cognitivos, já reconhecidos pela ciência.


Conforme explicou Maria Calvo, presidente da EASSE, “o que se pretende é combinar as aportações de cientistas de áreas diversas, com diferentes orientações e que chegaram a algumas conclusões parecidas: há diferenças cognitivas a que se deveria prestar atenção; deste modo, a defesa de uma educação diferenciada não é uma questão política, cultural ou religiosa como por vezes se pretende admitir.


Ainda que neurologistas e psicólogos sejam cautelosos no momento de fazer generalizações com as conclusões dos seus estudos, coincidem em afirmar que “as capacidades cognitivas são, em linhas gerais, diferentes entre o cérebro masculino e feminino. O primeiro está melhor dotado para o manejo espacial e o raciocínio matemático. O segundo para a fluidez verbal e a interpretação dos dados emocionais”, conforme declarou Hugo Liaño, professor da Universidade Autónoma de Madrid e chefe do serviço de Neurologia do Hospital Puerta de Hierro de Madrid. Estas afirmações que se apoiam em investigações neuropsicológicas recentes, têm origem no dimorfismo cerebral – diferenças de forma segundo o sexo, distinção que começa no período embrionário e que se mantém ao longo da vida, devido à influência hormonal.



Por exemplo, a acção das hormonas dá lugar a “um maior tamanho de certos núcleos cerebrais no homem comparativamente à mulher, e a uma maior lateralização das funções cerebrais na mulher relativamente ao homem", afirma Maria Gudin, neuróloga e autora do livro "Cérebro e afectividade". Apesar de reconhecer que muitas das diferenças entre os géneros não estarão totalmente estabelecidas, Gudin considera que “devem ser tidas em conta à hora de definir estratégias psicopedagógicas na educação”.


  • Ensinamentos da psicologia

Na opinião de Francisco José Rubia, catedrático de Fisiologia e autor do livro "O sexo do cérebro", uma das conclusões aplicáveis à área educativa provém, precisamente, da maturação posterior do hemisfério esquerdo nos rapazes, que faz com que transtornos de desenvolvimento, como a dislexia, a hiperactividade ou a tartamudez os afectem mais.


A partir do âmbito da psicologia acrescentam-se novos pontos dissemelhantes com implicações educativas, como “o rendimento académico, a aparição e o desenvolvimento da linguagem, as habilidades numéricas, espaciais, mecânicas, etc. que demonstram uma clara diferença entre homem e mulher”, afirma Serafim Lemos, catedrático de Psicologia da Universidade de Oviedo.


Assim, “com umas medidas de desenvolvimento linguístico prematuro, incide-se no desenvolvimento intelectual posterior das mulheres, mas não tanto nos homens; e uma carência de educação no período pré-escolar; ao contrário, tem efeitos mais negativos nas meninas do que nos meninos”, declara Lemos, sem perder de vista que não devem ter lugar generalizações do tipo “qualquer mulher é superior a qualquer homem nas capacidades ou agilidades verbais ou que qualquer homem supera a mulher nas habilidades viso-espaciais”.


O mesmo autor aponta ainda algumas tendências diferentes na personalidade de homens e mulheres: “os varões caracterizam-se por um maior nível de agressividade, dominância e motivação do lucro; as mulheres, pelo motivo de uma maior dependência, uma mais intensa orientação social, daí serem mais afectadas pelos fracassos”. Embora a aparição desses rasgos de personalidade se encontre motivada por factores biológicos como a herança e as funções neuropsicológicas, na sua configuração também actuam elementos de tipo psicossocial, como estilos de vida, entre os quais se incluem os tipos de educação e de protecção, e sobre os quais se poderia actuar.

  • Consequências no ensino

Para Maria Calvo, “impõe-se aproveitar todas as diferenças inatas, para tirar o máximo partido da educação”. E no marco da liberdade de ensino, “permitir uma educação diferenciada flexível, nas escolas públicas, para alguns grupos etários, com a finalidade de tentar diminuir o insucesso escolar masculino ou fomentar as destrezas matemáticas nas raparigas, como já se tem vindo a verificar com êxito na Alemanha” é fundamental.


Considera ainda que muitos professores não estão conscientes das diferenças e “exigem o mesmo, de idêntica forma, tanto a meninos como meninas, no mesmo espaço de tempo e com o objectivo de obter uma mesma resposta por parte de ambos os sexos".


Um claro exponente é o modo de abordar o fracasso escolar – o nível de abandonos em Espanha atinge os 33% aos 16 anos-, pois “ignora-se a existência de uma forte componente sexual no insucesso escolar e, apesar de a variável sexo ser relevante no âmbito educativo, não há nenhuma actuação para encontrar uma solução, quer experimental queradministrativa”.


Os resultados das investigações sobre o cérebro também permitem outras leituras, com consequências educativas a diferentes níveis. Para Natália López Moratalla, catedrática de Bioquímica e autora do livro "Cérebro de mulher e cérebro de varão" (Rialp), assegura, precisamente, que o facto de, no cérebro humano, haver dois hemisférios abre a possibilidade de dois estilos de pensar que a unidade vital deverá equilibrar: “Um cérebro humanizado pode passar para primeiro plano o olhar analítico ou o olhar contemplativo, de acordo com a actividade que estiver a realizar, apesar da assimetria funcional dos hemisférios direito e esquerdo estar determinada, geneticamente, por processos precoces da vida fetal, e pelos níveis de hormonas(...); também a educação, a cultura e as resoluções pessoais amadurecem ou humanizam um cérebro que,consegue permanecer plástico por toda a vida”.


M. Ângeles Burguera. Aceprensa, 18 /12 07


Tradução e adaptação: Maria Helena Henriques Marques
Professora do Ensino Secundário

Os três segredos da qualidade de ensino





The Economist (20 de Outubro de 2007) resume um estudo da consultoria McKinsey acerca das chaves do êxito dos países que obtêm melhores resultados na informação PISA. A informação PISA (Programme for International Student Assessment), que a OCDE elabora em cada três anos a partir de exames realizados a alunos de 15 anos de numerosos países (mais de 60, na última edição), converteu-se na principal obra de referência sobre a qualidade do ensino no mundo. Ao fornecer resultados académicos normalizados, permite comparações internacionais que dão pistas acerca do que funciona ou não funciona na educação.

Sem dúvida, as chaves do êxito (ou do fracasso) não se descobrem à primeira vista. O dinheiro não é decisivo. A Austrália, que triplicou a despesa por aluno desde 1970, não consegue alcançar Singapura, que gasta menos que a maioria dos países. Os Estados Unidos ocupam o terceiro lugar inferior da classificação, apesar de desde 1980 quase ter duplicado a despesa por aluno e diminuído o número de alunos por professor a um mínimo histórico. Ao contrário, a Coreia do Sul está entre os quatro primeiros países em todas as provas, com umas aulas muito nutridas. E se os rapazes finlandeses são os primeiros na leitura e em ciências, e os segundos em matemáticas, não é porque passem o dia a estudar: de facto, têm menos horas de aulas que os seus contemporâneos de outros países.

  • Os professores são a chave

O “mistério” parece estar no facto de os factores decisivos para a qualidade do ensino não serem facilmente quantificáveis. O estudo de McKinsey conclui que os rasgos comuns aos países que encabeçam a tábua PIZA (Hong Kong, Finlândia, Coreia do Sul, Japão, Canadá) são estes três: contratam os melhores professores, tiram deles o máximo partido e intervêm quando os resultados dos alunos começam a baixar. Não é precisamente uma “revelação”: Não é isso que fazem, justamente, todos os países? A verdade é que não, disse McKinsey.

Todo o mundo está de acordo em reconhecer que os professores são uma peça chave; as palavras de um funcionário coreano citadas por The Economist: “A qualidade de um sistema educativo não pode ser melhor que a dos seus professores”. Segundo estudos realizados nos Estados Unidos, acrescenta a revista, se se seleccionam alunos de capacidade média e se atribuem a professores melhor classificados em 20% relativamente aos restantes, acabam no grupo dos 10% com melhores notas; se se atribuem a professores de um nível mais baixo na ordem dos 20%, acabam entre os de piores notas.

Estima-se que nos Estados Unidos os professores provêm, em média, da terça parte dos graduados universitários com mais baixas classificações. E algo semelhante ocorre noutros países. Ao contrário, a Coreia do Sul recruta os professores primários dos 5% dos melhores graduados, e Singapura e Hong Kong, dos 30% melhor classificados. E o segredo não está na paga, pois não lhes são oferecidos salários acima da média, enquanto que os países onde os professores ganham mais (Alemanha, Espanha e Suíça) não se destacam em qualidade.

Para conseguir os melhores há que ser muito selectivo, mas não de qualquer maneira. Muitos países formam grande número de candidatos que depois são seleccionados mediante a oposição de barreiras para entrar no ensino público. Os países com melhores resultados seguem outro método. Limitam os lugares de magistério nas escolas à procura real de professores, e gastam muito mais na formação dos que ingressam. Assim acontece, sobretudo, na Finlândia e Singapura; também na Coreia do Sul, mas apenas com os professores do ensino primário, que têm que preparar-se durante quatro anos em alguma das doze universidades com faculdade de Educação. Ao contrário, os professores do ensino secundário coreanos podem proceder de qualquer universidade ou colégio num total de 350, mas em cada ano saem 11 licenciados novos por cada vaga. Isto ilustra, dentro de um mesmo país, a diferença entre os dois sistemas: na Coreia, os professores primários têm grande prestígio, e os do ensino secundário não estão bem considerados.

  • Formação prática


Temos agora a segunda chave: uma vez conseguidos graduados brilhantes para incorporar-se ao ensino, têm de aprender a exercê-lo bem. Os países com melhor qualidade de ensino facilitam formação prática abundante aos recém-chegados à carreira docente e fomentam a formação permanente para todos. Por exemplo, em Singapura, os professores novos recebem a tutela de colegas com experiência que são nomeados para esse fim em todas as escolas; e todos dispõem de 100 horas anuais para formação. Na Finlândia, os professores distribuem-se em equipas para que colaborem: supervisionam mutuamente as suas aulas e têm uma tarde livre, por semana, para prepararem as lições em conjunto.

  • Correcção


A terceira característica distintiva dos países com melhores resultados está no que fazem quando as coisas vão mal. O mais importante é detectar os problemas, e dir-se-ia que, para isso, é necessário avaliar periodicamente os alunos, com exames normalizados: assim, vê-se como vai o sistema escolar no seu todo e descobrem-se as zonas ou escolas onde baixa o nível académico. Mas o estudo de McKinsey não se pronuncia a favor nem contra esse método, porque não lhe encontra relação clara com a qualidade. A rede escolar pública de Boston, uma das melhores dos Estados Unidos, faz um exame anual a todos os alunos; mas isso mesmo é feito também, embora nem todos os anos, em lugares com pior qualidade de ensino, como Inglaterra e Gales onde, além do mais, se tornam públicos os resultados. Em contrapartida, a Finlândia prescindiu quase por completo dos exames nacionais e não publica os resultados das inspecções.

Qualquer que seja o modo de descobrir os problemas, os países destacados intervêm rapidamente e sempre. A Finlândia é “número um” em professores dedicados aos alunos que ficam para trás. Por isso, num ano normal, um de cada três alunos recebe aulas individuais de apoio. Singapura ministra aulas extra a 20% dos alunos mais atrasados, com o consequente trabalho extra para os professores.

As teses de McKinsey parecem quase triviais, no entanto vão contra alguns pressupostos implícitos da política educativa, comenta The Economist. Assim, é corrente acreditar que “não é possível conseguir os melhores professores sem pagar salários altos; que os professores em países como Singapura gozam de elevado estatuto devido aos valores confucianos; ou que os alunos asiáticos se portam bem e prestam atenção às aulas, por razões culturais”. Em comparação, “as teses de McKinsey parecem optimistas:

  • conseguir bons professores depende da selecção e da formação;
  • a docência pode ser uma opção atractiva para os melhores graduados universitários, sem necessidade de pagar uma fortuna;
  • e, há remédio para as escolas e para os alunos que ficam para trás se forem aplicadas as medidas adequadas.

Fonte: The Economist

Tradução e adaptação: Maria Helena Henriques Marques
Professora do Ensino Secundário