segunda-feira, 28 de janeiro de 2013

Promover um Verdadeiro Feminismo...

       Celebramos vinte e cinco anos da Carta apostólica do Papa João Paulo II, “Mulieris Dignitatem (1988-2013). Nesta histórica exortação, João Paulo II defende um feminismo cristão que não é de ontem nem de hoje. Remonta ao tempo da Criação: “Deus criou o homem à sua imagem; criou-o à imagem de Deus: criou-os homem e mulher” (Gén. 1,27).
      Deste modo, possuem igual dignidade. Rege-nos uma lei universal, gravada no coração humano, a lei natural; um desafio a toda a lei positiva que não pode desconhecer, nem contradizer, essa lei fundamental impressa no mais íntimo de cada ser humano: homem e mulher.
      Foram criados em perfeita igualdade enquanto pessoas no seu respetivo ser de homem e de mulher (Cat. da Igr. Católica). A mulher possui, com o mesmo título que o homem e no mesmo grau, a natureza de ser racional e livre. Foi a um e a outro que Deus atribuiu a missão de submeter a terra (Gén.1,28) e de trabalhar (Gén. 2,15).
      Abstraindo-nos do relato da criação, vemo-nos na impossibilidade de penetrar o profundo sentido da personalidade da mulher, do que é a sua feminilidade e do papel insubstituível que é chamada a desempenhar na vida da humanidade.
      A vocação da mulher não é uma vocação para a dependência mas para a alteridade, a complementaridade, na igualdade da natureza. A pessoa-homem e a pessoa-mulher, não podem realizar-se senão por um dom desinteressado de si porque, ser pessoa, significa tender à própria realização, explica João Paulo II.
      Uma sadia exaltação do papel da mulher leva a reconhecer que ela é chamada a levar à família, à sociedade civil, à Igreja, alguma coisa de caraterístico, que lhe é próprio e que só ela pode dar: a sua delicada ternura, generosidade incansável, o seu amor ao concreto, agudeza de engenho, capacidade de intuição, piedade profunda e simples, a sua tenacidade... A feminilidade não é autêntica se não reconhece a formosura dessa contribuição insubstituível e não a incorpora na própria vida…
      O desafio que se espera do verdadeiro feminismo é fazer a mulher verdadeiramente feliz, colocando-a no lugar que por direito lhe pertence: Mulher, Esposa e Mãe!
      O Papa referiu que há lugares e culturas nos quais a mulher é discriminada e menosprezada só pelo facto de ser mulher, fazendo dela objecto de maus-tratos ou de abusos na publicidade e na indústria do consumo e da diversão.
       Neste contexto, o Papa reivindicou o direito dos filhos “poderem contar com um pai e uma mãe para que cuidem deles e os acompanhem no seu crescimento. O Estado, pela sua parte, deve apoiar com políticas sociais adequadas, tudo o que promove a estabilidade e a unidade do matrimónio, a dignidade e a responsabilidade dos cônjuges, no seu direito e tarefa insubstituível de educadores dos filhos”. Por fim, exigir que se permita à mulher colaborar na construção da sociedade, valorizando o seu típico “génio feminino”.
      Por outro lado, reconheceu a necessidade de prevenir-nos contra o poder destruidor da ideologia do género, uma “revolução cultural em todos os âmbitos”, mais insidiosa e destruidora do que se possa pensar... o que determina que “Mulieris dignitatem” seja mais atual do que nunca porque, nesta carta, João Paulo II expressa “a verdade do homem, que é homem e mulher, e indica os seus princípios antropológicos”.
      Recordou que na ideologia do género, a sexualidade não se aceita “propriamente como constitutiva do homem” – mas “o ser humano seria o resultado do desejo de escolha”, de maneira que, “seja qual for o seu sexo físico” a pessoa -seja mulher ou homem –“poderia escolher o seu género” e modificar a sua opção, (antinatural!) quando quiser: homossexualidade, heterossexualidade, e outras coisas igualmente aberrantes…
      Nesta pseudo revolução cultural, a sociedade perde-se e a pessoa reduz-se a indivíduo, ao mesmo tempo que se questiona a família e a sua verdade – o matrimónio entre um homem e uma mulher aberto à vida...    
      Considerou ser urgente a promoção de um “Novo Feminismo” que reconheça o “génio feminino” e trabalhe pela superação da discriminação, já que todos os dias se assiste a uma rápida e profunda transformação dos modelos da identidade feminina e masculina, e da relação entre sexos.
       Recordamos também que João Paulo II convidou os leigos “a tornarem-se promotores de um novo feminismo” que supõe reconhecer e expressar o verdadeiro génio feminino em todas as manifestações da convivência civil, trabalhando pela superação de toda a forma de exploração, reconhecendo que ser mulher é uma autêntica, sublime e insubstituível missão!
Maria Helena Marques
Prof.ª Ensino Secundário

6ª Meta (Cont.) - O FILHO DE DEUS FEZ-SE HOMEM (PARÁGRAFO 1)

ARTIGO 3 «JESUS CRISTO FOI CONCEBIDO PELO PODER DO ESPÍRITO SANTO E NASCEU DA VIRGEM MARIA»
 
I. Porque é que o Verbo encarnou?
Com o Credo Niceno-Constantinopolitano, respondemos confessando: «Por nós, homens, e para nossa salvação, desceu dos céus; e encarnou pelo Espírito Santo no seio da Virgem Maria e Se fez homem». O Verbo fez-Se carne para nos salvar, reconciliando-nos com Deus.
Enferma, a nossa natureza precisava de ser curada; decaída, precisava de ser elevada; morta, precisava de ser ressuscitada. Tínhamos perdido a posse do bem; era preciso que nos fosse restituído. Encerrados nas trevas, precisávamos de quem nos trouxesse a luz; cativos, esperávamos um salvador: prisioneiros, esperávamos um auxílio; escravos, precisávamos dum libertador. Seriam razões sem importância? Não seriam suficientes para comover a Deus, a ponto de O fazer descer até à nossa natureza humana para a visitar, já que a humanidade se encontrava em estado tão miserável e infeliz? São Gregório de Nissa
O Verbo fez-Se carne, para que assim conhecêssemos o amor de Deus. O Verbo fez-Se carne, para ser o nosso modelo de santidade: «Tomai sobre vós o meu jugo e aprendei de Mim [...]» (Mt 11, 29). «Eu sou o caminho, a verdade e a vida. Ninguém vai ao Pai senão por Mim» (Jo 14, 6). E o Pai, na montanha da Transfiguração, ordena: «Escutai-o» (Mc 9, 7) (81). De facto, Ele é o modelo das bem-aventuranças e a norma da Lei nova: «Amai-vos uns aos outros como Eu vos amei» (Jo 15, 12). Este amor implica a oferta efetiva de nós mesmos, no seu seguimento. O Verbo fez-Se carne, para nos tornar «participantes da natureza divina» (2 Pe 1, 4): «Pois foi por essa razão que o Verbo Se fez homem, e o Filho de Deus Se fez Filho do Homem: foi para que o homem, entrando em comunhão com o Verbo e recebendo assim a adoção divina, se tornasse filho de Deus».
II. A Encarnação
Retomando a expressão de São João («o Verbo fez-Se carne»: Jo 1, 14), a Igreja chama «Encarnação» ao facto de o Filho de Deus ter assumido uma natureza humana, para nela levar a efeito a nossa salvação. Num hino que nos foi conservado por São Paulo, a Igreja canta este mistério:
A fé na verdadeira Encarnação do Filho de Deus é o sinal distintivo da fé cristã: «Nisto haveis de reconhecer o Espírito de Deus: todo o espírito que confessa a Jesus Cristo encarnado é de Deus» (1 Jo 4, 2). É esta a alegre convicção da Igreja desde o seu princípio, ao cantar «o grande mistério da piedade»: «Ele manifestou-Se na carne» (1 Tm 3, 16).
III. Verdadeiro Deus e verdadeiro homem
O acontecimento único e absolutamente singular da Encarnação do Filho de Deus não significa que Jesus Cristo seja em parte Deus e em parte homem, nem que seja o resultado de uma mistura confusa do divino com o humano. Ele fez-Se verdadeiro homem, permanecendo verdadeiro Deus. Jesus Cristo é verdadeiro Deus e verdadeiro homem. Esta verdade da fé, teve a Igreja de a defender e clarificar no decurso dos primeiros séculos, perante heresias que a falsificavam.
As primeiras heresias negaram menos a divindade de Cristo que a sua verdadeira humanidade (docetismo gnóstico). Desde os tempos apostólicos que a fé cristã insistiu sobre a verdadeira Encarnação do Filho de Deus «vindo na carne». Mas, a partir do século III, a Igreja teve de afirmar, contra Paulo de Samossata, num concilio reunido em Antioquia, que Jesus Cristo é Filho de Deus por natureza e não por adoção. O primeiro Concílio ecuménico de Niceia, em 325, confessou no seu Credo que o Filho de Deus é «gerado, não criado, consubstancial ('homoúsios') ao Pai»; e condenou Ario, o qual afirmava que «o Filho de Deus saiu do nada» e devia ser «duma substância diferente da do Pai». A heresia nestoriana via em Cristo uma pessoa humana unida à pessoa divina do Filho de Deus. Perante esta heresia, São Cirilo de Alexandria e o terceiro Concilio ecuménico, reunido em Éfeso em 431,confessaram que «o Verbo, unindo na sua pessoa uma carne animada por uma alma racional, Se fez homem». A humanidade de Cristo não tem outro sujeito senão a pessoa divina do Filho de Deus, que a assumiu e a fez sua desde que foi concebida. Por isso, o Concílio de Éfeso proclamou, cm 431, que Maria se tornou, com toda a verdade. Mãe de Deus, por ter concebido humanamente o Filho de Deus em seu seio: «Mãe de Deus, não porque o Verbo de Deus dela tenha recebido a natureza divina, mas porque dela recebeu o corpo sagrado, dotado duma alma racional, unido ao qual, na sua pessoa, se diz que o Verbo nasceu segundo a carne».
Os monofisitas afirmavam que a natureza humana tinha deixado de existir, como tal, em Cristo, sendo assumida pela sua pessoa divina de Filho de Deus. Confrontando-se com esta heresia, o quarto Concílio ecuménico, em Calcedónia, no ano de 451, confessou:
Na sequência dos santos Padres, ensinamos unanimemente que se confesse um só e mesmo Filho, nosso Senhor Jesus Cristo, igualmente perfeito na divindade e perfeito na humanidade, sendo o mesmo verdadeiramente Deus e verdadeiramente homem, composto duma alma racional e dum corpo, consubstancial ao Pai pela sua divindade, consubstancial a nós pela sua humanidade, «semelhante a nós em tudo, menos no pecado» (93): gerado do Pai antes de todos os séculos segundo a divindade, e nestes últimos dias, por nós e pela nossa salvação, nascido da Virgem Mãe de Deus segundo a humanidade. Um só e mesmo Cristo, Senhor, Filho Único, que devemos reconhecer em duas naturezas, sem confusão, sem mudança, sem divisão, sem separação. A diferença das naturezas não é abolida pela sua união; antes, as propriedades de cada uma são salvaguardadas e reunidas numa só pessoa e numa só hipóstase Concílio de Calcedónia
Depois do Concílio de Calcedónia, alguns fizeram da natureza humana de Cristo uma espécie de sujeito pessoal. Contra eles, o quinto Concílio ecuménico, reunido em Constantinopla em 553, confessou a propósito de Cristo: «não há n'Ele senão uma só hipóstase (ou pessoa), que é nosso Senhor Jesus Cristo, um da santa Trindade». Tudo na humanidade de Cristo deve, portanto, ser atribuído à sua pessoa divina como seu sujeito próprio; não só os milagres, mas também os sofrimentos e a própria morte: «Aquele que foi crucificado na carne, nosso Senhor Jesus Cristo, é verdadeiro Deus, Senhor da glória e um da Santíssima Trindade».
Assim, a Igreja confessa que Jesus é inseparavelmente verdadeiro Deus e verdadeiro homem. É verdadeiramente o Filho de Deus feito homem, nosso irmão, e isso sem deixar de ser Deus, nosso Senhor.
IV. Como é que o Filho de Deus é homem
Uma vez que, na união misteriosa da Encarnação, «a natureza humana foi assumida, não absorvida», a Igreja, no decorrer dos séculos, foi levada a confessar a plena realidade da alma humana, com as suas operações de inteligência e vontade, e do corpo humano de Cristo. Mas, paralelamente, a mesma Igreja teve de lembrar repetidamente que a natureza humana de Cristo pertence, como própria, à pessoa divina do Filho de Deus que a assumiu. Tudo o que Ele fez e faz nela, depende de «um da Trindade». Portanto, o Filho de Deus comunica à sua humanidade o seu próprio modo de existir pessoal na Santíssima Trindade. E assim, tanto na sua alma como no seu corpo, Cristo exprime humanamente os costumes divinos da Trindade:
«O Filho de Deus trabalhou com mãos humanas, pensou com uma inteligência humana, agiu com uma vontade humana, amou com um coração humano. Nascido da Virgem Maria, tornou-Se verdadeiramente um de nós, semelhante a nós em tudo, exceto no pecado» II Concílio do Vaticano
A ALMA E O CONHECIMENTO HUMANO DE CRISTO
Apolinário de Laodiceia afirmava que, em Cristo, o Verbo tinha ocupado o lugar da alma ou do espírito. Contra este erro, a Igreja confessou que o Filho eterno assumiu também uma alma racional humana. Esta alma humana, que o Filho de Deus assumiu, é dotada de um verdadeiro conhecimento humano. Como tal, este não podia ser por si mesmo ilimitado. Exercia-se nas condições históricas da sua existência no espaço e no tempo. Foi por isso que o Filho de Deus, fazendo-Se homem, pôde aceitar «crescer em sabedoria, estatura e graça» (Lc 2, 52) e também teve de Se informar sobre o que, na condição humana, deve aprender-se de modo experimental. Isso correspondia à realidade do seu abatimento voluntário na condição de servo. Mas, ao mesmo tempo, este conhecimento verdadeiramente humano do Filho de Deus exprimia a vida divina da sua pessoa. É o caso, em primeiro lugar, do conhecimento íntimo e imediato que o Filho de Deus feito homem tem do seu Pai. O Filho também mostrava, no seu conhecimento humano, a clarividência divina que tinha dos pensamentos secretos do coração dos homens. Pela sua união com a Sabedoria divina na pessoa do Verbo Encarnado, o conhecimento humano de Cristo gozava, em plenitude, da ciência dos desígnios eternos que tinha vindo revelar. O que neste domínio Ele reconhece ignorar declara, noutro ponto, não ter a missão de o revelar.
A VONTADE HUMANA DE CRISTO
De igual modo, a Igreja confessou, no sexto Concilio ecuménico, que Cristo possui duas vontades e duas operações naturais, divinas e humanas, não opostas mas cooperantes, de maneira que o Verbo feito carne quis humanamente, em obediência ao Pai, tudo quanto decidiu divinamente com o Pai e o Espírito Santo para a nossa salvação. A vontade humana de Cristo «segue a sua vontade divina, sem fazer resistência nem oposição em relação a ela, antes estando subordinada a essa vontade omnipotente».
O VERDADEIRO CORPO DE CRISTO
Uma vez que o Verbo Se fez carne, assumindo uma verdadeira natureza humana, o corpo de Cristo era circunscrito. Portanto, o rosto humano de Jesus pode ser «pintado». No VII Concílio ecuménico, a Igreja reconheceu como legítimo que ele fosse representado em santas imagens. Ao mesmo tempo, a Igreja sempre reconheceu que, no corpo de Jesus, «Deus que, por sua natureza, era invisível, tornou-Se visível aos nossos olhos». Com efeito, as particularidades individuais do corpo de Cristo exprimem a pessoa divina do Filho de Deus. Este fez seus os traços do seu corpo humano, de tal modo que, pintados numa imagem sagrada, podem ser venerados porque o crente que venera a sua imagem, «venera nela a pessoa nela representada».
  O CORAÇÃO DO VERBO ENCARNADO
Jesus conheceu-nos e amou-nos, a todos e a cada um, durante a sua vida, a sua agonia e a sua paixão, entregando-Se por cada um de nós: «O Filho de Deus amou-me e entregou-Se por mim» (Gl 2, 20). Amou-nos a todos com um coração humano. Por esse motivo, o Sagrado Coração de Jesus, trespassado pelos nossos pecados e para nossa salvação, «praecipuus consideratur index et symbolus... illius amoris, quo divinus Redemptor aeternum Patrem hominesque universos continenter adamat é considerado sinal e símbolo por excelência... daquele amor com que o divino Redentor ama sem cessar o eterno Pai e todos os homens».
 
Ano da Fé

6ª Meta - CAPÍTULO SEGUNDO - CREIO EM JESUS CRISTO, FILHO ÚNICO DE DEUS

A BOA-NOVA: DEUS ENVIOU O SEU FILHO
Quando chegou a plenitude dos tempos, Deus enviou o seu Filho, nascido de uma mulher e sujeito à Lei, para resgatar os que estavam sujeitos à Lei e nos tornar seus filhos adotivos (Gl 4, 4-5). Esta é a Boa-Nova de Jesus Cristo, Filho de Deus. Nós cremos e confessamos que Jesus de Nazaré, judeu nascido duma filha de Israel, em Belém, no tempo do rei Herodes o Grande e do imperador César Augusto, carpinteiro de profissão, morto crucificado em Jerusalém sob o procurador Pôncio Pilatos no reinado do imperador Tibério, é o Filho eterno de Deus feito homem; que Ele saiu de Deus (Jo 13, 3), desceu do céu (Jo 3, 13; 6, 33) e veio na carne, porque o Verbo fez-Se carne e habitou entre nós. Nós vimos a sua glória, glória que Lhe vem do Pai como Filho Unigénito, cheio de graça e de verdade [...] Na verdade, foi da sua plenitude que todos nós recebemos, graça sobre graça (Jo 1, 14, 16).
Movidos pela graça do Espírito Santo e atraídos pelo Pai, nós cremos e confessamos a respeito de Jesus: Tu és o Cristo, o Filho de Deus vivo (Mt 16, 16). Foi sobre o rochedo desta fé, confessada por Pedro, que Cristo edificou a sua Igreja.
«ANUNCIAR A INSONDÁVEL RIQUEZA DE CRISTO»
A transmissão da fé cristã é, antes de mais, o anúncio de Jesus Cristo, para levar à fé n'Ele. Desde o princípio, os primeiros discípulos arderam no desejo de anunciar Cristo e convidam os homens de todos os tempos a entrar na alegria da sua comunhão com Cristo.
NO CORAÇÃO DA CATEQUESE: CRISTO
No coração da catequese, encontramos essencialmente uma Pessoa: Jesus de Nazaré, Filho único do Pai [...], que sofreu e morreu por nós e que agora, ressuscitado, vive connosco para sempre [...]. Catequizar [...] é revelar, na Pessoa de Cristo, todo o desígnio eterno de Deus [...]. É procurar compreender o significado dos gestos e das palavras de Cristo e dos sinais por Ele realizados. O fim da catequese é pôr em comunhão com Jesus Cristo: somente Ele pode levar ao amor do Pai, no Espírito, e fazer-nos participar na vida da Santíssima Trindade.
Aquele que é chamado a «ensinar Cristo» deve, portanto, antes de mais nada, procurar «esse lucro sobre-eminente que é o conhecimento de Jesus Cristo». Tem de «aceitar perder tudo [...] para ganhar Cristo e encontrar-se n'Ele» e «conhecê-Lo, a Ele, na força da sua ressurreição e na comunhão com os seus sofrimentos, conformar-se com Ele na morte, na esperança de chegar a ressuscitar dos mortos» (Fl 3, 8-11). Deste conhecimento amoroso de Cristo brota o desejo de O anunciar, de «evangelizar» e levar os outros ao «sim» da fé em Jesus Cristo. Mas, ao mesmo tempo, faz-se sentir a necessidade de conhecer sempre melhor esta fé. Com esse objetivo, seguindo a ordem do Símbolo da fé, primeiro serão apresentados os principais títulos de Jesus: Cristo, Filho de Deus, Senhor (Artigo 2). O Símbolo confessa, em seguida, os principais mistérios da vida de Cristo: da sua Encarnação (Artigo 3), da sua Páscoa (Artigos 4 e 5) e, por fim, da sua Glorificação (Artigos 6 e 7).
ARTIGO 2 - «E EM JESUS CRISTO, SEU ÚNICO FILHO, NOSSO SENHOR»
I. Jesus
Em hebraico, Jesus quer dizer Deus salva. Quando da Anunciação, o anjo Gabriel dá-Lhe como nome próprio o nome de Jesus, o qual exprime, ao mesmo tempo, a sua identidade e a sua missão. Uma vez que «só Deus pode perdoar os pecados» (Mc 2, 7), será Ele quem, em Jesus, seu Filho eterno feito homem, «salvará o seu povo dos seus pecados» (Mt 1, 21). Em Jesus, Deus recapitula, assim, toda a sua história de salvação em favor dos homens. Nesta história da salvação, Deus não Se contenta com libertar Israel «da casa da escravidão» (Dt 5, 6), fazendo-o sair do Egipto. Salvou-o também do seus pecados. Porque o pecado é sempre uma ofensa feita a Deus, só Ele é que pode absolvê-lo. É por isso que Israel, tomando cada vez mais consciência da universalidade do pecado, só poderá procurar a salvação na invocação do nome do Deus Redentor.
O nome de Jesus significa que o próprio nome de Deus está presente na pessoa do seu Filho feito homem para a redenção universal e definitiva dos pecados. Ele é o único nome divino que traz a salvação e pode desde agora ser invocado por todos, pois a todos os homens Se uniu pela Encarnação, de tal modo que «não existe debaixo do céu outro nome, dado aos homens, pelo qual possamos ser salvos» (Act 4, l2) (17). O nome de Deus salvador era invocado apenas uma vez por ano, pelo sumo sacerdote, para expiação dos pecados de Israel, depois de ter aspergido o propiciatório do «santo dos santos» com o sangue do sacrifício (o propiciatório era o lugar da presença de Deus). Quando São Paulo diz de Jesus que Deus O «ofereceu para, n'Ele, pelo seu sangue, se realizar a expiação» (Rm 3, 25), quer dizer que, na sua humanidade, «era Deus que em Cristo reconciliava o mundo consigo» (2 Cor 5, 19).
A ressurreição de Jesus glorifica o nome de Deus salvador porque, a partir daí, é o nome de Jesus que manifesta em plenitude o poder supremo do nome que está acima de todos os nomes» (Fl 2, 9-10). Os espíritos maus temem o seu nome e é em seu nome que os discípulos de Jesus fazem milagres, porque tudo o que pedem ao Pai, em seu nome, Ele lho concede. O nome de Jesus está no centro da oração cristã. Todas as orações litúrgicas se concluem com a fórmula «per Dominum nostrum Jesum Christum – por nosso Senhor Jesus Cristo». A Ave-Maria culmina nas palavras «e bendito é o fruto do vosso ventre, Jesus». A oração-do-coração dos Orientais, chamada «oração a Jesus», diz: «Jesus Cristo, Filho de Deus, Senhor, tem piedade de mim, pecador». E muitos cristãos morrem, como Santa Joana d'Arc, tendo nos lábios apenas uma palavra: «Jesus».
II. Cristo
Cristo vem da tradução grega do termo hebraico «Messias», que quer dizer «ungido». Só se torna nome próprio de Jesus porque Ele cumpre perfeitamente a missão divina que tal nome significa. Com efeito, em Israel eram ungidos, em nome de Deus, aqueles que Lhe eram consagrados para uma missão d'Ele dimanada. Era o caso dos reis, dos sacerdotes e, em raros casos, dos profetas. Este devia ser, por excelência, o caso do Messias, que Deus enviaria para estabelecer definitivamente o seu Reino. O Messias devia ser ungido pelo Espírito do Senhor, ao mesmo tempo como rei e sacerdote mas também como profeta. Jesus realizou a expectativa messiânica de Israel na sua tríplice função de sacerdote, profeta e rei.
O anjo anunciou aos pastores o nascimento de Jesus como sendo o do Messias prometido a Israel: «nasceu-vos hoje, na cidade de David, um salvador que é Cristo, Senhor» (Lc 2, 11). Desde a origem, Ele é «Aquele que o Pai consagrou e enviou ao mundo» (Jo 10, 36), concebido como «santo» no seio virginal de Maria. José foi convidado por Deus a «levar para sua casa Maria, sua esposa», grávida d'«Aquele que nela foi gerado pelo poder do Espírito Santo» (Mt 1, 20), para que Jesus, «chamado Cristo», nascesse da esposa de José, na descendência messiânica de David (Mt 1, 16).
Numerosos judeus, e mesmo alguns pagãos que partilhavam da sua esperança, reconheceram em Jesus os traços fundamentais do messiânico «filho de David», prometido por Deus a Israel. Jesus aceitou o título de Messias a que tinha direito, mas não sem reservas, uma vez que esse título era compreendido, por numerosos dos seus contemporâneos, segundo um conceito demasiado humano, essencialmente político. Jesus aceitou a profissão de fé de Pedro, que O reconhecia como o Messias, anunciando a paixão próxima do Filho do Homem. Revelou o conteúdo autêntico da sua realeza messiânica, ao mesmo tempo na identidade transcendente do Filho do Homem «que desceu do céu» (Jo 3, 13) e na sua missão redentora como Servo sofredor: «O Filho do Homem [...] não veio para ser servido, veio para servir e dar a vida como resgate pela multidão» (Mt 20, 28). Foi por isso que o verdadeiro sentido da sua realeza só se manifestou do cimo da cruz. E só depois da ressurreição, a sua realeza messiânica poderá ser proclamada por Pedro perante o Povo de Deus: «Saiba, com absoluta certeza, toda a casa de Israel, que Deus fez Senhor e Messias esse Jesus que vós crucificastes» (Act 2, 36).
  III. Filho único de Deus
Filho de Deus, no Antigo Testamento, é um título dado aos anjos, ao povo eleito aos filhos de Israel e aos seus reis. Nestes casos, significa uma filiação adotiva, que estabelece entre Deus e a sua criatura relações de particular intimidade. Quando o Rei-Messias prometido é chamado «filho de Deus», isso não implica necessariamente, segundo o sentido literal de tais textos, que Ele seja mais que um simples ser humano. Os que assim designaram Jesus, enquanto Messias de Israel, talvez não tenham querido dizer mais. Mas não é este o caso de Pedro, quando confessa Jesus como «Cristo, o Filho de Deus vivo», porque Jesus responde-lhe solenemente: «não foram a carne nem o sangue que to revelaram, mas sim o meu Pai que está nos céus» (Mt 16, 17). Se Pedro pôde reconhecer o carácter transcendente da filiação divina de Jesus-Messias, foi porque Este lha deixou perceber nitidamente. Diante do Sinédrio, à pergunta dos seus acusadores: «Então, tu és o Filho de Deus?» Jesus respondeu: «É como dizeis, sou» (Lc 22, 70). Já muito antes, Ele Se designara como «o Filho» que conhece o Pai, diferente dos «servos» que Deus anteriormente enviara ao seu povo, superior aos próprios anjos. Ele distinguiu a sua filiação da dos Seus discípulos, nunca dizendo «Pai nosso», a não ser para lhes ordenar: «vós, quando rezardes, dizei assim: Pai nosso» (Mt 6,9); e sublinhou esta distinção: «o meu Pai e vosso Pai» (Jo 20, 17).
Os evangelhos referem, em dois momentos solenes, no batismo e na transfiguração de Cristo, a voz do Pai, que O designa como seu «filho muito-amado». Jesus designa-Se a Si próprio como «o Filho único de Deus» (Jo 3, 16), afirmando por este título a sua preexistência eterna. E exige a fé «no nome do Filho único de Deus» (Jo 3, 18). Esta profissão de fé cristã aparece já na exclamação do centurião diante de Jesus crucificado: «Verdadeiramente, este homem era o Filho de Deus!» (Mc 15, 39); porque somente no Mistério Pascal o crente pode dar pleno significado ao título de «Filho de Deus». É depois da ressurreição que a filiação divina de Jesus aparece no poder da sua humanidade glorificada: «Segundo o Espírito santificante, pela sua ressurreição de entre os mortos, Ele foi estabelecido como Filho de Deus em poder» (Rm 1, 4) (62). E os Apóstolos poderão confessar: «Nós vimos a sua glória, glória que Lhe vem do Pai como a Filho único, cheio de graça e de verdade» (Jo 1, 14).
IV. Senhor
Na tradução grega dos Livros do Antigo Testamento, o nome inefável sob o qual Deus Se revelou a Moisés, YHWH, é traduzido por « Kyrios» («Senhor»). Senhor torna-se, desde então, o nome mais habitual para designar a própria divindade do Deus de Israel. É neste sentido forte que o Novo Testamento utiliza o título de «Senhor», tanto para o Pai como também – e aí é que está a novidade – para Jesus, assim reconhecido como sendo Ele próprio Deus. O próprio Jesus veladamente atribui a Si mesmo este título, quando discute com os fariseus sobre o sentido do Salmo 110, e também, de modo explícito, ao dirigir-Se aos Apóstolos. Ao longo de toda a vida pública, os seus gestos de domínio sobre a natureza, sobre as doenças, sobre os demónios, sobre a morte e o pecado, demonstravam a sua soberania divina.
Muitíssimas vezes, nos evangelhos, aparecem pessoas que se dirigem a Jesus chamando-lhe «Senhor». Este título exprime o respeito e a confiança dos que se aproximam de Jesus e d'Ele esperam socorro e cura. Pronunciado sob a moção do Espírito Santo, exprime o reconhecimento do Mistério divino de Jesus. No encontro com Jesus ressuscitado, transforma-se em adoração: «Meu Senhor e meu Deus» (Jo 20, 28). Assume então uma conotação de amor e afeição, que vai ficar como típica da tradição cristã: «E o Senhor!» (Jo 21, 7). Ao atribuir a Jesus o título divino de Senhor, as primeiras confissões de fé da Igreja afirmam, desde o princípio, que o poder, a honra e a glória, devidos a Deus Pai, também são devidos a Jesus, porque Ele é «de condição divina» (Fl 2, 6) e o Pai manifestou esta soberania de Jesus ressuscitando-O de entre os mortos e exaltando-O na sua glória.
Desde o princípio da história cristã, a afirmação do senhorio de Jesus sobre o mundo e sobre a história significa também o reconhecimento de que o homem não deve submeter a sua liberdade pessoal, de modo absoluto, a nenhum poder terreno, mas somente a Deus Pai e ao Senhor Jesus Cristo: César não é o «Senhor». «A Igreja crê... que a chave, o centro e o fim de toda a história humana se encontra no seu Senhor e Mestre».
A oração cristã é marcada pelo título de «Senhor», quer no convite à oração: «O Senhor esteja convosco», quer na conclusão da mesma: «Por nosso Senhor Jesus Cristo», quer ainda pelo grito cheio de confiança e de esperança: «Maran atha» («O Senhor vem!») ou «Marana tha» («Vem, Senhor!») (1 Cor 16, 22): «Amen, vem, Senhor Jesus!» (Ap 22, 20).

5ª Meta (Cont.) - A QUEDA II

III. O pecado original
A prova da liberdade
Deus criou o homem à sua imagem e constituiu-o na sua amizade. Criatura espiritual, o homem só pode viver esta amizade na modalidade da livre submissão a Deus. É isso o que exprime a proibição feita ao homem de comer da árvore do conhecimento do bem e do mal. A árvore de conhecer o bem e o mal evoca simbolicamente o limite intransponível que o homem, como criatura, deve livremente reconhecer e confiadamente respeitar. O homem depende do Criador. Está sujeito às leis da criação e às normas morais que regulam o exercício da liberdade.
O primeiro pecado do homem
Tentado pelo Diabo, o homem deixou morrer no coração a confiança no seu Criador. Abusando da liberdade, desobedeceu ao mandamento de Deus. Nisso consistiu o primeiro pecado do homem. Daí em diante, todo o pecado será uma desobediência a Deus e uma falta de confiança na sua bondade. Neste pecado, o homem preferiu-se a si próprio a Deus, e por isso desprezou Deus: optou por si próprio contra Deus, contra as exigências da sua condição de criatura e, daí, contra o seu próprio bem. Constituído num estado de santidade, o homem estava destinado a ser plenamente divinizado por Deus na glória. Pela sedução do Diabo, quis ser como Deus, mas sem Deus, em vez de Deus, e não segundo Deu).
A Escritura refere as consequências dramáticas desta primeira desobediência: Adão e Eva perdem imediatamente a graça da santidade original. A harmonia em que viviam, graças à justiça original, ficou destruída; o domínio das faculdades espirituais da alma sobre o corpo foi quebrado; a união do homem e da mulher ficou sujeita a tensões; as suas relações serão marcadas pela avidez e pelo domínio. A harmonia com a criação desfez-se: a criação visível tornou-se, para o homem, estranha e hostil. Por causa do homem, a criação ficou sujeita à servidão da corrupção. Enfim, vai concretizar-se a consequência explicitamente anunciada para o caso da desobediência: o homem voltará ao pó de que foi formado. A morte faz a sua entrada na história da humanidade.
Consequências do pecado de Adão para a humanidade
Todos os homens estão implicados no pecado de Adão. Depois de São Paulo, a Igreja sempre ensinou que a imensa miséria que oprime os homens, e a sua inclinação para o mal e para a morte não se compreendem sem a ligação com o pecado de Adão e o facto de ele nos ter transmitido um pecado de que todos nascemos infetados e que é morte da alma. A partir desta certeza de fé, a Igreja confere o Batismo para a remissão dos pecados, mesmo às crianças que não cometeram qualquer pecado pessoal.
Como é que o pecado de Adão se tornou o pecado de todos os seus descendentes? Todo o género humano é, em Adão, “sicut unum corpus unius hominis – como um só corpo dum único homem”. Em virtude desta unidade do género humano, todos os homens estão implicados no pecado de Adão, do mesmo modo que todos estão implicados na justificação de Cristo. Todavia, a transmissão do pecado original é um mistério que nós não podemos compreender plenamente. Mas sabemos, pela Revelação, que Adão tinha recebido a santidade e a justiça originais, não só para si, mas para toda a natureza humana; consentindo na tentação, Adão e Eva cometeram um pecado pessoal, mas este pecado afeta a natureza humana que eles vão transmitir num estado decaído. É um pecado que vai ser transmitido a toda a humanidade por propagação, quer dizer, pela transmissão duma natureza humana privada da santidade e justiça originais. E é por isso que o pecado original se chama pecado por analogia: é um pecado contraído e não cometido; um estado, não um ato.
Embora próprio de cada um, o pecado original não tem, em qualquer descendente de Adão, carácter de falta pessoal. É a privação da santidade e justiça originais, mas a natureza humana não se encontra totalmente corrompida: está ferida nas suas próprias forças naturais, sujeita à ignorância, ao sofrimento e ao império da morte, e inclinada ao pecado (inclinação para o mal, que se chama concupiscência). O Batismo, ao conferir a vida da graça de Cristo, apaga o pecado original e reorienta o homem para Deus, mas as consequências para a natureza, enfraquecida e inclinada para o mal, persistem no homem e convidam-no ao combate espiritual.
A doutrina da Igreja sobre a transmissão do pecado original foi definida sobretudo no século V, particularmente sob o impulso da reflexão de Santo Agostinho contra o pelagianismo, e no século XVI, por oposição à Reforma protestante. Pelágio sustentava que o homem podia, pela força natural da sua vontade livre, sem a ajuda necessária da graça de Deus, levar uma vida moralmente boa; reduzia a influência do pecado de Adão à de um simples mau exemplo. Os primeiros reformadores protestantes, pelo contrário, ensinavam que o homem estava radicalmente pervertido e a sua liberdade anulada pelo pecado das origens: identificavam o pecado herdado por cada homem com a tendência para o mal (concupiscência), a qual seria invencível.
Um duro combate
A doutrina sobre o pecado original – ligada à da redenção por Cristo – proporciona uma visão de lúcido discernimento sobre a situação do homem e da sua ação neste mundo. Pelo pecado dos primeiros pais, o Diabo adquiriu um certo domínio sobre o homem, embora este permanecesse livre. As consequências do pecado original e de todos os pecados pessoais dos homens dão ao mundo, no seu conjunto, uma condição pecadora, que pode ser designada pela expressão de São João “o pecado do mundo”. Esta expressão significa também a influência negativa que as situações comunitárias e as estruturas sociais, que são o fruto dos pecados dos homens, exercem sobre as pessoas.
IV. Vós não o abandonastes ao poder da morte
Depois da queda, o homem não foi abandonado por Deus. Pelo contrário, Deus chamou-o e anunciou-lhe, de modo misterioso, que venceria o mal e se levantaria da queda. Esta passagem do Génesis tem sido chamada “Proto-Evangelho” por ser o primeiro anúncio do Messias redentor, do combate entre a Serpente e a Mulher, e da vitória final dum descendente desta. A Tradição cristã vê nesta passagem um anúncio do novo Adão que, pela sua obediência até à morte de cruz, repara superabundantemente a desobediência de Adão. Por outro lado, muitos santos Padres e Doutores da Igreja vêem na mulher, anunciada no “Proto-Evangelho”, a Mãe de Cristo, Maria, como nova Eva. Ela foi a primeira a beneficiar, dum modo único, da vitória sobre o pecado alcançada por Cristo: foi preservada de toda a mancha do pecado original e, durante toda a sua vida terrena, por uma graça especial de Deus, não cometeu qualquer espécie de pecado.

5ª Meta (cont.) - A QUEDA (Parágrafo 7)

Deus é infinitamente bom e todas as suas obras são boas. No entanto, ninguém escapa à experiência do sofrimento, dos males da natureza – que aparecem como ligados aos limites próprios das criaturas –, e sobretudo à questão do mal moral. Donde vem o mal? A sua própria busca dolorosa só encontrará saída na conversão ao Deus vivo. Porque o mistério da iniquidade só se esclarece à luz do mistério da piedade. A revelação do amor divino em Cristo manifestou, ao mesmo tempo, a extensão do mal e a superabundância da graça. Devemos, portanto, abordar a questão da origem do mal, fixando o olhar da nossa fé n'Aquele que é o seu único vencedor.
I. Onde abundou o pecado, sobreabundou a graça
A realidade do pecado
O pecado está presente na história do homem. Seria vão tentar ignorá-lo ou dar outros nomes a esta obscura realidade. Para tentar compreender o que é o pecado, temos primeiro de reconhecer o laço profundo que une o homem a Deus, porque, fora desta relação, o mal do pecado não é desmascarado na sua verdadeira identidade de recusa e oposição a Deus, embora continue a pesar na vida do homem e na história.
A realidade do pecado e, dum modo particular, a do pecado das origens, só se esclarece à luz da Revelação divina. Sem o conhecimento que esta nos dá de Deus, não se pode reconhecer claramente o pecado, e somos tentados a explicá-lo unicamente como falta de maturidade, fraqueza psicológica, erro, consequência necessária duma estrutura social inadequada, etc. Só no conhecimento do desígnio de Deus sobre o homem é que se compreende que o pecado é um abuso da liberdade que Deus dá às pessoas criadas para que possam amá-Lo e amarem-se mutuamente.
O pecado original – uma verdade fundamental da fé
É preciso conhecer Cristo como fonte da graça para reconhecer Adão como fonte do pecado. A doutrina do pecado original é, por assim dizer, o reverso da Boa-Nova de que Jesus é o Salvador de todos os homens, de que todos têm necessidade da salvação e de que a salvação é oferecida a todos, graças a Cristo. A Igreja, que tem o sentido de Cristo, sabe bem que não pode tocar-se na revelação do pecado original sem atentar contra o mistério de Cristo.
Para ler a narrativa da queda
A narrativa da queda (Gn 3) utiliza uma linguagem feita de imagens, mas afirma um acontecimento primordial, um facto que teve lugar no princípio da história do homem. A Revelação dá-nos uma certeza de fé de que toda a história humana está marcada pela falta original, livremente cometida pelos nossos primeiros pais.
II. A queda dos anjos
Por detrás da opção de desobediência dos nossos primeiros pais, há uma voz sedutora, oposta a Deus, a qual, por inveja, os faz cair na morte. A Escritura e a Tradição da Igreja vêem neste ser um anjo decaído, chamado Satanás ou Diabo. Segundo o ensinamento da Igreja, ele foi primeiro um anjo bom, criado por Deus. Diabolus enim et alii daemones a Deo quidem natura creati sunt boni, sed ipsi per se facti sunt mali – De facto, o Diabo e os outros demónios foram por Deus criados naturalmente bons; mas eles, por si, é que se fizeram maus.
A Escritura fala dum pecado destes anjos. A queda consiste na livre opção destes espíritos criados, que radical e irrevogavelmente recusaram Deus e o seu Reino. O Diabo é pecador desde o princípio, pai da mentira. É o carácter irrevogável da sua opção, e não uma falha da infinita misericórdia de Deus, que faz com que o pecado dos anjos não possa ser perdoado.
O poder de Satanás não é infinito. Satanás é uma simples criatura, poderosa pelo facto de ser puro espírito, mas, de qualquer modo, criatura: impotente para impedir a edificação do Reino de Deus. Embora Satanás exerça no mundo a sua ação, por ódio contra Deus e o seu reinado em Jesus Cristo, e embora a sua ação cause graves prejuízos – de natureza espiritual e indiretamente, também, de natureza física – a cada homem e à sociedade, essa ação é permitida pela divina Providência, que com força e suavidade dirige a história do homem e do mundo. A permissão divina da atividade diabólica é um grande mistério.

5ª Meta (cont.) - O HOMEM (PARÁGRAFO 6)


Deus criou o ser humano à sua imagem, criou-o à imagem de Deus. Ele o criou homem e mulher. O homem ocupa um lugar único na criação: é à imagem de Deus (I); na sua própria natureza, une o mundo espiritual e o mundo material (II); foi criado homem e mulher (III); Deus estabeleceu-o na sua amizade (IV)
I. A imagem de Deus
De todas as criaturas visíveis, só o homem é capaz de conhecer e amar o seu Criador; é a única criatura sobre a terra que Deus quis por si mesma; só ele é chamado a partilhar, pelo conhecimento e pelo amor, a vida de Deus.
Porque é à imagem de Deus, o indivíduo humano possui a dignidade de pessoa: ele não é somente alguma coisa, mas alguém. É capaz de se conhecer, de se possuir e de livremente se dar e entrar em comunhão com outras pessoas. E é chamado, pela graça, a uma Aliança com o seu Criador, a dar-Lhe uma resposta de fé e amor que mais ninguém pode dar em seu lugar.
Deus tudo criou para o homem mas o homem foi criado para servir e amar a Deus, e para Lhe oferecer toda a criação. Graças à comunidade de origem, o género humano forma uma unidade. Deus fez, a partir de um só homem todo o género humano para habitar sobre toda a face da terra.
II. Corpore et anima unus – Unidade de corpo e alma
A pessoa humana, criada à imagem de Deus, é um ser ao mesmo tempo corporal e espiritual. A narrativa bíblica exprime esta realidade numa linguagem simbólica, quando afirma que Deus formou o homem com o pó da terra, insuflou-lhe pelas narinas um sopro de vida, e o homem tornou-se num ser vivo. O homem, no seu ser total, foi, portanto, querido por Deus.
Muitas vezes, a palavra alma designa, nas Sagradas Escrituras, a vida humana ou a pessoa humana no seu todo. Mas designa também o que há de mais íntimo no homem e de maior valor na sua pessoa, aquilo que particularmente faz dele imagem de Deus: alma significa o princípio espiritual no homem.
O corpo do homem participa na dignidade da imagem de Deus: é corpo humano precisamente por ser animado pela alma espiritual, e a pessoa humana na sua totalidade é que é destinada a tornar-se, no Corpo (Místico) de Cristo, templo do Espírito.
A unidade da alma e do corpo é tão profunda que se deve considerar a alma como a “forma” do corpo; quer dizer, é graças à alma espiritual que o corpo, constituído de matéria, é um corpo humano e vivo. No homem, o espírito e a matéria não são duas naturezas unidas, mas a sua união forma uma única natureza. A Igreja ensina que cada alma espiritual é criada por Deus de modo imediato e não produzida pelos pais; e que é imortal, isto é, não morre quando, na morte, se separa do corpo; e que se unirá de novo ao corpo na ressurreição final.
Encontra-se às vezes uma distinção entre alma e espírito. A Igreja ensina que esta distinção não introduz uma dualidade na alma, Espírito significa que o homem é ordenado, desde a sua criação, para o seu fim sobrenatural, e que a alma é capaz de ser gratuitamente sobreelevada até à comunhão com Deus.
III. Homem e mulher os criou
Igualdade e diferença queridas por Deus
O homem e a mulher foram criados, quer dizer, foram queridos por Deus: em perfeita igualdade enquanto pessoas humanas, por um lado; mas, por outro, no seu respetivo ser de homem e de mulher. O homem e a mulher têm uma dignidade inamissível e que lhes vem imediatamente de Deus, seu Criador. O homem e a mulher são, com uma mesma dignidade, à imagem de Deus. No seu ‘ser homem’ e no seu ‘ser mulher’, refletem a sabedoria e a bondade do Criador.
Um para o outro – uma unidade a dois
Criados juntamente, o homem e a mulher são, na vontade de Deus, um para o outro. A Palavra de Deus no-lo dá a entender em diversos passos do texto sagrado. A mulher que Deus molda da costela tirada do homem e que apresenta ao homem, provoca da parte deste, uma exclamação admirativa, de amor e comunhão. O homem descobre a mulher como um outro eu da mesma humanidade.
O homem e a mulher são feitos um para o outro: não é que Deus os tenha feito a meias e incompletos; criou-os para uma comunhão de pessoas, em que cada um pode ser ajuda para o outro, uma vez que são, ao mesmo tempo, iguais enquanto pessoas e complementares enquanto masculino e feminino. No matrimónio, Deus une-os de modo que, formando uma só carne, possam transmitir a vida humana.
  IV. O homem no paraíso
O primeiro homem não só foi criado bom, como também foi constituído num estado de amizade com o seu Criador, e de harmonia consigo mesmo e com a criação que o rodeava; amizade e harmonia tais, que só serão ultrapassadas pela glória da nova criação em Cristo.
A Igreja, interpretando de modo autêntico o simbolismo da linguagem bíblica à luz do Novo Testamento e da Tradição, ensina que os nossos primeiros pais, Adão e Eva, foram constituídos num estado de santidade e de justiça originais. Todas as dimensões da vida do homem eram fortalecidas pela irradiação desta graça. Enquanto permanecesse na intimidade divina, o homem não devia nem morrer, nem sofrer. A harmonia interior da pessoa humana, a harmonia entre o homem e a mulher, enfim a harmonia entre o primeiro casal e toda a criação, constituía o estado dito de justiça original.
O domínio do mundo, que Deus tinha concedido ao homem desde o princípio, realizava-se, antes de mais, no próprio homem como domínio de si. O homem era integrado e ordenado em todo o seu ser, porque livre da tríplice concupiscência, que o sujeita aos prazeres dos sentidos, à ambição dos bens terrenos e à afirmação de si contra os imperativos da razão. Sinal da familiaridade com Deus é o facto de Deus o colocar no jardim. Toda esta harmonia da justiça original, prevista para o homem pelo plano de Deus, será perdida pelo pecado dos nossos primeiros pais.
 
Ano da Fé


5ª Meta - Céu e Terra (PARÁGRAFO 5 )


O Símbolo dos Apóstolos professa que Deus é Criador do céu e da terra. E o Símbolo Niceno-Constantinopolitano explicita: de todas as coisas, visíveis e invisíveis.
Na Sagrada Escritura, a expressão céu e terra significa: tudo o que existe, a criação inteira. Indica também o laço que, no interior da criação, ao mesmo tempo une e distingue céu e terra: a terra é o mundo dos homens; o céu ou os céus pode designar o firmamento, mas também o lugar próprio de Deus. Finalmente, a palavra céu indica o lugar das criaturas espirituais – os anjos – que rodeiam Deus.
A profissão de fé do quarto Concílio de Latrão afirma que Deus, desde o princípio do tempo, criou do nada ao mesmo tempo uma e outra criatura, a espiritual e a corporal, isto é, os anjos e o mundo terrestre. Depois criou a criatura humana, que participa das duas primeiras, formada, como é, de espírito e corpo.
I. Os anjos
A existência dos anjos uma verdade de fé
A existência dos seres espirituais, não-corporais, a que a Sagrada Escritura habitualmente chama anjos, é uma verdade de fé. O testemunho da Escritura é tão claro como a unanimidade da Tradição.
Quem são os Anjos?
Santo Agostinho diz a respeito deles: Anjo é nome de ofício, não de natureza. Desejas saber o nome da natureza? Espírito. Desejas saber o do ofício? Anjo. Pelo que é, é espírito: pelo que faz, é anjo (anjo = mensageiro).Com todo o seu ser, os anjos são servos e mensageiros de Deus. Pelo facto de contemplarem continuamente o rosto do meu Pai que está nos céus, eles são os poderosos executores das suas ordens, sempre atentos à sua palavra.
Enquanto criaturas puramente espirituais, são dotados de inteligência e vontade: são criaturas pessoais imortais. Excedem em perfeição todas as criaturas visíveis.
Cristo com todos os seus anjos
Cristo é o centro do mundo dos anjos (angélico). Estes pertencem-Lhe, porque criados por e para Ele e porque os fez mensageiros do seu plano salvador. Ei-los, desde a criação e ao longo de toda a história da salvação, anunciando de longe ou de perto esta mesma salvação, e postos ao serviço do plano divino da sua realização.
Da Encarnação à Ascensão, a vida do Verbo Encarnado é rodeada da adoração e serviço dos anjos. Quando Deus introduziu no mundo o seu Primogénito, disse: Adorem-n'O todos os anjos de Deus. O seu cântico de louvor, na altura do nascimento de Cristo, nunca deixou de se ouvir no louvor da Igreja. Eles protegem a infância de Jesus, servem-n'O no deserto e confortam-n'O na agonia no momento em que por eles poderia ter sido salvo das mãos dos inimigos como outrora Israel. São ainda os anjos que evangelizam, anunciando a Boa-Nova da Encarnação e da Ressurreição de Cristo.
Os anjos na vida da Igreja
Daqui resulta que toda a vida da Igreja beneficia da ajuda misteriosa e poderosa dos anjos. Na sua liturgia, a Igreja associa-se aos anjos para adorar a Deus três vezes santo; invoca a sua assistência como na oração “In paradisum deducant te angeli – conduzam-te os anjos ao paraíso” da Liturgia dos Defuntos, ou ainda no Hino querubínico da Liturgia bizantina, e festeja de modo mais particular a memória de certos anjos (São Miguel, São Gabriel, São Rafael e os Anjos da Guarda).
Desde o seu começo até à morte, a vida humana é acompanhada pela sua assistência e intercessão. Cada fiel tem a seu lado um anjo como protetor e pastor para o guiar na vida. Desde este mundo, a vida cristã participa, pela fé, na sociedade bem-aventurada dos anjos e dos homens, unidos em Deus.
II. O mundo visível
Foi o próprio Deus que criou o mundo visível, com toda a sua riqueza, a sua diversidade e a sua ordem. A Sagrada Escritura apresenta a obra do Criador, simbolicamente, como uma sequência de seis dias de trabalho divino, que terminam no repouso do sétimo dia. O texto sagrado ensina, a respeito da criação, verdades reveladas por Deus para a nossa salvação, as quais permitem conhecer a natureza última e o valor de todas as criaturas e a sua ordenação para a glória de Deus.
Nada existe que não deva a sua existência a Deus Criador: O mundo começou quando foi tirado do nada pela Palavra de Deus: todos os seres existentes, toda a Natureza, toda a história humana radicam neste acontecimento primordial: é a própria génese, pela qual o mundo foi constituído e o tempo começado.
Cada criatura possui a sua bondade e perfeição próprias. As diferentes criaturas, queridas pelo seu próprio ser, refletem, cada qual a seu modo, uma centelha da sabedoria e da bondade infinitas de Deus. É por isso que o homem deve respeitar a bondade própria de cada criatura, para evitar o uso desordenado das coisas, que despreza o Criador e traz consigo consequências nefastas para os homens e para o seu meio ambiente.
A beleza do Universo: A ordem e a harmonia do mundo criado resultam da diversidade dos seres e das relações existentes entre si. O homem descobre-as progressivamente como leis da natureza. Elas suscitam a admiração dos sábios. A beleza da criação reflete a beleza infinita do Criador, a qual deve inspirar o respeito e a submissão da inteligência e da vontade humanas. O homem é o ponto culminante da obra da criação. A narrativa inspirada exprime essa realidade, fazendo nítida distinção entre a criação do homem e a das outras criaturas.
Na criação, Deus estabeleceu uma base e leis que permanecem estáveis sobre as quais o crente pode apoiar-se com confiança, e que serão para ele sinal e garantia da fidelidade inquebrantável da Aliança divina. Por seu lado, o homem deve manter-se fiel a esta base e respeitar as leis que o Criador nela inscreveu. A criação foi feita em vista do Sábado e, portanto, do culto e da adoração de Deus. O Sábado está no coração da Lei de Israel. Guardar os Mandamentos é corresponder à sabedoria e à vontade de Deus, expressas na sua obra da criação.
O oitavo dia. Mas para nós, um dia novo surgiu: o dia da Ressurreição de Cristo. O sétimo dia acaba a primeira criação. O oitavo dia começa a nova criação. A obra da criação culmina, assim, na obra maior da Redenção. A primeira criação encontrou o seu sentido e cume ria nova criação em Cristo, cujo esplendor ultrapassa o da primeira.


Ano da Fé