quinta-feira, 4 de outubro de 2012

Velhos e novos registos da História...


      Viajando pelos caminhos do passado, somos levados a constatar que cada época se tem caracterizado por uma determinada barbaridade…E apesar da visível e magnífica evolução da humanidade em tantos aspectos, surpreende-nos, de forma confrangedora, o retrocesso civilizacional que se verifica em matérias de Direitos Humanos.

      Ao longo dos séculos, a História foi registando diversas ocorrências de “escravaturas” sob formas diferentes, praticadas por civilizações em que os homens dessas épocas, as vêem como acontecimentos normais.

      Aconteceu também entre nós, durante quatro séculos (séc. XV a finais do séc. XIX), com a escravatura propriamente dita; com o desconhecimento da igualdade entre homem e mulher, etc. e assim acontece hoje com o absurdo do aborto e outras aberrações aviltantes…

      Mas decorridos que sejam mais alguns anos, os vindouros olharão o século XX e XXI com assombro e, perguntar-se-ão, como fomos capazes de conviver pacificamente com milhões de vidas humanas inocentes, eliminadas no seio materno ao abrigo de leis iníquas, na presença da Ciência e de uma sociedade indiferente ao drama imenso da barbárie violenta, mais ou menos silenciosa e contínua!...

      Nos últimos tempos, têm-nos chegado ecos de alguns países, através dos meios de comunicação social, de relatos comoventes acerca do que tem acontecido nas chamadas “clínicas abortistas ”: diz-se que ali, e noutros lugares semelhantes, – infelizmente também entre nós – se aplica com frialdade a “pena de morte” a inocentes indefesos através de métodos industriais, a troco de dinheiro! Quanto tempo durará esta comoção?! Quanto tempo levará a nossa sociedade a esquecer-se destas revelações? De um modo geral, fará qualquer sentido o aborto?! Estará esta realidade, de acordo com o espírito do nosso tempo? Contribuirá ela para uma sociedade mais feliz e mais justa, mais respeitadora do outro, mais solidária e mais desenvolvida que dizemos querer construir?!

      Recordamos que, felizmente, fomos um dos primeiros países a abolir a escravatura e a pena de morte por crimes civis! No entanto, temos andado nos últimos tempos a `reboque` de outros como os Estados Unidos da América, a Inglaterra, Espanha, etc., no concernente a direitos fundamentais, nomeadamente no que toca ao direito à vida…

      Para os nossos dias, o aborto é, como sabemos, o preço da “libertinagem sexual”; é como a escravidão para os antigos que não podiam conceber uma sociedade sem escravos! Assim, diante destas realidades, podemos concluir que, nestes temas, o argumento não actua como arma da razão para esclarecer-se, mas antes como recusa do coração para converter-se...

      A luta contra o aborto que vai progredindo em muitos países, deve passar por recuperar uma visão responsável da sexualidade... Não restam dúvidas de que será um caminho mais árduo do que o empenho directo para mudar o Código Penal em matéria de aborto, mas parece ser o único possível!

      Acabar com a escravidão levou séculos de esforço pedagógico e antropológico acerca da dignidade universal de todos os seres humanos; acabar com o aborto levar – nos – á os anos que sejam necessários de esforço político e pedagógico sobre a nobreza e dignidade da sexualidade humana. Quanto mais depressa nos ponhamos a caminho, mais cedo chegaremos à meta. E, enquanto avançamos, reduzamos tanto quanto possível, o terrível ambiente de desumanidade legalizada por uma pequena minoria, que promoveu essa lei infame na nossa sociedade!

      Actuar com todos os meios lícitos disponíveis contra a bárbara instrumentalização da vida humana, é e será, necessariamente, a maior e mais nobre causa mobilizadora dos novos Homens e Mulheres do nosso tempo, qualquer que seja a sua matriz política, religiosa ou cultural.

      É, sem dúvida, o desafio prioritário que nos anima! …

Maria Helena Henriques Marques

Professora Ensino Secundário

quarta-feira, 3 de outubro de 2012

Refletindo sobre o "ANO da FÉ"...


      O Ano da Fé com início no próximo dia 11 de Outubro, prolongar-se-á até 24 de Novembro de 2013, Festa de Cristo-Rei!

      Oferece-se-nos, mais uma vez, uma oportunidade de aproveitamento de graças especiais para uma mais séria e plena conversão a Deus, para reforçarmos a nossa fé nele, para que possamos anunciá-lo com alegria e convicção, aos homens do nosso tempo, como nos lembra o Santo Padre, Bento XVI na Carta a Porta da Fé.

      Estamos e continuamos sob a pressão de uma gigantesca crise económica e financeira cujas verdadeiras causas e dimensões não compreendemos plenamente, mas em que as consequências são por demais evidentes, na medida em que afetam de forma dramática muitas famílias e populações… E porquê tudo isto?!

      Vão sendo referidas algumas respostas vagas e insuficientes para a enormidade do problema, que de modo nenhum satisfazem.

      Para Bento XVI, o maior problema, a maior ameaça à Europa, não é a crise financeira que já há muito se arrasta; a maior crise é a crise de ética que ameaça, mina e pode destruir em todos os aspetos, o Velho Continente.

      Diz o Papa: “Embora certos valores como a solidariedade, o serviço aos outros, a responsabilidade pelos pobres e atribulados sejam em grande parte compartilhados, todavia falta muitas vezes a força capaz de motivar e induzir o indivíduo e os grandes grupos sociais a abraçarem renúncias e sacrifícios”.

      Para o Santo Padre o maior desafio que a Igreja enfrenta neste momento é “a profunda crise de fé”, manifestada de formas diversas…Constatamos isso, por exemplo, ao visitar as igrejas durante as celebrações: as pessoas que participam na Liturgia Eucarística – na Santa Missa dominical –, na receção do Sacramento da Penitência – (Confissão pessoal) –, são menos e mais idosas…

      Tinha razão o Papa João Paulo II quando em 1995 dizia: “Tem-se instalado em muitas pessoas um sentimento religioso vago e pouco comprometido; levam uma vida como se Deus não existisse” (23.11.95.

      Também Bento XVI em Maio de 2010, manifestava em Fátima essa mesma preocupação: “Enquanto no passado, era possível reconhecer um tecido cultural unitário, amplamente compartilhado no seu apelo aos conteúdos da fé e aos valores por ela inspirados, hoje parece que já não é assim em grandes setores da sociedade devido a uma profunda crise de fé e de valores que atingiu muitas pessoas”.

      No início deste ano, o Papa constatava o mesmo problema, dizendo: “em grandes regiões do mundo, a fé corre o risco de se apagar como uma chama que já não encontra alimento”…

      Trata-se, na realidade de uma crise profunda, uma perda do sentido religioso (impresso na alma de cada ser humano pelo Criador!), que é o maior desafio para todos os cristãos. Constata-se uma lassidão, um afrouxamento, um cansaço da fé…que, normalmente, trazem atrás muitos dos males de que vamos tendo notícia…

      É à luz de tudo isto que Bento XVI anuncia o Ano da Fé com o objetivo de tornar Deus mais presente neste mundo.

      A Fé é o elemento central do Cristianismo e o que dá um sentido profundo à existência… Um sentido que não pode ser construído ou comprado pelo homem, mas recebido como um puro dom. Porque é iniciativa de Deus. É Ele quem primeiro nos ama e nos procura. Encontramo-lO se queremos, definitivamente na Sua Palavra e nos Sacramentos. É, por conseguinte, um dom de Deus quando aderimos com humildade e gratidão à Sua proposta…

        Diante da profunda crise que manifesta a perda do sentido religioso, a renovação da fé deve ser a prioridade no compromisso de toda a Igreja – dos fiéis batizados – nos nossos dias. Diz o Santo Padre: “Desejo que o Ano da Fé possa contribuir, com a colaboração cordial de todos os componentes do povo de Deus, para tornar Deus novamente presente neste mundo, ao confiar-se àquele Deus que nos amou até ao fim (Jo.13,1), em Jesus Cristo Crucificado e Ressuscitado”. (Bento XVI, Porta Fidei).

      Procuremos mostrar a todos, com a nossa vida, a força e a beleza da fé! A fé torna-nos magnânimos, porque alarga o coração com a esperança e leva-nos à prática da caridade. Celebremos a fé com as obras, confessando-a em várias formas e lugares: na família, na escola, no grupo, na comunidade. Descubramos novamente os seus conteúdos no Catecismo da Igreja Católica, 1.ª Parte, ou no Compêndio. É um esforço que certamente realizaremos com gosto para reavivar a nossa fé que nos levará, necessariamente, com a naturalidade da nossa vida, a tornarmo-nos testemunhas da presença e do amor de Jesus Cristo.

      A propósito da Nova Evangelização dizia o Beato João Paulo II: “Queridos irmãos, a missão antiga e nova que está diante de nós, é aquela que leva os homens e as mulheres do nosso tempo à relação com Deus; que os ajuda a abrir a mente e o coração àquele Deus que os ama, que os procura e quer estar junto deles, para os guiar e ajudar a compreender que cumprir a Sua vontade não é um limite à liberdade, mas antes a ser realmente livres para realizar o verdadeiro e o maior bem da vida”…

 

Maria Helena Marques

Prof.ª Ensino Secundário

segunda-feira, 1 de outubro de 2012

Com a “ pedra angular”, enraizados na Fé …

      Caminhamos a passos largos para a abertura do Ano da Fé proclamado pelo Papa Bento XVI, e logo no início de uma simples reflexão sobre o acontecimento, reconhecemos que, sem sombra de dúvida, o Catecismo da Igreja Católica é a pedra angular que nos mantém enraizados na fé.

      O Ano da Fé começará no dia 11 de Outubro de 2012, no 50.º Aniversário da inauguração do Concílio Vaticano II, e terminará em 24 de Novembro de 2013, na Solenidade de Cristo Rei do Universo; comemora-se também o 20. -º Aniversário da publicação do Catecismo da Igreja Católica.

      Através de uma sucinta análise à sociedade em que vivemos, reconhecemos ser absolutamente necessária uma verdadeira recepção e estudo do catecismo de tal modo que se converta em um fundamento e veículo para a transmissão dos conteúdos da fé. Conteúdos imprescindíveis para a preparação dos Sacramentos que recebemos, particularmente o Sacramento da Eucaristia e o Sacramento da Penitência; para o plano de formação e programas didáticos das aulas de Religião para os jovens e para os menos jovens…

       O Catecismo reconhecido como a “fonte de fé “ assistida pelo Espírito Santo, é um legado do Papa Beato João Paulo II que, em 1985, pediu a criação do Catecismo durante o vigésimo aniversário do encerramento do Concílio Vaticano II, em sessão extraordinária do Sínodo dos Bispos para agradecer os enormes frutos espirituais nascidos do Concílio.

      O Catecismo da Igreja Católica é a exposição da fé da Igreja e da doutrina católica, iluminadas pela Sagrada Escritura, pela Tradição apostólica, e pelo Magistério eclesiástico, e um excelente fruto da renovação iniciada no Concílio Vaticano II.

      Esta renovação que tem vindo a ser designada como “A Nova Evangelização” deve começar connosco como um processo que se inicia em cada pessoa e que possa responder ao desafio da crise de fé na atualidade. O mundo de hoje procura na Igreja e, por conseguinte – em cada um de nós – a palavra de vida e de esperança, a verdade que nos faz verdadeiramente livres.

      Na “Porta da Fé”, o Papa salienta que quer para todos nós, porque batizados, “uma nova conversão para aprofundarmos mais na vida espiritual e no compromisso com o Evangelho para podermos enfrentar o desafio da crise de fé”…

      Deste modo, as pessoas que devem ser evangelizadas primeiro, somos nós mesmas. A nova evangelização começa nos nossos corações: no teu e no meu. Só assim será possível a renovação na Igreja!

      Para dar vida a este processo, precisamos todos – clérigos e leigos – de viver a coragem da humildade e de cada um no seu ambiente conhecer e transmitir aquilo em que acredita e por que acredita, e que não tenha medo de defender os valores da fé na praça pública, não dando importância aos obstáculos que a nossa sociedade descristianizada, secularizada, apresente. São insdispensáveis homens e mulheres em todas as áreas da vida social que, pelo simples testemunho da sua fé católica – fé com obras! -, possam abrir os corações de outros ao amor de Deus e abrir as suas mentes à beleza e  verdade da mensagem cristã.

      A feliz iniciativa de celebrar o “Ano da Fé” tem como primordial objetivo “precisamente, dar um renovado impulso à missão de toda a igreja de conduzir os homens para fora do deserto em que muitas vezes se encontram, rumo ao lugar da vida, a amizade com Jesus Cristo, que nos dá a sua vida em plenitude”, explicou o Papa. Esse “Ano da Fé”, prosseguiu, “será um momento de graça e de compromisso para uma conversão a Deus cada vez mais plena, para reforçar a nossa fé n`Ele e para anunciá – lO com alegria aos homens da nossa época”.

      O Pontífice recordou ainda que “a missão da Igreja, como a de Cristo, é essencialmente falar de Deus, recordar a Sua soberania a todos, – especialmente aos cristãos que perderam a sua identidade – o direito de Deus sobre o que Lhe pertence, isto é, a nossa vida”.

                                                                                                                           Maria Helena H. Marques
                                                                                                                           Professora Ensino Secundário