sexta-feira, 25 de janeiro de 2008

“Cérebro e Educação - Diferenças sexuais e aprendizagem”



  • Educação diferenciada


Estudos neurológicos lançam nova luz sobre as diferenças sexuais na aprendizagem.



O reconhecimento das diferenças dos cérebros masculino e feminino, e a sua consideração no processo educativo poderiam supor uma revolução no rendimento académico e facilitar uma redução notável dos actuais níveis de insucesso escolar, tendo em conta as conclusões de uma jornada convocada pela Associação Europeia de Educação Diferenciada (EASSE). Uma das estratégias que esta entidade propõe – apoiando-se na liberdade de ensino – é a possibilidade de separar as aulas de rapazes e raparigas por níveis etários, coincidindo com os diferentes períodos cognitivos, já reconhecidos pela ciência.


Conforme explicou Maria Calvo, presidente da EASSE, “o que se pretende é combinar as aportações de cientistas de áreas diversas, com diferentes orientações e que chegaram a algumas conclusões parecidas: há diferenças cognitivas a que se deveria prestar atenção; deste modo, a defesa de uma educação diferenciada não é uma questão política, cultural ou religiosa como por vezes se pretende admitir.


Ainda que neurologistas e psicólogos sejam cautelosos no momento de fazer generalizações com as conclusões dos seus estudos, coincidem em afirmar que “as capacidades cognitivas são, em linhas gerais, diferentes entre o cérebro masculino e feminino. O primeiro está melhor dotado para o manejo espacial e o raciocínio matemático. O segundo para a fluidez verbal e a interpretação dos dados emocionais”, conforme declarou Hugo Liaño, professor da Universidade Autónoma de Madrid e chefe do serviço de Neurologia do Hospital Puerta de Hierro de Madrid. Estas afirmações que se apoiam em investigações neuropsicológicas recentes, têm origem no dimorfismo cerebral – diferenças de forma segundo o sexo, distinção que começa no período embrionário e que se mantém ao longo da vida, devido à influência hormonal.



Por exemplo, a acção das hormonas dá lugar a “um maior tamanho de certos núcleos cerebrais no homem comparativamente à mulher, e a uma maior lateralização das funções cerebrais na mulher relativamente ao homem", afirma Maria Gudin, neuróloga e autora do livro "Cérebro e afectividade". Apesar de reconhecer que muitas das diferenças entre os géneros não estarão totalmente estabelecidas, Gudin considera que “devem ser tidas em conta à hora de definir estratégias psicopedagógicas na educação”.


  • Ensinamentos da psicologia

Na opinião de Francisco José Rubia, catedrático de Fisiologia e autor do livro "O sexo do cérebro", uma das conclusões aplicáveis à área educativa provém, precisamente, da maturação posterior do hemisfério esquerdo nos rapazes, que faz com que transtornos de desenvolvimento, como a dislexia, a hiperactividade ou a tartamudez os afectem mais.


A partir do âmbito da psicologia acrescentam-se novos pontos dissemelhantes com implicações educativas, como “o rendimento académico, a aparição e o desenvolvimento da linguagem, as habilidades numéricas, espaciais, mecânicas, etc. que demonstram uma clara diferença entre homem e mulher”, afirma Serafim Lemos, catedrático de Psicologia da Universidade de Oviedo.


Assim, “com umas medidas de desenvolvimento linguístico prematuro, incide-se no desenvolvimento intelectual posterior das mulheres, mas não tanto nos homens; e uma carência de educação no período pré-escolar; ao contrário, tem efeitos mais negativos nas meninas do que nos meninos”, declara Lemos, sem perder de vista que não devem ter lugar generalizações do tipo “qualquer mulher é superior a qualquer homem nas capacidades ou agilidades verbais ou que qualquer homem supera a mulher nas habilidades viso-espaciais”.


O mesmo autor aponta ainda algumas tendências diferentes na personalidade de homens e mulheres: “os varões caracterizam-se por um maior nível de agressividade, dominância e motivação do lucro; as mulheres, pelo motivo de uma maior dependência, uma mais intensa orientação social, daí serem mais afectadas pelos fracassos”. Embora a aparição desses rasgos de personalidade se encontre motivada por factores biológicos como a herança e as funções neuropsicológicas, na sua configuração também actuam elementos de tipo psicossocial, como estilos de vida, entre os quais se incluem os tipos de educação e de protecção, e sobre os quais se poderia actuar.

  • Consequências no ensino

Para Maria Calvo, “impõe-se aproveitar todas as diferenças inatas, para tirar o máximo partido da educação”. E no marco da liberdade de ensino, “permitir uma educação diferenciada flexível, nas escolas públicas, para alguns grupos etários, com a finalidade de tentar diminuir o insucesso escolar masculino ou fomentar as destrezas matemáticas nas raparigas, como já se tem vindo a verificar com êxito na Alemanha” é fundamental.


Considera ainda que muitos professores não estão conscientes das diferenças e “exigem o mesmo, de idêntica forma, tanto a meninos como meninas, no mesmo espaço de tempo e com o objectivo de obter uma mesma resposta por parte de ambos os sexos".


Um claro exponente é o modo de abordar o fracasso escolar – o nível de abandonos em Espanha atinge os 33% aos 16 anos-, pois “ignora-se a existência de uma forte componente sexual no insucesso escolar e, apesar de a variável sexo ser relevante no âmbito educativo, não há nenhuma actuação para encontrar uma solução, quer experimental queradministrativa”.


Os resultados das investigações sobre o cérebro também permitem outras leituras, com consequências educativas a diferentes níveis. Para Natália López Moratalla, catedrática de Bioquímica e autora do livro "Cérebro de mulher e cérebro de varão" (Rialp), assegura, precisamente, que o facto de, no cérebro humano, haver dois hemisférios abre a possibilidade de dois estilos de pensar que a unidade vital deverá equilibrar: “Um cérebro humanizado pode passar para primeiro plano o olhar analítico ou o olhar contemplativo, de acordo com a actividade que estiver a realizar, apesar da assimetria funcional dos hemisférios direito e esquerdo estar determinada, geneticamente, por processos precoces da vida fetal, e pelos níveis de hormonas(...); também a educação, a cultura e as resoluções pessoais amadurecem ou humanizam um cérebro que,consegue permanecer plástico por toda a vida”.


M. Ângeles Burguera. Aceprensa, 18 /12 07


Tradução e adaptação: Maria Helena Henriques Marques
Professora do Ensino Secundário

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