quinta-feira, 27 de dezembro de 2007

Fé e Razão:Duas formas de Conhecimento

Reduzindo-a à expressão mais simples, a fé pode ser definida “como a certeza de coisas que se esperam, a convicção de factos que se não vêem”. (Heb. 11.1).

A é entendida por filósofos crentes, como uma fonte de verdade, a par da razão. A razão, por sua vez, é a faculdade de raciocinar, de apreender, de ponderar, de julgar; a inteligência.


A fé não é racional no sentido de encontrar a sua origem nas capacidades da razão, mas torna-se racional porque, para se acreditar, temos de acolher com a inteligência e o coração a Verdade revelada.


Ambos são fontes de conhecimento, que não se confundem, nem anulam mutuamente, mas que se encontram na inteligibilidade da fé. São dois dons de Deus que se completam.
O conhecimento é a relação que se estabelece entre o sujeito que conhece ou deseja conhecer e o objecto a ser conhecido...


Baseando-se no conhecimento da situação cultural da nossa época, o Papa Bento XVI, fazendo uma breve análise, salientou que o Mundo e, de modo particular, o Ocidente, se caracteriza pela forte incidência de uma onda cultural laicista e ilustrada, que considera, racionalmente, válido apenas o que se pode experimentar e calcular.


No plano do comportamento, define-se por ter erigido a liberdade individual como valor supremo. A ética encerra-se nos confins do relativismo e do utilitarismo, pois exclui-se qualquer princípio moral que seja válido e vinculativo. Nesse esquema, Deus não tem lugar em muitos sectores da cultura ou da vida pública.

Depois desta sucinta análise o Papa conclui que “não é difícil ver que este tipo de cultura representa um corte radical e profundo não só com o Cristianismo mas também com as tradições religiosas e morais da humanidade”.

Esta corrente cultural mostra uma profunda carência e um grande desejo de esperança, que o Papa resume assim: “nesta era pós-moderna, é urgente uma nova evangelização”.


E citando a constituição apostólica de João Paulo II, “Sapientia christiana” em que manifestava idêntica preocupação, Bento XVI reafirmou que esse compromisso é muito urgente nesta época onde se adverte a necessidade de uma nova evangelização, que “precisa de mestres na fé, arautos e testemunhas do Evangelho, convenientemente preparados”.


Este objectivo primordial de BentoXVI, tem estado bem patente nos seus escritos, homilias e discursos, que evidenciam como procura dar a conhecer a Pessoa de Jesus Cristo – Deus e Homem – e fomentar a amizade com Ele.


A adesão crescente de crentes e não crentes a este empenho do Papa, bem visível na Praça de S. Pedro, é um sinal do “dom de línguas”, com que comunica a mensagem.

À semelhança de João Paulo II, Bento XVI tem insistido na necessidade de conciliar a fé e a razão, considerando-as “as asas pelas quais o espírito humano se eleva para a contemplação da Verdade”...


João Paulo II lembrava também a importância da filosofia para progredir no conhecimento e, citando S. Tomás de Aquino, referia que a luz da razão e a luz fé provêm ambas de Deus e, por isso, não se podem contradizer entre si mas, ao contrário, são complementares.


Para Bento XVI, a fé apresenta-se como amiga da razão, uma luz potente que se infunde na nossa inteligência humana, podendo desempenhar o papel de análise crítica da mesma religião. Por outro lado, a razão aberta à busca da verdade, proporciona, na perspectiva cristã, uma base para o diálogo com outras crenças...


O discurso de Bento XVI em Ratisbona, pretendeu reafirmar isto: não agir segundo a razão é contrário à natureza de Deus, revela uma incompatibilidade total entre fé e violência. O Papa falava a gente da ciência e procurava demonstrar que a razão não pode expulsar Deus da vida e que a fé não pode separar-se da razão.


As citações proferidas naquele contexto, produziram mal entendidos. Mas o texto, tal como pretendia incluir Deus na ciência e no mundo contemporâneo com a inevitabilidade da razão, também recusava a espada como instrumento de implantação da fé. Posteriormente, Bento XVI, por ocasião do Angelus manifestou-se magoado pela interpretação distorcida das suas palavras. E recordou que o seu discurso era um convite ao diálogo franco e sincero, com grande respeito mútuo.

“O discurso que recordou a História, não visava ofender quem quer que fosse, mas apenas reafirmar a urgência da presença de Deus no mundo de hoje, proclamada pelo Cristianismo e pelo Islamismo, mas com a recusa total da violência como arma política ou religiosa”.


Ampliar horizontes


As relações entre fé e razão manifestam-se na vida e devem ser aprofundadas na formação individual; especialmente num tempo em que na educação se transmitem cada vez mais conhecimentos científicos, a formação cristã não pode descurar a sua base de racionalidade.
Os ensinamentos de João Paulo II e Bento XVI, são chamamentos que interpelam a cuidar a própria formação.


As leituras de qualidade podem ser uma ajuda indispensável para ampliar e melhorar os próprios horizontes do conhecimento. Uma excelente ajuda para a formulação de novos projectos, e que nos permite ajuizar melhor as informações veiculadas pelos meios de comunicação social.
Por isso, para reabilitar a razão e exercitá-la em harmonia com a fé, é decisivo que a educação que se recebe na família ou na escola ajude a apreciar, já desde a infância, a beleza do bem, dos comportamentos virtuosos e das obras integramente realizadas. Dos pais, professores e amigos depende que os jovens se afeiçoem cedo às boas leituras e exercitem cada vez mais essa participação no “Logos” divino que é a inteligência...


A nova evangelização deve ser encarada como uma atitude permanente do cristão. Uma atitude eloquente e eficaz uma vez que acontece na vida quotidiana e encontra sempre novas expressões, novos caminhos procurando impregnar de sentido e espírito cristão todos os ambientes, todas as encruzilhadas da vida na sociedade...


O Papa, Bento XVI com sentido da realidade sem pessimismo, tem manifestado que é necessário que se torne visível o grande “sim” que supõe a fé, o grande “sim” que Deus comunicou ao homem e à sua vida, ao amor humano, à nossa liberdade e à nossa inteligência.
Tornar visível, com obras, um Catolicismo positivo na nossa vida.



Maria Helena Henriques Marques
Professora do Ensino Secundário

NATAL

Abrem-se os céus em jorros de luz,
Nasceu o Deus de amor!
Os anjos cantam nos céus,
A Jesus, nosso Redentor!
Corre o mel entre os rochedos,
Apressado vai o pastor
Levar o seu presente,
Ao Rei divino salvador!
O Menino em palhas deitado,
Deus menino no teu coração,
Leva-lhe sorrisos e abraços,
A tua imensa gratidão!
Na Catedral do teu coração,
Jesus, Maria e José!
Grava a letras d'ouro,
Jesus, aumenta a minha Fé!


Viseu, 2007/ 12/ 06
Maria José Bastos

Boas Festas



Que
Fazer
Senhor,
neste NA-
TAL? Armar
uma árvore den-
tro do meu coração,
e nela pendurar, em vez
de presentes, os nomes de
todos os meus amigos? Os ami-
gos de longe e os de perto. Os an-
tigos e os mais recentes, os que vejo em
cada dia e os que, raramente, encontro. Os
sempre lembrados e os que ás vezes, ficam
esquecidos. Os das horas difíceis e os das horas
alegres. Os que, sem querer, eu magoei ou, sem que-
rer, me magoaram. Aqueles que conheço profundamen-
te e aqueles de quem me são conhecidas apenas as aparên-
cias. Os que pouco me devem e aqueles a quem muito devo,
meus amigos humildes e meus amigos importantes. Os nomes de
todos os que já passaram pela minha vida. Uma árvore de raízes tão
profundas para que os seus nomes nunca sejam arrancados do meu
coração,
de ramos muito extensos para que novos nomes, vindos de todas as partes
venham juntar-se aos existentes. De sombra muito e muito agradável para que
a nossa
amizade
seja um
momento

de repouso das lutas da vida. Que
esta árvore seja ETERNA!...
BOM e SANTO NATAL
FELIZ ANO NOVO!
2008

Mensagem de Natal


Glória a Deus nas Alturas e, na terra paz aos homens”... anunciam os Anjos aos Pastores, em Belém, na noite de Natal!

Neste mistério que celebramos, Mistério da Encarnação, Deus manifesta-nos que a sua entrega aos homens não tem limites. Ao nascer em Belém de Judá, Jesus revela um Deus oculto na pequenez, que se deixa vencer, rebaixando-se à mais completa debilidade.

Nada mais contrário ao que acontece no mundo! Faz-se pequeno e pobre, ocupa o lugar de uma criança, o último lugar... Chega disposto a compartilhar as nossas necessidades e as nossas dores!


Vem – como diria mais tarde- “para que tenhamos vida e vida em abundância”...


Assim,Jesus Cristo oferece a todos os homens uma vida nova, um dom que consiste numa nova amizade com Deus. Não exclui, não marginaliza ninguém, por mais pobre e pequeno que seja. Os fracos e os desprezados, sentem-se acolhidos; sentem que terminou o tempo da solidão, da vergonha, da humilhação; recuperam a dignidade que julgavam ter perdido.

Jesus ao fazer-se amigo das crianças (dos pequenos!) e dos pobres, identifica-se com eles. “Todas as vezes que fizestes isto a um dos meus irmãos mais pequeninos, foi a Mim mesmo que o fizestes” (Mt 25, 40).


É a lógica do amor: Deus que é a própria Grandeza, Beleza e Poder, oculta-se naquilo que é menor, mais frágil, mais sofrido; ensina-nos que a lógica do amor é diferente da lógica da razão ou do poder: mostra-nos, na prática, que amar é colocar-se disponível, ao alcance do outro... “ Vinde a Mim, vós todos que estais sobrecarregados e aflitos com o peso do fardo, e eu vos aliviarei” (Mt 11, 28).


Na sua passagem pela terra, Jesus não só cura os corpos dos que sofrem alguma enfermidade, como perdoa os pecados daqueles que se manifestam arrependidos. Revela-nos a alegria de Deus ao perdoar. A parábola da ovelha tresmalhada, dá-nos a conhecer a felicidade do pastor que recupera o seu animal... Ao encontrá-la, leva-a sobre os ombros cheio de alegria.
Revela-se como pai misericordioso na história do filho pródigo. Quando o pai vê o filho sujo, fraco e andrajoso, a voltar para si, corre a abraçá-lo, sem julgá-lo, sem censurá-lo. Apenas quer recuperá-lo, voltar a viver com ele. Esse desejo apaga as feridas que o jovem lhe causou.


É assim o amor de Deus pelos homens. Desce dos céus para libertá-lo da sua culpa e da sua miséria. Um amor misericordioso e gratuito que provoca o nosso amor contrito e agradecido.
Veio para servir. Prestou-nos o máximo serviço com a sua morte na Cruz, ultrapassando todas as expectativas humanas. “É escândalo para os judeus e loucura para os pagãos” (1 Cor 1, 23).
Deus pobre e humilde, põe-se de joelhos enquanto lava os pés aos apóstolos, como um simples criado; já crucificado, deixa-se atacar e injuriar. É um escândalo. É o inverso do nosso mundo. É uma mensagem de amor.


A sua descida inicia-se quando toma a natureza humana, manifesta-se claramente no lava-pés e culmina na Paixão e Morte. “Vimos a sua glória” (Jo 1, 14), exclama S. João, referindo-se principalmente à glória da cruz. Não há dúvida: a glória de Deus é o amor! Cumpre-se em Jesus o paradoxo do amor autêntico: engrandece-se pela entrega e diminuição de si mesmo pelo bem do outro.


Glória a Deus no Céu e na Terra


Dar glória a Deus nas alturas, como cantam os Anjos em Belém, mas também na terra, não é apenas uma forma de expressão, mas um estilo de vida. Um estilo de vida completamente novo, para que Deus nos convida. Convida-nos a entrar no seu Reino não apenas depois da morte, mas aqui e agora. Para aqueles que compreendem este chamamento, a união com Cristo chega a ser mais importante que qualquer outra coisa. É uma experiência libertadora, que vale a pena!
Dessa maneira, podemos antecipar a realidade do Reino de Deus. É como se a nossa vida fosse um “ensaio geral” daquilo que faremos por toda a eternidade: deixar transparecer o amor, a bondade e a misericórdia divinas. Dar glória a Deus na terra é descobrir e comunicar, aqui e agora, a Felicidade!

O sentido do mistério de Belém, da encarnação de Deus Filho que se fez uma criancinha desvalida poderia ser resumido assim: “Deus chama-nos à sua própria bem-aventurança” (Catecismo da Igreja Católica, n.º 1719).
Por isso, o Anjo diz aos pastores: “Não temais, eis que vos anuncio uma boa nova que será alegria para todo o povo: hoje, na cidade de David, nasceu-vos um Salvador, que é o Messias, Senhor. Encontrareis um Menino envolto em panos e deitado numa manjedoira” (Lc 2, 11).



E o exército celeste junta-se ao Anjo: “Glória a Deus nas alturas e paz na terra aos homens do Seu agrado!”



Maria Helena Henriques Marques
Professora do Ensino Secundário

Natal, Festa do Nascimento de Jesus Cristo



Existia o Verbo, no princípio
E por Ele, tudo foi criado.
Ele estava com Deus, no início
E agora e sempre, é Deus Incarnado!

Ele era para todos, a Luz,
Que havia de iluminar o Mundo!...
Então, fez-Se Homem, é Jesus,
Que nos traz o seu Amor profundo!...

Coros de Anjos, Glória a Deus cantaram,
Quando Jesus nasceu em Belém.
Aos pastores, Paz anunciaram
E a toda a Terra, Amor, Paz e Bem!

Correm logo os pastores, ligeiros,
Querendo visitar o Menino!
De todos, são eles os primeiros,
Que encontram o Salvador Divino!

E os pastores com tão grande dita,
Falam de Anjos que viram no céu!
E Maria, Sua Mãe, medita
No coração, o que aconteceu!...

Privilegiados os pastores,
Os simples, puros de coração!
Sejamos nós seus imitadores...
Peçamos a Jesus, Seu Perdão!...

Jesus Cristo, que é Homem e Deus,
Igual a nós, menos no pecado,
É o Criador da Terra e dos Céus!...
Livrai-nos do mal, Deus Humanado!

Oh Jesus, Deus de todo o Universo!
Vós Vos fizestes tão pequenino,
Que a manjedoura tendes por berço!...
Abençoai-nos, ó Deus Menino!!...

Queríamos ver-Vos em Belém!
Tão pobre, e humilde, Jesus Menino!
Oh quem nos dera ver Vossa Mãe,
A adorar-Vos, ó Verbo Divino!!...

Viestes p´ra nos salvar, Senhor,
No Vosso Sacrifício da Cruz,
Pelo qual, nosso Deus, por Amor,
Concedeis aos homens, toda a Luz!


Nós Vos agradecemos, Senhor,
Tanto Amor, tanta Felicidade!...
Aceitai o nosso humilde amor,
Agora, e sempre, na Eternidade!...

O Vosso Sacrifício, na Cruz
Torna-se presente no Altar,
Porque o Vosso Coração, Jesus,
Cada homem continua a amar!

É no Altar, que toda a Vossa Vida,
Belém, Calvário, Ressurreição,
Ao Pai e a Vós, é oferecida,
Para a nossa Eterna Salvação!

Vamos, ao Presépio, contemplar
O nosso Deus, que é tão pequenino!
Vamos, agora e sempre, adorar
Nosso Senhor, que Se fez Menino!

Seu pai Adoptivo está contente!!...
É o seu Menino, é o Senhor!!...
Vai protegê-lO, como um valente,
E dedicar-Lhe todo o amor!

Vamos ao Presépio, contemplar
Jesus Menino, o Salvador!
É o Deus do Céu, da Terra e do Mar!...
Cantemos hinos, em Seu louvor!...

Celebramos este grande dia,
A Festa do Natal do Senhor!
Vamos todos, com muita alegria,
Ao Menino, cantar com amor!

Contemplemos, Jesus no Seu berço!
Cantemos, sempre, nossos louvores!
Menino Jesus, Rei do Universo,
Salvai-nos, que somos pecadores!

Deus Omnipotente está ali,
Em pobre gruta, feito criança!
Vamos vê-lO, que Ele nos sorri!
É o nosso Pai, a nossa Esperança!

Viseu, Natal de 2007
Maria Natália Henriques Marques

A crise de liderança moral conduz à decadência...II


A sociedade portuguesa, civilizada, pacífica por tradição, já vai andando à deriva e começa a ser alarmante, preocupante, o crescente clima de violência que a comunicação social denuncia.

Mata-se sem contemplações pelos motivos mais fúteis que se podem imaginar, e vai-se acentuando um quadro de desumanização nas relações entre as pessoas, inclusivamente, nos meios familiares.

Muitas vezes nos temos referido a alguns dos crimes contra as crianças que, como todos conhecemos vão do abandono aos maus tratos, tantas vezes selváticos; não obstante a gravidade destes actos, sem qualquer justificação nem perdão, a Lei Penal continua branda, neutra, quase indiferente ao sofrimento das vítimas.

Mas nem só a punição severa resolverá a trágica situação.


São, com certeza, consequências de factores determinantes das malformações morais que por aí abundam, a promoção constante, nos grandes meios de Comunicação Social, das maiores aberrações do comportamento humano, como constatamos, diariamente, nos filmes – americanos e não só – emitidos pelos diversos canais televisivos.

Também será, certamente, o resultado de se ter retirado às escolas, em grande parte, a sua função essencial: a da formação integral dos cidadãos, incutindo nos alunos os princípios cristãos, em que se firma (ou devia firmar) a nossa civilização: da solidariedade, da caridade, da fraternidade, do altruísmo, num total respeito pela vida e pela dignidade de todos os seres humanos...

Mas até quando teremos de deixar que seja o Estado e só o Estado a promover a educação moral e cívica? Até quando esperar que se exaltem os valores espirituais, quando aquilo a que estamos a assistir é precisamente o contrário?

Sem sombra de dúvida, constatamos que é o próprio Estado que dá os maus exemplos ao facilitar e incentivar, além de outras, as práticas abortistas que, não obstante as justificações, constituem evidentes atentados contra a vida humana.

Tal como aconteceu em civilizações que nos precederam, o princípio do seu fim foi anunciado pelo desrespeito da vida humana.


Indicia a decadência das sociedades no que se refere aos costumes e, muito particularmente, nessa falta de respeito pela vida e pela dignidade de cada homem e de cada mulher, desde a concepção até à morte natural.




Maria Helena Henriques Marques
(Professora do Ensino Secundário)

domingo, 25 de novembro de 2007

A crise de liderança moral conduz à decadência I



No âmago da crise moral que nos últimos anos tem afligido a humanidade, há uma enorme falta de liderança moral, em todos os segmentos da sociedade humana, conforme o que é tristemente indicado pelas evidências crescentes de negligência ética, reveladas entre autoridades dos níveis mais altos da sociedade, tanto em instituições públicas como privadas, por todo o mundo.

Vários indicadores apontam nessa direcção mas, o mais evidente, é o desrespeito pela vida humana.

É impressionante que o maior dom de que todos somos titulares – o dom da Vida – ande por aí tão mal tratado!

A vida é o espaço e o tempo que nos cabe percorrer, e que por isso deve ser sempre orientada por um ideal elevado, elevador, que lhe dê sentido. Viver com sentido, deixando o rasto de utilidade, de compreensão, de concórdia..., semeando paz e alegria.

Uma vida com sentido é a daquele que sabe de onde vem e para onde vai. Daquele que, perscrutando o mundo maravilhoso da sua interioridade, descobre uma imensa riqueza potencial, em gérmen, à espera de ser desenvolvida.

Desenvolver essa interioridade é projectar uma imagem que causa admiração pelo vigor sereno com que actua.

§ pelo equilíbrio das suas manifestações, da suave firmeza das suas decisões;
§ pela sua cordial mas poderosa força de vontade,
§ pela sua paz e serenidade interiores que transbordam;
§ pelo seu saber-estar em toda a parte;
§ pelo seu poder prescindir, sem se alterar, do supérfluo e até do necessário, sem qualquer queixa;
§ pelo seu bom ânimo nas adversidades
§ e pela sua simplicidade quando a fortuna lhe sorri.

Viver assim, é viver a vida em profundidade, é viver de acordo com a marca da profunda sabedoria de viver.

Sabedoria de viver, imensamente enriquecida pela revelação cristã, que trouxe, além de profundos conhecimentos sobre o ser humano, um novo modelo de Homem – Jesus Cristo – (Homem e Deus), e as forças necessárias para viver de acordo com o modelo proposto. “Eu vim para que tenham vida e a tenham em abundância”...

Viver desta Vida, percorrendo esse Caminho, assimilando essa Verdade, é conquistar as virtudes que vão estendendo a ordem da razão e o domínio da vontade a todo o âmbito do agir. Concentram as forças do homem, que se torna capaz de orientar a sua actividade nas direcções que ele mesmo se propõe.

A própria palavra virtude, que é de origem latina, está relacionada com a palavra “homem” (vir)e a palavra “força” (vis). A grande força do homem são as suas virtudes, embora a sua constituição física possa ser fraca.

Só alguém treinado no exercício do bem pode guiar a sua vida de acordo com os seus princípios, sem ceder a cada passo, diante da mais pequena dificuldade ou de solicitações contrárias.

Pelo contrário, os pequenos vícios da conduta – o acostumar-se a não fazer as coisas quando e como devem ser feitas – enfraquecem o carácter e tornam o homem incapaz de viver de acordo com o seu fim último e de acordo com os seus ideais.

São pequenas escravidões que acabam por produzir uma personalidade medíocre a resvalar por um plano inclinado que pode conduzir ao abismo.

Desviar-se do Norte, da rota segura e certa, é andar à deriva, sujeito a todos os ventos e marés, à tempestade e, muitas vezes, à morte...

Maria Helena Henriques Marques
(Professora do Ensino Secundário)

sexta-feira, 16 de novembro de 2007

A FIDELIDADE



" Quem for fiel até à morte receberá a coroa da Vida "


A fidelidade consiste em cumprir o que se prometeu, conformando assim as palavras com os actos. Somos fiéis se guardamos a palavra dada, se mantemos firmemente os compromissos adquiridos, apesar dos obstáculos.
O âmbito da fidelidade é muito vasto:
  • com Deus
  • entre marido e mulher
  • entre amigos
... é uma virtude essencial: sem ela é impossível a convivência. Relaciona-se estreitamente com o amor, com a fé e com a vocação.
" Faz-me tremer, conhecendo a minha pequenez; leva-me a exigir de mim fidelidade ao Senhor, até nos factos que podem parecer indiferentes, porque, se não me servem para unir-me mais a Ele, não os quero!" (S. Josémaria, Sulco, n.º 343).

Para que nos servem, se não nos levam a Cristo?
"Anda na minha presença e sê fiel". "Guarda o pacto, contigo", diz-nos Deus, "continuamente no íntimo do nosso coração".
A nossa época não se caracteriza pelo florescimento da virtude da fidelidade. Talvez por isso o Senhor nos peça que saibamos apreciá-la mais, tanto nos nossos compromissos de entrega livremente adquiridos com Deus; como na vida humana, nos relacionamentos com os outros.

Muitos se perguntam: como pode o homem, que é mutável, fraco e instável, comprometer-se por toda a vida? Pode! Porque a sua fidelidade é sustentada por Aquele que não é mutável, nem fraco, nem instável; por Deus.

" Cristo" – diz João Paulo II – "necessita de vós e vos chama para ajudardes milhões de irmãos vossos a serem plenamente homens e a salvar-se. Abri os vossos corações a Cristo, à sua lei de amor, sem condicionar a disponibilidade, sem medo de respostas definitivas, porque o amor e a amizade não têm fim ", porque o amor não envelhece.

Quando amamos, é toda a nossa pessoa que se entrega a esse amor, para além dos gostos e dos estados de ânimo. " O pagamento, a diária do amor é receber mais amor.

No amor o principal não é o sentimento, mas a vontade e as obras; e que o amor exige esforço, sacrifício e entrega.
O sentimento não oferece base segura para construir algo tão fundamental como a fidelidade. Esta virtude bebe a sua firmeza no amor verdadeiro. Por isso quando o amor – humano ou divino – já passou pelo período de maior sentimento, o que resta não é o menos importante, mas o essencial, é o que dá sentido a tudo.

Todos podemos fazer o que está ao nosso alcance para assegurar a fidelidade. A perseverança até ao final da vida torna-se possível com a fidelidade nas pequenas situações de cada dia e com o recomeçar sempre que tenha havido algum passo em falso por fraqueza.

Um homem ou mulher de oração sabe sempre sair das ciladas que lhe armam as suas tendências desordenadas, os seus desânimos ou as misérias próprias ou alheias. No colóquio silencioso com Deus em que a alma se desnuda, esse homem ou mulher fortalece ou recupera o critério claro e as energias para resistir.
O amor " é o peso que me arrasta ", o centro de gravidade, o norte da nossa alma na tarefa da fidelidade. Por isso o amor a Deus, que não permite muros nem divisões entre o homem e o seu Deus, leva à sinceridade, suporte seguro da fidelidade.

As virtudes da fidelidade e da lealdade devem informar todas as manifestações da vida do cristão:
  • relacionamento com Deus,
  • com a Igreja
  • com o próximo
  • notrabalho
  • nos deveres de estado...

Só se vive a fidelidade, em todas as suas formas, quando se é fiel à vocação recebida de Deus, na medida em que nela estão integrados todos os demais valores em que devemos lealdade e fidelidade. Se faltasse a fidelidade a Deus tudo se quebraria em mil pedaços e a vida se transformaria em cascalho.

" O Coração de Jesus, o Coração humano de Deus-Homem, está abrasado pela chama viva do Amor trinitário, que jamais se extingue " e é fiel no seu amor pelos homens.

Nós devemos aprender desse amor fiel.

Viseu, 18 de Julho de 2007
Maria José Bastos

A construção da disciplina interactiva na Escola



A sociedade tem vindo a transformar-se rapidamente nas últimas décadas, o que justifica que os modelos educativos ocidentais também tenham mudado.
Especialmente a partir de Maio de 68, passámos a assistir à imposição de uma concepção utópica e idealista, que considerava importantes as possibilidades dos alunos e desvalorizava os conflitos educativos.

Os métodos da educação tradicional passaram a ser substituídos por uma obsessiva democratização da escola a par de alterações funestas da pedagogia. Deste modo, na maior parte dos países que se deixaram arrastar por esta tendência, verificamos que o fracasso escolar e a deterioração do ambiente educativo estão na ordem do dia.

A família e a escola mudaram muito. Antes a família era cúmplice da escola. Actualmente, de um modo geral, muitos pais delegam na escola as suas próprias responsabilidades, demitindo-se completamente da sua autoridade e da missão de primordiais educadores dos seus filhos. Por um lado, os pais não se atrevem a educar os seus filhos e, por outro, a sociedade fomenta, especialmente, através dos meios de comunicação social, um amor-próprio descabido que deriva em cómoda autocompaixão e desleixo.
À Escola pede-se ou exige-se resultados!...

Mas a vida, a experiência têm-nos demonstrado as vantagens pedagógicas de uma educação baseada na segurança, na clareza, na autoridade e na disciplina. Sempre que na vida prática se reconhecem estes valores, ficam a ganhar, de modo especial, os alunos, que acabam por ver como se expandem as suas possibilidades humanas, sociais e intelectuais.

No entanto, tem faltado coragem para admitir e reconhecer que a exigência pode fortalecer e
que a super-protecção pode debilitar...
São as próprias crianças e os jovens que, normalmente, aceitam e valorizam muito mais do que parece, esta pedagogia, que não é, de forma nenhuma, sinónimo de desumanização, bem pelo contrário...

Por outro lado, a insegurança dos protagonistas da educação – pais e professores – contagia os alunos, que não vêem convicções sólidas em quem deveria motivá-los e educá-los!

Assim, não podemos perder de vista que a escola tem actualmente uma responsabilidade acrescida e uma importância fundamental na socialização das crianças e adolescentes que procedem, sobretudo, de famílias com um único filho (e que, por isso, podem ser hiper-protegidos), ou de famílias desestruturadas, que não recebem nenhum tipo de educação familiar.
Por tudo isto, os professores são unânimes em reconhecer que a função docente não pode reduzir-se apenas a garantir a ordem e a organização.
Se não impera um clima de autoridade, de trabalho e de disciplina – compatível com o oportuno sentido do humor, a amizade e a alegria – a educação estará a desvalorizar um dos seus mais importantes recursos.

É imperioso resgatar os valores do passado e estar abertos aos novos valores emergentes, em função das necessidades provocadas pelas contradições sociais, políticas, económicas e culturais, num processo de continuidade-ruptura, numa perspectiva dialéctica, visando o ideal:
  • uma disciplina consciente e interactiva;
  • uma disciplina construtiva marcada pela participação, respeito, responsabilidade na edificação do conhecimento, formação do carácter e da cidadania.

Maria Helena Henriques Marques
Professora do Ensino Secundário

sábado, 3 de novembro de 2007

De menores maltratados a menores delinquentes



Na Europa a delinquência juvenil preocupa cada vez mais


Perante factos violentos, protagonizados por pessoas cada vez mais jovens, fiscalistas, juizes e políticos ponderam, por vezes, a conveniência de baixar o limite de idade para a responsabilidade penal dos menores. Causam alarme excessivo os casos de delitos graves em que predomina a violência e intimidação das pessoas. O carácter proteccionista que a legislação teve sempre sobre menores choca cada vez mais com essa inquietação geral que produzem os actos ilícitos cometidos por rapazes cada vez mais jovens ano após ano.


O problema costuma atribuir-se em grande parte a um fenómeno de anomia, pelo crescimento da permissividade entre os jovens, que não aceitam constrangimentos familiares nem sociais, com um elevado grau de indisciplina escolar.


Chegam a produzir-se casos limite em que os pais – sobretudo em famílias monoparentais – se vêem forçados a transferir o poder paternal para instituições públicas, perante a impossibilidade de evitar o comportamento violento e agressivo de seus filhos.


Isto choca com medidas proteccionistas que privariam os pais de recursos mais ou menos clássicos para impor a sua autoridade. O Defensor do Menor da Comunidade de Madrid, em colaboração com a ONG Save the Children, chegou a propor em 2005 uma modificação do Código Civil espanhol para proibir todo o castigo físico dos pais aos seus filhos dentro do próprio lar. O actual artigo 154 faculta-lhes uma razoável e moderada correcção. Mas já se têm lavrado sentenças contra pais excessivamente violentos.

A protecção dos menores está actualmente no centro da preocupação internacional, nos seus diversos aspectos. Não pode separar-se do incremento de manifestações violentas demasiado precoces.

O diário Le Monde publicou no passado 4 de Julho uma extensa reportagem sobre a justiça de menores na Europa, em que propõe, como denominador comum, a tendência para uma maior severidade. Porque alguns dados são arrepiantes, como a percentagem de menores dentro do conjunto da criminalidade: está entre 15% e 20% ou mais no Reino Unido, Alemanha e França; entre 10% e 15%, na Áustria, República Checa, Polónia, Dinamarca e Suécia. Apenas a Finlândia e a Noruega estão abaixo de 5%.

Não parece influir nesses números a idade da responsabilidade penal, que é igual ou inferior à idade mínima para uma possível privação da liberdade. Respectivamente, são 10 e 10 no Reino Unido; 14 e 14 na Alemanha; 10 e 13 em França. Os três países nórdicos coincidem em 15 e15.

Aumenta a delinquência juvenil em todos os países ocidentais, conforme afirma o investigador Sebastian Roché:

“Pode-se falar de um fenómeno global, uma vez que aparecem as mesmas causas em todos os países:


desestruturação familiar,
abandono escolar,
frustração económica.

Os estudos ligados ao consumo de imagens violentas nos países ocidentais mostram também convergência: uma socialização dos jovens através dessas imagens de violência.”


Ao contrário, o magistrado italiano Luigi Fadiga referia-se à excepção transalpina num colóquio celebrado em 2006: “Uma das explicações é o peso da família, que continua a ser muito forte e é o lugar onde se resolvem os problemas, enquanto que a falta de um apoio de referência familiar é uma das causas da delinquência”.

Logicamente, um governo que comprova o crescimento da criminalidade, não pode pelo menos, deixar de ser mais repressivo. É o caso de Blair ou Gordon Brawn na Grã-Bretanha, ou José Luis R. Zapatero em Espanha. Igualmente em França, onde o Senado Francês tem estado a desenvolver um projecto de lei sobre reincidência, tanto de adultos como de menores, de modo a pôr freio à reiteração de condutas delituosas menos graves mas muito frequentes.

Em muitos outros países repetem-se as iniciativas para diminuir progressivamente a idade da responsabilidade penal.

Aceprensa, 25-07-2007


Tradução e adaptação: Maria Helena Henriques Marques
Professora do Ensino Secundário


Prémio Nobel da Literatura

Doris Lessing, “dourado desencanto”...
A vencedora do prémio Nobel de Literatura 2007 abraçou causas ideológicas do século XX, com uma visão independente e desesperançada


Para a Academia Sueca, Doris Lessing mereceu o prémio Nobel da Literatura 2007 “pela sua épica narrativa da experiência feminina, que com cepticismo, paixão e poder visionário, submeteu a exame uma civilização despida”.

A notoriedade de Doris Lessing surgiu, especialmente, com a sua novela El cuaderno dorado, de 1962, que foi saudada como um manifesto pelo movimento feminista durante os anos sessenta e setenta.

A partir daí, como escreve Robert Barnard, “Lessing foi elevada pelo movimento feminista dos anos setenta à categoria de guru (processo que ela mesma recusou e que lhe produziu bastante desconforto), mas o excessivo finca -pé que se fez acerca disso lesionou seriamente a sua carreira” (Breve história da literatura inglesa).

Autora de uma prolífica obra literária, Lessing não conseguiu converter-se numa escritora popular. O seu prestígio foi bastante minoritário, mantido em algumas ocasiões não pelo impacto literário das suas novelas mas antes pelo peso ideológico que podiam transmitir. E apesar de ser autora de umas quantas boas novelas e de dois interessantes livros de memórias, não conseguiu que alguma das suas obras se convertesse numa obrigatória referência literária, se exceptuarmos El cuaderno dorado, louvado mais por questões extraliterárias.


A experiência do colonialismo



Doris May Tayler nasceu em 1919 em Kirmansah, na antiga Pérsia (actualmente Irão), onde o seu pai estava destacado como militar. Em 1924 mudaram-se para a Rodésia do Sul (hoje Zimbabue). Doris viveu numa granja no norte do país e conheceu muito de perto a realidade racista do colonialismo. Nas suas obras denunciou o trabalho de tantos colonos brancos que perpetuaram um sistema classista e injusto, que ela conhecia em primeira-mão uma vez que fez parte dele. As suas denúncias foram tão fortes que em 1956, quando já residia na Grã-Bretanha, foi declarada “persona non grata” pelo governo da Rodésia.

Teve uma infância e adolescência muito conflituosas, com frequentes confrontos com a sua mãe. Aos 15 anos abandonou o lar. Nas suas memórias escreveu: “Estava a lutar pela minha vida contra a minha mãe”. Define assim os seus anos infantis: “Fui uma menina terrivelmente danada, terrivelmente neurótica, com uma sensibilidade e uma capacidade de sofrimento exageradas”.

Aos 19 anos contraiu matrimónio com um funcionário da Rodésia, Frank Charles, de quem teve dois filhos. Quatro anos depois abandonou o seu marido e seus filhos e casou-se, em 1944, com Gottfried Lessing, um judeu alemão refugiado na Rodésia que liderava naqueles anos um grupo de comunistas de ideias muito radicais. Voltou a divorciar-se em 1949 e nesse ano decidiu mudar-se para Londres, onde se instalou com o filho que teve com Gottfried.


A vocação da literatura



A partir daí decide dedicar-se inteiramente à literatura (se bem que não tivesse escrito nada, era uma autodidacta e voraz leitora), actividade que compagina com a sua militância política no partido comunista. Em 1950 publica a sua primeira novela, Canta la hierba, que supõe a sua irrupção no panorama literário britânico com uma polémica denúncia da situação política que se vivia na Rodésia. A sua novela seguinte é Martha Quest, a primeira de uma série que intitulará Filhos da Violência, e que terminará em 1969.

Em 1956 – ano do alastramento da revolução na Hungria pela URRS abandonou o partido comunista e desde então foi muito crítica com o comunismo e com os apoios que recebera naqueles anos, especialmente de intelectuais. A sua ideologia reflectia um progressismo ético onde não há lugar para a transcendência. Lessing era uma mulher muito independente e não hesitava em questionar ideias em voga, como as que passaram a ser moda pela geração de 68. Em 1962 publicou o seu livro mais famoso, El cuaderno dorado, novela protagonizada pela escritora Anna Wulf que, como dissemos, foi apropriada pela causa feminista pela descrição realista das dificuldades sexuais, psicológicas e materiais de uma mulher do seu tempo.

São muitas as novelas que publicou:

O costume de amar (1983),
Diário de uma boa vizinha (1983),
Se a velhice pudesse (1984),
A boa terrorista (1985),
Palavras leva-as o vento (1987),
O quinto filho (1988),
Histórias de Londres (1992)...

Os seus dois livros de memórias gozaram de maior popularidade que as suas novelas. Em 1994 publicou Dentro de mim, que retratava os seus anos passados na Pérsia e, sobretudo, em África; e em 1997 veio à luz Um passeio pela sombra, que se inicia com a sua chegada à capital inglesa em 1949. Também publicou um conjunto de novelas de ficção científica: Canopus en Argos: arquivos (1987-1982). A sua última novela, The Cleft, foi traduzida pela editorial Lumen no ano seguinte.

Recebeu muitos prémios literários: em Espanha, o Prémio Catalunha em 1999 e em 2001 o Príncipe de Astúrias das Letras. Apesar de ser premiada e valorizada, não conseguiu chegar ao grande público.



Um pessimismo constante



De entre os muitos temas que aparecem nas suas obras, alguns podem ter sido mais decisivos para a obtenção do Prémio Nobel: a discriminação racial em África, a pobreza, as desigualdades sociais, a política, os direitos da mulher, os conflitos pessoais do indivíduo, a dor, a morte, a solidão, o ecologismo...



Também denunciou as sombras que enegreceram os supostos avanços morais do progressismo mais radical. Lessing costuma abordar estes temas sem piedade, com uma visão forte e cruel, fazendo ostentação do seu pessimismo.

Existencialmente desencantada, as suas novelas, muitas apoiadas na sua experiência vital, pretendem ser uma radiografia dos sucessivos momentos decorridos pela cultura ocidental na segunda metade do século XX. Também continuou a utilizar literariamente a vida em África, como se pode verificar em Riso africano (1982), um singular livro de viagens, e nos seus três volumes de Contos Africanos.

Aceprensa, 17 de Outubro de 2007



Tradução e adaptação: Maria Helena Henriques Marques
Professora do Ensino Secundário

“As virtudes continuam a estar na moda”



Observando o ambiente circundante, quase nos atrevemos a afirmar que tanto a Europa ocidental, como os Estados Unidos, são sociedades decadentes porque têm abandonado, com frequência, a moralidade baseada nas virtudes tradicionais. Isto afecta – diz-se, de modo particular, as mulheres, consideradas, frequentemente, como excessivamente temperamentais e incapazes de controlar o seu próprio carácter.

A este tema se refere Kenneth Minogue, professor de ciências políticas da School of Economics de Londres, que assinala que a virtude da prudência, uma vez que serve para coordenar os actos virtuosos da pessoa, é especialmente importante para o equilíbrio da conduta humana.

De um modo geral, as virtudes humanas são disposições estáveis da inteligência e da vontade que regulam os nossos actos, ordenando as paixões e guiando-nos segundo a razão e a fé.

Apresentam-se-nos agrupadas em torno de quatro virtudes cardeais: a prudência, a justiça, a fortaleza e a temperança.

A prudência, é considerada a virtude-mãe por ser instrumental e base de todas as outras virtudes humanas; a justiça, é definida como uma “constante e firme vontade de dar aos outros o que lhes é devido”; a fortaleza, “assegura a firmeza nas dificuldades e a constância na procura do bem”; a temperança pode ser descrita como sendo a prudência aplicada nas diversas circunstâncias na justa medida.

Os filósofos utilitaristas do século XVIII, criticaram a virtude da prudência e tentaram substituí-la por um sistema científico que maximizava a felicidade. Mais tarde o mundo moderno interpretou a prudência como estratégia para evitar riscos e, em vez da virtude passámos a ter uma análise estatística e uma teoria das probabilidades...

Outra forma que tem contribuído para debilitar a virtude da prudência concretiza-se no papel crescente do Estado.

Em vez da responsabilidade pessoal, temos actualmente uma regulação da conduta cada vez maior, por parte dos governos.

Por outro lado, Theodore Malloch, director executivo do Roosevelt Group de Maryland, examina a virtude da frugalidade, cujas origens se encontram na tradição calvinista e que se baseava na ideia de que o valor de uma pessoa não se determina pelo montante que gasta, mas sim pela sabedoria nas suas responsabilidades assumidas, na medida em que se trata de um administrador da criação de Deus.

Hoje em dia, pelo contrário, uma pessoa frugal é aquela que tem um desejo ilimitado de possuir bens, o que denota uma certa instabilidade espiritual. A sociedade moderna inverteu as coisas e vê no ter, um sinal de êxito...


Mas quando, se trata de orientar o nosso próprio comportamento para que nos leve ao fim supremo, agimos levados pela virtude da prudência (recta ratio agibilium), virtude intelectual e, ao mesmo tempo, moral, na medida em que é ela que julga com rectidão os meios adequados para atingirmos o nosso fim último.

Não se confunde com a timidez ou o medo, nem com a duplicidade ou a dissimulação. A prudência é mestra e guia, de forma recta e imediata, o juízo da consciência.

A pessoa prudente decide e ordena a sua conduta, seguindo esse juízo...


Maria Helena Henriques Marques
Professora do Ensino Secundário

Os Sentimentos


Certo dia a Loucura resolveu convidar alguns dos seus amigos para tomar um café em sua casa.
Após o café, para criar um ambiente alegre, propôs o seguinte:

– Vamos brincar às escondidas?
– Escondidas? O que é isso? – perguntou a Curiosidade.

– Escondidas é uma brincadeira. Enquanto conto até 100, vocês escondem-se. Quando terminar de contar, vou procurar onde se terão escondido e o primeiro a ser encontrado será o próximo a contar.

Todos aceitaram, menos o Medo e a Preguiça.

– 1,2,3,... – a Loucura começou a contar.

A Pressa escondeu-se primeiro, num lugar qualquer.
A Timidez, tímida como sempre, escondeu-se na copa de uma árvore.
A Alegria correu para o meio do jardim.

Já a Tristeza começou a chorar, pois não conseguia encontrar um local que lhe parecesse adequado para se esconder.
A Inveja acompanhou o Triunfo e escondeu-se perto dele debaixo de uma pedra.

Enquanto isso a Loucura continuava a contar e os seus amigos iam-se escondendo.
O Desespero ficou desesperado ao ver que a Loucura já estava no noventa e nove e ele sem conseguir um esconderijo...

CEM! – Gritou a Loucura. – Vou começar a procurar...

A primeira a ser encontrada foi a Curiosidade, que já não aguentava mais, querendo saber quem seria o próximo a contar.
Ao olhar para o lado, a Loucura viu a Dúvida em cima de uma cerca sem saber em qual dos lados ficar para melhor se esconder.

E assim descobrindo a Alegria, a Tristeza, a Timidez...
Quando estavam reunidos, a Curiosidade perguntou:

– Onde está o Amor?

Ora, ninguém o tinha visto...
A Loucura partiu a procurá-lo.

Procurou no cimo da montanha, nos rios, debaixo das pedras e o Amor não aparecia!...

Procurando por todos os lados, a Loucura viu uma roseira, pegou num pauzinho e começou a procurar entre os galhos, quando de repente ouviu um grito.

Era o Amor, gritando por lhe ter furado o olho com um espinho.
A Loucura ficou sem saber o que fazer.

Pediu desculpas, implorou pelo perdão do Amor e até prometeu segui-lo para sempre.

O Amor aceitou as desculpas.


Hoje, o Amor é cego e a Loucura acompanha-o sempre, para onde quer que vá...



Adaptação
Natália Rodrigues

domingo, 9 de setembro de 2007

“Reabilitar a Paternidade” III



Referência masculina


A atenção para com a paternidade estendeu-se também pela Europa. Em finais de Maio, na véspera de uma conferência sobre a família, publicou-se em França uma informação sobre “A vida diária das famílias” que põe em relevo o interesse pela reabilitação da figura do pai neste país. Afirma-se ali que “é necessário ajudar os progenitores, particularmente o pai, a assegurar a sua função paterna e a autoridade que lhes corresponde”.

A informação, dirigida pela ex – secretária de Estado Michèle André, contém sugestões sobre a paternidade, a vida profissional, a atenção das crianças, a morada... Mas também apresenta ideias mais gerais que Stéphane Durand-Souffland interpreta como uma maneira de reinventar a família clássica.
“Demasiadas crianças não têm um referente masculino positivo, demasiados pais delegam e deixam fazer as mães. Agora, os homens devem recuperar o seu posto”, adverte a informação de Michèle André.

A ausência do pai nota-se mais entre os meninos do que entre as meninas. “É imprescindível consolidar, para os meninos, a filiação: há demasiadas crianças que perdem o contacto com o seu pai, particularmente porque, quase sempre, a custódia –em caso de divórcio- se confia à mãe. Em 80% dos casos, as crianças de cuja custódia se encarrega a mãe, já não vêem os seus pais”.

Como evitar a ausência do pai de família? Evelyne Sullerot propõe, em primeiro lugar e para os casos de divórcio, que se reja a lei de maneira que a guarda dos filhos seja conjunta. Sugere também que nenhuma mãe possa registar o nascimento de um filho sem dar a identidade do pai.
E, no caso de nascimentos extra-matrimoniais (600 000 por ano), que a autoridade sobre os filhos seja compartilhada pelo pai e pela mãe. Na actualidade, a mãe tem a pátria potestade, enquanto que o pai, inclusivamente quando paga uma pensão, não tem autoridade legal sobre os filhos.
  • Recuperar a identidade do varão
Ainda na hipótese de baixarem os índices de divórcios, não se teria ganho, todavia, a batalha da paternidade. O que é que acontece aos pais que se conformam com uma ideia pobre da sua função familiar? Isso é o que aborda, com um enfoque antropológico, a quinta informação Cisf sobre a família em Itália, dirigido por Pierpaolo Donati. A questão é a diferença de género e de papéis masculino e feminino na família e sociedade.

A tese da informação é que as mulheres actualmente compartilham um modelo bem definido e firme, ainda que tenham de superar algumas barreiras sociais.
Ao contrário, o homem perdeu parte da sua identidade e está a conformar-se com uma imagem mais ou menos caricatural da paternidade: “Os pais teorizam muito sobre a sua figura e função, mas na prática estão ausentes todo o dia pelo trabalho e/ou as ocupações extra-profissionais”.
Então, o pai faz de mãe e deixa que a mãe faça de pai. A mãe suporta toda a parte dura, árdua, do papel familiar; o pai toma a parte suave, agradável, divertida. Estes pais, tão simpáticos com os seus filhos, não o são tanto com as suas mulheres, às que deixam a responsabilidade educativa”.

Assim, “muitos pais consideram a sua missão como a antítese da que corresponde à mulher, isto é, pensam numa função equilibradora, não propriamente educativa. Apontam-se ao mais cómodo: o pai é bom, a mãe é `má `; ela resmunga e grita, ele deixa fazer”. E este pai proclamará logo: “Eu descontraio os meus filhos, depois de terem passado o dia inteiro com a sua mãe”.

Para recuperar essa identidade masculina, a proposta da informação italiana consiste em repensar o género desde uma perspectiva relacional: isto é, não um a partir do outro, mas sim ambos na óptica do seu ser em relação de um com o outro.

Trata-se de redescobrir o que significa ser homem e ser mulher, fugindo de estereótipos culturais, mas sem cair no igualitarismo superficial que pensa superar as diferenças simplesmente por não tê-las em conta.
Pois a dialéctica entre os sexos difundida pelo feminismo radical e o igualitarismo simplista acabaram por diluir a figura paterna que agora a sociedade desvaloriza.



Aceprensa 107/98




Tradução e adaptação: Maria Helena H. Marques
Professora do Ensino Secundário

“Reabilitar a Paternidade” II



  • Produto do divórcio

Nos Estados Unidos, a crise da paternidade é especialmente grave entre a população negra, que regista um índice de nascimentos extra-matrimoniais muito alto: 68%. Blankenhorn não acredita que seja uma coincidência que os jovens do sexo masculino negros apresentem as maiores taxas de delinquência, população presidiária e morte violenta de todo o país. Mas, quase três anos depois de publicar o seu livro, sublinhou que o problema não é apenas da população negra, mas sim da sociedade em geral: a taxa de nascimentos fora do matrimónio cresce mais rapidamente entre as mulheres brancas e, destas, especialmente nas maiores de 30 anos com mais instrução.


Blankenhorn, no fundo, não duvida de qual seja a causa: “O individualismo é o único e verdadeiro responsável desta situação”, declarava numa entrevista à revista canadiana L´Actualité (15-X-97). “O culto do ´eu primeiro`, em virtude do qual cada um dá prioridade às suas necessidades individuais, entranha a rejeição das responsabilidades e compromissos inerentes ao matrimónio e à família”.


Se o individualismo é um problema cultural, que afecta a todos, porquê golpear mais a paternidade do que a maternidade? Blankenhorn pensa que se deve ao facto do elemento masculino ter de aprender a função paterna quase por completo, ao contrário da mãe, que tem uma especial proximidade biológica e afectiva com os filhos.
  • Pôr travões ao divórcio fácil
Para Blankenhorn, o divórcio impede ou interrompe essa aprendizagem masculina, em prejuízo dos filhos. E, contrariamente ao que alguns acreditam, diz que um segundo casamento não costuma solucionar o problema.


Ainda que com uma nova união, as crianças possam recuperar os recursos económicos perdidos, a sua situação psicológica é mais difícil, porque têm que dividir lealdade entre dois pais. A presença do padrasto em casa confirma como impossível o regresso do pai.


“É verdade que há padrastos extraordinários que relevam os pais degenerados – comenta Blankenhorn na citada entrevista -. Mas numa sociedade onde quase uma de duas crianças vive sem pai, como encontrar um padrasto extraordinário para cada uma? Voltar a casar-se constitui uma segunda oportunidade para os pais, mas não para os filhos”.


Para travar a proliferação de meninos sem pai, Blankenhorn propõe não dar tantas facilidades para divorciar-se. Concretamente, considera imprescindível recuperar a noção de “culpa” nos processos de divórcio. Não lhe parece adequado que em quarenta Estados de EE.UU. seja possível obter o divórcio com a simples petição de uma parte, sem alegar culpa do outro cônjuge.


Nisto coincide com uma tendência que começa a estender-se no seu país: alguns Estados preparam leis para dificultar o divórcio quando há filhos pelo meio; em Luisiana foi aprovado um tipo de contrato matrimonial opcional que restringe os casos em que o casal pode separar-se.

  • Os pais de fim-de-semana

Como, geralmente, em três de cada quatro divórcios se concede a guarda dos filhos à mãe, muitos homens divorciados exercem a sua paternidade apenas nas férias ou nos fins-de-semana. Uma sondagem realizada no ano anterior em Quebec revela certa perplexidade na opinião pública acerca desta situação. 71% dos inquiridos considera que o pai ausente do lar pode ser um verdadeiro pai; por sua vez, praticamente a mesma percentagem afirmava que, sem o pai em casa, o menino terá mais problemas na sua vida.


Nessa mesma sondagem, os quebequenses assinalaram algumas causas da ausência do pai na família: “o divórcio é demasiado fácil” (67%), a “irresponsabilidade dos varões” (67%) e “a falta de apoio da sociedade às famílias jovens (59%) foram as mais repetidas.

À volta de 55% dos entrevistados estão a favor de que as leis do divórcio sejam mais restritas, e 60% são geralmente partidários de que o Estado favoreça a unidade familiar.
  • O Estado, pai substituto
Se faltam pais após o divórcio, muitos outros acabam por faltar porque não chegou a haver matrimónio. Em Quebec o índice de uniões de facto é o mais elevado do continente americano: só um terço dos casais está casado.

Metade das crianças nascidas em 1975 assistiu à separação dos seus pais; uma quarta parte dos menores de 18 anos não vive com os dois pais; dos menores de 10 a 14 anos, 17% vivem numa família monoparental e 11%, numa família reconstruída depois de um divórcio.


Na única pesquisa sobre a figura do pai realizada até agora nesta província canadiense, a directora, Nathalie Dyke, encontra diferenças significativas entre os casais de origem francófona e os casais de origem haitiana ou vietnamita.


Dyke surpreende-se de que “entre os quebequenses de raíz, não haja ética, nem regras morais; vivem apenas como casal com o objectivo de se realizar”. Contrariamente, os pais vietnamitas ou haitianos vêem na família uma certa obrigação social e têm vontade de perpetuar a sua cultura.

Por seu lado, o sociólogo Germain Dulac, da Universidade McGill (Canadá), fala não de moral, mas de dinheiro. Diz que o Estado reconhece que os subsídios às famílias mono-parentais estão a tornar-se uma carga pesada e por isso está interessado que os pais se responsabilizem pela subsistência dos filhos.

Aceprensa 107/98



Tradução e adaptação: Maria Helena H. Marques
Professora do Ensino Secundário

“Reabilitar a Paternidade” I

Vozes de alerta contra a ausência do pai na família

Agora que falta o pai em muitas famílias e que, regra geral, os pais passam pouco tempo com os filhos, aparecem os psicólogos e sociólogos a pôr em relevo a importância da função paterna na família.

Uma paternidade bem entendida e assumida permitiria, entre outras coisas, uma melhor repartição das tarefas do lar, para facilitar a vida às mães que distribuem o seu tempo entre a família e a profissão.

Reabilitar a figura do pai significa reforçar a unidade familiar e a identidade do varão, conforme têm posto em relevo diversos estudos recentes.

A principal causa da ausência paterna é o divórcio, que na maior parte dos países ocidentais continua a aumentar.

A falta do pai supõe para as crianças perder protecção física, recursos económicos e um modelo masculino para os rapazes, além da companhia e do afecto.

À ausência do pai são atribuídos alguns problemas sociais como o aumento da delinquência e do consumo de drogas entre os jovens, ou muitos casos de insucesso escolar.

Esta versão é sustentada por uma informação da Universidade de Newcastle, publicada no ano anterior. Afirma que na Grã-Bretanha (o país europeu onde existem mais famílias monoparentais), o abandono das responsabilidades paternas foi a principal alteração que experimentou a família nas últimas décadas.


A informação refere que essa mudança é a causa mais importante – mais que outros factores sociais- do aumento da delinquência juvenil: a pobreza ou o desemprego eram mais graves nos anos 20 que nos 80, mas o índice de criminalidade actual é mais elevado.


Por outro lado, em muitos casos, a pobreza ou a diminuição do rendimento familiar procede do divórcio.

Um enérgico sinal de alarme pela crise de paternidade foi nos Estados Unidos o livro Fatherless America, do director do Institute for American Values de Nova Iorque, David Blankenhorn. Blankenhorn sublinhou, com dados, a crescente falta do pai nas famílias, que tem como consequência a proliferação de divórcios e de mães solteiras.

Aceprensa 107/98




Tradução e adaptação: Maria Helena H. Marques
Professora do Ensino Secundário

terça-feira, 4 de setembro de 2007

A crise de liderança moral




No âmago da crise moral que nos últimos anos tem afligido a humanidade, há uma falta enorme de liderança moral em todos os segmentos da sociedade humana, conforme o que é tristemente indicado pelas evidências crescentes de negligência ética, encontradas entre autoridades dos níveis mais altos da sociedade, tanto em instituições públicas como em privadas por todo o mundo.

Vários indicadores apontam nessa direcção mas, o mais evidente, é o desrespeito pela vida humana.

É impressionante que o maior dom de que todos somos titulares – o dom da Vida – ande por aí tão mal tratado!...

A vida é o espaço e o tempo que nos cabe percorrer, e que por isso deve ser sempre orientada por um ideal elevado, elevador, que lhe dê sentido. Viver com sentido, deixando um rasto de utilidade, de compreensão, de concórdia, semeando paz e alegria.

Uma vida com sentido é a daquele que sabe de onde vem e para onde vai.
Daquele que, perscrutando o mundo maravilhoso da sua interioridade, descobre uma imensa riqueza potencial, em gérmen, à espera de ser desenvolvida.

Desenvolver essa interioridade é projectar uma imagem que causa admiração pelo vigor sereno com que actua:

§ pelo equilíbrio das suas manifestações, da suave firmeza das suas decisões;
§ pela sua cordial mas poderosa força de vontade,
§ pela sua paz e serenidade interiores que transbordam;
§ pelo seu saber-estar em toda a parte;
§ pelo seu poder prescindir, sem se alterar, do supérfluo e até do necessário, sem qualquer queixa;
§ pelo seu bom ânimo nas adversidades
§ e pela sua simplicidade quando a fortuna lhe sorri.

Viver assim, é viver a vida em profundidade, é viver de acordo com a marca da profunda sabedoria de viver.

Sabedoria de viver, imensamente enriquecida com a revelação cristã, que trouxe, além de profundos conhecimentos sobre o ser humano, um novo modelo de Homem – Jesus Cristo – (Homem e Deus), e as forças necessárias para se poder viver de acordo com o modelo proposto. “Eu vim para que tenham vida e a tenham em abundância”...

Viver esta Vida, percorrendo esse Caminho, assimilando essa Verdade, é conquistar as virtudes que vão estendendo a ordem da razão e o domínio da vontade a todo o âmbito do agir. Concentram as forças do homem, que se torna capaz de orientar a sua actividade nas direcções que ele mesmo se propõe.

A própria palavra virtude, que é de origem latina, está relacionada com a palavra “homem” (vir) e a palavra “força” (vis). A grande força do homem são as suas virtudes, embora a sua constituição física possa ser fraca.

Só alguém treinado no exercício do bem pode guiar a sua vida de acordo com os seus princípios, sem ceder a cada passo, diante da mais pequena dificuldade ou de muitas e variadas solicitações contrárias.

Pelo contrário, os pequenos vícios de conduta – o acostumar-se a não fazer as coisas quando e como devem ser feitas – enfraquecem o carácter e tornam o homem incapaz de viver de acordo com o seu fim último e de acordo com os seus ideais.

São pequenas escravidões que acabam por produzir uma personalidade medíocre, a resvalar por um plano inclinado que pode conduzir ao abismo.

Desviar-se do Norte, da rota segura e certa, é andar à deriva, sujeito a todos os ventos e marés, à tempestade e, muitas vezes, à morte
...



Maria Helena Henriques Marques

Professora do Ensino Secundario






sábado, 4 de agosto de 2007

Estado de alerta: Pressentem-se no horizonte novos ventos de “cultura da morte”...




Depois do denominado “gigantesco retrocesso civilizacional” que significa a liberalização do aborto no espaço português, levado a efeito por uma minoria de 24% dos portugueses, em 11 de Fevereiro último, eis que se levantam novamente “vozes agoirentas”, “tenebrosas”, a sugerir a ampliação da cultura da morte, admitindo e/ou promovendo a eutanásia!

Onde estamos, e para onde nos querem encaminhar?!

A eutanásia, como todos bem sabemos, consiste numa prática através da qual se abrevia a vida de uma pessoa mais ou menos enferma, de maneira controlada e assistida por um especialista. Trata-se, no fundo, de uma “prática alternativa” aos imprescindíveis cuidados paliativos, que a dignidade da pessoa humana reclama e merece, como um dever grave de justiça, até ao momento sublime de uma morte natural que, essa sim, “é morrer com dignidade”...

A eutanásia representa uma complexa questão de bioética e de biodireito, uma vez que o primordial dever do Estado é a defesa e protecção da vida dos seus cidadãos.

A “eutanásia activa” concretiza-se nas acções que têm por objectivo pôr termo à vida, na medida em que é planeada e negociada entre o doente e o profissional que vai realizar o acto.

A “eutanásia passiva” por sua vez, não provoca deliberadamente a morte, no entanto, com o passar do tempo, conjuntamente com a interrupção de todos ou de alguns cuidados médicos, farmacológicos ou outros, o doente acaba por falecer. São canceladas todas e quaisquer acções que tenham por fim prolongar a vida. Não há por isso um acto que provoque a morte (tal como a eutanásia activa), mas também não há nenhum que a impeça.

Vários estudos têm vindo a divulgar que a maior parte das pessoas que solicitam os actos próprios da eutanásia activa não o faz pela dor física, mas por uma dor psicológica tratável. Isto demonstra o sentido de urgência da alteração do Serviço Nacional de Saúde, apetrechando-o de uma verdadeira e “humanizada” rede de cuidados paliativos, adequados, de forma personalizada, a cada situação.

É evidente que a maior parte ou a totalidade de alguns pedidos feitos pelos doentes poderiam e deveriam ser evitados, se existissem os necessários cuidados paliativos e não o “abandono” desses doentes terminais...
  • A ficção da “decisão voluntária”
Sabemos todos por experiência real que o instinto mais forte da natureza humana é o instinto de conservação da vida.

E conhecemos actualmente que, na imensa maioria dos casos, o desejo de suicidar-se não é consequência de danos corporais e dores extremas, mas sim a expressão de sentir-se abandonados. A medicina paliativa tem feito tais progressos, que as dores são quase sempre controláveis, em qualquer estado de enfermidade e, felizmente, não atingem o umbral do insuportável. Na maior parte dos casos, também a dedicação intensiva daqueles que prestam cuidados modifica o desejo de suicídio, produzindo antes a consciencialização de que a “nossa vida” continua a ser importante... O médico dedicado representa junto do doente a afirmação de que a sua existência continua a ser útil e solidária.


É precisamente nas situações de fragilidade anímica que pode aparecer o desânimo do doente, momentâneo, compreensível, associado a manifestações de fuga do sofrimento, mas que, na realidade, não são conscientes nem livres e que podem ser – e são-no muitas vezes – especuladas de forma catastrófica, por alguns profissionais de saúde que vão admitindo e esperando, secretamente, poder levar a cabo esse “desejo” inconsistente.

A realidade da intolerância frente aos débeis foi adquirindo, ao longo da história, uma dolorosa forma social e institucionalizada de legalidade.

São muitas as vozes que se têm atrevido a manifestar, com firmeza, esses atropelos da dignidade humana. Atropelos que chegam por vezes a constituir uma autêntica cultura da morte que, em todas as épocas, se manifestou na morte legal de inocentes.

A história recente mostra-o com crueza no genocídio hebreu, nas limpezas étnicas de tantos conflitos bélicos, ou no mais subtil e solapado tirar a vida a seres humanos antes do seu nascimento, ou antes de atingirem a meta natural da morte.

São sempre os membros mais débeis da sociedade os que correm maior risco diante dessa perigosa manifestação de intolerância: as vítimas costumam ser os não nascidos (aborto e manipulações genéticas); as crianças (comércio de órgãos); os doentes e idosos (eutanásia); os pobres (abusivas imposições de controle demográfico); as minorias, os imigrantes e refugiados, etc.

Porque será que se tem imposto este erro no mundo em tantas ocasiões? De onde provém o seu atractivo?

O atractivo do erro não provém do mesmo erro, mas sim da “verdade” – grande ou pequena- que nele palpita. Por isso o erro é sempre perigoso!

E a frágil “verdade” que está subjacente na cultura da morte – a que esta deve ter emprestado o seu atractivo é a pequena ambição: (desfazer-se do ancião ou do enfermo incómodos, eliminar uma nova vida que nos parece inoportuna, melhorar a qualidade de vida dos que permanecemos com vida) que, satisfazendo, fugaz e brevemente, as paixões humanas, obscurece e bloqueia a inteligência, até torná-la incapaz de perceber o erro que comete.
É paradoxal, que a “tolerância” tenha sido tantas vezes a bandeira desfraldada por aqueles que impunham esses erros.
Mas, por detrás da defesa que fazem dos direitos e das liberdades, esconde-se sempre um brutal atropelo dos direitos e liberdades mais elementares.

Detrás de uma máscara de tolerância, esconde-se a mais cruel e macabra prova de intolerância: a de não deixar viver o inocente.

Diante das, felizmente, crescentes possibilidades da medicina, esperamos que a deontologia médica desenvolva critérios de normalidade, critérios do que em justiça é devido a cada pessoa e, precisamente, aos velhos e doentes, em dedicação, cuidados e assistência médica básica; assim como os critérios relacionados com a idade, as perspectivas de cura e as circunstâncias pessoais: “as pessoas devem ser tratadas como precisam de ser tratadas!”

“Os Centros para atenção e cuidado de doentes terminais”, e não o movimento a favor da eutanásia é a resposta, humanamente digna, à situação em que nos encontramos.
Quando o morrer não se compreende e não se cultiva como parte do viver, significa que já se iniciou e se enveredou pela civilização da morte.




Maria Helena H. Marques
Professora do Ensino Secundário

quinta-feira, 2 de agosto de 2007

Flores de estufa


À nossa volta há sempre quem faça coisas erradas.

Por vezes juntamo-nos com os amigos e dizemos mal disto e daquilo, de quem fez isto e de quem fez aquilo.


Há sempre alguém que não foi suficientemente honesto, suficientemente corajoso, suficientemente leal. Alguém que pisou outros para subir na vida, ou abdicou dos seus princípios para obter uma vantagem, ou mentiu para se livrar de um problema. Alguém que realizou mal o seu trabalho.


Alguns desses actos são prejudiciais a outras pessoas, mas o autor dos erros é sempre vítima do seu comportamento. Quase sempre é ele quem mais sofre: de uma forma ou de outra, mais cedo ou mais tarde.


Quando deixamos de ser crianças, torna-se bem difícil viver! Caem sobre nós tormentas vindas de fora e de dentro. Quantas vezes sucede que os nossos actos se viram contra nós e se agigantam e nos perseguem pela vida fora! Quantas vezes sentimos saudade do colo da mãe, do braço forte do pai, da humildade perdida que nos permitia aceitar que nos guiassem em cada situação...


Viver é difícil. É preciso resistir. E é preciso, também, ter luz e força: saber o que fazer e ser capaz de o fazer. E nós, que às vezes nos juntamos e falamos das fraquezas dos outros, temos estado também em situações que nos pediam algo de valentia, dignidade, coerência com o que pensamos. E nem sempre fomos capaz de fazer o que devíamos ter feito.


Existe uma distância entre considerarmos correcta uma determinada atitude e actuarmos com correcção. E essa distância só a custo pode ser percorrida.

A vida moderna ofereceu-nos muitas facilidades: simplificou certas tarefas. No entanto, no que diz respeito aos nossos comportamentos, carácter, virtudes - à nossa qualidade enquanto pessoas - tudo continua a passar-se como com os nossos antepassados. Continua a ser difícil ser-se honesto, trabalhador, bom marido, boa mãe; o amor e a amizade continuam a ser tarefas exigentíssimas.

Sucede, porém, que é nestes aspectos que se joga a felicidade dos homens. De pouco me serve, para ser feliz, o facto de poder ir tomar café a Londres e voltar para o almoço, ou ter a possibilidade de assistir a um importante jogo de futebol comodamente instalado na sala de estar da minha casa, se o meu egoísmo me afastar diariamente dos outros. Ou se a consciência me acusar de ter conquistado dinheiro e bem-estar à custa de prejudicar outras pessoas.

A felicidade continua a exigir de nós comportamentos que não são compatíveis com a facilidade. Não nos tornamos felizes carregando num botão. É preciso subir montanhas, insistir em esforços prolongados; acreditar, até ao heroísmo, na lentidão. Por vezes, reunimos todas as forças e não sabemos se aguentamos até ao fim do dia.



Quando tentamos aplicar receitas fáceis àquilo em que se joga a nossa felicidade, não resolvemos nada. Essas "soluções" simples para dificuldades grandes acabam por ser formas de fugir e não de enfrentar: semeiam frequentemente tragédias em nós e à nossa volta, ainda que só se notem mais tarde, e transferem o nosso problema pessoal para o terreno pantanoso das torturas interiores, dos remorsos, da depressão, do vazio, do desespero.


Aqueles que foram - que fomos - fracos e estão a pagar por isso precisam de apoio, mas, olhando para diante, o que é preciso é formar homens fortes. Os nossos filhos devem ser mais fortes do que nós, mais capazes de serem felizes.


Alguns pais e educadores costumam, infelizmente, empenhar-se em tirar as dificuldades da frente das crianças e dos jovens, em vez de os ajudarem a tornarem-se fortes para as enfrentar. Dessa forma preparam seres frágeis, que têm, durante certo tempo, uma existência ociosa e doce, mas estão destinados a sucumbir à mais leve aragem da vida. Dessa forma se tornam responsáveis por uma espécie de flores de estufa, condenadas por atrofiamento à incapacidade de viver a vida como ela é.


Não é verdade que possamos eliminar da vida as grandes contrariedades, as decisões custosas, a doença, o esforço quase insuportável, a dor física e moral, a morte. Seremos felizes com eles ou não seremos felizes nunca. A vida é de tal maneira que o homem deve erguer-se nela como o castelo. Deve ser construído, pedra a pedra, de forma a permanecer no seu lugar quando sopram ventos inesperadamente fortes; de forma a cumprir aquilo que dele se espera, aquilo a que se comprometeu, aquilo que o torna feliz.



http://www.aldeia.pt/ (Paulo Geraldo)

terça-feira, 31 de julho de 2007

Notícias de Portugal



Em 2005 nasceram 109 457 bébés e em 2006, 105 351.

Até 2050, Portugal poderá perder um quarto da população. Só existirão 7,5 milhões de portugueses. Nessa altura ,até 15 anos só existirão 9% da população, enquanto que com mais de 65 serão 36%.

O número médio de filhos, por casal, desceu para 1,36 enquanto que o número de idosos, com mais de 80 anos, duplicou em menos de 20 anos.

Portugal apresenta a mais baixa taxa de natalidade da Europa e uma das mais baixas do mundo.

Não obstante esta realidade, é o país com menos incentivos à natalidade.

Senão vejamos:


A Alemanha concede um subsídio variável entre os 4 200,00 € e os 25 000, 00 € mensais, durante 14 meses.

A Bélgica concede um subsídio de 1 064,00 € para o primeiro filho e 880,00 € para os restantes.

A Suécia dá, até aos 16 anos, 114,00 € por mês.

A Noruega, 122,00 € por mês, até aos 18 anos.

O Luxemburgo, no caso de um único filho, os pais recebem 181,00 euros mensais. Se forem dois filhos, receberão 429,00 €, com três sobe para 780,00 € e com quatro 1 130,00 €, por mês.

A Holanda concede entre 190,19 € e 271,10 € até aos 18 anos.

A Grécia dá um prémio de 5% sobre o salário e outro especial para as famílias com mais de qautro filhos.

Em Portugal, o Governo acabou de atribuir um novo abono de família no valor de 99,00 €, por mês, a partir de Setembro, para as mães grávidas do 3º ao 9º mês, desde que tenham um rendimento igual ou inferior a 189,30 €/mês (1º escalão). Para as mães que auferem o salário mínimo (403,00 €) receberão 53,oo € e a grande maioria apenas 10,36 €, mensalmente.

De igual modo, os abonos oscilarão entre os 130,62 € para o 1º escalão e os 32,28 € para o 5º escalão (famílias com rendimentos entre 994,65 € e 1989,30 €), durante 12 meses.

Notícias de Espanha









Em 2050 a Espanha será o país com maior número de idosos do mundo.


Para evitar um "envelhecimento" do país, o governo espanhol pagará às mulheres, uma quantia de 2 500,00 euros para que possam ter filhos.


Desde a última segunda-feira, as mães do país podem solicitar a ajuda de custo estabelecida pelo governo para cada filho nascido ou adoptado a partir das 00.00h do último dia 3 de Julho.

O "Cheque-bebé" pretende ser uma proposta do actual governo de José Luiz Rodriguez Zapatero à crise populacional espanhola."Para continuar na senda do progresso, a Espanha precisa de mais famílias e com mais filhos. E as famílias precisam de mais apoio para ter esses filhos e de mais recursos para criá-los", tal foi a justificação dada durante o anúncio da medida no Congresso Nacional.


Perante a crise de natalidade, vários países europeus apoiam, financeiramente, as famílias de modo a terem mais filhos, pois que em todo o continente, já há mais idosos que crianças.


Em 1980, o número de crianças superava o de idosos em 36 milhões.


Em 2004, os maiores de 60 anos superaram numericamente os menores de 14.


A Espanha foi o último país a aderir à ideia do pagamento universal directo por filhos. Apesar disso, o país já incentivava a formação de famílias de outras maneiras.


Para as mães trabalhadoras, o governo dá 100 euros mensais até que o filho complete três anos.
É oferecido ainda um pagamento único de 450 euros para os filhos a partir do terceiro.
Quando a mãe tem um parto múltiplo ou uma família adopta, simultaneamente, dois ou mais filhos, tem direito a uma ajuda calculada a partir do número de filhos e do salário mínimo espanhol, cerca de 570,60 euros mensais.




Madrid, 17/07/2007