quinta-feira, 7 de fevereiro de 2008

“Spe salvi” (salvos na esperança),




Lugares para aprender a esperança

O Papa indica quatro lugares nos quais a esperança se pode aprender e exercitar.


O primeiro é a oração. “Quando já ninguém me escuta, Deus escuta-me sempre. Quando já não posso falar com ninguém, nem invocar a alguém, sempre posso falar com Deus. Se já não há ninguém que possa ajudar-me – quando se trata de uma necessidade ou de uma expectativa que supera a capacidade humana de esperar – Ele pode ajudar-me”.


Como exemplo, recorda a experiência do cardeal vietnamita Nguyen Van Thuan, que passou treze anos no cárcere, nove deles no isolamento.

Outros lugares são o actuar humano e o sofrimento. Também aqui recorda um vietnamita, o mártir Pablo Le-Bao-Thin (1857), que escrevia: “Em meio destes tormentos, que aterrorizariam a qualquer pessoa, pela graça de Deus estou cheio de gozo e alegria, porque não estou só, mas sim que Cristo está comigo”. O Papa afirma que “a grandeza da humanidade está determinada essencialmente pela sua relação com o sofrimento e com o que sofre”.


“Também a capacidade de aceitar o sofrimento pelo amor do bem, da verdade e da justiça, é constitutiva da grandeza da humanidade porque, em definitivo, quando o meu bem estar, a minha incolumidade, é mais importante que a verdade e a justiça, então prevalece o domínio do mais forte; então reinam a violência e a mentira”.


Juízo final


Particularmente sugestivas são as passagens que o Papa dedica ao Juízo Final como lugar de aprendizagem e exercício da esperança. “Já desde os primeiros tempos, a perspectiva do Juízo teve influência nos cristãos, também na sua vida diária, como critério para ordenar a vida presente, como chamada à sua consciência e, ao mesmo tempo, como esperança na justiça de Deus”.


O Papa refere que na época moderna a ideia do Juízo final se desvaneceu. A incompreensão do que significa o Juízo Final demonstra-se no ateísmo dos séculos XIX e XX, e na sua pretensão de estabelecer a justiça no mundo: “Uma vez que não há Deus que crie justiça, parece que agora é o mesmo homem que está chamado a estabelecer a justiça”. Desta premissa, sem dúvida, derivaram as maiores crueldades e violações da justiça.

“A fé no Juízo Final é antes e acima de tudo esperança, essa esperança cuja necessidade se tornou evidente precisamente nas convulsões dos últimos séculos. Estou convencido de que a questão da justiça é o argumento essencial e o argumento mais forte em favor da fé na vida eterna.


A necessidade meramente individual de uma satisfação plena que se nos nega nesta vida, da imortalidade do amor que esperamos, é certamente um motivo importante para acreditar que o homem está feito para a eternidade; mas apenas em relação com o reconhecimento de que a injustiça da história não pode ser a última palavra em absoluto, chega a ser plenamente convincente "a necessidade do retorno de Cristo e da vida nova.

Aceprensa, 5 de Dezembro de 2007


Tradução e adaptação: Maria Helena Henriques Marques
Professora do Ensino Secundário

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