quarta-feira, 21 de março de 2012

Vocação e Dignidade da mulher - II


A dignidade da mulher e a sua vocação, tem sido objecto constante de reflexão humana e cristã, e tem assumido nos últimos anos, um relevo muito especial. Atestam-no, entre outras coisas, as múltiplas intervenções do Magistério da Igreja, reflectidas em inúmeros documentos do Concílio Vaticano II, de antes e depois. Para além das intervenções dos Papas Pio XII e João XXIII, salientamos a de Paulo VI que, intitulando-a “sinal dos tempos”, declara, entre outras coisas: “No Cristianismo, de facto, mais do que em qualquer outra religião, a mulher tem, desde as origens, um estatuto especial de dignidade, do qual o Novo Testamento nos atesta importantes e relevantes aspectos, ainda pouco conhecidos”.
Celebrámos em 15 de Agosto de 2008, vinte anos da Carta Apostólica Mulieris dignitatem
"A dignidade da Mulher" do Papa João Paulo II, a que não podemos deixar de fazer referência, tanto mais que se trata de um primeiro documento pontifício totalmente dedicado à Mulher.
No ponto 1. citando a Mensagem final do Concílio Vaticano II, salienta o Papa: “Mas a hora vem, a hora chegou, em que a vocação da mulher se realiza em plenitude, a hora em que a mulher adquire no mundo uma influência, um alcance, um poder jamais alcançados até agora. Por isso, no momento em que a humanidade conhece uma mudança tão profunda, as mulheres iluminadas e vivificadas com o espírito do Evangelho, são elemento decisivo para que a humanidade não descaia, mas antes avance por caminho certo e seguro”...
Promover o autêntico desenvolvimento
Em 20 de Abril de 2007, a Santa Sé pronunciando-se nas Nações Unidas acerca das prioridades actuais para promover o autêntico desenvolvimento da humanidade, afirma estar certa de que uma dessas prioridades passa pela verdadeira promoção da mulher, através de estratégias
que esta instituição se propõe realizar de 2 008 a 2 013.
O observador permanente da Santa Sé na UNESCO, apresentou como prioridade para essa instituição, “ a promoção real da dignidade das mulheres e da sua participação responsável na vida social, em todos os níveis “.
O representante da Santa Sé recordou, a propósito, que Bento XVI, na sua mensagem para o dia mundial da Paz, 2007, mostrou a influência que as desigualdades entre homens e mulheres, têm nos conflitos em todo o mundo: “Na origem de frequentes tensões que ameaçam a paz, encontram-se muitas desigualdades entre homem e mulher no exercício dos direitos humanos
fundamentais”.
O representante do Papa acrescentou que a insuficiente consideração da condição feminina, provoca também factores de instabilidade na ordem social: “Não se pode cair na ilusão de que a paz está assegurada, enquanto não se superem também estas formas de discriminação que afectam a dignidade pessoal, inscrita pelo Criador em cada ser humano”. Referiu ainda que a Santa Sé reconhece o papel activo da mulher no desenvolvimento social, o seu papel incomparável na formação humana da juventude e no sistema macro - económico; o seu apego aos valores humanos e morais que transmite também às novas gerações, a protecção da vida, a sua atenção pela paz e a solidariedade fraterna, o cuidado pelas pessoas anciãs e enfermas, o cuidado da sua família e filhos, o seu sentido de interioridade.
Graças às mulheres cuja actividade, com frequência humilde e escondida, deve ser apoiada, a família poderá ser promovida como célula fundamental da sociedade, os jovens aprenderão a
integrar-se melhor nos tecidos sociais, a paz será procurada mais intensamente, o diálogo e as relações humanas converter-se-ão em factores de fraternidade e solidariedade.
Assim, – temos essa esperança – toda a sociedade beneficiará da vocação, da acção e do génio feminino, fomentando e promovendo na Vida, os princípios e valores cristãos!

Vocação e Dignidade da Mulher - I

Revendo e analisando, comparativamente, momentos e acontecimentos do percurso da História, apercebemo-nos de que a humanidade tem registado avanços e retrocessos não poucas vezes, dramáticos e surpreendentes...
Entre os povos antigos, a personalidade humana aparece extremamente diminuída e mutilada. Tem-se uma visão deformada do ser humano em situação de escravo, do designado estrangeiro, das relações pais - filhos e, particularmente, no concernente ao género feminino, em que vemos essas categorias de pessoas reduzidas, muitas vezes, à condição de objectos, meras coisas de que se pode dispor a bel - prazer, de qualquer modo...
Recordamos, por exemplo, como na Grécia antiga a mulher era sempre considerada inferior ao homem. A mulher ateniense mal aparecia em público e tinha pouca importância na vida social.. Na família, recebe instrução rudimentar e como mãe de família, manifesta-se completamente sujeita ao marido, sendo por ele considerada apenas, como a primeira entre as escravas e
podendo ser, sem formalidade alguma, repudiada...
A poligamia e o divórcio reduzem a mulher à mais triste situação moral e humana na antiguidade pagã.
Com a queda do Império Romano e a adopção do Cristianismo como religião oficial, cabe à Igreja regenerar a Família, a Mulher, elevando o casamento à condição de sacramento integrando as características da unidade, fecundidade e indissolubilidade e dando, finalmente à Mulher, o lugar que, na Família, por direito divino lhe corresponde.
A progressiva estabilidade no casamento, conquista que remonta às ideias cristãs da Idade Média, permitiu que, pela primeira vez na história, a mulher fosse vista legalmente não mais como inferior ao marido, mas como um membro essencial para a família. A instauração do casamento como instituição natural, trouxe benefício não só para a mulher, mas para os filhos que ganharam a protecção de um lar estável com as consequências positivas que dele derivam.
Mas os primeiros passos da humanidade rumo à dignificação da mulher foram registados, com maior nitidez, a partir do século IX, em grande parte, à medida que a sociedade medieval adoptava a prática do casamento monogâmico, que conferia à mulher um novo estatuto no
plano das relações sociais: ela passou a ser o módulo essencial para a constituição da família, garantindo-lhe unidade e solidez. De acordo com alguns estudos, as causas da participação política e do crescente prestígio social conquistado pela mulher no decorrer da Idade Média, a partir do século XII, são atribuídas sobretudo ao casamento monogâmico, considerando-o um dos factores decisivos para a intervenção feminina na vida pública e social. Nesse aspecto, a mulher tornou-se, assim, a garantia de funcionamento dos sistemas político ou social, assim como a condição básica da sua estabilidade.

sábado, 10 de março de 2012

Esperança em Tempo de Crise

A crise económica e financeira que estamos a viver em Portugal, vem-se arrastando desde 2001. Ao longo dos últimos anos, a economia portuguesa foi definhando e afastando-se cada vez mais da média europeia, sendo ultrapassada por vários países da Europa de Leste.
É do reconhecimento geral que a crise é também uma consequência do crescimento da despesa pública na segunda metade da década de 90. Uma crise estrutural de que o País sofre as consequências. As pessoas, de um modo geral vivem aflitas e angustiadas. Reconhecem tratar-se não apenas de uma crise mas de crises diversas – de valores, cultural, de esperança. Muita gente tem resvalado pela via da depressão e amargura. Muitos já não acreditam na recuperação nem no acerto da situação financeira. Têm esquecido que “tempo de crise” pode ser tempo de esperança.
Cabe-nos julgar que esta crise que não tem parado de crescer em vários níveis, tem pelo menos três causas fundamentais, sendo a primeira a causa das outras duas:
I. Sociedade sem valores – Uma sociedade que tem descaído a olhos vistos. Questiona-se a verdade objectiva revelada, ultrapassam-se limites intocáveis, infringem-se regras da moral natural em matérias graves como tudo o que diz respeito à vida humana, vive-se para o
momento imediato…
II. Política sem valores – A realidade tem demonstrado de forma evidente, que cada sociedade
é regida pela política com a qual se identifica maioritariamente…
III. Economia sem valores – Consequência lógica das causas anteriores. Uma economia sem regras, sem planeamento; de luta selvagem em que vencem os mais fortes. Os ricos ficam mais ricos e os pobres cada vez mais pobres. Os recursos económicos são escassos, porque mal distribuídos… Um círculo vicioso a caminho do descalabro, da auto – destruição, como é próprio das sociedades decadentes.
Resta-nos, contudo, a Esperança e alguma curiosidade de saber como será a nova sociedade do futuro…
Será, certamente, a resultante da nossa Esperança! Uma esperança que “apesar dos pesares” do momento, que se multiplicam e a todos afectam, será a força impulsionadora dos desafios adequados que, como mola que foi comprimida, nos fará chegar mais alto e mais além…
Com fé, esperança e vontade inabalável – qualidades genuínas dos portugueses de outros tempos –, utilizando os meios adequados, venceremos as dificuldades. Podemos “afogar o mal com abundância de bem”! Se outros conseguiram, nós por que não?! A crise é o “novo gigante” a ser
ultrapassado! Com iniciativa, inteligência e determinação vamos conseguir. Trabalhar! Trabalhar a sério; produzir para poupar… é o caminho…
O título atribuído a este texto, recorda-nos com saudade, a histórica visita do Santo Padre Bento XVI ao nosso País em Maio de 2010 onde, ao dirigir-se, não apenas aos católicos, mas a todos os homens, “independentemente da sua fé ou religião”, transmitia palavras de Esperança e de estímulo para que a mensagem de Cristo impregne, com os valores cristãos, todas as actividades sociais, económicas e culturais de uma sociedade cada vez mais descristianizada.
Em todas as intervenções o Papa procurou transmitir energias de Fé, de Esperança e de Caridade, incutindo a todos um ânimo novo…
Mas de modo particular, foi no Aeroporto de Sá Carneiro no Porto, que o Papa se despediu dos portugueses com palavras de gratidão e ao mesmo tempo de estímulo para todos os que acataram a sua mensagem de Esperança através de palavras sábias e oportunas, que revelam não só o seu pensamento claro como a sua profunda visão do mundo actual. Iniciada sob o signo da Esperança e pretendendo ser uma proposta de sabedoria e de missão, esta visita terminaria sob esse mesmo signo, quando ao despedir-se Bento XVI disse: “Continuemos a caminhar na Esperança! Adeus”!
Da nossa parte, apenas nos resta acrescentar: - Continuemos com Fé e Perseverança, rumo a uma nova vida! Embora ténue, já podemos vislumbrar a tal “luzinha ao fundo do túnel”! …



Maria Helena Marques

Prof.ª Ensino
Secundário