domingo, 15 de julho de 2012

Liberdade Interior

Nos tempos conturbados que vivemos, precisamos de aprofundar no conhecimento próprio, no conhecimento da humanidade e de o lembrar aos nossos contemporâneos.

No exercício de uma autêntica liberdade, necessitamos de coragem para procurar a verdade, para segui-la e para nos mantermos libertos em relação ao ambiente circundante, que tende a impor os seus modos e os seus comportamentos...

Um dos desafios que se nos apresenta, aos nossos contemporâneos e, particularmente, à juventude, consiste em aceitar não viver simplesmente na exterioridade das aparências, mas antes no empenho por desenvolver o interior como elo unificador do ser e do agir, reconhecendo a nossa dignidade de criaturas.

Hoje, como sempre, precisamos de não nos deixarmos aprisionar pelas cadeias exteriores – como o relativismo, a busca do poder e do lucro a todo o custo, a droga, relações afectivas desordenadas, a confusão ao nível do casamento, o não reconhecimento do ser humano em todas as etapas da sua existência...

São muitos os conceitos de liberdade em voga nos tempos actuais, mas nem sempre nos apontam o verdadeiro sentido dela, antes ao contrário, dão-nos definições erróneas ou equivocadas.

Consideramos que a essência da liberdade reside na liberdade interior, ou seja, é da nossa consciência que provém a vontade de agir exteriormente. Por isso, acto livre é aquele que é realizado conscientemente e por vontade própria, não em estado inconsciente, ou por coacção.

O filósofo Aristóteles, na sua obra Ética a Nicómaco, apresenta como livre quem tem em si mesmo o princípio para agir ou não agir. É o agente, ele próprio, que estabelece os motivos e os fins da sua acção, sem ser forçado por ninguém.

A propósito, recordamos a história verídica ocorrida na Europa no século XX, em que a personagem relata que os pais, um irmão e sua mulher tinham morrido nas câmaras de gás. Ele mesmo tinha sido torturado e submetido a inúmeras humilhações. Durante meses correu o risco permanente da câmara de gás, ou de ficar junto daqueles cujos corpos iriam ser levados aos fornos crematórios, para retirar a seguir as cinzas.

Frankl tinha nascido em Viena e era de origem judia, condição que o tinha conduzido até àqueles campos de concentração nazis da Segunda Guerra Mundial. Ali, foi testemunha e vítima de um gigantesco desprezo pelo homem, de um montão de vexames e factos repugnantes que, pela sua dimensão e crueldade, constituíram uma triste e assombrosa novidade na história. Frankl era um jovem psiquiatra, formado na tradição da escola freudiana e determinista por convicção. Pensava que aquilo que nos acontece em crianças marca o nosso carácter e a nossa personalidade, de tal maneira que o nosso modo de entender as coisas e de reagir perante elas, fica já essencialmente fixado para o futuro. Apesar disso, num determinado dia, permanecendo isolado no seu pequeno quarto, Frankl começou a tomar consciência do que denominou “liberdade última”, um reduto da sua liberdade que, jamais, lhe poderiam tirar. Os seus vigilantes podiam controlar tudo à sua volta. Podiam fazer o que quisessem com o seu corpo. Podiam inclusivamente, tirar-lhe a vida. Mas a sua identidade básica ficaria sempre a salvo, apenas à mercê dele próprio.

Compreendeu então, com uma nova luz que ele era um ser auto – consciente, capaz de observar a sua própria vida, capaz de decidir de que modo tudo aquilo poderia afectá-lo. Entre o que estava a acontecer e o que ele fizera, entre os estímulos e a sua resposta, estava pelo meio a sua liberdade, o seu poder para mudar essa resposta. Como fruto destes pensamentos, Frankl esforçou-se por exercitar essa parcela de liberdade interior. Os seus carcereiros tinham uma maior liberdade exterior, tinham mais opções para escolher. Mas ele podia ter mais liberdade interior, mais poder interno para decidir acertadamente entre as poucas opções que se lhe apresentavam. Graças a essa atitude mental, Frankl encontrou forças para permanecer fiel a si mesmo. E converteu-se assim num exemplo para os que o rodeavam, inclusivamente, para alguns dos guardas. Ajudou outros companheiros a encontrar sentido para o sofrimento. Alentou-os para que mantivessem a sua dignidade de homens dentro daquela vida terrível dos campos de extermínio. A sua vida, precisamente naquele momento de tanto desprezo pelo homem, em que uma vida humana não valia nada, tornou-se especialmente valiosa.

Frankl compreendeu com maior profundidade um princípio fundamental da natureza humana: entre o estímulo e a resposta, o ser humano tem a liberdade interior de escolher.

Uma liberdade que nos singulariza como seres humanos. Nem sequer os animais mais desenvolvidos têm esse recurso: estão programados pelo instinto ou pelo adestramento, mas não podem dirigir em nada esse programa, e nem sequer têm consciência de que exista.  

Ao contrário, como seres humanos podemos formular os nossos próprios programas e consegui-los. Podemos elevar-nos por cima de nós próprios, dos nossos instintos, dos nossos condicionamentos.

Não quer dizer que esses condicionamentos não influam, mas nunca poderão chegar a eliminar a nossa liberdade!

São esses dons, especificamente humanos, os que nos elevam muito acima do mundo animal! E na medida em que os exercitemos e desenvolvamos, estamos a exercitar e a desenvolver o nosso mais rico e precioso potencial humano...


Maria Helena H. Marques
Professora do Ensino Secundário

O Matrimonio está de volta






A erosão do modelo matrimonial clássico

O modelo matrimonial vigente no Ocidente há dois mil anos, baseia-se nas seguintes notas:

  • monogamia
  • heterossexualidade
  • estabilidade
  • formalização
  • orientação para a prole (entre outras finalidades)
  • liberdade na emissão do consentimento.
Este modelo, nos últimos anos, começou a ser estudado com olhos de criminalistas. Parafraseando Berglar, podemos dizer que intrépidos juízes instrutores converteram o passado num processo judicial, acusando os que modelaram essa fórmula matrimonial de um certo subdesenvolvimento jurídico, político e psíquico.
Segundo alguns, em materia de matrimónio e família, 60 gerações viveram na noite da ignorância, até que se começou a fazer luz, graças a Voltaire e Rousseau e que o sol começou a brilhar, graças a Mercuse, Morgan e Freud.
Assim, o matrimónio sofreu ventos influentes, de uma concepção que tende a separar o direito da união conjugal, convertendo-o num fenómeno exclusivamente sociológico, em que a sua regulação deveria adaptar-se não ao que o matrimónio é em si mesmo mas pelo contrário, ao que determinadas visões sociológicas dizem que ele é, ligadas com minorias mais ou menos estridentes, ou como determinados casais em determinados âmbitos geográficos vivem os seus compromissos.*
As causas desta erosão podem sintetizar-se assim:
  • Em primeiro lugar, a tendência das legislações
*Resumo do desenvolvimento em R. Navarro Valls, "Matrimónio e Direito", Madrid, 1994

As 5 fases do exercício da autoridade paterna/materna





No exercício correcto da autoridade dos pais podemos destacar cinco fases distintas:

Pensar

Informar-se

Decidir

Comunicar claramente
Fazer cumprir


Quando algumas destas etapas são omitidas, podem surgir dois desvios inaceitáveis:

1 - O autoritarismo - exercício arbitrário da autoridade
2 - A permissividade - não exercício da autoridade.

Estas fases exigem uma atenção particular por parte daqueles que desejam exercer a sua autoridade acertadamente, ao serviço do progresso pessoal daqueles que lhes obedecem, neste caso, os filhos. Em primeiro lugar, há que encontrar tempo para pensar em que coisas é necessário ser exigente e em que coisas tal é desnecessário; no que se deve agir com firmeza e em que aspectos se pode ser flexível, ou como se harmonizam a flexibilidade e a firmeza; quando convém actuara directamente ou quando é melhor que intervenham os filhos mais velhos ou qualquer outra pessoa. E até , em função de que objectivos educativos se exige ou se orienta cada um dos filhos.

Em segundo lugar, há que saber informar-se. Não apenas em relação à autoridade educativa, mas também acerca do que cada um dos filhos pensa do que o afecta na vida familiar. Os filhos precisam de informar e de ser informados: isto constitui uma modalidade na participação familiar dos filhos - participação consultiva.


O poder de decidir é igualmente o dever de tomar boas decisões antes de mandar.

Só beleza não basta (II)


      Em crianças aprendemos que a beleza é fundamental. Temos de tomar banho, escovar os dentes, pentear os cabelos, etc., para ficarmos “bonitinhos”, dizia a nossa Mãe, a Tia, ou os Amigos. Isto porque no mundo ocidental, o conceito de beleza esteve sempre ligado ao conceito de qualidade. Tudo o que é belo é bom...
      Foram feitas várias pesquisas e sempre ficou cabalmente demonstrado que os belos e as belas têm mais oportunidades de sucesso. Uma dessas pesquisas revelou, por exemplo, que os bebés olham mais tempo para as pessoas bonitas! Entre as raparigas e os rapazes, os sorrisos e os gestos de simpatia são sempre, mais ou menos, diretamente proporcionais à maior ou menor beleza irradiada, pelo sujeito contemplado...
      No mundo do trabalho profissional também não é diferente. São factores importantes de selecção e ascensão na carreira, além dos específicos, a demonstração de que nos conduzimos segundo os conceitos – padrão, atuais de beleza. Precisamos de ser vistos pelos outros como estando na média das médias e, por isso, não podemos destoar...
      A psicóloga Nancy Edok, no seu trabalho sobre o belo, lembra que, actualmente, o padrão de beleza física é multirracial. Por outro lado acrescenta que, apesar da multiplicidade de recursos disponíveis para conseguir a excelência da forma física, ela se revela insuficiente. As pesquisas mais recentes e mais profundas mostram que a tendência é procurar no semelhante inteligência, generosidade, fidelidade e optimismo, sublinhando que a beleza física da pessoa, a aparência, não é tudo mas sobretudo, deverá ser valorizada como ser humano.
      Conta-se numa determinada obra literária que a protagonista, Marieta, pergunta ao cego a quem serve de guia se ele sabe distinguir o dia da noite. O cego responde: “É dia, quando nós estamos juntos; é noite, quando nos separamos”...
      Marieta, é uma jovem deformada por um acidente sofrido quando era criança. Apenas o seu amigo cego podia ver a beleza do seu interior, sem se limitar à superficialidade do seu corpo deformado. A cegueira dos olhos físicos era o princípio da luz dos seus olhos interiores para ver os outros. Não julgava pela impressão sensível. Julgava pela beleza segundo a estatura moral da pessoa...
      Uma interessante forma de apreciar o mundo! Uma lição serena para esta sociedade ocidental tão angustiada pelo cuidado estético e, paradoxalmente, tão superficial no cultivo da interioridade...
      Reconhecemos que é difícil esquecer a aparência. Inquietam-nos os primeiros cabelos brancos, as rugas, etc., porque, no fundo também nós identificamos juventude e beleza, porque a nossa bandeira estética também se reduz, de algum modo, à margem do superficial e sensível. Onde está a luz do dia interior de que fala o cego? Por que não a vemos? Não será porque esta luz deve ser procurada com olhos interiores, em silêncio e na quietude que permite ver o invisível, que é realmente valioso? 
      É necessário saber olhar bem: O rosto de uma pessoa que foi marcado por numerosas tormentas da vida pode ser belo. Seja qual for a sua idade, a beleza de uma mulher que resistiu às dificuldades, brilha com um esplendor que se destaca. Porque o decorrer silencioso dos anos engrandece aquela que viveu em ordem ao “dar-se” e não ao “ procurar-se”...
      É por tudo isto, que muitas vezes temos deparado com rostos atractivos de mulheres anciãs que irradiam algo que não se “vende” no século XXI: uma beleza pacífica, serena. Uma beleza que cresce, porque o tempo aquilata e purifica o que nos faz grandes: a capacidade de amar que possui o ser humano.
      E o amor não é uma maquilhagem que se tira de noite; é antes uma marca indelével que não se apaga com o tempo. Essa marca, a beleza interior, é uma moda que não passa!


Maria Helena H. Marques

Professora do Ensino Secundário


O fenómeno do "Belo" (I)

      A Beleza pode ser definida como uma percepção individual, caracterizada normalmente, pelo que é agradável aos sentidos.
      Deste modo, o fenómeno do belo apresenta-se-nos com diversas vertentes de tal modo diferenciadas, que não é possível oferecer uma definição exata e exaustiva do conceito de beleza, sem o risco de unilateralidade.
      A beleza, como a verdade, é sempre polifónica, harmonicamente complexa e dinâmica.
Consequentemente, é imprescindível conceder a este conceito uma certa margem de liberdade, de modo a poder saturar-se de sentido, à medida que se submetem a análises pormenorizadas as diversas formas do belo. Ao dispor de um conceito de beleza tão cheio de significado, é possível precisar o seu sentido radical e, consequentemente, o seu alcance.
      A Beleza foi descrita por S. Tomás de Aquino, filósofo italiano do século XIII, pelos seus efeitos. “Belo é aquilo cuja contemplação agrada”, escreve ele.
 É uma definição bastante clara, embora existam muitas outras, completas e também verdadeiras...
      Assim, podemos organizar-nos citando três níveis de beleza capazes de provocar deleite no ser humano:
·         Beleza inteligível, própria da vida espiritual e que está vinculada à verdade e bondade moral. A conduta honesta de uma pessoa, por exemplo, costuma despertar admiração e agrado em quem a aprecia. O oposto dessa beleza, é a fealdade própria da mentira.
·         Beleza natural, a que procede dos seres e objectos. Por exemplo, uma planta de estrutura delicada, uma pessoa com traços harmónicos, um animal robusto e ágil são capazes de provocar deleite. Como estes, outros atributos naturais como o funcionamento dos órgãos humanos e a ordem com que as formigas se organizam para armazenar alimentos, podem ser apreciados como belos.
·         Beleza artificial, como produto da criação humana, no qual o homem tenta plasmar algo belo, como nas obras de arte. Podemos referir como exemplo também a música, o cinema, as artes plásticas em geral, a literatura e tantas outras manifestações artísticas.
      Todos estes níveis de beleza estão presentes nas próprias pessoas, objectos e circunstâncias, como parte integrante dos seus atributos.

Maria Helena H. Marques
Professora do Ensino Secundário

A Ciência não exclui Deus

      Francis Collins, médico e genetista, é autor do livro “The Language of God”. Numa entrevista de Gabriela Carelli para a revista brasileira “Veja” fala de ciência e fé.

      Francis Collins converteu-se à Fé depois de ter-se considerado ateu durante a sua juventude: “Eu tinha 27 anos, mas não passava de um jovem insolente. Negava a possibilidade de que houvesse algo capaz de explicar as questões para as quais nunca encontramos respostas, mas que movem o mundo e fazem com que as pessoas superem os obstáculos”. São “questões filosóficas que transcendem a ciência e fazem parte da existência humana”. Por isso, acrescenta Collins, “os cientistas que se dizem ateus têm uma visão empobrecida acerca das questões que todos os seres humanos nos apresentamos todos os dias”.
      Collins adverte que é perigoso opor a ciência à fé. “Necessitamos da ciência para compreender o mundo e usar esse conhecimento para melhorar as condições humanas. Mas a ciência deve permanecer em silêncio acerca dos assuntos espirituais”.
      “A sociedade necessita tanto da religião como da ciência. Não são incompatíveis, mas sim complementares. A ciência investiga o mundo natural. Deus pertence a outra esfera. Deus está fora do mundo natural. Usar as ferramentas da ciência para discutir a religião é uma atitude imprópria e equivocada”.
      A entrevistadora objecta que, em nome de Deus, se têm cometido barbaridades ao longo da história. Para Collins, “o problema é que a água pura da fé religiosa circula pelas veias defeituosas e oxidadas dos seres humanos e, por vezes, enturva-se. Isso não significa que os princípios estejam equivocados, ainda que haja pessoas que usam esses princípios de forma inadequada para justificar as suas acções. A religião é um veículo para a fé, que é, sim, imprescindível para a humanidade”.
      Collins não é partidário da teoria do “desenho inteligente” que, segundo ele, cai no erro de preencher as lacunas do conhecimento científico com a intervenção divina, ao argumentar que a evolução não explica estruturas tão complicadas como as células. “Todos os sistemas complexos que cita o desenho inteligente (o mais citado é o flagelo bacteriano, um pequeno motor externo que permite à bactéria mover-se em meio líquido) são um conjunto de trinta proteínas. Podemos juntar artificialmente essas trinta proteínas, mas não acontecerá nada. A razão é que esses mecanismos se formaram gradualmente mediante a adição de outros componentes. A maquinaria molecular desenvolveu-se no decorrer de largos períodos de tempo, mediante o processo que vislumbrou Darwin: a evolução”.
       Deus actua
      O que foi dito atrás não supõe a negação de que Deus actue no mundo, inclusivamente de modo sobrenatural. Não é contraditório para um cientista acreditar em milagres, contesta Collins a outra pergunta. “A questão dos milagres está relacionada com a forma como acreditamos em Deus. Se uma pessoa acredita e reconhece que Ele estabeleceu as leis da natureza e está, ao menos em parte, fora da natureza criada, então é totalmente aceitável que Deus seja capaz de intervir no mundo natural.
      Por outro lado, Collins não encontra incompatibilidade entre a evolução e a criação. “Se no início dos tempos Deus decidiu usar o mecanismo da evolução para criar a diversidade de vida que existe no planeta, para fazer criaturas à sua imagem que tenham livre arbítrio, alma e a capacidade de discernir entre o bem e o mal, quem somos nós para dizer que Ele não deveria ter criado o mundo dessa forma?”. O que Collins não compartilha é a ideia de que a evolução explica tudo, inclusive o altruísmo e outras propriedades da livre conduta humana. “Esses argumentos podem parecer plausíveis, mas não há provas de que o altruísmo seja uma característica do ser humano que lhe permita sobreviver e progredir, como sugerem os evolucionistas que querem justificar tudo por meio da ciência”.
       No estudo das bases genéticas da conduta “há muitas teorias interessantes, mas não chegam a explicar os nobres atos altruístas que admiramos. Por que motivo acontecem este tipo de coisas? Se caminhando à beira de um rio, vejo uma pessoa que se vai afogar e decido ajudá-la, ponho em risco a minha vida, mas de onde vem este impulso? Nada na teoria da evolução pode explicar a noção de bom e mau, a moral, que parece exclusiva da espécie humana”. Aceprensa, 14-02-2007.



Tradução de Maria Helena H. Marques

Professora do Ensino Secundário

Reflexos socioeconómicos na Educação


      Numa perspectiva geral, reconhecemos que a educação é uma combinação de aprendizagem e aperfeiçoamento.

      Há várias décadas atrás a educação, dita informal, era a principal responsável pelo desenvolvimento humano e moral das pessoas como preparação básica para a vida em sociedade.

      O ritmo de vida de então, mais calmo e lento, possibilitava um maior contato das crianças e jovens com os seus pais e avós, que tinham como objetivo fundamental a sua formação, transmitindo-lhes princípios e valores, costumes e tradições da família.

      No mundo atual, a realidade é bem diferente. O estilo de vida orientado por uma visão capitalista e globalizada, dificulta o convívio normal das famílias, nas quais a grande parte dos adultos passa muito tempo fora de casa, num movimento incessante entre trabalho e/ou estudo formal. Atitudes cada vez mais valorizadas pela rápida difusão dos conhecimentos científicos e técnicos.

      Deste modo, a entrada das crianças nas escolas acontece cada vez mais cedo, o que determina que convivam mais no ambiente escolar do que com os pais e parentes, normalmente ocupados com obrigações extra familiares.

      Esta realidade está envolta em enormes sacrifícios, na medida em que se considera indispensável a boa formação escolar geradora de oportunidades para a conquista de novos relacionamentos, de melhores postos de trabalho, de uma remuneração mais digna e, consequentemente, de projeção social.

      É nesta perspetiva de consecução de satisfação pessoal e social que se encara o direito à educação tanto na família como na escola, direito fundamental da pessoa humana.

      Por tudo isso, a possibilidade educacional não pode estar vinculada apenas ao nível socioeconómico de alunos e professores, mas antes que outros factores devem ser tidos em consideração: os valores dominantes na sociedade, costumes, tradições, a própria religião como elementos a serem usados de forma direta ou indireta na educação de qualquer nível, constituindo um conjunto, isto é, um sistema educacional homogéneo. Um sistema educacional capaz de ultrapassar as barreiras socioeconómicas da aprendizagem e da educação, utilizando adequadamente os meios necessários, imprescindíveis, como um mínimo de verbas específicas para investimentos estruturais e para capacitação técnica e científica dos professores…

      Outra exigência para a melhoria da educação, consiste em criar condições de oportunidades para todos, sem distinção. Não adianta nada dizer que todos têm direito de ir à escola se não se lhes proporcionam possibilidades de concretização desse direito.

      Também não são suficientes programas de inclusão social para resolver os problemas tão diversos com que deparam os profissionais da educação. O professor vê-se continuamente envolvido em situações simultâneas de gerir e evitar conflitos de classes, discriminações e preconceitos, enquanto não pode descurar as suas ações primordiais que visam o aproveitamento do máximo tempo para o ensino e aprendizagem dos seus alunos.

      Assim sendo, como remover verdadeiramente, a barreira socioeconómica do ensino e aprendizagem?

      Uma publicação especializada em temas educativos – o periódico “Magistério” – recolhe uma informação recentemente elaborada pela OCDE, em que se destaca que o tempo dedicado a cada disciplina na escola, quer seja estudo pessoal ou de turma, é um elemento determinante. Não pretende ser uma receita infalível, mas antes um confronto entre algumas ideias chave das grandes teorias educativas e as simples aplicações práticas que melhoram, efetivamente, a educação.

      A informação “Against the Odds”, baseada nos resultados das últimas edições da prova PISA, destaca que uma importante percentagem de alunos de ambientes socioeconómicos baixos, obtém bons resultados, com o que se matiza a importância deste fator. Concretamente, uma média de quase 31% dos alunos desfavorecidos do âmbito da OCDE, situa-se pelo menos no quarto nível mais alto dos resultados no exame. São os que o informe denomina “resilient students”: estudantes com a fortaleza suficiente para superar uma situação desfavorável.

      A percentagem aumenta até 56% no caso da Coreia ou 45,6% no da Finlândia. A Espanha situa-se acima da média com 36,16%.

      De acordo com a investigação da OCDE a receita em quase todos os casos, é muito parecida: mais tempo na aula e mais tempo de estudo.

      No que se refere ao tempo na aula, a informação recomenda que se ponham em ação “diferentes formas de assegurar que os alunos desfavorecidos passem tempo suficiente estudando na aula por exemplo, através de aulas obrigatórias”. Recolhe o caso dos Estados Unidos, onde a obrigatoriedade das aulas de ciências, supôs um incremento geral de 15 pontos percentuais, nesta parte da prova PISA. Entre os mais desfavorecidos, o aumento é de quase 40 pontos.

      Os “resilient students” estudam mais, mas também estão mais motivados e confiam nas suas capacidades. Por isso, a OCDE propugna métodos de ensino “que fomentem a motivação e a autoconfiança dos alunos”, a auto-estima.

      Uma terminologia psicologicista que muitas vezes desvanece ou substitui a reconhecida e tão bem conceituada, educação do caráter.



Maria Helena Henriques Marques

Professora do Ensino Secundário

sexta-feira, 13 de julho de 2012

O Trabalho, dom e direito


  A sociedade portuguesa e internacional, vive uma situação de crise generalizada e de aumento das desigualdades sociais, e está a ser conduzida por grupos detentores de avultadas fortunas, adquiridas e geridas sem terem em conta o desenvolvimento sustentável do mundo, a justiça e equidade entre os homens.

      As situações de desemprego, trabalho precário, salários baixos e pensões reduzidas continuam a ser actualmente, factores de crescimento da pobreza e motivo de contestações e reivindicações, mais ou menos generalizadas...que vêm desacreditando a política, os agentes económicos, o valor do exercício da cidadania entre os trabalhadores e a sociedade em geral!

      Apesar das alterações que o conceito de trabalho foi sofrendo desde os primórdios da Humanidade até aos nossos dias, preenchendo páginas da história com novos domínios e novos valores, ele permanece e robustece-se como um dom e um direito.

      Recordamos como do Egito à Grécia e ao Império Romano, atravessando os séculos da Idade Média e do Renascimento, o trabalho foi, sucessivamente, considerado como um sinal de opróbrio, de desprezo, de inferioridade. Esta concepção atingia o estatuto jurídico e político dos trabalhadores, escravos e servos.

      Com a evolução das sociedades, os conceitos alteraram-se. O trabalho – tortura, maldição – deu lugar ao trabalho como fonte de realização pessoal e social, o trabalho como meio de dignificação da pessoa.

      Na nossa sociedade actual, apesar das dificuldades reais que atravessa, tem sido elevado e reconhecido como factor estruturante da organização económica, política e social. Ele é a relação social fundamental, na medida em que estrutura não somente a nossa relação com o mundo, mas também as nossas relações sociais... Por outro lado, consolida-se a ideia de que o homem, com o trabalho, adquire um engrandecimento pessoal, elevando-se como ser humano e social, modificando o mundo material em que vive. Esta concepção actual é moderna, face ao entendimento antigo e medieval.

      Na nossa perspectiva, apraz-nos acentuar o trabalho como um dos grandes valores da vida humana, sobretudo o trabalho orientado por princípios cristãos e a moralidade que deles advém.

      O trabalho é condição essencial da vida humana. Aparece, claramente, no Livro do Génesis, I,28, em que o homem surge como participante da Criação, dizendo: “Sujeitai a terra... Dominai sobre os peixes do mar, sobre as aves do Céu, e sobre todos os animais que se movem sobre a  Terra”. Este domínio, exige trabalho.

      Como manifestações concretas da cooperação na Obra da Criação, aí estão milhares e milhares de iniciativas a testemunhar a glória de Deus – Criador, que não estavam presentes na Natureza, no seu estado original. Inovações e invenções que foram trabalhadas a partir de matérias-primas da natureza: a electricidade, os instrumentos de trabalho e os instrumentos musicais; novos medicamentos; aparelhos eléctricos e electrónicos, como a televisão e o computador; veículos de locomoção, como os automóveis, aviões e submarinos. Sem falar em tantas receitas de culinária, que foram “criadas”, inventadas pelo homem.

      Trabalhar, para um cristão, é o modo de fazer render os talentos, potencialidades pessoais recebidas gratuitamente, para a realização da missão que lhe foi confiada... Assim, trabalhar não é apenas para a nossa glória pessoal,  a nossa realização; mas acima de tudo, para manifestar a bondade e perfeição de Deus Criador, ao mesmo tempo que colaboramos para o bem comum da humanidade.

      A dimensão sobrenatural do trabalho

      Foi a partir de 1928 que S. Josemaria Escrivá de Balaguer, por inspiração divina, veio afirmar que todo o trabalho humano honesto, pode e deve orientar-se, na conduta do cristão, para realizar o plano de Deus. Recordava que a vocação humana, profissão, aspirações nobres, inclinações generosas, que configuram a actividade de cada pessoa – é parte essencial da vocação divina.

      Afirmava, fundamentalmente, que toda a ocupação honesta pode ser santificada e santificadora! Isto soou a novidade e opunha-se-lhe essa concepção antiga do trabalho como coisa vil e, inclusivamente, como um estorvo para a santificação dos homens.

      Em uma das suas homilias, no livro “Cristo que Passa”, lemos que o trabalho ao acompanhar a vida do homem sobre a terra, traz associado o esforço, a fadiga e o cansaço, como manifestações da dor e da luta que fazem parte da nossa existência humana e que são sinais da realidade do mal e da necessidade da redenção. “Mas o trabalho em si mesmo não é uma pena, nem uma maldição ou um castigo: os que falam assim não leram a Sagrada Escritura”.

      Afirmava ainda que os cristãos devemos dizer bem alto que o trabalho é um dom de Deus... Que o trabalho, todo o trabalho, é testemunho da dignidade do homem, do seu domínio sobre a criação. É ocasião de desenvolvimento da personalidade. É vínculo de união com os outros seres; fonte de recursos para sustentar a própria família, meio para contribuir para melhorar a sociedade em que vivemos, e para o progresso de toda a Humanidade.

      E continua, dizendo que para além de tudo isto, “o trabalho ao ser assumido por Cristo – nos seus trinta anos de vida oculta – apresenta-se-nos como realidade redimida e redentora e, por isso, não é apenas o âmbito em que o homem vive, mas é também meio e caminho de santidade...” (n.º 47, Cristo que Passa).

      O seu ensinamento ajuda-nos a descobrir que o estudo ou qualquer outro trabalho se bem feito e por um motivo sobrenatural, enaltece-se... E a par do enorme valor humano e social do trabalho, manifesta também o seu valor redentor: trabalho bem feito até ao pormenor, realizado com competência técnica e profissional e levado a cabo com rectidão moral, com lealdade e com justiça.

      Com estas condições, o trabalho profissional do cristão aparece como algo santo, santificador e, se oferecido a Deus, será oração!...

                                                                                                                      Maria Helena H. Marques

                                                                                                                      Professora do Ensino Secundário

Férias, um talento a fazer render...


    Encontramo-nos em pleno Verão no Hemisfério Norte e, com ele, vêm chegando as férias para muitos daqueles que, como nós, habitamos estas latitudes.

      Decorrido mais um ano de trabalho constante, por vezes intenso, todos, sem exceção, aspiramos por um justo descanso. É normal e inegável a existência de um cansaço físico, que é necessário restaurar. Verifica-se também um desgaste mental como a resultante de sucessivas e múltiplas solicitações, que nos pode dificultar a reacção pronta necessária, nas diversas situações.

      Pela experiência e a análise daquilo que é próprio da natureza humana, sabemos que o descanso é uma norma da Lei Natural, um direito fundamental do ser humano.

      Esta valorização do repouso tem diversos precedentes históricos já no Antigo Testamento, (cf. Ex. 12–14). No Génesis, por exemplo, lê-se: “No sétimo dia Deus terminou a obra que tinha feito e descansou… E Deus abençoou e santificou o sétimo dia, porque nesse dia descansou de toda a obra que tinha realizado na Criação”.

      E o Papa João Paulo II, diz-nos a propósito: “ O homem tem de imitar a Deus quer trabalhando quer descansando, uma vez que o próprio Deus quis apresentar a obra criadora sob a forma de trabalho e descanso”…

      Mas o lazer não significa tempo de ócio, vazio de ocupações; antes pelo contrário; pode ser ainda mais preenchido do que o tempo normal, por vezes marcado pela rotina dos dias iguais e horários habituais. O importante é preenchê-lo com actividades agradáveis e escolhidas como por exemplo, visitas a pessoas que não vemos habitualmente: parentes, amigos, pessoas enfermas... É sempre muito grato e salutar rever pessoas importantes na nossa vida! Pessoas que gostamos de ouvir, que sabem escutar, resultando sempre troca de experiências muito valiosas e enriquecedoras.

       Embora muito importantes, nem tudo se deve limitar à praia, montanha, ténis ou piscina... É útil também aproveitar o tempo com actividades complementares: leituras bem escolhidas; tertúlias culturais, visitas de estudo e recreio; convívio com a família, passeios... E tudo isto sem gastos excessivos! Porque não podemos perder de vista aqueles que não podem fazer férias e os que vivem com necessidades extremas!...

      É óbvio que a primeira finalidade das férias é recuperar as forças físicas e contribuir para o nosso equilíbrio mental e psicológico tão necessário, particularmente, depois de um prolongado e intenso ritmo de trabalho. Assim, é muito recomendável a interrupção das nossas ocupações diárias e a mudança de ambiente.

      O período de férias é um talento que devemos fazer render, porque o tempo, todo o tempo, é o meio primordial de que dispomos para realizar a nossa missão na Terra. Por isso deve ser rico de conteúdo: um tempo que promova o crescimento humano e espiritual, o mútuo enriquecimento.

      Não é de modo algum indiferente a escolha dos lugares para férias. À luz da prudência, devemos preferir, com sensatez, os ambientes e modalidades de descanso que se coadunem não apenas com as nossas possibilidades económicas, mas também os que melhor nos podem ajudar no aspecto pessoal e familiar, respeitando e promovendo os valores humanos e cristãos e princípios éticos.

      Aproveitar o tempo


      Outra actividade que o lazer propicia é o aprofundamento na reflexão e contemplação pela prática de mais silêncio e escuta. Saber escutar a voz de Deus, que sussurra nas maravilhas da natureza: o bramir das ondas contra as rochas, por exemplo, é um calmante singular para o nosso espírito e para o nosso corpo. Oferece uma excelente ocasião para “olhar para dentro” e questionar-nos: “afinal, quem somos, de onde vimos, para onde vamos”?! Para avaliar a própria actuação em relação a outras pessoas, com sentido de responsabilidade... Aprender a contemplar as paisagens novas que encontramos e redescobrir a beleza das paisagens antigas, porque a vida deve ser uma contínua descoberta da beleza criada!

      Aproveitar o tempo fazendo algo pelos outros, de modo particular, pela família, pelos amigos, pelos necessitados que se cruzam connosco. Ajudar com o exemplo, com a palavra, com a amizade verdadeira. Deixar sempre uma mensagem positiva! Em suma: “ser útil, deixar rasto… iluminar com o resplendor da fé e do amor…” (Caminho, 1).

      Descansar e ajudar a descansar: acumular forças, ideias, planos... Mudar de ocupação para voltar depois – com renovadas energias e optimismo – à actividade habitual!
 Maria Helena H. Marques
Professora do Ensino Secundário


quarta-feira, 4 de julho de 2012

 NÃO SOMOS NÓS QUE NOS FAZEMOS CRISTÃOS


 "(...)Uma segunda consequência daquilo que eu disse é


que nós não nos fazemos cristãos.


Tornar-se cristão não é algo que deriva


de uma minha decisão: «Agora faço-me cristão».


Sem dúvida, também a minha decisão é necessária,


mas é sobretudo uma acção de Deus comigo:


não sou eu que me faço cristão,


mas eu sou assumido por Deus,


guiado pela mão por Deus e assim,


dizendo «sim» a esta acção de Deus, torno-me cristão.


Tornar-se cristão, num certo sentido,


é passivo: eu não me faço cristão,


mas é Deus quem me faz um homem seu,


é Deus quem me toma pela mão


e realiza a minha vida numa nova dimensão.


Do mesmo modo como não sou eu que me faço


viver a mim mesmo, mas é a vida que me é dada;


nasci não porque me fiz homem,


mas nasci porque o ser homem me foi dado.


E este facto do passivo,


de não nos fazermos cristãos sozinhos,


mas de termos sido feitos cristãos por Deus,


já inclui um pouco o mistério da Cruz:


só morrendo para o meu egoísmo,


saindo de mim mesmo, posso ser cristão.


CONGRESSO ECLESIAL DA DIOCESE DE ROMA

"LECTIO DIVINA" DO PAPA BENTO XVI

segunda-feira, 2 de julho de 2012


O material escolar mais barato   que existe na praça é o professor!
É jovem, não tem experiência.
É velho, está superado.
Não tem automóvel, é um pobre coitado.
Tem automóvel, chora de "barriga cheia".
Fala em voz alta, vive gritando.
Fala em tom normal, ninguém escuta.
Não falta ao colégio, é um "Adesivo".
Precisa faltar, é um "turista".
Conversa com os outros professores, está "malhando" nos alunos.
Não conversa, é um desligado.
Dá muita matéria, não tem dó do aluno.
Dá pouca matéria, não prepara os alunos.
Brinca com a turma, é metido a engraçado.
Não brinca com a turma, é um chato.
Chama a atenção, é um grosso.
Não chama a atenção, não se sabe impor.
A prova é longa, não dá tempo.
A prova é curta, tira as hipóteses do aluno.
Escreve muito, não explica.
Explica muito, o caderno não tem nada.
Fala correctamente, ninguém entende.
Fala a "língua" do aluno, não tem vocabulário.
Exige, é rude.
Elogia, é um debochado.
O aluno é retido, é perseguição.
O aluno é aprovado, deitou "água-benta".

É! O professor está sempre errado, mas, se conseguiu ler até aqui, agradeça a ele.