sexta-feira, 18 de abril de 2008

A urgência de um “Novo Feminismo”

Realizou-se em Roma, de 7 a 9 de Fevereiro, um Congresso Internacional sobre a mulher: “Mulher e Homem, a totalidade do humano”, para celebrar os vinte anos da carta apostólica do Papa João Paulo II, “Mulieris Dignitatem” (1988-2008).

Nesta exortação apostólica, João Paulo II defende um feminismo cristão que não é de ontem nem de hoje. Remonta ao tempo da Criação. “Deus criou o homem à sua imagem; criou-o à imagem de Deus: criou-os homem e mulher” (Gén. 1,27).


Possuem igual dignidade diante de Deus. Rege-os uma lei universal, gravada no coração- a lei natural- intrínseca, que é e será sempre, um desafio a toda a lei positiva. Lei positiva que, para ser humana, deve dinamizar a existência do homem em dignidade, não podendo desconhecer, nem contradizer, essa lei fundamental impressa no mais íntimo do ser humano: homem e mulher.

Foram criados em perfeita igualdade enquanto pessoas humanas, no seu respectivo ser de homem e de mulher (Cat. da Igr. Cat.). A mulher possui, com o mesmo título que o homem e no mesmo grau, a natureza de ser racional e livre. A um e a outro Deus atribuiu a missão de submeter a terra (Gén.1,28) e de trabalhar (Gén. 2,15). Deus quis a criatura humana, por si mesma, de onde deriva a dignidade da mulher e do homem, seres que têm relações pessoais com Deus (Gén. 3, 9-10).

Abstraindo-nos do relato da criação, vemo-nos na impossibilidade de penetrar o profundo sentido da personalidade da mulher, da sua feminilidade e do papel insubstituível que é chamada a desempenhar na vida da humanidade.


A vocação da mulher não é uma vocação para a dependência; é-o para a alteridade, a complementaridade, na igualdade da natureza. A pessoa-homem e a pessoa-mulher, não podem realizar-se senão por um dom desinteressado de si porque, ser pessoa, significa tender à própria realização, explica João Paulo II.

Tornar-se um dom, diz respeito a todo o ser humano, seja homem, seja mulher, que o realizam na peculiaridade própria de cada um (MD, 7), “não sendo certamente os recursos pessoais da feminilidade menores que os recursos da masculinidade, mas diversos” (MD, 10).

Um sã exaltação do papel da mulher leva a reconhecer que ela é chamada a levar à família, à sociedade civil, à Igreja, alguma coisa de característico, que lhe é próprio e que só ela pode dar: a sua delicada ternura, a sua generosidade incansável, o seu amor ao concreto, a sua agudeza de engenho, a sua capacidade de intuição, a sua piedade profunda e simples, a sua tenacidade...A feminilidade não é autêntica se não reconhece a formosura dessa contribuição insubstituível e não a incorpora na própria vida (Temas actuais do cristianismo).

O desafio que se espera do verdadeiro feminismo é tornar a mulher verdadeiramente feliz, colocando-a no lugar que por direito divino lhe pertence: Mulher, Esposa e Mãe!

Na audiência concedida aos congressistas, na sua maior parte mulheres, o Papa Bento XVI reconheceu “persistir ainda uma mentalidade machista, que ignora a novidade do cristianismo, novidade que reconhece e proclama a igual dignidade e responsabilidade da mulher em relação ao homem”.

O Papa continuou, referindo que há lugares e culturas nos quais a mulher é discriminada e menosprezada só pelo facto de ser mulher, fazendo dela objecto de maus-tratos ou de abusos na publicidade e na indústria do consumo e da diversão.

Mais adiante salientou que “perante correntes culturais e políticas que tentam eliminar, ou pelo menos ofuscar e confundir, as diferenças sexuais inscritas na natureza humana, considerando-as como uma construção cultural, é necessário recordar o desígnio de Deus que criou o ser humano homem e mulher, com uma unidade e ao mesmo tempo uma diferença originária e complementar”.

Neste contexto, o Papa reivindicou o direito dos filhos de “poderem contar com um pai e uma mãe para que cuidem deles e os acompanhem no seu crescimento. O Estado, pela sua parte, deve apoiar com políticas sociais adequadas tudo o que promove a estabilidade e a unidade do matrimónio, a dignidade e a responsabilidade dos cônjuges, no seu direito primordial insubstituível, como educadores dos filhos”. Por fim, exigir que se permita à mulher colaborar na construção da sociedade, valorizando o seu típico “génio feminino”.

O Cardeal Canizares, na sua intervenção, alertou os participantes do Congresso para o poder destruidor da ideologia do género, referindo tratar-se de uma “revolução cultural em todos os âmbitos”, mais insidiosa e destruidora do que se possa pensar... Continuou, salientando que “Mulieris dignitatem” é mais actual do que nunca porque, nesta carta, João Paulo II expressa “a verdade do homem, que é homem e mulher, e indica os seus princípios antropológicos”.

Recordou que na ideologia do género, a sexualidade não se aceita “propriamente como constitutiva do homem” – mas “o ser humano seria o resultado do desejo de escolha”, de maneira que, “seja qual for o seu sexo físico” a pessoa – seja mulher ou homem –“poderia escolher o seu género” e modificar a sua opção, (antinatural! ) quando quiser: homossexualidade, heterossexualidade, e outras coisas igualmente aberrantes... Adverte que a mudança cultural e social que o fenómeno origina, é de grande alcance, uma vez que para esta ideologia não existe natureza, não existe a verdade do homem...

Nesta pseudo revolução cultural, “o nexo indivíduo-família – sociedade perde-se e a pessoa reduz-se a indivíduo”, ao mesmo tempo que se questiona a família e a sua verdade – o matrimónio entre um homem e uma mulher aberto à vida- e toda a sociedade.

Afirma que “Mulieris dignitatem” sublinha com veemência que homem e mulher “são criados como pessoas à imagem de “Deus – Amor”, para viverem em comunhão”; daí a sua reciprocidade e que a pessoa esteja chamada também a existir para os demais, convertendo-se em um dom.

A consequência é de extrema importância, porque assim, na família, “os filhos encontram-se no solo de uma realidade sólida e percebem que viver é uma possibilidade gozosa e uma graça – aponta; não uma desgraça ou um azarado destino”.

De acordo com a agência de notícias católica Ecclésia, o Cardeal Stanislau Rylko pediu que os leigos católicos empenhados na política promovam leis justas, que respeitem a dignidade e a vocação da mulher, em plena coerência com o magistério eclesial. Alertou para a urgência em denunciar qualquer abuso, injustiça e marginalização das mulheres, em diversos contextos sociais e culturais, assim como os riscos dos novos paradigmas culturais, como o do “género”.

Considerou ser urgente a promoção de um “Novo Feminismo” que reconheça o “génio feminino” e trabalhe pela superação da discriminação, já que todos os dias se assiste a um rápida e profunda transformação dos modelos da identidade feminina e masculina, e da relação entre sexos.

O Cardeal polaco apontou também o dedo a duas tendências dominantes: o “feminismo radical”, que pretende defender a identidade feminina fazendo da mulher a antagonista do homem, e a “ideologia de género” que pretende suprimir a diversidade sexual.

Sublinhou ainda o ensinamento de João Paulo II: “feminilidade e masculinidade complementares entre si, não apenas desde o ponto de vista físico e psíquico, mas ontológico”; graças à dualidade do masculino e do feminino o ser humano realiza-se plenamente.

Recordou também que foi o próprio João Paulo II que convidou os leigos “a tornar -se promotores de um novo feminismo”, que supõe reconhecer e expressar o verdadeiro “génio feminino” em todas as manifestações da convivência civil, trabalhando pela superação de toda a forma de exploração, reconhecendo que ser mulher é uma autêntica, sublime e insubstituível missão.



Maria Helena Henriques Marques
Professora do Ensino Secundário

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