sábado, 29 de dezembro de 2012

4ª Meta (Cont.)

V.            Deus realiza o seu desígnio: a divina Providência
A criação tem a sua bondade e a sua perfeição próprias, mas não saiu totalmente acabada das mãos do Criador. Foi criada “em estado de caminho” para uma perfeição última ainda a atingir e a que Deus a destinou. Chamamos divina Providência às disposições pelas quais Deus conduz a sua criação em ordem a essa perfeição:
É unânime, a este respeito, o testemunho da Escritura: a solicitude da divina Providência é concreta e imediata, cuida de tudo, desde os mais insignificantes pormenores até aos grandes acontecimentos do mundo e da história. É assim que, muitas vezes, vemos o Espírito Santo, autor principal da Sagrada Escritura, atribuir a Deus certas ações, sem mencionar causas-segundas. Jesus reclama um abandono filial à Providência do Pai celeste, que cuida das mais pequenas necessidades dos seus filhos.
A Providência e as causas segundas
Deus é o Senhor soberano dos seus planos. Mas, para a realização dos mesmos, serve-Se também do concurso das criaturas. Isto não é um sinal de fraqueza, mas da grandeza e bondade de Deus omnipotente. É que Ele não só permite às suas criaturas que existam, mas confere-lhes a dignidade de agirem por si mesmas, de serem causa e princípio umas das outras e de cooperarem, assim, na realização do seu desígnio.
Aos homens, Deus concede mesmo poderem participar livremente na sua Providência, confiando-lhes a responsabilidade de submeter a terra e dominá-la. Assim lhes concede que sejam causas inteligentes e livres, para completar a obra da criação, aperfeiçoar a sua harmonia, para o seu bem e o dos seus semelhantes. Cooperadores muitas vezes inconscientes da vontade divina, os homens podem entrar deliberadamente no plano divino, pelos seus atos e as suas orações, como também pelos seus sofrimentos. Esta é uma verdade inseparável da fé em Deus Criador: Deus age em toda a ação das suas criaturas. É Ele a causa-primeira, que opera nas e pelas causas-segundas.
A providência e o escândalo do mal
Se Deus Pai todo-poderoso, Criador do mundo ordenado e bom, tem cuidado com todas as suas criaturas, porque é que o mal existe? A esta questão, tão premente como inevitável, tão dolorosa como misteriosa, não é possível dar uma resposta rápida e satisfatória. É o conjunto da fé cristã que constitui a resposta a esta questão: a bondade da criação, o drama do pecado, o amor paciente de Deus que vem ao encontro do homem pelas suas alianças, pela Encarnação redentora de seu Filho, pelo dom do Espírito, pela agregação à Igreja, pela força dos sacramentos, pelo chamamento à vida bem-aventurada, à qual as criaturas livres são de antemão convidadas a consentir, mas à qual podem, também de antemão, negar-se, por um mistério terrível. Não há nenhum pormenor da mensagem cristã que não seja, em parte, resposta ao problema do mal.
Mas, porque é que Deus não criou um mundo tão perfeito que nenhum mal pudesse existir nele? No seu poder infinito, Deus podia sempre ter criado um mundo melhor. No entanto, na sua sabedoria e bondade infinitas, Deus quis livremente criar um mundo “em estado de caminho” para a perfeição última. Este devir implica, no desígnio de Deus, juntamente com o aparecimento de certos seres, o desaparecimento de outros; o mais perfeito, com o menos perfeito; as construções da natureza, com as suas destruições. Com o bem físico também existe, pois, o mal físico, enquanto a criação não tiver atingido a perfeição.
Os anjos e os homens, criaturas inteligentes e livres, devem caminhar para o seu último destino por livre escolha e amor preferencial. Podem, por conseguinte, desviar-se. De facto, pecaram. Foi assim que entrou no mundo o mal moral, incomensuravelmente mais grave que o mal físico. Deus não é, de modo algum, nem direta nem indiretamente, causa do mal moral. No entanto, permite-o por respeito pela liberdade da sua criatura e misteriosamente sabe tirar dele o bem:
“Deus todo-poderoso [...] sendo soberanamente bom, nunca permitiria que qualquer mal existisse nas suas obras se não fosse suficientemente poderoso e bom para do próprio mal, fazer surgir o bem” Santo Agostinho
Assim, com o tempo, é possível descobrir que Deus, na sua omnipotente Providência, pode tirar um bem das consequências dum mal (mesmo moral), causado pelas criaturas. Do maior mal moral jamais praticado, como foi o repúdio e a morte do Filho de Deus, causado pelos pecados de todos os homens, Deus, pela superabundância da sua graça, tirou o maior dos bens: a glorificação de Cristo e a nossa redenção. Mas nem por isso o mal se transforma em bem.
Assim, Santa Catarina de Sena diz aos que se escandalizam e se revoltam contra o que lhes acontece: “Tudo procede do amor, tudo está ordenado para a salvação do homem, e não com nenhum outro fim”
E São Tomás Moro, pouco antes do seu martírio, consola a filha com estas palavras: “Nada pode acontecer-me que Deus não queira. E tudo o que Ele quer, por muito mau que nos pareça, é, na verdade, muito bom”
E Juliana de Norwich: “Compreendi, pois, pela graça de Deus, que era necessário ater-me firmemente à fé [...] e crer, com não menos firmeza, que todas as coisas serão para bem [...]”
Nós cremos firmemente que Deus é o Senhor do mundo e da história. Muitas vezes, porém, os caminhos da sua Providência são-nos desconhecidos. Só no fim, quando acabar o nosso conhecimento parcial e virmos Deus face a face, é que nos serão plenamente conhecidos os caminhos pelos quais, mesmo através do mal e do pecado, Deus terá conduzido a criação ao repouso desse Sábado definitivo, em vista do qual criou o céu e a terra.
Ano da Fé

4ª Meta: (Cont.)

II.             A criação – obra da Santíssima Trindade
“No princípio, Deus criou o céu e a terra”. Três coisas são afirmadas nestas primeiras palavras da Escritura: Deus eterno deu um princípio a tudo quanto existe fora d'Ele. Só Ele é criador e tudo quanto existe depende d' Aquele que lhe deu o ser. O Novo Testamento revela que Deus tudo criou por meio do Verbo eterno, seu Filho muito-amado. Tudo foi criado por seu intermédio e para Ele. Ele é anterior a todas as coisas, e todas se mantêm por Ele.
Insinuada no Antigo Testamento revelada na Nova Aliança, a ação criadora do Filho e do Espírito Santo, inseparavelmente unida à do Pai, é claramente afirmada pela regra de fé da Igreja: “Existe um só Deus. Ele é o Pai, é Deus, é o Criador, o Autor, o Ordenador. Fez todas as coisas por Si mesmo, quer dizer, pelo Seu Verbo e pela sua Sabedoria”. A criação é obra comum da Santíssima Trindade.
III.           O mundo foi criado para glória de Deus
É uma verdade fundamental, que a Escritura e a Tradição não cessam de ensinar e de celebrar: “O mundo foi criado para glória de Deus”. A glória de Deus está em que se realize esta manifestação e esta comunicação da sua bondade, em ordem às quais o mundo foi criado. Fazer de nós filhos adotivos por Jesus Cristo. Assim aprouve à sua vontade, para que fosse enaltecida a glória da sua graça.
IV.          O mistério da criação
Deus cria com sabedoria e por amor
Acreditamos que Deus criou o mundo segundo a sua sabedoria, mundo não é fruto duma qualquer necessidade, dum destino cego ou do acaso. Acreditamos que ele procede da vontade livre de Deus, que quis fazer as criaturas participantes do seu Ser, da sua sabedoria e da sua bondade.
Deus cria do nada
Acreditamos que Deus não precisa de nada preexistente, nem de qualquer ajuda, para criar. A criação também não é uma emanação necessária da substância divina. Deus cria livremente “do nada”:
“Que haveria de extraordinário, se Deus tivesse tirado o mundo duma matéria preexistente? Um artista humano, quando se lhe dá um material, faz dele o que quer. O poder de Deus, porém, mostra-se precisamente quando parte do nada para fazer tudo o que quer” São Teófilo de Antioquia
A fé na criação a partir «do nada» é testemunhada na Escritura como uma verdade cheia de promessa e de esperança. É assim que a mãe dos sete filhos os anima ao martírio:
“Não sei como aparecestes no meu seio; não fui eu que vos dei a respiração e a vida, nem fui eu que dispus os membros que compõem cada um de vós. Por isso, o Criador do mundo, que formou o homem à nascença e concebeu todas as coisas na sua origem, vos dará novamente, na sua misericórdia, a respiração e a vida, uma vez que vos desprezais agora a vós próprios, por amor às suas leis [...] Peço-te, meu filho, que olhes para o céu e para a terra. Vê todas as coisas que neles se encontram, para saberes que Deus não as fez do que já existia, e que o mesmo sucede com o género humano” (2 Mac 7, 22-23.28).
Uma vez que Deus pode criar «do nada», também pode, pelo Espírito Santo, dar a vida da alma aos pecadores, criando neles um coração puro e a vida do corpo aos defuntos, pela ressurreição. E como, pela sua palavra, pôde fazer que das trevas brilhasse a luz, pode também dar a luz da fé aos que a ignoram.
Deus cria um mundo ordenado e bom
Uma vez que Deus cria com sabedoria, a criação possui ordem. A nossa inteligência, participante da luz do intelecto divino, pode entender o que Deus nos diz pela sua criação, sem dúvida com grande esforço e num espírito de humildade e de respeito perante o Criador e a sua obra. Saída da bondade divina, a criação partilha dessa, porque a criação é querida por Deus como um dom orientado para o homem, como herança que lhe é destinada e confiada
Deus transcende a criação e está presente nela
Deus é infinitamente maior do que todas as suas obras. Mas, porque Ele é o Criador soberano e livre, causa primeira de tudo quanto existe, está presente no mais íntimo das suas criaturas. Segundo as palavras de Santo Agostinho, Ele é “superior summo meo et interior intimo meo — Deus está acima do que em mim há de mais elevado e é mais interior do que aquilo que eu tenho de mais íntimo”
Deus sustenta e conduz a criação
Depois da criação, Deus não abandona a criatura a si mesma. Não só lhe dá o ser e o existir, mas a cada instante a mantém no ser, lhe dá o agir e a conduz ao seu termo. Reconhecer esta dependência total do Criador é fonte de sabedoria e de liberdade, de alegria e de confiança.

Ano da Fé

4ª Meta (cont.)

I.              A catequese sobre a criação
A catequese sobre a criação diz respeito aos próprios fundamentos da vida humana e cristã porque torna explícita a resposta da fé cristã às questões: “De onde vimos?”, “Para onde vamos?”, “Qual a nossa origem?”, “Qual o nosso fim?”. A inteligência humana é capaz de encontrar uma resposta para a questão das origens. A existência de Deus Criador pode ser conhecida pelas suas obras, graças à luz da razão humana, mesmo que tal conhecimento muitas vezes seja obscurecido e desfigurado pelo erro. Deste modo, a fé vem confirmar e esclarecer a razão na compreensão exata desta verdade.
A verdade da criação é tão importante para a vida humana que Deus, na sua bondade, quis revelar ao seu povo tudo quanto é salutar conhecer-se a esse propósito.  Para além do conhecimento natural, que todo o homem pode ter do Criador, Deus revelou progressivamente a Israel o mistério da criação. Deus, que escolheu os patriarcas, que fez sair Israel do Egipto e que, escolhendo Israel, o criou e formou revela-Se como Aquele a quem pertencem todos os povos da terra e toda a terra, como sendo o único que «fez o céu e a terra».
Assim, a revelação da criação é inseparável da revelação e da realização da Aliança de Deus, o Deus Único, com o seu povo. A criação é revelada como o primeiro passo para esta Aliança, como o primeiro e universal testemunho do amor omnipotente de Deus. Por isso, a verdade da criação é expressa com vigor crescente na mensagem dos profetas, na oração dos salmos e da liturgia, na reflexão da sabedoria do Povo eleito.
Entre tudo quanto a Sagrada Escritura nos diz sobre a criação, os três primeiros capítulos do Génesis ocupam um lugar único. Do ponto de vista literário, estes textos podem ter diversas fontes. Os autores inspirados puseram-nos no princípio da Escritura, de maneira a exprimirem as verdades da criação, da sua origem e do seu fim em Deus, da sua ordem e da sua bondade, da vocação do homem, e enfim, do drama do pecado e da esperança da salvação. Lidas à luz de Cristo, na unidade da Sagrada Escritura e na Tradição viva da Igreja, estas palavras continuam a ser a fonte principal para a catequese dos mistérios do princípio: criação, queda, promessa da salvação.
Ano da Fé

Metas: 4ª semana

Parágrafo 3 - O TODO – PODEROSO

De todos os atributos divinos, só a omnipotência é nomeada no Símbolo, portanto confessá-la é de grande alcance para a nossa vida. Acreditamos que é universal porque Deus tudo criou, tudo governa e tudo pode; amorosa, porque Deus é nosso Pai; misteriosa, porque só a fé a pode descobrir, quando ela atua plenamente na fraqueza.
Faz tudo quanto Lhe apraz
As Sagradas Escrituras confessam o poder universal de Deus. Se Deus é omnipotente no céu e na terra é porque foi Ele quem os fez, portanto nada Lhe é impossível e Ele dispõe à vontade da sua obra; Ele é o Senhor do Universo, cuja ordem foi por Ele estabelecida e Lhe permanece inteiramente submissa e disponível. Ele é o Senhor da história, governa os corações e os acontecimentos segundo a sua vontade.
Porque podeis tudo, de todos vos compadeceis
Deus é o Pai todo-poderoso. Com efeito, Ele mostra a sua omnipotência paterna pelo modo como cuida das nossas necessidades, pela adoção filial que nos concede, pela sua infinita misericórdia, pois mostra o seu poder no mais alto grau, perdoando livremente os pecados. A omnipotência divina não é arbitrária: Em Deus, o poder e a essência, a vontade e a inteligência, a sabedoria e a justiça, são uma só e a mesma coisa, de modo que nada pode estar no poder divino que não possa estar na justa vontade de Deus ou na sua sábia inteligência São Tomás de Aquino
O mistério da aparente impotência de Deus
A fé em Deus Pai todo-poderoso pode ser posta à prova pela experiência do mal e do sofrimento. Por vezes, Deus pode parecer ausente e incapaz de impedir o mal. Deus Pai revelou a sua omnipotência do modo mais misterioso, na humilhação voluntária e na ressurreição de seu Filho, pelas quais venceu o mal. Só a fé pode aderir aos caminhos misteriosos da omnipotência de Deus. Esta fé gloria-se nas suas fraquezas para atrair a si poder de Cristo.
Parágrafo 4 – O Criador
“No princípio Deus criou o céu e a terra”. É com esta palavras que começa a Sagrada Escritura e o Símbolo da fé retoma-as confessando a Deus, Pai todo-poderoso, como “Criador do céu e da terra”. A criação é o fundamento de todos os desígnios salvíficos de Deus que culmina em Cristo.
Ano da Fé


segunda-feira, 17 de dezembro de 2012

Parágrafo 2 – O Pai

 
I.              Em nome do Pai e do Filho e do Espírito Santo      
Os cristãos são batizados “em nome do Pai e do Filho e do Espírito Santo”; antes disto respondem “Creio” à pergunta com que são interpelados a confessar a sua fé no Pai. São batizados “em nome” do Pai e do Filho e do Espírito Santo e não “nos nomes” deles, pois só há um Deus – o Pai omnipotente, o Seu Filho Unigénito e o Espírito Santo: a Santíssima Trindade.
O mistério da Santíssima Trindade é o mistério central da fé e da vida cristã, é o mistério de Deus em si mesmo. A Trindade é um mistério de fé em sentido estrito, um dos mistérios ocultos em Deus, que não podem ser conhecidos se não forem revelados do alto. Constitui um mistério inacessível à razão sozinha.
II.            A revelação de Deus como Trindade
O Pai revelado pelo Filho
Em Israel, Deus é chamado Pai enquanto criador do mundo; mais ainda, Deus é Pai em razão da Aliança e do dom da Lei a Israel, seu filho primogénito. Ao designar Deus como Pai, a fé indica que Deus é a origem primeira de tudo e a autoridade transcendente e, ao mesmo tempo, é a bondade e solicitude amorosa para com todos os seus filhos.
Jesus revelou que Deus é Pai num sentido inédito: não o é somente enquanto Criador. É Pai eternamente em relação ao Filho único e é Filho em relação ao Pai: Ninguém conhece o Filho senão o Pai, nem ninguém conhece o Pai senão o Filho, e aquele a quem o Filho o quiser revelar (Mt 11, 27)
Por esta razão os Apóstolos confessam que Jesus é o Verbo, a imagem do Deus invisível. A Igreja confessa que o Filho é consubstancial ao Pai, quer dizer, um só Deus com Ele.
O Pai e o Filho revelados pelo Espírito
Antes da sua Páscoa, Jesus anuncia o envio de um outro Paráclito (defensor), o Espírito Santo. Agindo desde a criação e tendo falado pelos profetas, o Espírito Santo estará agora junto dos discípulos para os ensinar e guiar para a verdade total. Assim o Espírito Santo é revelado como outra pessoa divina, em relação a Jesus e ao Pai. A Igreja reconhece, assim, o Pai como a fonte e a origem de toda a Divindade, mas a origem eterna do Espírito Santo não está desligada da do Filho: O Espírito Santo, que é a terceira pessoa da Trindade, é Deus, uno e igual ao Pai e ao Filho, da mesma substância e também da mesma natureza… Contudo, não dizemos que Ele é somente o Espírito do Pai, mas, ao mesmo tempo, o Espírito do Pai e do Filho XI Concílio de Toledo.
A tradição latina do Credo confessa que o Espírito procede do Pai e do Filho, portanto recebe a sua essência e o seu ser ao mesmo tempo do Pai e do Filho e procede eternamente de um e do outro como de um só princípio e por uma só espiração.
III.           A Santíssima Trindade na doutrina da fé
       A formação do dogma trinitário
       A verdade revelada da Santíssima Trindade esteve, desde a origem, na raiz da fé viva da Igreja, principalmente por meio do Batismo. Encontra a sua expressão na regra da fé batismal, formulada na pregação, na catequese e na oração da Igreja. Para formular o dogma da Trindade, a Igreja teve de elaborar uma terminologia própria. Ao fazer isto, a Igreja não sujeitou a fé a uma sabedoria humana, mas deu um sentido novo, inédito a estes termos, chamados a exprimir um mistério inefável, transcendendo infinitamente tudo quanto podemos conceber a nível humano.
      
 
       O dogma da Santíssima Trindade
®     A Trindade é una; nós não confessamos três deuses, mas um só Deus em três pessoas: a Trindade consubstancial. Cada uma delas é Deus por inteiro.
®     As pessoas divinas são realmente distintas entre Si; Deus é um só, mas não solitário. Pai, Filho, Espírito Santo, não são meros nomes que designam modalidades do ser divino, porque são realmente distintos entre Si pelas suas relações de origem: O Pai gera, o Filho é gerado, o Espírito Santo procede.
®     As pessoas divinas são relativas umas às outras;
 
IV.          As obras divinas e as missões trinitárias
       Deus é a eterna bem – aventurança, vida imortal, luz sem ocaso. Deus é amor: Pai, Filho e Espírito Santo. Este amor manifesta-se na obra da criação, em toda a história da salvação depois da queda e nas missões do Filho e do Espírito Santo, continuadas pela missão da Igreja. Toda a economia divina é obra comum das três pessoas divinas, a Trindade não tem senão uma e a mesma operação. No entanto, cada pessoa divina realiza a obra comum segundo a sua propriedade pessoal. Por isso toda a vida cristã é comunhão com cada uma das pessoas divinas, sem de modo algum as separar. O fim último de toda a economia divina é o acesso das criaturas à unidade perfeita da bem – aventurada Trindade.
       Ó meu Deus, Trindade que eu adoro, ajudai-me a esquecer-me inteiramente de mim, para me estabelecer em Vós, imóvel e pacífica como se já a minha alma estivesse na eternidade. Que nada possa perturbar a minha paz, nem fazer-me sair de Vós, ó meu Imutável, mas que cada minuto me leve mais longe na profundeza do vosso mistério! Pacificai a minha alma, fazei dela o vosso céu, vossa morada querida e o lugar do vosso repouso. Que nunca aí eu Vos deixe só, mas que esteja lá inteiramente, toda desperta na minha fé, toda em adoração, toda entregue à vossa ação criadora. Santo Agostinho
 
 

Capítulo Primeiro – Creio em Deus Pai (cont.)

III.           Deus, “Aquele que é”, é verdade e amor
Em todas as suas obras, Deus mostra a sua benevolência, a sua bondade, a sua graça, o seu amor; e também a sua credibilidade, a sua constância, a sua fidelidade, a sua verdade. Ele é a verdade, porque Deus é luz e n’Ele não há trevas nenhumas (1 Jo 1,5).
Deus é verdade
Deus é a própria verdade, por isso é que as promessas de Deus se cumprem sempre, não pode enganar. Deste modo podemo-nos entregar com toda a confiança e em todas as coisas à verdade e fidelidade da sua palavra. A verdade de Deus é a sua sabedoria, que comanda toda a ordem da criação e do governo do mundo; só Deus pode dar o conhecimento verdadeiro de todas as coisas criadas na sua relação com Ele. Todo o ensinamento que vem de Deus é doutrina de verdade; quando enviou o seu Filho ao mundo foi para dar testemunho da verdade (Jo 18)
Deus é Amor
No decorrer da história, Israel descobriu que Deus só tinha uma razão para Se lhe ter revelado e o ter escolhido de entre todos os povos: o seu amor gratuito. O amor de Deus para com Israel é comparado ao amor de um pai para com o seu filho. Deus ama o seu povo mais do que um esposo ama a sua bem-amada; este amor vencerá as piores infidelidades e chegará ao mais precioso de todos os dons.
O amor de Deus é eterno. Deus é amor (1 Jo 4,8,16). Ao enviar o seu Filho único e o Espírito de Amor, Deus revela o seu segredo mais íntimo: Ele próprio é permuta de amor: Pai, Filho e Espírito Santo, e destinou-nos a tomar parte dessa comunhão.
IV.          Consequências da fé no Deus único
Crer em Deus, o Único, e amá-Lo com todo o nosso ser, tem consequências imensas para toda a nossa vida:
®     É conhecer a grandeza e majestade de Deus;
®     É viver em ação de graças;
®     É conhecer a unidade e verdadeira dignidade de todos os homens;
®     É fazer bom uso das coisas criadas;
®     É ter confiança em Deus, em todas as circunstâncias.
“Nada te perturbe,
Nada te espante, tudo passa
Deus não muda, a paciência tudo alcança
Quem a Deus tem nada lhe falta
Só Deus basta”
Santa Teresa de Jesus
 


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Capítulo Primeiro – Creio em Deus Pai

 
A nossa profissão de fé começa por Deus, porque é o Princípio e o Último, o Princípio e o Fim de tudo. O Credo começa por Deus Pai, porque o Pai é a Primeira Pessoa da Santíssima Trindade.
Artigo 1 “Creio em Deus Pai Todo-Poderoso Criador do Céu e da Terra”
Parágrafo 1 – Creio em Deus
Esta é a primeira afirmação da profissão de fé e também a mais fundamental, pois os artigos do Credo dependem todos do primeiro. Todo o Símbolo fala de Deus; os outros artigos fazem-nos conhecer melhor Deus, mas antes de mais nada, é preciso crer em Deus.
I.              Creio em um só Deus
Deus é único, não há senão um só Deus. A fé cristã crê e professa que só há um Deus por substância e natureza.
A Israel Deus revelou-Se como sendo único “Escuta, Israel! O Senhor, nosso Deus, é o único Senhor. Amarás o Senhor, teu Deus, com todo o teu coração, com toda a tua alma e com todas as tuas forças” (Dt 6, 4-5). O próprio Jesus confirma que Deus é o único Senhor e que é necessário amá-Lo.
“Nós acreditamos com firmeza e afirmamos simplesmente que há um só Deus verdadeiro, imenso e imutável, incompreensível, todo-poderoso e inefável, Pai e Filho e Espírito Santo: três pessoas, mas uma só essência, uma só substância ou natureza absolutamente simples” (IV Concílio de Latrão)
II.            Deus revela o seu nome
Deus revelou-Se ao seu povo Israel e dá a conhecer o seu nome, que exprime a essência, a identidade da pessoa e o sentido da sua vida. Dizer o nome é dar-Se a conhecer aos outros, entregar-Se a Si próprio tornando-se acessível, capaz de ser conhecido mais intimamente e de ser invocado pessoalmente.
Eu sou Aquele que sou
Ao revelar o seu nome misterioso YHWH “Eu sou Aquele que É”, Deus diz quem é e com que nome deve ser chamado; este nome é misterioso, tal como Deus é mistério. É assim que Deus exprime melhor o que Ele é; Ele é o Deus escondido, o seu nome é inefável e é o Deus que se faz próximo dos homens.
Ao revelar o seu nome, revela também a sua fidelidade, que é de sempre e para sempre, válida para o passado e futuro. Perante a presença atraente e misteriosa de Deus, o Homem descobre a sua pequenez.
Deus de ternura e de piedade
Depois do pecado de Israel, que se afastou para adorar o bezerro de ouro, Deus atende a intercessão de Moisés e aceita caminhar no meio de um povo infiel, manifestando todo o Seu amor. O nome divino “Eu sou” ou “Ele é” exprime a fidelidade de Deus que, apesar da infidelidade do pecado dos homens, conserva a sua benevolência em favor de milhares de pessoas. Deus revela que é rico em misericórdia ao ponto de entregar o seu próprio Filho que deu a vida para nos libertar do pecado.
Só Deus É
Deus é único, fora d’Ele não há deuses, Ele transcende o mundo e a história, foi quem criou o céu e a terra. Ele é “Aquele que é”, desde sempre e para sempre e, assim, permanece fiel a Si mesmo e às Suas promessas. Deus é a plenitude do Ser e de toda a perfeição, sem princípio nem fim; enquanto todas as criaturas d’Ele receberam todo o ser e o ter, só Ele é o seu próprio ser e é por Si mesmo tudo o que Ele é.
 


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Segunda Secção – A PROFISSÃO DA FÉ CRISTÃ

 
Os símbolos da fé
Quem diz Credo afirma: dou a minha adesão àquilo em nós cremos. A comunhão n fé tem necessidade de uma linguagem comum, normativa para todos e a todos unindo na mesma confissão da fé. Desde a origem a Igreja exprimiu e transmitiu a sua própria fé em fórmulas breves e normativas para todos. Também bem cedo quis recolher o essencial da fé em resumos orgânicos e articulados. A estas sínteses de fé chamamos profissões de fé porque resumem a fé professada pelos cristãos.
O símbolo divide-se em três partes: na primeira trata da Primeira Pessoa divina e da obra admirável da criação; na segunda, da Segunda Pessoa divina e do mistério da Redenção dos homens; na terceira, da Terceira Pessoa divina, fonte e princípio da nossa santificação.
As profissões ou símbolos de fé ajudam a abraçar e a aprofundar a fé de sempre, através dos diversos resumos que dela se fizeram. Entre todos os símbolos da fé, há dois que têm um lugar especial na vida da Igreja: o Símbolo dos Apóstolos e o Símbolo dito de Niceia – Constantinopla.
Este Símbolo é o selo espiritual (…), é a meditação do nosso coração e a sentinela sempre presente; é, sem dúvida, o tesouro da nossa alma (Santo Agostinho)
SÍMBOLO DOS APÓSTOLOS
 
Creio em Deus, Pai todo-poderoso,
Criador do Céu e da Terra;
 
e em Jesus Cristo, seu único Filho,
nosso Senhor,
 
que foi concebido pelo poder
do Espírito Santo;
nasceu da Virgem Maria;
 
padeceu sob Pôncio Pilatos,
foi crucificado, morto e sepultado;
desceu à mansão dos mortos;
ressuscitou ao terceiro dia;
subiu aos Céus;
está sentado à direita de Deus Pai
todo-poderoso, de onde há-de vir a julgar
os vivos e os mortos.
 
Creio no Espírito Santo; 
na santa Igreja Católica;
na comunhão dos Santos;
 
na remissão dos pecados;
na ressurreição da carne;
na vida eterna.
Amen
 

Que quer dizer – nos “O Menino Jesus à janela” ?…


      Quer dizer-nos que, no Natal, celebramos o seu Nascimento em Belém, na Palestina, no tempo do Rei Herodes! E que Maria, sua Mãe, por não terem encontrado outro lugar, O envolveu em paninhos e O deitou numa manjedoura de uma gruta onde, por vezes, pernoitavam animais…
      S. Lucas no seu Evangelho, explica-nos com mais pormenores o acontecimento, ao dizer que Jesus Cristo nasceu em Belém de Judá, num momento bem determinado da História: nasceu em tempos de César Augusto, imperador de Roma, que reinou de 30 Anos a. C. - 14 Anos d. C.
       Nasceu nos dias em que se promulgou um édito do Imperador, para que se recenseasse todo o povo do Império. Este censo foi um acontecimento social e político.
      Providencialmente, Deus serviu-se deste decreto do imperador romano para que Maria e José se encaminhassem para Belém, a terra dos seus antepassados, e ali nascesse o Messias, como havia sido anunciado pelos profetas, e constava nas Escrituras.
            Para lá se dirigiram levando o imprescindível. O burrico carregava as provisões e a roupa; por vezes, servia também de meio de transporte, levando Maria sobre o seu dorso, para que descansasse um pouco…
      Em Belém, José bateu a muitas portas mas, diz-nos S. Lucas, que ninguém os recebeu, pelo que se viram forçados a optar por uma gruta que servia de estábulo, nas redondezas. Ali se alojaram, com as poucas coisas que tinham conseguido levar de Nazaré: os paninhos, alguma roupa e pouco mais!
    E, naquele lugar, depois de se ter cumprido para a Virgem o tempo, deu à luz o seu Filho! … É, realmente, paradoxal que Deus, o Todo-Poderoso, ao fazer – Se Homem, tenha escolhido o mais pequeno lugar para aparecer na terra, um miserável estábulo de Belém!
      Mas simultaneamente, nas redondezas, um anjo rodeado pela luz da glória divina aparece aos pastores que, no campo, guardavam os seus rebanhos. “Não temais”, diz-lhes o anjo, “anuncio-vos uma grande alegria que o será para todo o povo. Hoje, na cidade de David, nasceu-vos o Salvador, que é o Cristo, o Senhor!” Isto vos servirá de sinal: “encontrareis um Menino envolto em panos e deitado numa manjedoura!...Enquanto ele pronunciava estas palavras, juntou – se – lhe uma multidão do exército celeste louvando a Deus e dizendo: “Glória a Deus nas alturas e paz na terra aos homens, de boa vontade”!...
      Um sinal simples, mas para os pastores bastou! Partiram pressurosos, levando alguns presentes para o recém-nascido, como era costume no mundo oriental. Talvez um cordeiro, queijo e manteiga; leite e mel, algum agasalho… Talvez uma manta!... Chegados à gruta, encontraram tudo conforme lhes tinha sido anunciado e, caindo de joelhos, O adoraram!...
       Felizes, os pastores correram a comunicar a toda a gente de Belém o que, maravilhados tinham visto e ouvido, conforme lhes fora anunciado: O Nascimento do Messias, o Salvador da Humanidade!
      Diz-nos S. Lucas que “Maria conservava todas estas coisas, meditando-as no seu coração”!...
      Nós também temos consciência de que celebramos no Natal, o acontecimento mais importante da História da Humanidade! Apesar disso, detetamos  tentativas de algum silenciamento programático, ideológico, do religioso no espaço público. Os crucifixos têm recebido também ordem de expulsão de muitos lugares públicos, e foi chumbada, no início, a referência ao Cristianismo na “Constituição Europeia”…
      Por outro lado, temos assistido a tentativas diversas, de ir escondendo o Nascimento de Jesus Cristo como facto central da história da humanidade. Veja – se, por exemplo, como o Pai – Natal tem andado por aí, a gerar alguma confusão, sobretudo nas crianças; e algumas outras personagens imaginárias de publicidade comercial, de cadeias de supermercados!... Diante do pluralismo e relativismo tão em voga nas sociedades do ocidente, é imperioso que se viva em coerência de convicções, sobretudo as religiosas, celebrando-as pessoal e comunitariamente, com a dignidade que requerem transmitindo, sobretudo aos mais novos, o que identifica os dias que correm, as razões de celebrações em família e a época temporal em que se inserem.
      Por tudo isto, valorizamos e agradecemos mais uma vez, a iniciativa “Estandartes de Natal”, como uma excelente oportunidade para recordar e afirmar publicamente por que se celebra o Natal! O Estandarte, com a imagem amabilíssima de Jesus Menino, que colocamos na janela ou na varanda, recorda na sua simplicidade e humildade, que há mais de 2000 anos nasceu em Belém de Judá o Messias, o Filho de Deus, o Redentor, Aquele, sem o qual não entendemos a vida nem a história!...

Maria Helena H. Marques
 Prof.ª Ensino Secundário

“Uma Mensagem de Amor “ aos homens…II


      Glória a Deus no Céu e na Terra
      Dar glória a Deus nas alturas, como cantam os Anjos em Belém, mas também na terra, não é apenas uma forma de expressão. É um estilo de vida completamente novo, para que Deus nos convida. Convida-nos a entrar no seu Reino não apenas depois da morte, mas aqui e agora. Para aqueles que compreendem este chamamento, a união com Cristo chega a ser mais importante que qualquer outra coisa. É uma experiência maravilhosa que liberta de qualquer tipo de opressão!
      Assim, no tempo e no espaço que agora ocupamos, podemos antecipar a realidade do Reino de Deus. Podemos converter a nossa vida em um “ensaio geral” daquilo que faremos por toda a eternidade: deixar transparecer o amor, a bondade e a misericórdia divinas. Dar glória a Deus na terra é descobrir, viver e comunicar, desde já, a Felicidade verdadeira!
      O sentido do mistério de Belém, da encarnação de Deus Filho que se fez uma criança desvalida poderia ser resumido assim: “Deus chama-nos à sua própria bem-aventurança” (Catecismo da Igreja Católica, n.º 1719). Por isso, o Anjo diz aos pastores: “Não temais, eis que vos anuncio uma boa nova que será alegria para todo o povo: hoje, na cidade de David, nasceu-vos um Salvador, que é o Messias, Senhor. Encontrareis um Menino envolto em panos e deitado numa manjedoira” (Lc  2, 11).
      E o exército celeste junta-se ao Anjo e a cada um de nós: “Glória a Deus nas alturas e paz na terra aos homens do Seu agrado!”

Maria Helena H. Marques

Prof.ª Ensino Secundário

“Uma Mensagem de Amor “ aos homens…I


      “Glória a Deus nas Alturas e, na terra paz aos homens”... Anunciam os Anjos aos Pastores, em Belém, na noite de Natal!
      Neste mistério que celebramos, Mistério da Encarnação de Jesus Cristo, Deus manifesta-nos que a sua entrega aos homens não tem limites. Ao nascer em Belém de Judá, Jesus revela um Deus oculto na pequenez, que se deixa vencer, rebaixando-se à mais completa fragilidade.
      Faz-se pequeno e pobre, ocupa o lugar de uma criança, o último lugar...
      Chega disposto a compartilhar as nossas necessidades e as nossas dores!
      Vem, “para que tenhamos vida e vida em abundância”...
      Assim, Jesus Cristo oferece a todos uma vida nova, um dom que consiste em uma nova amizade com Deus. Não exclui, não marginaliza ninguém. Os pobres e os desprezados, sentem-se acolhidos; sentem que terminou o tempo da solidão, da vergonha, da humilhação; recuperam a dignidade que julgavam perdida.
       Jesus ao fazer-se amigo das crianças e dos pobres, identifica-se com eles. “Todas as vezes que fizestes isto a um dos meus irmãos mais pequeninos, foi a Mim mesmo que o fizestes” (Mt 25, 40).
      É a lógica do amor: Deus que é a própria Grandeza, Beleza e Poder, oculta-se naquilo que é menor, mais frágil, mais sofrido; ensina-nos que a lógica do amor é diferente da lógica da razão ou do poder: mostra-nos que amar é colocar-se disponível, ao alcance do outro... “ Vinde a Mim, vós todos que estais sobrecarregados e aflitos com o peso do fardo, e eu vos aliviarei” (Mt 11, 28).
      Na sua passagem pela terra, Jesus não só cura os corpos dos que sofrem alguma enfermidade, como perdoa os pecados daqueles que se manifestam arrependidos. Revela-nos a alegria de Deus ao perdoar. A parábola da ovelha tresmalhada, dá-nos a conhecer a felicidade do pastor que recupera o seu animal... Ao encontrá-la, leva-a feliz, sobre os ombros...
      Revela-se como pai misericordioso na história do filho pródigo. Quando o pai vê o filho sujo, fraco e andrajoso, a voltar para si, corre a abraçá-lo, sem julgá-lo, ou censurá-lo. Apenas quer recuperá-lo, voltar a viver com ele. Esse desejo apaga as feridas do sofrimento que o jovem lhe causou.
      É assim o amor de Deus pelos homens. Desce dos céus para libertá-lo da sua culpa e da sua miséria. Um amor misericordioso e gratuito que desafia o nosso amor contrito e agradecido.
      Veio para servir. Prestou-nos o máximo serviço com a sua morte na Cruz, redimindo-nos, ultrapassando todas as expectativas humanas. “É escândalo para os judeus e loucura para os pagãos” (1 Cor 1, 23).
      Deus, na pessoa de Jesus Cristo, põe-se de joelhos enquanto lava os pés aos apóstolos! Já crucificado, deixa-se atacar e injuriar. É um escândalo… o inverso do nosso mundo; uma mensagem de amor!...
       A sua descida inicia-se quando toma a natureza humana, manifesta-se claramente no lava-pés e culmina na Paixão e Morte. “Vimos a sua glória” (Jo 1, 14), exclama S. João, referindo-se principalmente à glória da cruz. Não há dúvida: a glória de Deus é o amor!

Maria Helena H. Marques

Prof.ª Ensino Secundário

quinta-feira, 6 de dezembro de 2012

Capítulo Terceiro - A resposta do Homem a Deus (cont.)


Artigo 2: Nós cremos

A fé é um ato pessoal, uma resposta livre à proposta de Deus que Se revela. Mas não é um ato isolado, ninguém pode acreditar sozinho, ninguém se deu a fé de si mesmo. Foi de outrem que o crente recebeu a fé, por isso a outrem a deve transmitir. O nosso amor a Jesus e aos homens impele-nos a falar da nossa fé. Não posso crer sem ser amparado pela fé dos outros e pela minha fé contribuo para amparar os outros.
“Eu creio” é a fé da Igreja professada pessoalmente por cada crente. “Nós cremos” é a fé da Igreja confessada pela assembleia litúrgica dos crentes.
 
·         “Olhai, Senhor, para a fé da vossa Igreja”

Antes de mais é a Igreja que crê e que assim suporta, nutre e sustenta a minha fé. É primeiro a Igreja que confessa o Senhor. Com ela e nela, nós somos atraídos e levados a confessar: “Eu creio”, “Nós cremos”.
A salvação vem só de Deus, mas é através da Igreja que recebemos a vida de fé, a Igreja é nossa Mãe.
·         A linguagem da fé

Não acreditamos em fórmulas, mas sim nas realidades que as fórmulas exprimem e que a fé nos permite “tocar”. O ato de fé do crente não se detém no enunciado, mas na realidade enunciada. Assim, é através das fórmulas da fé (que nos permitem exprimir e transmitir a fé) que nos aproximamos dessas realidades.
A nossa Mãe Igreja ensina-nos a linguagem da fé para nos introduzir na inteligência e na vida da fé.

·         Uma só fé

A Igreja não cessa de confessar a sua fé única, recebida de um só Senhor, transmitida por um só Batismo, enraizada na convicção de que todos os homens têm apenas um só Deus e Pai.

Capítulo Terceiro - A resposta do Homem a Deus

Pela sua revelação, Deus invisível, na riqueza do seu amor, faça aos homens como amigos e convive com eles, para os convidar e admitir à comunhão com Ele. A resposta adequada a este convite é a fé.

Pela fé, o Homem submete completamente a Deus a inteligência e a vontade; com todo o seu ser, o Homem dá assentimento a Deus revelador. A Sagrada Escritura chama “obediência da fé” a esta resposta do Homem a Deus revelador.

Artigo 1: Eu Creio

·         A “obediência da fé”

Obedecer na fé é submeter-se livremente à palavra escutada, por a sua verdade ser garantida por Deus, que é a própria verdade. O modelo de obediência que a Sagrada Escritura nos propõe é Abraão. A sua realização mais perfeita é a da Virgem Maria.

·         Abraão – “O Pai de todos os crentes”

Pela fé, Abraão obedeceu ao chamamento de Deus e partiu para uma terra que viria a receber como herança: partiu sem saber para onde ia. Pela fé, viveu como estrangeiro e peregrino na terra prometida. Pela fé, Sara recebeu a graça de conceber o filho da promessa. Pela fé, Abraão ofereceu em sacrifício o seu filho único. A fé constitui a garantia dos bens que se esperam e a prova de que existem as coisas que não se veem. O Antigo Testamento é rico em testemunhos desta fé.

 

·         Maria – “Feliz Aquela que acreditou”

A Virgem Maria realiza de um modo mais perfeito a “obediência da fé”, pois acolheu o anúncio e a promessa trazidos pelo anjo Gabriel e deu o seu assentimento “Eis a serva do Senhor, faça-se em mim segundo a tua palavra”. Durante toda a sua vida, a fé de Maria jamais vacilou, nunca deixou de acreditar no cumprimento da Palavra de Deus.

·         “Eu sei em quem pus a minha fé”

I – Crer só em Deus

A fé é uma adesão pessoal do homem a Deus, é o assentimento livre a toda a verdade revelada por Deus, portanto difere da fé numa pessoa humana. É justo e bom confiar totalmente em Deus e crer absolutamente no que Ele diz. Seria vão e falso ter semelhante fé noutra criatura.

II – Crer em Jesus Cristo, Filho de Deus

Crer em Deus é crer n’Aquele em Deus enviou, no Seu Filho muito amado. Podemos crer em Jesus Cristo porque Ele próprio é Deus, o Verbo feito carne.

III – Crer no Espírito Santo

Não é possível crer em Jesus Cristo sem ter parte no seu Espírito. É o Espírito Santo quem revela aos homens quem é Jesus. A Igreja não cessa de confessar a sua fé num só Deus, Pai, Filho e Espírito Santo.

·         As características da fé

I – A fé é uma graça

A fé é um dom de Deus, uma virtude sobrenatural infundida por Ele. Para aderir à fé, são necessários a ajuda da graça divina e os auxílios do Espírito Santo, o qual move e converte o coração para Deus, abre os olhos do entendimento e dá a todos a suavidade em aceitar e crer a verdade.

II – A fé é um ato humano

O ato de fé só possível pela graça e pelos auxílios do Espírito Santo, mas não é menos verdade que crer é um ato humano. Não é contrário nem à liberdade nem à inteligência do Homem confiar em Deus e aderir às verdades por Ele reveladas. Na fé, a inteligência e vontade humanas cooperam com a graça divina. “Crer é o ato da inteligência que presta o seu assentimento à verdade divina, por determinação da vontade, movida pela graça de Deus” São Tomás de Aquino.

III – A fé e a inteligência

Nós acreditamos não pelo facto de as verdades reveladas aparecerem como verdadeiras à luz da razão natural, mas sim por causa da autoridade do próprio Deus revelador, que não pode enganar-se nem enganar-nos. Contudo, Deus quis que os auxílios interiores do Espírito Santo fossem acompanhados de provas exteriores da sua Revelação. Assim, os milagres de Cristo e dos santos, as profecias, são sinais certos da Revelação adaptados à inteligência de todos, mostrando que a fé não é um movimento cego do espírito.

A fé é certa porque se funda na própria palavra de Deus. As verdades reveladas podem parecer obscuras à razão mas a certeza dada pela luz divina é maior do que a dada pela luz da razão natural.

A fé procura compreender: é inerente à fé o desejo do crente de conhecer melhor Aquele em quem acreditou e de compreender melhor o que Ele revelou. Um conhecimento mais profundo exigirá uma fé maior e cada vez mais abrasada em amor. A graça da fé abre os olhos do coração. “Eu creio para compreender e compreendo para crer melhor” Santo Agostinho

  • Fé e ciência.

Embora a fé esteja acima da razão, nunca pode haver desacordo entre ambas: o mesmo Deus que revela os mistérios e comunica a fé, também acendeu no espírito humano a luz da razão. Aquele que se esforça, com perseverança e humildade, por penetrar no segredo das coisas, é como que conduzido pela mão de Deus, que sustenta todos os seres e faz que eles sejam o que são, mesmo que não tenham consciência disso.

·         A liberdade da fé

Para ser humana, a resposta da fé dada pelo Homem deve ser voluntária, portanto ninguém deve ser constrangido a abraçar a fé contra a vontade. O ato de fé é voluntário por sua própria natureza. Deus convida o Homem à conversão, mas de modo algum constrangeu alguém.

·         A necessidade da fé

Para obter a salvação é necessário acreditar em Jesus Cristo, porque sem a fé não é possível agradar a Deus e partilhar a condição de filhos seus.

·         A perseverança na fé

A fé é um dom gratuito de Deus ao Homem, mas podemos perder este dom. Para viver, crescer e perseverar até ao fim na fé, temos de a alimentar com a Palavra de Deus; temos de pedir ao Senhor que no-la aumente; deve ser sustentada pela esperança e permanecer enraizada na fé da Igreja.

·         A fé – vida eterna iniciada

A fé é já o princípio da vida eterna. “Enquanto, desde já, comtemplamos os benefícios da fé, como reflexo num espelho, é como se possuíssemos já as maravilhas que a nossa fé nos garante havermos de gozar um dia” São Basílio Magno.