quarta-feira, 14 de março de 2007

Educar o carácter




"Onde houver uma árvore para plantar, planta-a tu.Onde houver um erro para emendar, emenda-o tu.Onde houver um esforço que todos evitaram, fá-lo tu.Sê tu quem tira as pedras do caminho. '' (Gabriela Mistral)


No interior de um rapaz ou de uma rapariga de treze a dezoito anos de idade existe um desenvolvimento quase impossível de medir. É como uma Primavera de vida que flui com uma riqueza extraordinária. Aqueles que não contactam com gente jovem, ou o fazem de longe em longe, não imaginam sequer quantas dúvidas, quantas tempestades, quantos entusiasmos apaixonados a transformação de um espírito adolescente envolve. Para os pais, ajudar os filhos na formação do carácter e da personalidade deve ser um dever indiscutível e, com o tempo, uma satisfação imensa.

Neste contexto podemos aplicar aquele provérbio universitário: “qui natura non dat, Salamanca non presta”, isto é, aquilo que a natureza não dá, nem sempre se pode conseguir com a educação, por muito boa que ela seja.
Precisamente por isso não se pode exigir que os filhos sejam génios, porque pode faltar-lhes a substância natural necessária para o serem.

Porém, há outros aspectos, como o carácter, que dependem menos da natureza e mais da educação que cada um recebe, e das coisas que fazemos: "o nosso carácter (dizia Aristóteles) é o resultado da nossa conduta".
O carácter[1] não é como um título de alta linhagem, que se herda sem trabalho. O carácter vem a ser o resultado de uma luta singular que cada um tem consigo próprio, e da qual depende muito o acerto no viver. Uma luta que começa muito cedo e que fica quase decidida nesta fase de que nos ocupamos. Tanto como pai ou mãe, como se for, caro leitor, um adolescente a quem preocupa mudar o carácter, não queira deixar isso para depois, para mais tarde. Comece ainda este ano!

Não pense em dois nem em cinco. Não deixe para quando vierem circunstâncias favoráveis, que nunca chegam e, quando chegam, acabam por não ser tão favoráveis como pareciam. Pense, num futuro imediato. Depois, quem sabe, será tarde...
A educação do carácter é sempre bastante difícil, porque é algo que se forja muito no interior do rapaz e da rapariga, além de ser um problema muito pessoal .

Tanto é assim, que penso que não deve ser fácil sequer definir em que consiste ser uma pessoa de carácter.

É, de facto, difícil e é quase um dos primeiros aspectos que devemos abordar: ver que aspectos contribuem para melhorar o carácter, para depois traçar alguns possíveis caminhos (de entre os infinitos que haverá ) para o conseguir obter.

Mas quem tem de o obter é o jovem, rapaz ou rapariga e não os pais ou educadores. O êxito da construção do carácter resulta do convicção pessoal da mudança que cada um pretende obter.

Precisamente por essa razão não é fácil destinguir quando me dirijo aos pais e quando me dirijo aos filhos. Quando parece que estou falando para os outros, pense se é útil também para si, para se por no lugar do outro, e para comentá-lo com ele. Procure encontrar o momento oportuno. Depressa chegará à conclusão de que todo o tempo empregue em falar (com verdadeira vontade de se entenderem) é tempo ganho.

Muitos são os adolescentes que gostariam de mudar, corrigir ao menos um defeito, e não conseguem porque lhes falta a força de vontade. Por exemplo, a maioria dos estudantes que reprovam gostaria de tirar boas notas, e não faltam razões para se convencerem disso.

Nem tudo é uma questão de razões.

É que a maioria da compreensão está também na vontade e nos sentimentos, e tanto uns como outros podem educar-se.

Mas a educação não é tudo, pois também entra nalinha de conta o que é dado por nascimento. Além disso há também a liberdade. O que é dado pelo nascimento é algo que pertence ao passado, e não se pode mudar.

Com a educação procura-se precisamente que se aprenda a fazer um bom uso da liberdade.

A educação, sem ser o único aspecto, é algo muito importante na hora de construir a maneira de ser de cada um, tanto o carácter como a personalidade.

O que os pais são, o que fazem e o que dizem vai-se reflectindo diariamente no carácter dos filhos.

Pense que, desde o nascimento, está na criança o germe do seu futuro; mas, também desde o primeiro momento, os filhos são testemunhas implacáveis da vida dos pais.

Por isso, dizia Ackerman que a família faz quebrar a personalidade. As influências positivas da família no revelar da personalidade da criança tornam-se negativas se os pais falharem ao dar-lhes uma resposta adequada.[2]


Autor: Alfonso Aguiló
[2] www.catolic.net



[1] Formação do carácterJoão Paulo II, Mensajem, 01.01.1985. O Papa João Paulo II dirigindo-se aos jovens: "O mundo necessita de jovens que tenham bebido, em profundidade, das fontes da verdade. Precisais de escutar a verdade e, para isso é necessário a pureza de coração; é necessário comprendê-la, e para tal é preciso uma profunda humildade; é necessário que vos rendais a ela e para isso precisais da força para resistir às tentações do orgulho, da autosuficiencia e da manipulação. Deveis forjar em vós mesmos um profundo sentido de responsabilidade.




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