“Não gosto de exigir muito dos meus filhos” – dizia-me uma mãe com quem eu conversava sobre o percurso sinuoso de um dos filhos.“Conformo-me desde que não reprove, mesmo que seja aos trambolhões. Nem eu nem eles somos perfeitos. Somos simplesmente humanos. Não lhes quero amargurar a vida...”
– Bem, de acordo! Porém... pergunto eu, porque equiparar isso de amargurar a vida com o ter ideais elevados? Porque será que perante qualquer falha nossa ou dos outros, mas especialmente, nossa justificamos de imediato dizendo que errar é humano?
– É claro que somos humanos, porém, dito desse modo mais parece que o que é característico do homem é o que é inferior, o vulgar, o depravado, o mesquinho, quando o que, na verdade, é especificamente humano é a razão, a força de vontade, o esforço, o trabalho, o bem.
Para sermos autenticamente homens temos de começar por não nos autodesculparmos sempre dizendo que somos humanos. É uma desculpa que tem a aparência de humildade mas que esconde, normalmente, uma cómoda aposta na mediocridade.
Há que inculcar nos filhos um inconformismo natural perante o medíocre. É muito maior o número dos que se acabam deslizando pela rampa da mediocridade do que os que se deslizam pela rampa do mal.
São muitos os que encheram a sua própria juventude com grandes sonhos, grandes planos, e conquista de grandes metas; porém, quando viram que a ladeira da vida era íngreme, quando descobriram que tudo o que é valioso tem o seu quê de dificuldade, quando, olhando à sua volta, viram que a maioria das pessoas se sentem tranquilas perante a mediocridade, deixaram-se levar também para o mesmo lado.
A mediocridade é uma doença, uma doença sem dor e sem sintomas visíveis. Os medíocres, parecem, senão felizes, pelo menos, tranquilos. Costumam encarar a vida filosoficamente e, por isso, é-lhes difícil perceber quão estupidamente, a vão consumindo.
Todos temos que fazer um esforço para sair da vulgaridade, procurando não regressar a ela de novo. Temos que ir enchendo a vida de algo que lhe dê sentido, apostar numa existência útil aos outros e a nós mesmos em vez de progredir por uma vida arrastada e vulgar. Como diz o clássico castelhano – não há quem mal empregue o seu tempo e que o tempo não castigue.
A vida está cheia de alternativas.
Viver é apostar e manter a aposta.
Apostar e retirar-se ao primeiro contratempo será morrer antes de tempo. [1]
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