domingo, 14 de dezembro de 2014

A Dignidade humana e a Identidade Cristã da Europa", no Discurso do Papa no Parlamento Europa

       Aconteceu em 25 de Novembro 2014, em Estrasburgo – França, como tema forte e central da sua mensagem no Parlamento Europeu. Dizia-nos: “Chegou a hora de construirmos juntos a Europa que gira, não à volta da economia, mas da sacralidade da pessoa humana, dos valores inalienáveis”… Uma exortação do Papa Francisco que pedia também aos membros do Parlamento o esforço para a recuperação da sua identidade cristã.
      Recordamos que o Parlamento Europeu é o órgão representativo dos 28 Estados membros da União Europeia, que engloba mais de quinhentos milhões de cidadãos.
      Com uma mensagem de ânimo e esperança, o Papa Francisco começou a sua alocução descrevendo a situação atual da União Europeia, com problemas e tentativas de soluções. Referiu que na atualidade “a uma União mais alargada, mais influente, parece contrapor-se a imagem duma Europa um pouco cansada e envelhecida, que tende a sentir-se menos protagonista num contexto que por vezes a olha com indiferença, desconfiança e até suspeita”.
      “Falando-vos hoje como pastor, desejo dirigir a todos os cidadãos europeus uma mensagem de esperança e encorajamento”, afirmou o Santo Padre. Recordou que os Pais fundadores da União Europeia “desejavam um futuro assente na capacidade de trabalhar juntos para superar as divisões e promover a paz e a comunhão entre todos os povos do Continente. No centro deste ambicioso projeto político, estava a confiança no homem, não tanto como cidadão ou como sujeito económico, mas no homem como pessoa dotada de uma dignidade transcendente”.
      Citando um autor anónimo do século II que escrevera que “os cristãos são no mundo o que a alma é para o corpo”, o Papa afirmou que “a tarefa da alma é sustentar o corpo, ser a sua consciência e memória histórica”. “ É uma história bimilenária o que liga a Europa e o Cristianismo”, continuou.
      Pondo em realce o mundo em mutação- menos eurocêntrico – uma União Europeia cada vez mais alargada, o Papa chamou, no entanto a atenção para o envelhecimento deste continente, onde apesar de o projeto inicial colocar a pessoa humana, dotada de dignidade transcendental, no centro de tudo, persistem hoje situações em que o ser humano é tratado como objeto que pode ser descartado quando não é útil. Sublinhou também o paradoxal abuso do conceito de direitos humanos ligado a uma reivindicação cada vez maior dos direitos individuais a despeito da conexão entre direitos e deveres e do contexto social em que as pessoas vivem.
      Referiu a propósito: “tem-se uma impressão geral de cansaço e de envelhecimento, de uma Europa “avó” que já não é fértil nem vivaz. Os grandes ideais que inspiraram a Europa parecem ter perdido força de atração em favor do tecnicismo burocrático das instituições”.
      Condenando a absolutização das técnicas em relação à afirmação da dignidade e da preciosidade da vida humana, o Papa interrogou-se: “Como voltar então a dar esperança ao futuro, confiança para continuar os grandes ideais de uma Europa unida e de paz, criativa e empreendedora, respeitosa dos direitos e dos próprios deveres?”
      O Papa Francisco respondeu a esta pergunta sublinhando que uma Europa que não é capaz de se abrir à dimensão transcendental da vida, é uma Europa que corre o risco de perder lentamente, o seu “espírito humanístico”, a centralidade da pessoa humana”.
      Enalteceu, no entanto, o património cristão que contribuiu e continuará a contribuir agora e no futuro para o crescimento sócio – cultural da Europa. E essa contribuição – disse – não constitui um perigo para a laicidade dos Estados e para a independência das instituições da União. É sim um enriquecimento centrado no princípio do humanismo, do respeito da dignidade da pessoa humana.
      Referiu também que a Santa Sé está disposta a colaborar no diálogo transparente e profícuo com as instituições europeias, recordando as numerosas injustiças e as violências barbáricas cometidas em relação a minorias religiosas, sobretudo cristãs, no mundo, perante o silêncio vergonhoso e cúmplice de muitos.
      Recordando que o mote da União Europeia é a “unidade na diversidade” o Papa apelou ao respeito das diferenças, evitando uniformidade, o nominalismo político, e libertando a Europa de manipulações e fobias.
       Dar esperança à Europa significa investir nos âmbitos em que se formam os talentos das pessoas; criar condições favoráveis para a vida familiar; dar perspetivas às novas gerações; ao desenvolvimento; à educação a todos os níveis, uma formação que leve a olhar para o futuro com otimismo. Esperança que inclui de forma imperativa a questão da dignidade do trabalho, que implica encontrar novas formas de combinar a flexibilidade do mercado com a garantia do trabalho e a possibilidade de construir família.
      Referindo-se à questão das migrações, o Papa Francisco referiu: “Não é tolerável que o Mar Mediterrâneo se torne num cemitério… Impõem-se legislações adequadas que saibam ao mesmo tempo tutelar os direitos dos cidadãos europeus e garantir o acolhimento dos migrantes. Mas é também necessário adotar políticas concretas que ajudem os países de origem dos migrantes no desenvolvimento sócio-político e na superação de conflitos internos, em vez de políticas de interesse que alimentam e aumentam tais conflitos.
      “Queridos Eurodeputados, chegou o momento de abandonar a ideia de uma Europa temerosa e fechada sobre si mesma, para suscitar e promover a Europa protagonista, portadora de ciência, de arte, de música, de valores humanos e também de fé. A Europa que contempla o céu e persegue ideais; a Europa que assiste, defende e tutela o homem; a Europa que caminha na terra segura e firme, precioso ponto de referência para toda a humanidade!”, concluiu o Santo Padre.

                                                                                                                                  Maria Helena Marques
                                                                                                                                 

sexta-feira, 5 de dezembro de 2014

"Natal! Uma luz resplandece nas trevas!..."


      É a Luz mais fulgurante que irrompe e brilha através das densas trevas e oferece à humanidade sedenta a verdadeira paz, sobretudo nesta era crivada de ódios, ameaças e guerras, catástrofes,  e execuções consumadas!...
      Junto a Maria, a José e aos pastores no Presépio, adoremos o Menino – Deus, o Príncipe da Paz, que nasceu para nós, para a humanidade de todas as épocas, até ao Juízo Final. O glorioso nascimento do Menino Jesus constitui uma inesgotável fonte de salvação. E, invariavelmente – sobretudo neste ano tão atravessado por ameaças, convulsões e terrores – o convite que nesta festividade mais uma vez é feito aos homens vem carregado de promessas. Junto ao Divino Infante pode-se encontrar a verdadeira paz, como aconteceu com os pastores e os Reis Magos: Movidos por um sopro do Espírito Santo, abandonaram os seus afazeres e puseram-se a caminho em busca da Paz Absoluta, para adorá-la. Esse mesmo convite nos é dirigido a nós na noite de hoje. “Venite adoremus”, pois a graça de Deus, o nosso Salvador, apareceu para todos os homens”…
      No Natal a eternidade e a humanidade abraçaram-se. O Deus – Menino veio ao nosso encontro tornando-se  um de nós, na gruta de Belém. Por Ele somos convidados a ir ao encontro de Deus e dos irmãos mais pequeninos e feridos do nosso tempo, que precisam do nosso acolhimento, amor e ajuda.
      Na pobreza do Presépio de Belém, recebemos o convite para o desprendimento do supérfluo e o compromisso com os mais necessitados. Por isso mesmo, o Natal de Jesus é ensinamento e mais, uma ordem…É na pessoa desses “ pequeninos”, que também hoje Jesus espera e quer ser reconhecido, acolhido, hospedado e amado. Sem dúvida, celebrar o Natal de Jesus não consiste apenas em recordarmos que Jesus nasceu na história humana, mas que Ele ontem, hoje e sempre quer e precisa nascer no nosso coração, nas nossas famílias, comunidades e no mundo.
      Desde sempre nos encantou ver as ruas, lojas, casas e as igrejas das nossas cidades e aldeias com enfeites e luzes! O Presépio nas famílias e ruas das cidades fala-nos do cumprimento da promessa de salvação feita por Deus, enviando-nos o Messias prometido, esperado e anunciado através dos profetas.
      É o presépio que nos indica que o homenageado principal da festa é e deve ser sempre Jesus. Faz-nos bem reconhecer e sentir que apesar  das pressões da recordação do consumismo das últimas décadas no tempo natalício, somos despertados para a esperança de um mundo melhor.
      E o Natal de Jesus é um sinal permanente que nos fala do amor de Deus mas ao mesmo tempo nos interpela com a pergunta: que lugar o Deus-Menino da gruta de Belém ocupa hoje na minha vida? Infelizmente devemos reconhecer que, para alguns de nós, mesmo cristãos, Ele ainda não é a prioridade da festa natalícia!
      A Bíblia relata que Jesus no seu tempo veio ao mundo e que os seus não O reconheceram e, por isso, não O acolheram.
      Perguntemo-nos: hoje é diferente?!
      O que devemos fazer para que o verdadeiro Natal de Jesus, não se transforme apenas num tempo de consumo ou num banquete de família?
      Jesus nasceu na gruta de Belém e quer hoje nascer na gruta do nosso coração! Que lugar Lhe reservamos? Como o preparamos?!
      No nosso tempo em que abundam dificuldades e carências de todo o género, Jesus espera também ser reconhecido nos pobres, nos doentes e nas crianças feridas e abandonadas pelo mundo! Nunca o esqueçamos: “Tudo o que fizeres ou deixares de fazer a um dos meus irmãos mais pequeninos é a Mim que o fazes”…
      Estamos em vésperas do Natal. A celebração alegre do Nascimento de Cristo, em cada ano não depende das condições sociais e individuais do momento.Quanto maior  for a angústia, tanto mais cresce a expetativa de uma superação do mal-estar reinante, através da comemoração do Natal de Jesus.
      O Natal é um apelo dirigido a cada um, no sentido de viver e anunciar a mensagem do Presépio. Recordemos as lições esquecidas que brotam da mangedoura: Há ali um ambiente religioso, com a presença do Menino – Deus, de seus Pais – Maria e José – as vozes dos Anjos, a homenagem dos Pastores, dos Magos…Vislumbra-se uma magnífica riqueza, através da pobreza do estábulo. A felicidade que tem o seu lugar ali no meio da carência de bens materiais: reconhecemos até o início do itinerário da Redenção da Humanidade: da Gruta de Belém ao suplício do Gólgota, à vitória da Ressurreição… até ao Pentecostes!
      E Maria Santíssima aí estava sempre presente!
      Figura amável, materna, que está e continua, também nos nossos dias, na História da Igreja e da Humanidade e que assim permanecerá até ao fim dos tempos!
      Feliz Natal!
                                                                                                      Maria Helena Marques

                                                                                                      Prof.ª Ensino Secundário

sábado, 29 de novembro de 2014

Quem é o SER HUMANO?...

          Com todos os avanços da ciência e da moderna tecnologia com que se lida no dia a dia nas mais diversas latitudes e longitudes, não deveria ficar a mínima dúvida – como acontecia em princípios do século passado –, acerca do início da vida humana no ventre materno.
      A dignidade humana de que essa vida é titular a partir da fecundação é única, e irrenunciável, que acompanhará o ser humano em todas as etapas da sua vida.
      Por isso, sempre deve ser respeitada e considerada como fonte originária dos direitos humanos.
      Assim, só na medida em que as diferentes legislações dos países sejam um reflexo da lei natural que deriva de este plano de Deus para nós, é que estaremos realmente a fazer do mundo um lugar plenamente humano …
      Todo o homem aberto à verdade, com a luz da razão e da fé pode chegar a descobrir na lei natural escrita no seu coração (cf. Rom. 2, 14 – 15) o valor sagrado da vida humana desde o seu início na conceção, até ao seu termo pela morte natural.
      Descobrimos que o novo ser humano, apesar das suas dimensões microscópicas, não muda em nada o seu ser plenamente novo e independente. Desde esse momento, o novo ser é já uma individualidade, em corpo e alma, única e irrepetível com toda a informação genética necessária para continuar a desenvolver-se até chegar a ser uma pessoa adulta. Um ser portador de caraterísticas insubstituíveis, que o individualizam: como a consciência, a capacidade para expressar-se através da linguagem; é titular de conhecimento sobre si mesmo e sobre o que acontece em redor, permitindo-lhe transformar a realidade; tem conhecimento dos seus estados emocionais; tem tendência para a auto – realização; capacidade de escolha, criatividade e desenvolvimento em uma sociedade de algum modo condicionante…
      Mas para além das normais alterações em consequência de uma atividade plena desenrolada em determinada envolvente social, o ser humano é também caraterizado por uma forte dimensão religiosa desde as suas origens.
      As expressões conaturais de religiosidade, manifestam uma forte convicção de que existe um Deus Criador, do qual depende o mundo e a nossa existência pessoal.
      Apesar de o politeísmo ter acompanhado muitas fases da história do homem, a verdade é que a dimensão mais profunda da religiosidade humana e da sabedoria filosófica procuraram e encontraram a justificação radical do mundo e da vida humana num único Deus, fundamento da realidade e cumprimento da nossa aspiração à felicidade (cf. Catecismo da Igreja Católica, 28).
      O ser humano é religioso por natureza. A crença e a vivência da fé são necessidades “inatas”, são os pontos de partida inevitáveis na vida e caminhada da pessoa neste mundo.
      O gesto de crer não é privilégio de alguns. O normal é que cada pessoa se sinta sedenta de “algo mais”, para além da simples objetividade. Como ser portador de consciência, procura a razão da própria existência e, nessa busca, encontra-se diante de um grande mistério…
      Esta caraterística única da sua religiosidade, distingue-o de todos os demais seres deste mundo que habita. “O homem religioso relaciona a sua existência com um princípio supremo que rege e dá sentido a tudo o que existe. Este princípio tem um caráter absoluto, incondicionado. É Deus (…). Assim, o homem religioso quer que a sua vida esteja em consonância com esta ordem universal – a sua ética – os princípios que regem a sua conduta interpessoal e os objetivos válidos da sua vida, subordinados aos postulados e mandamentos da sua doutrina religiosa”. (Romero, 1998: 310-11).
      É evidente que o homem, na sua singularidade mais genuína e profunda, se destaca de toda a natureza pelas suas capacidades cognitivas, afetivas, estéticas e religiosas. Possui a faculdade de se ligar ao sobrenatural transcendente – Deus –, por exemplo, pela reflexão, pelas atitudes de submissão, reverência e adoração através da oração…
                                                                                                                                Maria Helena H. Marques

                                                                                                                                Prof.ª Ensino Secundário

D. Álvaro del Portillo - a tranquilidade na ordem

      Por detrás de uma figura afável e serena, surgia continuamente um homem cheio de fortaleza que transmitia um ambiente de paz.
      O `segredo´ foi mais uma vez desvendado pelo Papa Francisco por ocasião do centenário do nascimento do primeiro sucessor do Fundador do Opus Dei, que será beatificado em 27 de setembro, em Madrid, sua cidade natal.
      Afirma o Santo Padre num telegrama enviado ao atual Prelado do Opus Dei, D. Javier Echevarria: “ D. Álvaro del Portillo foi um sacerdote zeloso que soube conjugar uma intensa vida espiritual alicerçada na fiel adesão à rocha que é Cristo, com um compromisso apostólico que o fez peregrino em cinco continentes, seguindo os passos de São Josemaria Escrivá”.
     Há muitos testemunhos que confirmam que na vida de D. Álvaro se moldou maravilhosamente o espírito que Deus entregou ao Fundador do Opus Dei e o mandato de o difundir por todo o mundo, que o levou a escrever: “Tem presente meu filho, que não és somente uma alma que se une a outras almas para fazer uma coisa boa. Isso é muito…, mas é pouco – és o Apóstolo que cumpre um mandato imperativo de Cristo”. (Caminho, n.º 942).
      Um mandato que D. Álvaro assumiu e o fez lema do seu ministério, vida na sua vida! Regnare Christum  volumus! Importa que Ele, Jesus, reine!
      A beatificação de D. Álvaro que terá lugar em Madrid a 27 de setembro, foi um processo incentivado pelos três últimos Papas.
      No dia 23 de março de 1994, João Paulo II ajoelhou-se e rezou perante o corpo sem vida de Álvaro del Portilho, falecido poucas horas antes. Tinha-se deslocado à sede central do Opus Dei para ver pela última vez um amigo, uma pessoa que, conforme afirmou naquele dia, “foi um exemplo de fortaleza”, de confiança na providência divina e de fidelidade à sede de Pedro”.
      Na sua carta de condolências, o Cardeal Joseph Ratzinger afirmava que o trabalho de D. Álvaro “como consultor da Congregação para a Doutrina da Fé”, tinha contribuído de modo singular para o enriquecimento da Congregação, “com a sua competência e experiência, como pude comprovar pessoalmente”.
      O processo de beatificação começou em 2004 durante o pontificado de João Paulo II, foi incentivado por Bento XVI, e chegará a bom termo no próximo dia 27 de setembro por decisão do Papa Francisco, que aprovou que a cerimónia tenha lugar em Madrid nesse dia e seja presidida pelo Prefeito da Congregação para a Causa dos Santos, Ângelo  Amato.
      D. Álvaro del Portillo nasceu em Madrid (Espanha) em 11 de março de 1914, terceiro de oito irmãos, numa família de profunda raiz cristã. Era doutorado em Engenharia Civil, em Filosofia e em Direito Canónico.
      Em 1935 incorporou-se no Opus Dei, fundado por Josemaria Escrivá  de Balaguer no dia 2 de outubro de 1928. Viveu com fidelidade plena a vocação para o Opus Dei, mediante a santificação do trabalho profissional e o cumprimento dos deveres correntes; e desenvolveu uma amplíssima atividade apostólica entre os colegas de estudos e de trabalho.
      Cedo se tornou no apoio mais sólido de S. Josemaria, e permaneceu ao seu lado durante quase quarenta anos, como o seu colaborador mais próximo.
      No dia 25 de junho de 1944 foi ordenado sacerdote. Desde então dedicou-se inteiramente ao ministério pastoral em serviço dos membros do Opus Dei e de todas as almas. Em 1946 fixou residência em Roma, junto de São Josemaria.
      O seu incansável serviço à Igreja manifestou-se também na dedicação aos encargos que a Santa Sé lhe atribuiu como consultor de vários Dicastérios da Cúria Romana e, especialmente, mediante a sua participação ativa nos trabalhos do Concílio Vaticano II.
      No dia 15 de setembro de 1975, foi eleito primeiro sucessor de S. Josemaria, falecido em 26 de junho anterior.
      No dia 28 de novembro de 1982 ao erigir a Obra como Prelatura Pessoal, o Santo Padre João Paulo II nomeou-o Prelado do Opus Dei, e no dia 6 de janeiro de 1991 conferiu-lhe a ordenação episcopal.
      Todo o seu trabalho de governo se caraterizou pela fidelidade ao Fundador e à sua mensagem num trabalho pastoral infatigável para estender os apostolados da Prelatura em serviço da Igreja.
      A sua entrega ao cumprimento da missão recebida seguindo os ensinamentos de S. Josemaria, mergulhava a raiz num profundo sentido da filiação divina, que o levava a procurar a identificação com Cristo num abandono confiado à vontade de Deus, alimentado pela oração, pela Eucaristia e por uma terna devoção a Nossa Senhora.
      O seu amor à Igreja manifestava-se por uma profunda unidade com o Papa e com os Bispos. A caridade que tinha para com todos, a solicitude infatigável pelas suas filhas e seus filhos do Opus Dei, a humildade, a prudência e a fortaleza, a alegria e a simplicidade, o esquecimento de si mesmo e o ardente empenho por levar almas a Cristo, bem como a sua bondade, serenidade e bom humor que irradiava, são traços que completam o retrato da sua alma. Faleceu em 23 de março de 1994, poucas horas depois de regressar de uma peregrinação à Terra Santa, onde tinha percorrido com piedade intensa os passos terrenos de Jesus. Na manhã precedente tinha celebrado a sua última Missa no Cenáculo de Jerusalém.
      Nesse mesmo dia, 23 de março, como antes referimos, o Santo Padre João Paulo II foi rezar diante dos seus restos mortais, que agora repousam na Cripta da Igreja Prelatícia de Santa Maria da Paz – continuamente acompanhado pela oração e afeto dos fiéis do Opus Dei e de milhares de pessoas de todo o mundo.
      Em síntese, apraz-nos sublinhar aquilo que muitíssimas pessoas têm afirmado: “A virtude mais caraterística de D. Álvaro del Portillo, foi a sua fidelidade “.
      Isto mesmo referiu S. Josemaria Escrivá em 11 de Março de 1973, aniversário de D. Álvaro, numa reunião de família, quando ele não estava presente, do seguinte modo: Tem a fidelidade que vós deveis ter a toda a hora; soube sacrificar com um sorriso tudo o que era seu, pessoal e se me perguntais: alguma vez foi heróico? Respondo-vos: sim, foi muitas vezes heróico, muitas, com um heroísmo que parece coisa banal. E noutra ocasião, disse: gostaria que o imitásseis em muitas coisas mas, sobretudo, na lealdade! 

                                                                                                                                                         Maria Helena Marques 


A "Família", no centro das nossas atenções!

            Com a convocatória do próximo Sínodo dos Bispos sobre a Família, o Papa Francisco pretende ampliar a vida das famílias mais do que afogá-las com casuísticas. Por isso vem insistindo que o Sínodo se ocupará de muitos temas, como a formação para o casamento, a educação dos filhos e o papel das famílias na nova evangelização. O desafio é evitar que as informações jornalísticas sobre o Sínodo se centrem só em polémicas, que não afetam todas as famílias.
      A Assembleia-geral extraordinária, com bispos de todo o mundo, terá lugar em Outubro de 2014. A esta seguir-se-á uma Assembleia ordinária, para concretizar em linhas de ação as propostas daquela. E a chave de ouro deste novo empurrão pastoral será o Encontro Mundial das Famílias em Filadélfia, em Setembro de 2015.
      O Santo Padre espera do Sínodo que os Bispos ponham em relevo que a família é um bem para os indivíduos e para a sociedade. “A nossa reflexão terá sempre presente a beleza da família e do casamento, a grandeza desta realidade humana”… “ O que se nos pede é reconhecer o belo, autêntico e bom que é formar uma família, ser família hoje, como isto é indispensável para a vida do mundo, para o futuro da humanidade”.
      Porque a Família é e continuará a ser a célula base da sociedade, chamada a desempenhar a relevante função de assegurar a sua renovação natural e harmoniosa.
      Esta realidade patente e irrevogável é assumida universalmente pelas mais diversas culturas e civilizações; é afirmada pela revelação judaico – cristã; reconhecida de forma implícita pela nossa Constituição da República e, explicitamente, pelo Código Civil Português.
      Deste modo, a Família, fundada no casamento entre um Homem e uma Mulher, tem o direito de ver reconhecida a sua identidade única, incomparável, sem misturas nem confusões com outras formas de convivência.
       Segundo famosos especialistas destas matérias a  homossexualidade, por exemplo, reflete a existência de desvios, problemas sérios de identidade pessoal suscetíveis de resolução, desde que utilizados os meios necessários adequados…
      Afirmar a heterossexualidade como requisito para o casamento, não é discriminar, mas partir de uma realidade objetiva que é o seu pressuposto. O contrário, significa desconhecer a sua essência, ou seja, aquilo que realmente, é.
      A Família, como realidade constituída pelo Homem, a Mulher e os Filhos, foi, desde os inícios da humanidade, protegida pelas sociedades civilizadas, com a instituição do Matrimónio.
      Confirma essa realidade, a Declaração Universal dos Direitos Humanos, que exige “reconhecer o direito do homem e da mulher a contrair matrimónio e a formar uma família”.
Por tudo isto, é responsabilidade de todos nós, proteger e defender este bem precioso da humanidade, que é a família natural!
      Os Bispos Portugueses por sua parte, têm oportunamente alertado  para a campanha ideológica de que tem vindo a ser vítima a família em Portugal.
      Segundo D. Jorge Ortiga, a família “encontra-se exposta ao relativismo dos valores, que têm vindo a degenerar em anti – valores: ruturas familiares, crise social da figura do pai, dificuldade em assumir compromissos estáveis, grave ambiguidade acerca da relação de autoridade entre pais e filhos, o número crescente de divórcios, a praga do aborto, etc., concluindo que é “fundamental que a família descubra, mais uma vez, a sua identidade”.
      Por outro lado, a Igreja tem vindo a afirmar em diversas ocasiões que rejeita todas as formas de discriminação ou marginalização das pessoas e dispõe-se a acolhê-las fraternalmente e a ajudá-las a superar as dificuldades … Contudo, fiel à razão, à palavra de Deus e aos ensinamentos recebidos, a Igreja não pode deixar de considerar que a sexualidade humana, vivida no casamento, só encontra a sua verdade e plenitude na união amorosa de um homem e uma mulher unidos estavelmente, pelo vínculo do Matrimónio.

                                                                                                                        Maria Helena Marques


                                                                                                                       Prof.ª Ensino Secundário

Procurar de novo, o "Tesouro da Educação"

          Tesouro estruturado em vários pilares, cujos conceitos fundamentam a educação do século XXI, uma educação direcionada para uma educação integral, que visa os diversos tipos de aprendizagem.
       Aprender a conhecer, através da aquisição dos instrumentos de conhecimento. Instrumentos imprescindíveis a uma aprendizagem assente em raciocínios lógicos, na compreensão, dedução e memória, ou seja, sobre os processos cognitivos por excelência. O ideal deverá ser o de encarar a educação, não apenas como um meio para um fim, mas também como um fim em si mesmo. Uma finalidade que desperta a sede de desenvolver o pensamento dedutivo e intuitivo, permitindo – lhe chegar às suas próprias conclusões e a aventurar-se por outros domínios do saber e do desconhecido.
      Se o aprender a conhecer nos confere as bases teóricas das questões, o aprender a fazer apetrecha-nos com a formação técnico – profissional indispensável para que possamos transformar as teorias em realidades práticas. Assim sendo, aprender a conhecer e a realizar é importante, mas não o é menos o saber comunicar. Não apenas para reter e transmitir informação, mas também para interpretar e selecionar as torrentes de informação, muitas vezes contraditórias, com que somos bombardeados diariamente.
      A convivência com os outros é um domínio de excelente aprendizagem que consiste num dos maiores desafios para os educadores, uma vez que atua no campo das atitudes e valores. Cabe neste campo o combate ao conflito, ao preconceito, às rivalidades tradicionais. Trata-se de apostar numa educação como veículo de paz, respeito mútuo e sociabilidade…
      No aprender a ser, situa-se uma aprendizagem derivada dos outros tipos, que tem como objetivo o desenvolvimento integral da pessoa, espírito e corpo, sensibilidade, sentido estético, responsabilidade pessoal, espiritualidade.
      Aprender a ser, como e onde?
       Não existem receitas mágicas, mas salientamos três âmbitos fundamentais em que se desenrola a ação educativa, com a pretensão de vislumbrar algumas chaves da educação do caráter moral que, não o esqueçamos, é o objetivo mais importante da ação educativa.
      O âmbito primordial por excelência, é a Família. A intensa componente afetiva da relação familiar estrutura, com uma força irrepetível, e normalmente desde o seu nascimento, o caráter de uma pessoa. O que se aprende no lar marca, se não de forma absoluta, marca de forma indelével, a personalidade.
      No que se refere ao papel da família na formação do caráter das crianças e jovens, deparamos na atualidade com dificuldades acrescidas resultantes da desestruturação da família à mercê sobretudo da `praga` do divórcio e do fenómeno dos lares mono – parentais em crescimento abrupto nos últimos anos.
      Por outro lado, o trabalho profissional da mulher e o aumento das horas de trabalho, faz com que os filhos desfrutem cada vez menos da companhia e do afeto de seus pais. O que significa, sem dúvida, que os pais perdem também muitas oportunidades de ir formando o caráter de seus filhos…
      Desde o ponto de vista social, impõe-se o esforço geral no sentido de fortalecer a família e de facilitar aos pais a conciliação do trabalho com a sua vida familiar. Não podem demitir-se das suas funções de primeiros educadores dos seus filhos. De inculcar-lhes hábitos de ordem, de esforço e trabalho para conseguirem as coisas que pretendem, de domínio das suas apetências… Um âmbito que neste momento histórico goza de uma grande relevância educativa, são os produtos da indústria do entretenimento, veiculados e difundidos, sobretudo, pelos meios de comunicação social. Produtos a que se tem dado pouca importância no que se refere ao caráter educativo das histórias, das narrativas que incidem na imaginação, emoções e afetos dos meninos e dos jovens! O que, em qualquer caso, não se pode perder de vista é que a educação do caráter moral é um objetivo educativo irrenunciável que requer, com sentido de urgência a cooperação dos Pais, em primeiro lugar, da Escola e dos grandes Promotores da ficção…
                                                                                                                       Maria Helena Marques

                                                                                                                       Prof.ª Ensino Secundário

A Família, bem precioso

        Depois de uma enorme expetativa em relação à 3.ª assembleia extraordinária do Sínodo dos Bispos sobre a Família que aconteceu no Vaticano de 5 a 19 de Outubro, muitos esperavam que desta assembleia saíssem soluções para os vários tipos de problemas que atualmente envolvem o casamento e a família. Diante de todo o alarido de diversos meios de comunicação social permanecia, subjacente, a grande questão: Será que depois do Sínodo, casamento e família ainda se manterão os mesmos?
      O que deveria mudar? Que, por exemplo, o casamento deixe de ser entre duas pessoas de sexos diferentes? Que o homem de modo irracional, possa ir com as mulheres que lhe passem pela cabeça, sem compromisso com qualquer delas, sem responsabilidade pessoal e social sobre qualquer dos atos praticados? Que de igual modo a mulher faça o mesmo? Que a promiscuidade seja erigida em ideal de convívio entre uns e outros? Que os casais deixem de procriar? Que os filhos sejam gerados em laboratórios e entregues à responsabilidade do Estado, sem contacto com os pais?
      Deveríamos resignar-nos e concordar com aqueles que dizem que a família acabou e faz parte de um tempo que já lá vai? Quem olha pelas crianças, os idosos, as pessoas com deficiência? O Estado ou a sociedade deveriam assumir inteiramente o papel da família? As relações de parentesco deveriam ser ignoradas? O sonho dos jovens enamorados que querem ter família, seria apenas ilusão romântica? Deveria a Igreja mudar o seu pensamento em relação à família?
      O excesso das perguntas é propositado, para ajudar a ver que as coisas essenciais em relação à família, não poderiam mudar, sem comprometer seriamente a própria existência da comunidade humana.
      As questões relacionadas com a família e o casamento são, ao mesmo tempo, simples e complexas pois dizem respeito aos elementos básicos da existência humana, como a afetividade e o amor, o respeito delicado de pessoa a pessoa, a complementariedade, a vida gerada, acolhida e doada, o sentido de pertença, de aconchego e de intimidade, a confidência, a aceitação da pessoa como ela é, (com virtudes e com defeitos!), a gratuidade e o amor desapegado, o projeto de vida realizado juntos, a confiança, a alegria simples, a esperança…
      Será que isso deveria mudar no casamento e na família?! Ninguém pensará em acabar com isso. Temos a certeza de que os jovens que se enamoram de verdade e querem casar, também pensam assim. E a Igreja quer continuar a contribuir para que isso aconteça na vida dos casais e das famílias.
      Em que consiste o mal-estar, tão frequente, em relação ao casamento e à família?! Tem-se por vezes a impressão de que a família é terra de ninguém, onde qualquer um pode entrar, pegar, arrancar, devastar, levar embora… Ou como um campo devastado, cheio de destroços e com muitos feridos! Pobre família, tão maltratada e desprestigiada…Ao mesmo tempo, tão cobrada para assistir os órfãos de afeto, de referência e proteção; os abandonados pela sociedade dos fortes e eficientes, as vítimas do desmantelamento da própria família, esse primeiro bem, que Deus pensou para as pessoas!
      O papa Francisco, ao abrir o Sínodo, no dia 5 de Outubro, comentou a parábola sobre os “vinhteiros homicidas” (cf  Mt, 21, 33-43),  para dizer que a família é um bem precioso, que Deus confiou  a todos os “administradores” e responsáveis  da sociedade: dela devemos tomar conta, com muito carinho, não deixando que seja devastada por invasores e assaltantes mal intencionados… Que a ajudemos a florescer e frutificar, para o benefício da pessoa, da sociedade política e também da comunidade de fé.
      Será que é a família que tem de mudar, ou são as nossas atitudes em relação à família?... A verdade é que a família vem sendo desconfigurada há muito tempo! Atualmente, parece que se chegou a um ponto crucial, estando em crise a própria identidade da família. Quando se coloca em xeque a diferenciação e a identidade sexual; quando se pretende que casamento seja uma `aberração` entre pessoas do mesmo sexo; quando custa pensar que os filhos também são parte da família; quando o projeto da vida a dois parece ter perdido o interesse; quando a relação afetiva é deixada apenas à precariedade dos sentimentos e oportunidades fugazes: o que é que ainda sobra da família?!
      Impõe-se o recomeçar pelo mais essencial no casamento e na família: o amor sincero e generoso, a confiança nos sentimentos bons, a fidelidade aos propósitos assumidos, a firmeza na edificação do projeto comum, a alegria partilhada, a disciplina da virtude, a fé em Deus… Para o futuro da família, é mesmo isso que vai continuar, uma vez que está na própria base da família. Assim sendo, é esta obra do seu amor que Deus vai continuar a abençoar!
                                                                                       (adaptação) … Maria Helena Marques

                                                                                                                                   Prof.ª Ensino Secundário

terça-feira, 29 de abril de 2014

Recordando João Paulo II!


      Estamos a poucos dias da sua canonização – 27 de Abril, Domingo da Divina Misericórdia – o dia em que a Igreja é chamada a pronunciar-se oficialmente, acerca deste “Servo Bom e Fiel”!

      Um grande acontecimento que agradecemos a Deus, embora para uma grande parte dos cristãos o reconhecimento da sua santidade já vem de muitos anos atrás. Conforme revelava recentemente Bento XVI numa entrevista, “tornou-se para mim cada vez mais claro que João Paulo II era um santo”. “Só a partir da sua relação com Deus é possível perceber o seu incansável empenho pastoral. Deu-se com uma radicalidade que não pode ser explicada de outra forma”, refere o Papa emérito.

      É sabido que Bento XVI, enquanto Cardeal, foi um dos mais diretos colaboradores do Papa Polaco durante mais de duas décadas, enquanto prefeito da Congregação para a Doutrina da Fé.

      Diz: “Percebi de imediato, o fascínio humano que dele emanava e como rezava; compreendi como estava profundamente em Deus”…

      Recordando que a colaboração com João Paulo II, foi sempre marcada pela “amizade e afeto”, referiu como diante de desafios complexos que teve de enfrentar, a sua arma de eleição era sempre ”a fé cristã “ usada como motor para esse movimento revolucionário – `Teologia da Libertação`, na América Latina, por exemplo – transformando-a assim numa força de tipo político”.

      Bento XVI destaca ainda os desafios levantados pela necessidade de promover uma “correta compreensão” do ecumenismo, do diálogo inter – religioso e da relação entre Igreja e Ciência…

       Referiu também que embora não tivesse intenção de “imitar” o seu predecessor, o Papa emérito procurou “levar por diante a sua missão e a sua herança”.

      Concluiu afirmando estar certo de que ainda hoje a sua bondade o acompanha e a sua bênção o protege.

       João Paulo II foi, sem sombra de dúvida, o instrumento providencial de que Deus se serviu durante o seu longo pontificado para suscitar e reforçar a esperança cristã.

      Deixou – nos, em cada fase da sua vida como Pontífice, uma marca indelével na alma de cada um de nós. A marca da generosidade, da coerência, da fidelidade…

      Na sua atividade pastoral concretizou-se o mandato de confortar na fé os irmãos que Jesus confiou a Pedro, tanto através da sua palavra em Roma, em Fátima ou noutra qualquer parte do mundo, quer através dos seus escritos riquíssimos de conteúdo, densidade e profundidade que concluíam com um sinal de esperança.

      Esperança com que alimentava os encontros com os jovens, com as famílias, com os idosos, com os doentes.

      Via-se que seguia a Cristo de maneira heróica e que continuamente rezava. Pressentia-se absorto como se estivesse em contacto visual com Deus. Mas ato contínuo, estava plenamente com as pessoas tanto em Fátima, como no Parque Eduardo VII com os jovens, em Braga ou em Roma.

      Aceitava as coisas que, de modo evidente, o faziam sofrer com muita humildade…dando-nos uma grande e eloquente lição de vida!

      Em síntese, é justo lembrar que João Paulo II foi o Papa da paz, do ecumenismo, da juventude – falam por si as maravilhosas Jornadas Mundiais!...O Papa dos desportistas, dos cientistas…

      Na Carta aos Jovens de 31 de Março de 1985 dizia-lhes que a Igreja os considerava a “esperança promissora da humanidade”. Em Toronto durante uma vigília de oração alertava-os: “O espírito do mundo oferece muitas miragens, muitas paródias da felicidade. Mas talvez não haja escuridão mais densa do que aquela que se introduz na alma dos jovens quando falsos profetas apagam neles a luz da Fé, da Esperança e do Amor. O maior dos enganos, a maior fonte de infelicidade é a ilusão de querer encontrar a vida prescindindo de Deus, de querer alcançar a felicidade excluindo as verdades morais e a responsabilidade pessoal. Jesus convida-vos a escolher entre essas duas vozes.”

      Em 1995 escreveu uma Carta às mulheres – Mulieres Dignitatem ( “a dignidade da mulher”). Dizia: “A dignidade da mulher foi com demasiada frequência ignorada, e suas prerrogativas tergiversadas, o que conduziu a um empobrecimento espiritual da Humanidade”.

      Soube explicar como ninguém em que consiste o “génio feminino” e recordou-nos que “o respeito pela mulher, o assombro perante o mistério da feminilidade e, enfim, o amor esponsal do próprio Deus, de Cristo, tal como se manifesta na Redenção, são todos elementos da Fé e da vida da Igreja”. Assim, João Paulo II abriu as portas para uma rica e fecunda Teologia da mulher que tem em Nossa Senhora a sua inspiração inigualável.

      É com Ela que aguardamos o feliz acontecimento da canonização, isto é, da confirmação por parte da Igreja, de que o Santo Padre João Paulo II é digno de culto público universal e de ser dado aos fiéis como intercessor e modelo de santidade!

 

                                                 Maria Helena H. Marques
                                                            Prof.ª Ensino Secundário

sexta-feira, 28 de março de 2014

A “Alegria do Evangelho”! …

      É o título da recente Exortação Apostólica do Papa Francisco – Evangelli Gaudium -que, através de breve reflexão, nos leva à conclusão de que o Papa torna ainda mais clara a perspetiva norteadora da Igreja desde sempre e, particularmente, no século XXI.

      Trata-se, na realidade, de uma exortação que nasce da “escuta”, na dinâmica da vida da Igreja e do que é próprio de um dom de Deus. O Papa Francisco, com a frescura própria do coração de Pastor com fortes raízes no solo latino-americano, reaviva com uma admirável simplicidade, o sentido genuíno da vivência do Evangelho. O conhecimento da Exortação do Papa leva-nos a compreender melhor o mais importante desafio da Igreja Católica para os dias de hoje: a insubstituível tarefa que cabe a cada cristão de anunciar o Evangelho no mundo atual.

      Ao falar sobre alegria, um assunto determinante da vida e um interesse comum de todos os homens, sente-se que é imprescindível compreender que no Evangelho de Jesus Cristo a alegria é duradoura. Enche o coração dos que, no dia a dia, vivem a experiência do encontro pessoal com Jesus Cristo. Trata-se de uma alegria genuína, estável, ao contrário de outras que seduzem, mas são passageiras e não têm força para restaurar e preencher o vazio interior, o isolamento e a tristeza. O Papa adverte ainda que o grande risco do mundo contemporâneo, com a múltipla e opressora oferta de consumo, é a produção de uma tristeza individualista que brota do coração ávido na busca doentia de prazeres superficiais.

      Continuando, o Papa reconhece que não é possível encontrar uma alegria verdadeira e estável quando a vida interior se fecha aos próprios interesses, impedindo a escuta de Deus e fazendo morrer o entusiasmo pela prática do bem. Um risco que, sublinha o Papa Francisco, pode atingir também aos que crêem e praticam a fé. Um cenário que constatamos ao encontrar pessoas descontentes, ressentidas, amargas e incapacitadas para cultivar sonhos e projetos, necessários para conduzir a vida na direção do que lhe é próprio, um dom maravilhoso de Deus! A alegria, necessidade natural do coração humano, expressão de uma vida vivida com dignidade, vem com o anúncio, o conhecimento, a experiência e o testemunho do Evangelho de Jesus Cristo.

      Assim, a Igreja que tem a missão de promover a experiência dessa alegria duradoura tem de estar em movimento, ou seja, sempre a caminho. Cabe a cada um de nós tomar a iniciativa de sair e ir ao encontro, renunciando a comodidades e acolhendo o desafio da mudança, da renovação, numa atitude permanente de conversão. É preciso ter a coragem de mudar, de ousar novas respostas, em todos os campos da sociedade, nas suas dinâmicas e projetos. Ao contrário, corre-se o risco de se converter em obstáculo que impede ou dificulta o serviço no anúncio da fonte inesgotável dessa alegria.

      Por isso, o Papa Francisco diz que a Igreja está desafiada por uma exigência de renovação contínua. Para se adequar a esta necessidade, é preciso reconhecer os muitos desafios do mundo contemporâneo. O Papa sublinha que na atual cultura dominante, o primeiro lugar está ocupado por aquilo que é exterior, imediato, visível, veloz, superficial e provisório. O real dá lugar à aparência. Constata-se uma deterioração de valores culturais, com a assimilação de tendências eticamente fracas. Esse processo de renovação consiste numa trabalhosa tarefa de ajudar o mundo a encontrar no Evangelho a fonte perene de alegria duradoura que supõe, sem mais, a coragem e a perseverança de dizer “não” à chamada economia de exclusão, à nova idolatria do dinheiro que dá ao mercado a força de governar e não a de servir, gerando perversidades inadmissíveis. “Não a todo o tipo de iniquidade que gera violência, “não” ao egoísmo mesquinho e ao pessimismo estéril.

      É a hora de compreender e testemunhar a dimensão social da fé, como força e instrumento de uma nova “escuta” prioritária dos pobres…

      Nesse sentido, o Papa convida-nos a procurar corajosamente, novas configurações organizacionais, institucionais e pessoais, apoiados na certeza daquilo que brilha na alegria do Evangelho.

      Francisco afirma que não é tarefa do Papa oferecer uma análise detalhada e completa acerca da realidade contemporânea, mas continua: “ exorto todas as comunidades a terem sempre uma vigilante capacidade de estudar os sinais dos tempos” (EG 51) …

       ”A alegria do Evangelho enche o coração e a vida inteira daqueles que se encontram com Jesus”, provocando, sobretudo os cristãos, a agirem no mundo incluindo os pobres, os fragilizados e os indefesos das violações contra a vida humana e pedindo para que se lute pela paz social e se construa um diálogo interdisciplinar entre fé, razão e ciência…

 

Maria Helena Marques
Prof.ª Ensino Secundário

A ideologia do género: uma nova mentira educacional

Está a circular no Senado brasileiro um projecto de lei do Senador Vital do Rêgo de grande perigo para a família e para a educação brasileira. As intenções do político paraibano é colocar no Plano Nacional de Educação uma directriz que obrigue as nossas escolas a ensinarem a ideologia de género. Segundo esta doutrina, que vem sendo semeada de forma perniciosa já faz bastantes anos pela Fundação Ford na Europa e nos EUA, o sexo biológico não determinaria nenhuma função específica de masculinidade ou feminilidade e consequentemente cada cidadão poderia escolher qualquer papel social que mais lhe agrade, assim como sua orientação sexual (no fundo, poderia buscar gratificações sexuais do jeito que queira e com queira). O sexo seria um mero diferencial anatômico e estaria desvinculado do “género” – viver como mulher ou como homem -: cada um gozaria de autonomia para optar e mudar a forma de viver quando e como quisesse.

Esta aberração faz lembrar um episódio tragicómico acontecido nos países nórdicos da Europa, não faz muito. Um casal passeava pela rua com seu carrinho de bebê orgulhoso e feliz desse novo rebento familiar quando se deparou com um velho amigo vizinho. A reação diante do inesperado não podia ter sido mais normal e explosiva: “Parabéns! Então já nasceu! Que felicidade! Menino ou menina?”. A resposta, porém, essa sim foi surpreendente: “Não sabemos ainda! O bebé é que escolherá quando crescer...”. Como vemos, para quem goza ainda de certa normalidade intelectual e psicológica, o facto acima não pode deixar de chocar. Querer desprezar as evidências que a natureza nos oferece parece mesmo um filme de ficção científica, na qual os novos seres desconhecidos gozam de outra natureza.

Efectivamente, foi por essa via que nasceu a ideologia de género nos anos 60, quando as teorias marxistas permeavam a nova cultura modernista. Segundo elas, era preciso combater e destruir a natureza que impõe a “luta de classes sexuais”. A mulher não poderia mais continuar submissa ao homem e por isso era preciso ser criado uma nova “raça” humana, na qual se pudesse gozar realmente dos mesmos direitos e oportunidades. À primeira vista, a intenção era boa, uma vez que a mulher na prática tinha um tratamento bastante inferiorizado em muitos âmbitos, tornando-a vítima de preconceitos, injustiças e políticas segregadoras. Por outro lado, os meios que se utilizaram para conseguir esses ideais mais humanitários demonstraram-se depois ser mais nocivos do que as políticas que se combatiam.

Essa é sempre a estratégia que o “mal” utiliza para conseguir recuperar seus “foros perdidos”. Aproveitando-se de alguma anomalia social chamativa – no nosso caso, as políticas culturais machistas – aparece como anjo da luz, salvador dos fracos, propondo uma solução à primeira vista mais interessante, mais prazerosa, mais libertadora, mais “humanitária” para a felicidade de todos os homens. Depois, na prática, se verifica um verdadeiro engodo. Perguntemo-nos, então: O que será que está por trás da ideologia de género, com a desculpa de conquistas feministas justas? A resposta é alarmante: a destruição da família, seu grande objectivo desde sempre. Destruindo-se a família, destrói-se a perpetuação da pessoa humana. E por que se quer a destruição da família? A resposta a isto nos levaria longe... Mas tentemos entender como isso se dá na realidade.

Os estrategas do mal, inicialmente, procuram confundir as pessoas colocando no mesmo âmbito algumas igualdades entre os homens e mulheres – mesma inteligência, mesma dignidade, mesmos direitos e oportunidades - com algumas diferenças claras do ponto de vista científico –estruturas cerebrais diferentes e com funcionamentos diversos, sistemas hormonais diferentes, afectividade diferente, sentidos externos e internos diferentes, tendências lúdicas diferentes, etc-. Num segundo momento, depois dessa confusão nos sexos, provocam o orgulho humano a requerer uma liberdade absoluta para escolher o género e o prazer que mais lhe convier, “vendendo” de forma maliciosa o prazer sexual como um fim em si mesmo e um direito, totalmente desvinculado dos âmbitos procriativos e unitivos, como se fosse um brinquedo. À primeira vista, parece um avanço na liberdade humana, pois a desvincula do sacrifício da verdade e do bem, como se as escolhas não determinassem o futuro das pessoas. Estas, sendo “ensinadas” nessa nova pedagogia, acreditam que é possível alcançar a felicidade sem esforço, sem sacrifício, sem dor e, portanto, sem amor. Aos poucos os seres humanos vão deixando-se levar por esse feitiço egoísta que os anestesiam para a doação e compromissos sólidos. Convertem-se, sem perceber, para uma vida sem sentido e finalidade. O que os motiva a viver agora é aproveitar o momento presente, consumir coisas e pessoas, perseguir o bem-estar material, alcançar todos os tipos de satisfações sensíveis que as novas tecnologias e laboratórios farmacêuticos lhes possam proporcionar. No final deste processo, quando chegam em geral em torno dos 30 anos, se sentem como pessoas egoístas, solitárias, fracas, animalizadas e, consequentemente, sofrendo muito mais do que antes, pois não nasceram para serem animais irracionais e antissociais, mas pessoas humanas que amam e são amadas. Esse sofrimento não é só físico, mas principalmente psicológico e espiritual. A pessoa humana perde a esperança nela mesma – não tem forças para mais nada! – e como consequência na esperança na própria realização do projecto de homem que é ser feliz vivendo um amor compartilhado. O objetivo final do “mal” foi alcançado: a destruição da pessoa, da família, da liberdade e felicidade humanas.

Diante deste quadro triste que pintamos anteriormente, meu instinto de sobrevivência somado à minha paixão pela defesa da vida e da dignidade humana me obrigam a arregaçar as mangas e a combater a aprovação dessa lei injusta aludida no início. Como educador não posso permitir que a mentira seja espalhada pelo próprio Ministério da Educação que deveria semear e regar a verdade. Infelizmente, quando analisamos as pessoas que comandam a educação deste país, percebemos quase sempre que a grande maioria delas não entende muito de educação e sim de “manipulação” e “jogo político”. Seus interesses estão muito longe das reais necessidades educativas de nossas crianças. Por isso, talvez, não se importem muito com as consequências nefastas que certas políticas públicas possam provocar, como esta em questão. Desde que continuem recebendo apoio político e financeiro de certos organismos internacionais, qualquer meio é justificado. O problema é que elas também serão vítimas um dia, como se tem verificado em factos recentes, com a prisão de vários governantes “mensaleiros”.

Concluo dizendo que é preciso afogar o mal que estão querendo disseminar em nossas escolas com a abundância de luz e de verdade. É preciso formar muito bem e desde cedo as nossas crianças ensinando-lhes que o homem e a mulher são iguais numa série de aspectos metafísicos, antropológicos e de cidadania, mas também são muito diferentes em vários aspectos biológicos, psicológicos e espirituais. É preciso que descubram e se encantem com a beleza das qualidades inatas próprias de cada sexo e como elas podem ser potencializadas quando existe um trabalho sério de educação personalizada. É importante também que saibam que existem muitos outros aspectos, tanto da masculinidade como da feminilidade, que devem ser ensinados e estimulados na família e na escola. Por fim, que o homem e a mulher não precisam viver, como acreditam os ideólogos do género, em estado de guerra ou de competição, mas cada um tem que contribuir com seus dons e talentos próprios para uma maior harmonia familiar e social. Ambos devem se complementar e nessa simbiose existencial cada um colaborar na construção de sua própria identidade pessoal, de forma a consolidar a identidade da família, célula básica de toda sociedade.

João Malheiro é doutor em Educação pela UFRJ e diretor do Centro Cultural e Universitário de Botafogo - www.ccub.org.br. É autor do livro "A Alma da Escola do Século XXI", palestrante sobre o tema da educação e mantém o blog Escola de Sagres (escoladesagres.org). Pesquisador do Grupo de Estudo sobre Ética na Educação da UFRJ

E mail:malheiro.com@gmail.com
Publicado no Portal da Família em 16/03/2014

Pesquisador do Grupo de Estudo sobre Ética na Educação da UFRJ

quinta-feira, 6 de março de 2014

Educar para a amizade


Não podemos viver sem amigos.

« A  amizade é uma virtude, e, além do mais, é o que há de mais necessário para a vida» segundo Aristóteles.

Na pobreza e nos demais infortúnios os amigos, costumam ser considerados como o único refúgio.

A amizade, por outro lado não é característica exclusiva de determinada idade. Os jovens precisam dela para evitar o erro, pois um bom amigo é um bom conselheiro. Os idosos como partilha e inter-ajuda das dificuldades e limitações e dos momentos bons que a vida lhes reserva. Os que estão na flor da idade, para as acções nobres.

A amizade é fundamental para todos os homens, ricos e pobres, grandes ou pequenos, cultos ou incultos.

Em suma, a amizade é necessária para fazer o bem, para conviver com homens bons, para adquirir experiência e sabedoria e para receber ajuda nas necessidades.

É necessário cultivar a amizade, educar as novas gerações para a vida de amizade. Deste modo, não só melhorarão as pessoas uma por uma; mas a própria sociedade, porque a amizade é «germe» e raiz da vida social humana, mas não de uma vida social impessoal, segundo padrões abstractos, como a que reina na nossa sociedade massificada, e sim de uma vida pessoal, íntima, vital e criadora.

O comportamento altruísta obriga-nos a contrariar muitas inclinações e caprichos pessoais. Exige, com frequência, que saibamos prescindir de coisas de que «gostamos» ou daquilo que nos «apetece» para atender ao que o amigo precisa de nós.

Os pais costumam preocupar-se tarde de mais com as amizades dos seus filhos. Não percebem, que o desenvolvimento da conduta sociável durante a infância é uma preparação para as relações pessoais de amizade na adolescência.

Atitudes como a preocupação pelos outros, a ajuda mútua, a compreensão e o respeito, podem ser cultivadas no dia – a - dia desde a primeira infância, por ocasião das experiências sociais vividas em casa.

Uma das causas dessa falta de preocupação educativa no que diz respeito à amizade é a  trivialização  do próprio conceito de amizade nos dias de hoje. A amizade vem sendo entendida, cada vez mais, como uma relação de conveniência : quem tem amigos é mais influente, tem mais possibilidades de conseguir o que deseja pelo caminho mais curto, mesmo que isso signifique ser injusto com outras pessoas. Por meio dessas «amizades» fazem-se bons negócios, ganham-se concursos e obtêm-se empregos.

Estamos a assistir, em consequência, a um processo de desvalorização, do conceito de amizade. As pessoas pensam que, para terem muitos amigos, têm de dar razão aos outros sistematicamente, usar de bajulação e incentivar a vaidade alheia. Pelo menos é o que se lê em certos livros sobre «como fazer amigos» Parte-se do princípio de que ser sincero e honesto com os outros é um obstáculo à amizade.

Os verdadeiros amigos são amigos bons, isto é, são sinceros, leais, respeitosos e generosos, uns com os outros. Ora, estes hábitos operativos bons não se desenvolvem na infância e na adolescência sem o estímulo, a exigência e o bom exemplo dos pais e dos professores.

Por conseguinte, a ajuda educativa neste campo é uma necessidade.

Os filhos precisam de uma ajuda educativa, em primeiro lugar para aprenderem a ser pessoas sociáveis, que conheçam a difícil arte de conviver com todos, mesmo com os que são diferentes e pensam de outro modo. Isso exige o desenvolvimento progressivo de qualidades como a compreensão e a tolerância.

Extraído de "Educar para a Amizade" Geraldo Castillo
Professor da Universidade de Navarra  

A Educação, em momentos determinantes da História…

          No século IV, antes de Cristo (384 – 322), Aristóteles, filósofo grego, recomendava uma série de diretrizes para a educação moral das crianças pois, de outro modo, converter-se-iam em seres rebeldes e indisciplinados. Comparava a educação ética com o treino físico, e explicava que do mesmo modo que nos vamos tornando fortes e ágeis a fazer as coisas que requerem esforço e habilidade, também nos tornamos melhores, ao realizar atos bons. Habituar-se a um bom comportamento faz-nos ser bons, ao mesmo tempo que nos capacita para compreender as vantagens e os motivos da bondade moral. A realização de atos operativos bons, mobiliza a vontade, e impulsiona o controle sobre as inércias e más inclinações – realidade permanente da natureza humana – ao mesmo tempo que vai fazendo com que sejamos seres humanos livres e capazes.

      Estes princípios norteadores foram inquestionáveis durante séculos em grande parte dos países ocidentais, até ao aparecimento e intervenção do filósofo e ilustre pedagogo Jean – Jacques Rousseau; escrevia o pensador francês: “quando penso num rapazinho de dez ou doze anos, são, forte e bem constituído, apenas nascem na minha mente pensamentos agradáveis. Imagino-o brilhante, vigoroso, despreocupado, absorto no presente, feliz com a sua vitalidade. O único hábito que se lhe deveria permitir adquirir era o de não contrair nenhum; prepará-lo para o reinado da liberdade e exercício das suas possibilidades...”

      Rousseau considerava a natureza do dito rapazinho originariamente boa e livre de pecado. Segundo ele, a educação deveria proporcionar terreno adequado onde florescer a sua inata boa natureza. Deste modo, a moral não devia partir de conjuntos de regras externas nem ser socialmente organizada, o que suporia uma afronta ao direito de desenvolver-se com total liberdade. Uma motivação aos seus sentimentos de generosidade, seria suficiente para avançar e flutuar conduzido pela sua amigável natureza; afirmava que uma criança jamais poderá ser acusada de maldade, porque considerava que a má ação depende da má intenção, e isso, “a criança nunca terá”.

      Não temos dúvidas de que as ideias de Rousseau contribuíram bastante para tornar a educação mais humana, numa época de excessiva dureza e inflexibilidade, mas ele próprio ficaria atualmente espantado diante da permissividade reinante nos tempos atuais, devida em grande medida ao peso atribuído aos seus pontos de vista e que tanto influenciaram algumas correntes da pedagogia.

      Com os dados objetivos de que atualmente dispomos, e fazendo uma sucinta análise comparativa aos legados de Rousseau e Aristóteles avalizados pela experiência histórica, deixamo-nos levar pelo senso comum que se inclina a favor de Aristóteles, embora seja Rousseau quem tem dominado dum modo poderoso o pensamento de muitos teóricos da educação. O progressismo que herdou o seu pensamento recusou frequentemente a importância de questões simples e fundamentais como o esforço pessoal, a prática habitual de atos meritórios ou a formação do caráter. O clima tradicional de ordem, com as suas regras e exigências e a insistência nas classificações, foi depreciado como ultrapassado e deprimente moralidade...

      Sobrevalorizando a criatividade e a bondade inata das crianças, foi-se desprezando a sábia e antiga responsabilidade de submetê-las a disciplina, de habituá-las na prática do bem e a movimentar-se com sentido de responsabilidade.

      Foram muitos anos de desrespeito por princípios e valores considerados fundamentais em todos os ciclos da história da humanidade, apoiado na luta contra uma tradição sem sentido que se acusava de excessiva e teorizante. Verificamos que a ultrapassagem de Aristóteles criou muitos problemas bem visíveis nos tempos atuais, dos que destacamos níveis de violência insuspeitados e um fracasso escolar jamais imaginado. Esta dura realidade parece querer dizer-nos que levámos demasiado a sério aqueles que pensavam que o esforço diário pela prática do bem e da virtude, esmagar-nos-ia a todos e de modo especial às novas gerações.

      Sem deixar de considerar como positiva a evolução pedagógica que se alcançou com novas aquisições na perceção do eu, afirmação das diferenças de personalidade e de caminhos, vamos de novo ter à senda das referências essenciais que são, em qualquer circunstância, capazes de conduzir o ser humano ao desenvolvimento harmonioso da sua personalidade e à maturidade do seu ser. Mas reconhecemos também que isto não é recuperável simplesmente através de leis, nem de montantes extraordinários no apoio à educação. Talvez o seja sim, se voltarmos a tomar a sério o que temos vindo a desdenhar e não nos poupemos ao esforço diário para retificar, pouco a pouco, o rumo que com clareza meridiana reconhecemos agora, ser equivocado.

      E assim, chegamos inevitavelmente, mais uma vez, aos conceitos de autoridade, liberdade e responsabilidade na família, educação através de auto – disciplina e do respeito pelos valores éticos fundamentais inscritos desde sempre no coração da humanidade.

      Tinha razão A. Gaisan em V. Humanos, quando afirmava: “Tudo o que é humano pode ser teu e meu, o bom e o mau, a virtude e o vício. Se outros sim… porque tu e eu não?...”

 

                                                                                                  Maria Helena Marques

                                                                                                                      Prof.ª Ensino Secundário