sábado, 29 de novembro de 2014

A Família, bem precioso

        Depois de uma enorme expetativa em relação à 3.ª assembleia extraordinária do Sínodo dos Bispos sobre a Família que aconteceu no Vaticano de 5 a 19 de Outubro, muitos esperavam que desta assembleia saíssem soluções para os vários tipos de problemas que atualmente envolvem o casamento e a família. Diante de todo o alarido de diversos meios de comunicação social permanecia, subjacente, a grande questão: Será que depois do Sínodo, casamento e família ainda se manterão os mesmos?
      O que deveria mudar? Que, por exemplo, o casamento deixe de ser entre duas pessoas de sexos diferentes? Que o homem de modo irracional, possa ir com as mulheres que lhe passem pela cabeça, sem compromisso com qualquer delas, sem responsabilidade pessoal e social sobre qualquer dos atos praticados? Que de igual modo a mulher faça o mesmo? Que a promiscuidade seja erigida em ideal de convívio entre uns e outros? Que os casais deixem de procriar? Que os filhos sejam gerados em laboratórios e entregues à responsabilidade do Estado, sem contacto com os pais?
      Deveríamos resignar-nos e concordar com aqueles que dizem que a família acabou e faz parte de um tempo que já lá vai? Quem olha pelas crianças, os idosos, as pessoas com deficiência? O Estado ou a sociedade deveriam assumir inteiramente o papel da família? As relações de parentesco deveriam ser ignoradas? O sonho dos jovens enamorados que querem ter família, seria apenas ilusão romântica? Deveria a Igreja mudar o seu pensamento em relação à família?
      O excesso das perguntas é propositado, para ajudar a ver que as coisas essenciais em relação à família, não poderiam mudar, sem comprometer seriamente a própria existência da comunidade humana.
      As questões relacionadas com a família e o casamento são, ao mesmo tempo, simples e complexas pois dizem respeito aos elementos básicos da existência humana, como a afetividade e o amor, o respeito delicado de pessoa a pessoa, a complementariedade, a vida gerada, acolhida e doada, o sentido de pertença, de aconchego e de intimidade, a confidência, a aceitação da pessoa como ela é, (com virtudes e com defeitos!), a gratuidade e o amor desapegado, o projeto de vida realizado juntos, a confiança, a alegria simples, a esperança…
      Será que isso deveria mudar no casamento e na família?! Ninguém pensará em acabar com isso. Temos a certeza de que os jovens que se enamoram de verdade e querem casar, também pensam assim. E a Igreja quer continuar a contribuir para que isso aconteça na vida dos casais e das famílias.
      Em que consiste o mal-estar, tão frequente, em relação ao casamento e à família?! Tem-se por vezes a impressão de que a família é terra de ninguém, onde qualquer um pode entrar, pegar, arrancar, devastar, levar embora… Ou como um campo devastado, cheio de destroços e com muitos feridos! Pobre família, tão maltratada e desprestigiada…Ao mesmo tempo, tão cobrada para assistir os órfãos de afeto, de referência e proteção; os abandonados pela sociedade dos fortes e eficientes, as vítimas do desmantelamento da própria família, esse primeiro bem, que Deus pensou para as pessoas!
      O papa Francisco, ao abrir o Sínodo, no dia 5 de Outubro, comentou a parábola sobre os “vinhteiros homicidas” (cf  Mt, 21, 33-43),  para dizer que a família é um bem precioso, que Deus confiou  a todos os “administradores” e responsáveis  da sociedade: dela devemos tomar conta, com muito carinho, não deixando que seja devastada por invasores e assaltantes mal intencionados… Que a ajudemos a florescer e frutificar, para o benefício da pessoa, da sociedade política e também da comunidade de fé.
      Será que é a família que tem de mudar, ou são as nossas atitudes em relação à família?... A verdade é que a família vem sendo desconfigurada há muito tempo! Atualmente, parece que se chegou a um ponto crucial, estando em crise a própria identidade da família. Quando se coloca em xeque a diferenciação e a identidade sexual; quando se pretende que casamento seja uma `aberração` entre pessoas do mesmo sexo; quando custa pensar que os filhos também são parte da família; quando o projeto da vida a dois parece ter perdido o interesse; quando a relação afetiva é deixada apenas à precariedade dos sentimentos e oportunidades fugazes: o que é que ainda sobra da família?!
      Impõe-se o recomeçar pelo mais essencial no casamento e na família: o amor sincero e generoso, a confiança nos sentimentos bons, a fidelidade aos propósitos assumidos, a firmeza na edificação do projeto comum, a alegria partilhada, a disciplina da virtude, a fé em Deus… Para o futuro da família, é mesmo isso que vai continuar, uma vez que está na própria base da família. Assim sendo, é esta obra do seu amor que Deus vai continuar a abençoar!
                                                                                       (adaptação) … Maria Helena Marques

                                                                                                                                   Prof.ª Ensino Secundário

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