domingo, 14 de dezembro de 2014

A Dignidade humana e a Identidade Cristã da Europa", no Discurso do Papa no Parlamento Europa

       Aconteceu em 25 de Novembro 2014, em Estrasburgo – França, como tema forte e central da sua mensagem no Parlamento Europeu. Dizia-nos: “Chegou a hora de construirmos juntos a Europa que gira, não à volta da economia, mas da sacralidade da pessoa humana, dos valores inalienáveis”… Uma exortação do Papa Francisco que pedia também aos membros do Parlamento o esforço para a recuperação da sua identidade cristã.
      Recordamos que o Parlamento Europeu é o órgão representativo dos 28 Estados membros da União Europeia, que engloba mais de quinhentos milhões de cidadãos.
      Com uma mensagem de ânimo e esperança, o Papa Francisco começou a sua alocução descrevendo a situação atual da União Europeia, com problemas e tentativas de soluções. Referiu que na atualidade “a uma União mais alargada, mais influente, parece contrapor-se a imagem duma Europa um pouco cansada e envelhecida, que tende a sentir-se menos protagonista num contexto que por vezes a olha com indiferença, desconfiança e até suspeita”.
      “Falando-vos hoje como pastor, desejo dirigir a todos os cidadãos europeus uma mensagem de esperança e encorajamento”, afirmou o Santo Padre. Recordou que os Pais fundadores da União Europeia “desejavam um futuro assente na capacidade de trabalhar juntos para superar as divisões e promover a paz e a comunhão entre todos os povos do Continente. No centro deste ambicioso projeto político, estava a confiança no homem, não tanto como cidadão ou como sujeito económico, mas no homem como pessoa dotada de uma dignidade transcendente”.
      Citando um autor anónimo do século II que escrevera que “os cristãos são no mundo o que a alma é para o corpo”, o Papa afirmou que “a tarefa da alma é sustentar o corpo, ser a sua consciência e memória histórica”. “ É uma história bimilenária o que liga a Europa e o Cristianismo”, continuou.
      Pondo em realce o mundo em mutação- menos eurocêntrico – uma União Europeia cada vez mais alargada, o Papa chamou, no entanto a atenção para o envelhecimento deste continente, onde apesar de o projeto inicial colocar a pessoa humana, dotada de dignidade transcendental, no centro de tudo, persistem hoje situações em que o ser humano é tratado como objeto que pode ser descartado quando não é útil. Sublinhou também o paradoxal abuso do conceito de direitos humanos ligado a uma reivindicação cada vez maior dos direitos individuais a despeito da conexão entre direitos e deveres e do contexto social em que as pessoas vivem.
      Referiu a propósito: “tem-se uma impressão geral de cansaço e de envelhecimento, de uma Europa “avó” que já não é fértil nem vivaz. Os grandes ideais que inspiraram a Europa parecem ter perdido força de atração em favor do tecnicismo burocrático das instituições”.
      Condenando a absolutização das técnicas em relação à afirmação da dignidade e da preciosidade da vida humana, o Papa interrogou-se: “Como voltar então a dar esperança ao futuro, confiança para continuar os grandes ideais de uma Europa unida e de paz, criativa e empreendedora, respeitosa dos direitos e dos próprios deveres?”
      O Papa Francisco respondeu a esta pergunta sublinhando que uma Europa que não é capaz de se abrir à dimensão transcendental da vida, é uma Europa que corre o risco de perder lentamente, o seu “espírito humanístico”, a centralidade da pessoa humana”.
      Enalteceu, no entanto, o património cristão que contribuiu e continuará a contribuir agora e no futuro para o crescimento sócio – cultural da Europa. E essa contribuição – disse – não constitui um perigo para a laicidade dos Estados e para a independência das instituições da União. É sim um enriquecimento centrado no princípio do humanismo, do respeito da dignidade da pessoa humana.
      Referiu também que a Santa Sé está disposta a colaborar no diálogo transparente e profícuo com as instituições europeias, recordando as numerosas injustiças e as violências barbáricas cometidas em relação a minorias religiosas, sobretudo cristãs, no mundo, perante o silêncio vergonhoso e cúmplice de muitos.
      Recordando que o mote da União Europeia é a “unidade na diversidade” o Papa apelou ao respeito das diferenças, evitando uniformidade, o nominalismo político, e libertando a Europa de manipulações e fobias.
       Dar esperança à Europa significa investir nos âmbitos em que se formam os talentos das pessoas; criar condições favoráveis para a vida familiar; dar perspetivas às novas gerações; ao desenvolvimento; à educação a todos os níveis, uma formação que leve a olhar para o futuro com otimismo. Esperança que inclui de forma imperativa a questão da dignidade do trabalho, que implica encontrar novas formas de combinar a flexibilidade do mercado com a garantia do trabalho e a possibilidade de construir família.
      Referindo-se à questão das migrações, o Papa Francisco referiu: “Não é tolerável que o Mar Mediterrâneo se torne num cemitério… Impõem-se legislações adequadas que saibam ao mesmo tempo tutelar os direitos dos cidadãos europeus e garantir o acolhimento dos migrantes. Mas é também necessário adotar políticas concretas que ajudem os países de origem dos migrantes no desenvolvimento sócio-político e na superação de conflitos internos, em vez de políticas de interesse que alimentam e aumentam tais conflitos.
      “Queridos Eurodeputados, chegou o momento de abandonar a ideia de uma Europa temerosa e fechada sobre si mesma, para suscitar e promover a Europa protagonista, portadora de ciência, de arte, de música, de valores humanos e também de fé. A Europa que contempla o céu e persegue ideais; a Europa que assiste, defende e tutela o homem; a Europa que caminha na terra segura e firme, precioso ponto de referência para toda a humanidade!”, concluiu o Santo Padre.

                                                                                                                                  Maria Helena Marques
                                                                                                                                 

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