quinta-feira, 6 de março de 2014

A Educação, em momentos determinantes da História…

          No século IV, antes de Cristo (384 – 322), Aristóteles, filósofo grego, recomendava uma série de diretrizes para a educação moral das crianças pois, de outro modo, converter-se-iam em seres rebeldes e indisciplinados. Comparava a educação ética com o treino físico, e explicava que do mesmo modo que nos vamos tornando fortes e ágeis a fazer as coisas que requerem esforço e habilidade, também nos tornamos melhores, ao realizar atos bons. Habituar-se a um bom comportamento faz-nos ser bons, ao mesmo tempo que nos capacita para compreender as vantagens e os motivos da bondade moral. A realização de atos operativos bons, mobiliza a vontade, e impulsiona o controle sobre as inércias e más inclinações – realidade permanente da natureza humana – ao mesmo tempo que vai fazendo com que sejamos seres humanos livres e capazes.

      Estes princípios norteadores foram inquestionáveis durante séculos em grande parte dos países ocidentais, até ao aparecimento e intervenção do filósofo e ilustre pedagogo Jean – Jacques Rousseau; escrevia o pensador francês: “quando penso num rapazinho de dez ou doze anos, são, forte e bem constituído, apenas nascem na minha mente pensamentos agradáveis. Imagino-o brilhante, vigoroso, despreocupado, absorto no presente, feliz com a sua vitalidade. O único hábito que se lhe deveria permitir adquirir era o de não contrair nenhum; prepará-lo para o reinado da liberdade e exercício das suas possibilidades...”

      Rousseau considerava a natureza do dito rapazinho originariamente boa e livre de pecado. Segundo ele, a educação deveria proporcionar terreno adequado onde florescer a sua inata boa natureza. Deste modo, a moral não devia partir de conjuntos de regras externas nem ser socialmente organizada, o que suporia uma afronta ao direito de desenvolver-se com total liberdade. Uma motivação aos seus sentimentos de generosidade, seria suficiente para avançar e flutuar conduzido pela sua amigável natureza; afirmava que uma criança jamais poderá ser acusada de maldade, porque considerava que a má ação depende da má intenção, e isso, “a criança nunca terá”.

      Não temos dúvidas de que as ideias de Rousseau contribuíram bastante para tornar a educação mais humana, numa época de excessiva dureza e inflexibilidade, mas ele próprio ficaria atualmente espantado diante da permissividade reinante nos tempos atuais, devida em grande medida ao peso atribuído aos seus pontos de vista e que tanto influenciaram algumas correntes da pedagogia.

      Com os dados objetivos de que atualmente dispomos, e fazendo uma sucinta análise comparativa aos legados de Rousseau e Aristóteles avalizados pela experiência histórica, deixamo-nos levar pelo senso comum que se inclina a favor de Aristóteles, embora seja Rousseau quem tem dominado dum modo poderoso o pensamento de muitos teóricos da educação. O progressismo que herdou o seu pensamento recusou frequentemente a importância de questões simples e fundamentais como o esforço pessoal, a prática habitual de atos meritórios ou a formação do caráter. O clima tradicional de ordem, com as suas regras e exigências e a insistência nas classificações, foi depreciado como ultrapassado e deprimente moralidade...

      Sobrevalorizando a criatividade e a bondade inata das crianças, foi-se desprezando a sábia e antiga responsabilidade de submetê-las a disciplina, de habituá-las na prática do bem e a movimentar-se com sentido de responsabilidade.

      Foram muitos anos de desrespeito por princípios e valores considerados fundamentais em todos os ciclos da história da humanidade, apoiado na luta contra uma tradição sem sentido que se acusava de excessiva e teorizante. Verificamos que a ultrapassagem de Aristóteles criou muitos problemas bem visíveis nos tempos atuais, dos que destacamos níveis de violência insuspeitados e um fracasso escolar jamais imaginado. Esta dura realidade parece querer dizer-nos que levámos demasiado a sério aqueles que pensavam que o esforço diário pela prática do bem e da virtude, esmagar-nos-ia a todos e de modo especial às novas gerações.

      Sem deixar de considerar como positiva a evolução pedagógica que se alcançou com novas aquisições na perceção do eu, afirmação das diferenças de personalidade e de caminhos, vamos de novo ter à senda das referências essenciais que são, em qualquer circunstância, capazes de conduzir o ser humano ao desenvolvimento harmonioso da sua personalidade e à maturidade do seu ser. Mas reconhecemos também que isto não é recuperável simplesmente através de leis, nem de montantes extraordinários no apoio à educação. Talvez o seja sim, se voltarmos a tomar a sério o que temos vindo a desdenhar e não nos poupemos ao esforço diário para retificar, pouco a pouco, o rumo que com clareza meridiana reconhecemos agora, ser equivocado.

      E assim, chegamos inevitavelmente, mais uma vez, aos conceitos de autoridade, liberdade e responsabilidade na família, educação através de auto – disciplina e do respeito pelos valores éticos fundamentais inscritos desde sempre no coração da humanidade.

      Tinha razão A. Gaisan em V. Humanos, quando afirmava: “Tudo o que é humano pode ser teu e meu, o bom e o mau, a virtude e o vício. Se outros sim… porque tu e eu não?...”

 

                                                                                                  Maria Helena Marques

                                                                                                                      Prof.ª Ensino Secundário

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