Esta aberração faz lembrar um episódio tragicómico
acontecido nos países nórdicos da Europa, não faz muito. Um casal passeava pela
rua com seu carrinho de bebê orgulhoso e feliz desse novo rebento familiar
quando se deparou com um velho amigo vizinho. A reação diante do inesperado não
podia ter sido mais normal e explosiva: “Parabéns! Então já nasceu! Que
felicidade! Menino ou menina?”. A resposta, porém, essa sim foi surpreendente:
“Não sabemos ainda! O bebé é que escolherá quando crescer...”. Como vemos, para
quem goza ainda de certa normalidade intelectual e psicológica, o facto acima
não pode deixar de chocar. Querer desprezar as evidências que a natureza nos
oferece parece mesmo um filme de ficção científica, na qual os novos seres
desconhecidos gozam de outra natureza.
Efectivamente, foi por essa via que nasceu a ideologia de género
nos anos 60, quando as teorias marxistas permeavam a nova cultura modernista.
Segundo elas, era preciso combater e destruir a natureza que impõe a “luta de
classes sexuais”. A mulher não poderia mais continuar submissa ao homem e por
isso era preciso ser criado uma nova “raça” humana, na qual se pudesse gozar
realmente dos mesmos direitos e oportunidades. À primeira vista, a intenção era
boa, uma vez que a mulher na prática tinha um tratamento bastante inferiorizado
em muitos âmbitos, tornando-a vítima de preconceitos, injustiças e políticas
segregadoras. Por outro lado, os meios que se utilizaram para conseguir esses
ideais mais humanitários demonstraram-se depois ser mais nocivos do que as
políticas que se combatiam.
Essa é sempre a estratégia que o “mal” utiliza para
conseguir recuperar seus “foros perdidos”. Aproveitando-se de alguma anomalia
social chamativa – no nosso caso, as políticas culturais machistas – aparece
como anjo da luz, salvador dos fracos, propondo uma solução à primeira vista
mais interessante, mais prazerosa, mais libertadora, mais “humanitária” para a
felicidade de todos os homens. Depois, na prática, se verifica um verdadeiro
engodo. Perguntemo-nos, então: O que será que está por trás da ideologia de género,
com a desculpa de conquistas feministas justas? A resposta é alarmante: a
destruição da família, seu grande objectivo desde sempre. Destruindo-se a
família, destrói-se a perpetuação da pessoa humana. E por que se quer a destruição
da família? A resposta a isto nos levaria longe... Mas tentemos entender como
isso se dá na realidade.
Os estrategas do mal, inicialmente, procuram confundir as
pessoas colocando no mesmo âmbito algumas igualdades entre os homens e mulheres
– mesma inteligência, mesma dignidade, mesmos direitos e oportunidades - com
algumas diferenças claras do ponto de vista científico –estruturas cerebrais
diferentes e com funcionamentos diversos, sistemas hormonais diferentes, afectividade
diferente, sentidos externos e internos diferentes, tendências lúdicas
diferentes, etc-. Num segundo momento, depois dessa confusão nos sexos,
provocam o orgulho humano a requerer uma liberdade absoluta para escolher o género
e o prazer que mais lhe convier, “vendendo” de forma maliciosa o prazer sexual
como um fim em si mesmo e um direito, totalmente desvinculado dos âmbitos
procriativos e unitivos, como se fosse um brinquedo. À primeira vista, parece
um avanço na liberdade humana, pois a desvincula do sacrifício da verdade e do
bem, como se as escolhas não determinassem o futuro das pessoas. Estas, sendo
“ensinadas” nessa nova pedagogia, acreditam que é possível alcançar a
felicidade sem esforço, sem sacrifício, sem dor e, portanto, sem amor. Aos
poucos os seres humanos vão deixando-se levar por esse feitiço egoísta que os
anestesiam para a doação e compromissos sólidos. Convertem-se, sem perceber,
para uma vida sem sentido e finalidade. O que os motiva a viver agora é
aproveitar o momento presente, consumir coisas e pessoas, perseguir o bem-estar
material, alcançar todos os tipos de satisfações sensíveis que as novas
tecnologias e laboratórios farmacêuticos lhes possam proporcionar. No final
deste processo, quando chegam em geral em torno dos 30 anos, se sentem como
pessoas egoístas, solitárias, fracas, animalizadas e, consequentemente,
sofrendo muito mais do que antes, pois não nasceram para serem animais
irracionais e antissociais, mas pessoas humanas que amam e são amadas. Esse
sofrimento não é só físico, mas principalmente psicológico e espiritual. A
pessoa humana perde a esperança nela mesma – não tem forças para mais nada! – e
como consequência na esperança na própria realização do projecto de homem que é
ser feliz vivendo um amor compartilhado. O objetivo final do “mal” foi alcançado:
a destruição da pessoa, da família, da liberdade e felicidade humanas.
Diante deste quadro triste que pintamos anteriormente, meu
instinto de sobrevivência somado à minha paixão pela defesa da vida e da
dignidade humana me obrigam a arregaçar as mangas e a combater a aprovação
dessa lei injusta aludida no início. Como educador não posso permitir que a
mentira seja espalhada pelo próprio Ministério da Educação que deveria semear e
regar a verdade. Infelizmente, quando analisamos as pessoas que comandam a
educação deste país, percebemos quase sempre que a grande maioria delas não
entende muito de educação e sim de “manipulação” e “jogo político”. Seus
interesses estão muito longe das reais necessidades educativas de nossas
crianças. Por isso, talvez, não se importem muito com as consequências nefastas
que certas políticas públicas possam provocar, como esta em questão. Desde que
continuem recebendo apoio político e financeiro de certos organismos
internacionais, qualquer meio é justificado. O problema é que elas também serão
vítimas um dia, como se tem verificado em factos recentes, com a prisão de
vários governantes “mensaleiros”.
Concluo dizendo que é preciso afogar o mal que estão
querendo disseminar em nossas escolas com a abundância de luz e de verdade. É
preciso formar muito bem e desde cedo as nossas crianças ensinando-lhes que o
homem e a mulher são iguais numa série de aspectos metafísicos, antropológicos
e de cidadania, mas também são muito diferentes em vários aspectos biológicos,
psicológicos e espirituais. É preciso que descubram e se encantem com a beleza
das qualidades inatas próprias de cada sexo e como elas podem ser
potencializadas quando existe um trabalho sério de educação personalizada. É
importante também que saibam que existem muitos outros aspectos, tanto da
masculinidade como da feminilidade, que devem ser ensinados e estimulados na
família e na escola. Por fim, que o homem e a mulher não precisam viver, como
acreditam os ideólogos do género, em estado de guerra ou de competição, mas cada
um tem que contribuir com seus dons e talentos próprios para uma maior harmonia
familiar e social. Ambos devem se complementar e nessa simbiose existencial
cada um colaborar na construção de sua própria identidade pessoal, de forma a
consolidar a identidade da família, célula básica de toda sociedade.
João Malheiro é doutor em Educação pela UFRJ e diretor do
Centro Cultural e Universitário de Botafogo - www.ccub.org.br. É autor do livro
"A Alma da Escola do Século XXI", palestrante sobre o tema da educação
e mantém o blog Escola de Sagres (escoladesagres.org). Pesquisador do Grupo de
Estudo sobre Ética na Educação da UFRJ
E mail:malheiro.com@gmail.com
Publicado no Portal da Família em 16/03/2014
Pesquisador do Grupo de Estudo sobre Ética na Educação da UFRJ
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