sábado, 29 de novembro de 2014

D. Álvaro del Portillo - a tranquilidade na ordem

      Por detrás de uma figura afável e serena, surgia continuamente um homem cheio de fortaleza que transmitia um ambiente de paz.
      O `segredo´ foi mais uma vez desvendado pelo Papa Francisco por ocasião do centenário do nascimento do primeiro sucessor do Fundador do Opus Dei, que será beatificado em 27 de setembro, em Madrid, sua cidade natal.
      Afirma o Santo Padre num telegrama enviado ao atual Prelado do Opus Dei, D. Javier Echevarria: “ D. Álvaro del Portillo foi um sacerdote zeloso que soube conjugar uma intensa vida espiritual alicerçada na fiel adesão à rocha que é Cristo, com um compromisso apostólico que o fez peregrino em cinco continentes, seguindo os passos de São Josemaria Escrivá”.
     Há muitos testemunhos que confirmam que na vida de D. Álvaro se moldou maravilhosamente o espírito que Deus entregou ao Fundador do Opus Dei e o mandato de o difundir por todo o mundo, que o levou a escrever: “Tem presente meu filho, que não és somente uma alma que se une a outras almas para fazer uma coisa boa. Isso é muito…, mas é pouco – és o Apóstolo que cumpre um mandato imperativo de Cristo”. (Caminho, n.º 942).
      Um mandato que D. Álvaro assumiu e o fez lema do seu ministério, vida na sua vida! Regnare Christum  volumus! Importa que Ele, Jesus, reine!
      A beatificação de D. Álvaro que terá lugar em Madrid a 27 de setembro, foi um processo incentivado pelos três últimos Papas.
      No dia 23 de março de 1994, João Paulo II ajoelhou-se e rezou perante o corpo sem vida de Álvaro del Portilho, falecido poucas horas antes. Tinha-se deslocado à sede central do Opus Dei para ver pela última vez um amigo, uma pessoa que, conforme afirmou naquele dia, “foi um exemplo de fortaleza”, de confiança na providência divina e de fidelidade à sede de Pedro”.
      Na sua carta de condolências, o Cardeal Joseph Ratzinger afirmava que o trabalho de D. Álvaro “como consultor da Congregação para a Doutrina da Fé”, tinha contribuído de modo singular para o enriquecimento da Congregação, “com a sua competência e experiência, como pude comprovar pessoalmente”.
      O processo de beatificação começou em 2004 durante o pontificado de João Paulo II, foi incentivado por Bento XVI, e chegará a bom termo no próximo dia 27 de setembro por decisão do Papa Francisco, que aprovou que a cerimónia tenha lugar em Madrid nesse dia e seja presidida pelo Prefeito da Congregação para a Causa dos Santos, Ângelo  Amato.
      D. Álvaro del Portillo nasceu em Madrid (Espanha) em 11 de março de 1914, terceiro de oito irmãos, numa família de profunda raiz cristã. Era doutorado em Engenharia Civil, em Filosofia e em Direito Canónico.
      Em 1935 incorporou-se no Opus Dei, fundado por Josemaria Escrivá  de Balaguer no dia 2 de outubro de 1928. Viveu com fidelidade plena a vocação para o Opus Dei, mediante a santificação do trabalho profissional e o cumprimento dos deveres correntes; e desenvolveu uma amplíssima atividade apostólica entre os colegas de estudos e de trabalho.
      Cedo se tornou no apoio mais sólido de S. Josemaria, e permaneceu ao seu lado durante quase quarenta anos, como o seu colaborador mais próximo.
      No dia 25 de junho de 1944 foi ordenado sacerdote. Desde então dedicou-se inteiramente ao ministério pastoral em serviço dos membros do Opus Dei e de todas as almas. Em 1946 fixou residência em Roma, junto de São Josemaria.
      O seu incansável serviço à Igreja manifestou-se também na dedicação aos encargos que a Santa Sé lhe atribuiu como consultor de vários Dicastérios da Cúria Romana e, especialmente, mediante a sua participação ativa nos trabalhos do Concílio Vaticano II.
      No dia 15 de setembro de 1975, foi eleito primeiro sucessor de S. Josemaria, falecido em 26 de junho anterior.
      No dia 28 de novembro de 1982 ao erigir a Obra como Prelatura Pessoal, o Santo Padre João Paulo II nomeou-o Prelado do Opus Dei, e no dia 6 de janeiro de 1991 conferiu-lhe a ordenação episcopal.
      Todo o seu trabalho de governo se caraterizou pela fidelidade ao Fundador e à sua mensagem num trabalho pastoral infatigável para estender os apostolados da Prelatura em serviço da Igreja.
      A sua entrega ao cumprimento da missão recebida seguindo os ensinamentos de S. Josemaria, mergulhava a raiz num profundo sentido da filiação divina, que o levava a procurar a identificação com Cristo num abandono confiado à vontade de Deus, alimentado pela oração, pela Eucaristia e por uma terna devoção a Nossa Senhora.
      O seu amor à Igreja manifestava-se por uma profunda unidade com o Papa e com os Bispos. A caridade que tinha para com todos, a solicitude infatigável pelas suas filhas e seus filhos do Opus Dei, a humildade, a prudência e a fortaleza, a alegria e a simplicidade, o esquecimento de si mesmo e o ardente empenho por levar almas a Cristo, bem como a sua bondade, serenidade e bom humor que irradiava, são traços que completam o retrato da sua alma. Faleceu em 23 de março de 1994, poucas horas depois de regressar de uma peregrinação à Terra Santa, onde tinha percorrido com piedade intensa os passos terrenos de Jesus. Na manhã precedente tinha celebrado a sua última Missa no Cenáculo de Jerusalém.
      Nesse mesmo dia, 23 de março, como antes referimos, o Santo Padre João Paulo II foi rezar diante dos seus restos mortais, que agora repousam na Cripta da Igreja Prelatícia de Santa Maria da Paz – continuamente acompanhado pela oração e afeto dos fiéis do Opus Dei e de milhares de pessoas de todo o mundo.
      Em síntese, apraz-nos sublinhar aquilo que muitíssimas pessoas têm afirmado: “A virtude mais caraterística de D. Álvaro del Portillo, foi a sua fidelidade “.
      Isto mesmo referiu S. Josemaria Escrivá em 11 de Março de 1973, aniversário de D. Álvaro, numa reunião de família, quando ele não estava presente, do seguinte modo: Tem a fidelidade que vós deveis ter a toda a hora; soube sacrificar com um sorriso tudo o que era seu, pessoal e se me perguntais: alguma vez foi heróico? Respondo-vos: sim, foi muitas vezes heróico, muitas, com um heroísmo que parece coisa banal. E noutra ocasião, disse: gostaria que o imitásseis em muitas coisas mas, sobretudo, na lealdade! 

                                                                                                                                                         Maria Helena Marques 


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