sexta-feira, 28 de março de 2014

A “Alegria do Evangelho”! …

      É o título da recente Exortação Apostólica do Papa Francisco – Evangelli Gaudium -que, através de breve reflexão, nos leva à conclusão de que o Papa torna ainda mais clara a perspetiva norteadora da Igreja desde sempre e, particularmente, no século XXI.

      Trata-se, na realidade, de uma exortação que nasce da “escuta”, na dinâmica da vida da Igreja e do que é próprio de um dom de Deus. O Papa Francisco, com a frescura própria do coração de Pastor com fortes raízes no solo latino-americano, reaviva com uma admirável simplicidade, o sentido genuíno da vivência do Evangelho. O conhecimento da Exortação do Papa leva-nos a compreender melhor o mais importante desafio da Igreja Católica para os dias de hoje: a insubstituível tarefa que cabe a cada cristão de anunciar o Evangelho no mundo atual.

      Ao falar sobre alegria, um assunto determinante da vida e um interesse comum de todos os homens, sente-se que é imprescindível compreender que no Evangelho de Jesus Cristo a alegria é duradoura. Enche o coração dos que, no dia a dia, vivem a experiência do encontro pessoal com Jesus Cristo. Trata-se de uma alegria genuína, estável, ao contrário de outras que seduzem, mas são passageiras e não têm força para restaurar e preencher o vazio interior, o isolamento e a tristeza. O Papa adverte ainda que o grande risco do mundo contemporâneo, com a múltipla e opressora oferta de consumo, é a produção de uma tristeza individualista que brota do coração ávido na busca doentia de prazeres superficiais.

      Continuando, o Papa reconhece que não é possível encontrar uma alegria verdadeira e estável quando a vida interior se fecha aos próprios interesses, impedindo a escuta de Deus e fazendo morrer o entusiasmo pela prática do bem. Um risco que, sublinha o Papa Francisco, pode atingir também aos que crêem e praticam a fé. Um cenário que constatamos ao encontrar pessoas descontentes, ressentidas, amargas e incapacitadas para cultivar sonhos e projetos, necessários para conduzir a vida na direção do que lhe é próprio, um dom maravilhoso de Deus! A alegria, necessidade natural do coração humano, expressão de uma vida vivida com dignidade, vem com o anúncio, o conhecimento, a experiência e o testemunho do Evangelho de Jesus Cristo.

      Assim, a Igreja que tem a missão de promover a experiência dessa alegria duradoura tem de estar em movimento, ou seja, sempre a caminho. Cabe a cada um de nós tomar a iniciativa de sair e ir ao encontro, renunciando a comodidades e acolhendo o desafio da mudança, da renovação, numa atitude permanente de conversão. É preciso ter a coragem de mudar, de ousar novas respostas, em todos os campos da sociedade, nas suas dinâmicas e projetos. Ao contrário, corre-se o risco de se converter em obstáculo que impede ou dificulta o serviço no anúncio da fonte inesgotável dessa alegria.

      Por isso, o Papa Francisco diz que a Igreja está desafiada por uma exigência de renovação contínua. Para se adequar a esta necessidade, é preciso reconhecer os muitos desafios do mundo contemporâneo. O Papa sublinha que na atual cultura dominante, o primeiro lugar está ocupado por aquilo que é exterior, imediato, visível, veloz, superficial e provisório. O real dá lugar à aparência. Constata-se uma deterioração de valores culturais, com a assimilação de tendências eticamente fracas. Esse processo de renovação consiste numa trabalhosa tarefa de ajudar o mundo a encontrar no Evangelho a fonte perene de alegria duradoura que supõe, sem mais, a coragem e a perseverança de dizer “não” à chamada economia de exclusão, à nova idolatria do dinheiro que dá ao mercado a força de governar e não a de servir, gerando perversidades inadmissíveis. “Não a todo o tipo de iniquidade que gera violência, “não” ao egoísmo mesquinho e ao pessimismo estéril.

      É a hora de compreender e testemunhar a dimensão social da fé, como força e instrumento de uma nova “escuta” prioritária dos pobres…

      Nesse sentido, o Papa convida-nos a procurar corajosamente, novas configurações organizacionais, institucionais e pessoais, apoiados na certeza daquilo que brilha na alegria do Evangelho.

      Francisco afirma que não é tarefa do Papa oferecer uma análise detalhada e completa acerca da realidade contemporânea, mas continua: “ exorto todas as comunidades a terem sempre uma vigilante capacidade de estudar os sinais dos tempos” (EG 51) …

       ”A alegria do Evangelho enche o coração e a vida inteira daqueles que se encontram com Jesus”, provocando, sobretudo os cristãos, a agirem no mundo incluindo os pobres, os fragilizados e os indefesos das violações contra a vida humana e pedindo para que se lute pela paz social e se construa um diálogo interdisciplinar entre fé, razão e ciência…

 

Maria Helena Marques
Prof.ª Ensino Secundário

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