terça-feira, 7 de março de 2017

A "CIÊNCIA" DA DOR

        Os sofrimentos e doenças dos homens sempre foram mais ou menos considerados como dificuldades que atormentam as suas vidas.
      Por isso não há explicação fácil para o sofrimento, e muito menos para o dos inocentes. Muitas vezes o sofrimento escandaliza, surpreende, porque a dor continua a ser um mistério. Um mistério que apenas o cristão com fé, vai aprendendo a descobrir e a conviver com essa realidade, do melhor modo possível, apesar de muitas vezes se apresentar dolorosamente inexplicável ou incompreensível.
      A dor apresenta-se de muitas formas e em nenhuma delas é espontaneamente querida por alguém. Mas isto não significa que nesses momentos nos devamos encher de compaixão por nós mesmos, que não devamos ser fortes na doença e solícitos na procura dos meios com que podemos ultrapassá-la, ou que nos deixemos abater por qualquer sofrimento. Nesse caso, não faríamos outra coisa, porque tem de haver sempre nesta vida algumas contrariedades, angústias e dores. Pelo contrário, devemos reagir, impedindo a imaginação de transformar qualquer incomodidade em tragédia, reduzindo os padecimentos às suas verdadeiras dimensões. Mais ainda: devemos “esquecer” as nossas mágoas para pensar nos outros e servi-los, como é próprio da primeira de todas as virtudes, a Caridade.
      Contam os biógrafos de destacado personagem que gozava da fama de santidade que em determinada ocasião foi procurado por uma mãe que levava nos seus braços uma criança que acabava de falecer. Era viúva, e esse menino era o seu único filho, que constituía todo o seu amor e alegria de viver. A mulher atendendo à sua idade, já não poderia ter mais filhos. Ouvindo os seus gritos, as pessoas pensavam que estaria louca pela dor e que por isso, pedia o impossível.
      Mas contrariamente, o dito profeta pensou que, se não podia ressuscitar o menino, poderia ao menos mitigar a dor daquela mãe ajudando-a a compreender. Por isso disse-lhe que, para curar o seu filho, necessitava de umas sementes muito especiais, umas sementes que se teriam recolhido numa casa em que, nos últimos três anos, não se teria sofrido uma grande dor ou suportado a morte de um familiar. A mulher, ao ver aumentada a sua esperança, percorreu a cidade à procura da casa em que existiriam essas milagrosas sementes. Bateu a muitas portas. Numa tinha falecido um pai ou um irmão; noutras alguém tinha perdido o uso da razão; nas casas mais afastadas havia um paralítico ou um jovem gravemente doente. Chegou a noite e a pobre mãe regressou com as mãos vazias, mas com paz no coração. Tinha descoberto que a dor era algo partilhado por todos os humanos.
      Não se trata de que, perante o sofrimento, recorramos ao velho ditado “mal de muitos é conforto”, mas sim aceitar com simplicidade que o homem, todo o homem, seja qual for a sua situação, está como que atravessado pela dor. Trata-se de compreender que se pode e se deve ser feliz apesar dessa presença constante da dor, pois é impossível viver sem ela, é uma herança que recebemos todos os homens e mulheres sem exceção.
      O que este episódio nos ensina é que pior do que a mesma dor, é o engano de pensar que somos apenas nós os que sofremos, ou os que mais sofremos. O pior é que a dor nos converta em pessoas egoístas, em pessoas que só têm olhos para ver os próprios sofrimentos. Compreender com mais profundidade a dor dos demais, permite-nos medir e situar melhor o que nos acontece.
      Não é fácil dar resposta ao mistério da dor. É verdade que existem algumas explicações que nos fazem vislumbrar o seu sentido, ainda que sempre se nos apresentem insuficientes diante da tragédia do mal no mundo, perante o sofrimento dos inocentes ou o triunfo – ao menos aparente – dos que fazem o mal. É um tema de reflexão de suma importância, um enigma em que no nosso modo de ver, apenas a partir de uma perspetiva cristã se pode avançar realmente para a entranha do problema; mas deve ser uma reflexão que não nos distraia da batalha diária em perceber e enxugar a dor das demais pessoas, por diminuí-la, por tratar de fazer dessa experiência algo que nos ensine, que nos faça mais fortes, que não nos destrua.
      Referimo-nos à batalha contra a desesperança, contra esse estado anímico que dilacera a alma de tantas pessoas que não encontram sentido para o que acontece nas suas vidas, que as faz arrastar os pés da alma, caminhar pela vida com o fatalismo dramático com que um peixe percorre as bordas do seu aquário. A dor própria é talvez a melhor advertência para reparar na dor dos demais, para manifestar-lhes o nosso afeto e a nossa proximidade, e tornar assim mais humano o mundo em que vivemos.

                                                                            Maria Helena Marques

      Prof.ª Ensino Secundário

É urgente humanizar a sociedade!


      No contexto de desumanização e de violência generalizada em que vivemos, o objetivo de toda a educação, sobretudo de uma educação integral, não pode ser outro que o de recuperar a dignidade das pessoas e de ensinar a viver humanamente.
      Educação para despertar as pessoas e ajudá-las a olhar e ver, para tirar-lhes as vendas dos olhos, para produzir compaixão e misericórdia. Educação que recupere a aventura apaixonante de chegar a ser pessoa, de voltar a pôr na moda o ser humano… Como em 1999 afirmava Fernando Savater: “ A principal tarefa da humanidade é produzir mais humanidade. O mais importante não é produzir mais riqueza ou desenvolvimento tecnológico… mas antes saber que o fundamental da humanidade é produzir uma humanidade mais consciente dos requisitos do ser humano”.
      É esta a tarefa essencial da educação, uma educação que desperte o ser humano que todos levamos dentro, nos ajude a construir a personalidade e a integrar a nossa vocação no mundo. Trata-se de desenvolver a semente de si mesmo, de promover não já o conformismo e a submissão, mas sim o dar asas à liberdade. Isto é, trata-se de aprender a viver como seres humanos, de aprender a amar e a ser livres, de despertar uma nova consciência.
      Viver é fazer-se, construir-se, inventar-se, desenvolver os talentos e possibilidades, chegar a ser autenticamente livre. Deram-nos a vida, mas não no-la deram feita. Nas nossas mãos está a possibilidade de gastá-la na banalidade e na mediocridade, ou enche-la de plenitude e de sentido.
      Podemos aumentar a violência ou ser construtores de paz; viver negando e destruindo a vida ou viver defendendo a vida, dando vida.
      Reconhecemos que atualmente são poucos os que se atrevem a apresentar-se com seriedade e radicalidade a fazer o caminho da sua vida e a percorre-lo com honestidade e responsabilidade. Pensam que viver é seguir rotineiramente os caminhos apontados pelas modas, as propagandas, o mercado, os costumes…
      Mas a educação verdadeira e humanizadora que tantos necessitamos, deve ensinar a viver, a defender a vida, a assumi-la como tarefa, como projeto. Educar, é ensinar a criança, o jovem e cada aluno a conhecer-se, valorizar-se e a empreender com honestidade o caminho da própria realização. O único conhecimento realmente importante é o conhecimento de si mesmo: “conhece-te, quer – te, sê tu mesmo; atreve-te a viver, a amar e a ser livre”, que se deve converter no objetivo essencial de todo o autêntico educador….
      É inegável que num mundo habitado por humanos, tudo o que se faça com o homem é feito, concomitantemente, com a sociedade. O mundo é o que é o homem, e o homem é o que é o mundo; muitas vezes de modo lamentável.
      Se falamos em humanizar o homem, falamos concretamente do momento em que a educação consegue este desenvolvimento pleno do seu pensamento e da sua liberdade, isto é, quando a educação contribui para o crescimento do propriamente humano, as capacidades percetuais: intelecto e vontade.
      Um homem que tenha desenvolvido este seu aspeto prioritário, será o cidadão que mais tarde produzirá cultura, transformará a sociedade e construirá a história.
      A sociedade edifica-se com base em homens bem formados, conhecedores da sua dignidade, sabedores de que o que façam hoje, será o legado que receberão as gerações vindouras.
      O resultado de tal atitude é a criação de cultura que em sentido geral significa tudo aquilo com que o homem afina e desenvolve as suas múltiplas qualidades de alma e corpo, submetendo o criado mas procurando, em cada momento, torná-lo mais humano. O resultado não será imediato, mas despontará o dia em que este comece a vislumbrar-se, até que o sol de uma completa renovação brilhe radiante sobre uma sociedade nova, habitada por homens novos…
      A propósito, ressaltava o Arcebispo de Valência, Cardeal Agustin Garcia – Gasco, na sua habitual carta semanal: “humanizar a sociedade é urgente. Da escola básica até à universidade é imprescindível encarregar o serviço formativo de transmitir a mensagem cristã, de promover o encontro entre o Evangelho e os distintos saberes para uma melhor promoção da dignidade da pessoa humana”.    

                                                                                                                                  Maria Helena Marques

                                                                                                                                  Prof.ª Ensino Secundário   

Aprender, refletindo e comunicando - II


      A pedagogia científica considera que a aprendizagem ativa, em contraste com a aprendizagem passiva (ser instruído), é psicologicamente mais adequada para conseguir maior rendimento e assimilação. A aprendizagem depende das leis da motivação, da ativação da vontade de retenção, do efeito positivo que traz consigo o conhecimento do êxito e da experiência dos resultados satisfatórios, do exercício ou prática – que é indispensável – e da organização do material apreendido, a fim de que esteja bem integrado no esquema geral de conhecimento do sujeito.
      Os factores que influenciam a aprendizagem são muito variados, mas todos eles têm uma clara projeção para o rendimento, aumentando-o ou diminuindo-o. Além dos fatores intelectuais já assinalados, há que considerar fatores psicológicos pessoais como a atenção que se considera, muitas vezes, “fator selectivo” com uma função fundamental; e as atitudes de boa disposição que facilitam a aprendizagem.
       Outros factores como as motivações e incentivos são determinantes no processo de aprendizagem, porque têm sempre repercussões positivas ou negativas...
      As pressões sociais, sob qualquer forma, são fatores condicionantes da aprendizagem e alargam-se a toda e qualquer situação educativa. Salientamos, por exemplo: má nutrição, privação de experiências precoces, códigos linguísticos familiares restritos e valores e estratégias educativas inadequadas.
      A personalidade do aluno que, exercendo ação catalítica é determinante, uma vez que a força impulsora é a vontade inexorável da pessoa de se ultrapassar ou de se atrair a si mesma. O dinamismo básico do homem é a sua auto-realização.
      Os factores didáticos: a experiência tem vindo a demonstrar que determinados métodos modernos de ensino são mais eficazes do que por exemplo, algumas técnicas tradicionais que, mesmo excelentes, já fizeram a sua época...
    
      Influências da globalização e do desenvolvimento tecnológico
      Vivemos um profundo e acelerado processo de mudanças e transformações que nos têm desafiado a encontrar novas maneiras de pensar e agir em muitas áreas da atividade humana. A globalização e o desenvolvimento tecnológico fazem-nos cidadãos do mundo, alteram valores e relações sociais, tendentes a transformar verdades absolutas em relativas e trazem grande complexidade e incertezas...
      A velocidade e o caráter permanente destas mudanças, e a quantidade de informações disponíveis demandam do homem, cada vez mais, uma nova postura e o desenvolvimento de habilidades para conviver e compreender a sociedade, a chamada sociedade do conhecimento.
      A habilidade mais importante na determinação do padrão de vida de uma pessoa, já se tornou a capacidade de aprender novas destrezas, de assimilar novos conceitos, de avaliar novas situações, de lidar com o inesperado.
      Assim, com a valorização do conhecimento, da criatividade e a exigência de novas habilidades e competências, torna-se urgente continuar a repensar a educação, caraterizada como processo contínuo e permanente. Educar para esta sociedade significa dominar e transcender os recursos tecnológicos, desenvolver a capacidade de questionar, de analisar criticamente e tomar decisões; desenvolver competências para enfrentar situações inesperadas e desenvolver valores éticos e morais permitindo ao cidadão harmonizar os conteúdos aprendidos na escola, com a cultura de um mundo globalizado… Estas mudanças implicam novas fórmulas de conceber a educação, pois o sentido da escola está na transformação da vida e da sociedade. Assim, de uma educação que enfatizou durante anos a transmissão de conteúdos, a instrução o “empurrar” informações para os alunos, devemos mudar para uma educação que crie ambientes de ensino/aprendizagem, em que o educando é agente ativo do seu processo de aprender, “puxa” informações, processa e constrói o seu conhecimento por meio de atividades significativas e contextualizadas…
      Esta mudança aponta para um novo paradigma em educação, que enfatiza a aprendizagem como processo contínuo de elaboração pessoal do conhecimento.  


                                                       
                Maria Helena Marques

                Prof.ª Ensino Secundário

Aprender, refletindo e comunicando - I

  O processo de aprendizagem em qualquer fase da vida, pode ser definido, de forma sintética, como o modo de os seres adquirirem novos conhecimentos, desenvolverem competências e mudarem o comportamento. Assim, diz-se que há aprendizagem quando o comportamento sofre modificações aumentativas de caráter, mais ou menos permanentes, em resultado de uma atividade, de um adestramento particular ou de uma observação. De uma forma mais geral, aprender é adquirir conhecimentos sobre a base de representações repetidas.

      A aprendizagem não é um tipo específico de atividade. É uma mudança que ocorre no organismo, em consequência de diversos tipos de atividades, mostrando-se, mais tarde, como um pós-efeito destas: uma atividade posterior é diferente por causa de uma atividade anterior. Por isso, são tão numerosas as variedades da aprendizagem humana, como o são as diferentes experiências que o homem passa ao longo da vida. Não é, pois, um processo próprio da infância e da juventude.
      A aprendizagem constitui um dos terrenos mais frutíferos e ativos da experimentação psicológica que se justifica pela grande importância que tem em todas as formas e variedades da educação.

      Aprendizagem intelectual

      Ainda que cada passo de aprendizagem apresente um problema a resolver, é indubitável que, adquirir conhecimentos, é uma atividade de um nível psicológico mais elevado que o necessário para aprender habilidades sensório – motoras. Na aprendizagem intelectual, a consecução da meta tem de se realizar através de atividades específicas superiores: raciocínio, observação das relações, apreensão das ideias e generalização.
      Neste tipo de aprendizagem o papel da inteligência é fundamental: organiza e estrutura o material que deve ser apreendido. Este, salvo raras exceções, possui forma e significado; por isso, o principal valor educativo consiste em conseguir este significado. Pode dizer-se que quem aprende de forma lógica vai captando gradualmente o significado do material e, ao mesmo tempo, vai-o organizando e relacionando com outros conhecimentos que já tinha; quem o faz de uma forma mecânica é aquela pessoa que, sendo suficientemente inteligente para compreender o significado, não está devidamente interessada em lhe dedicar os seus esforços. Também aprende, mecanicamente, aquele a quem o material não suscita uma ressonância significativa na personalidade. A aprendizagem mecânica ocorre a cargo da memória.
      Uma importante função da escola e da orientação escolar, é ensinar a estudar, a fim de que os alunos apliquem os princípios de estudo eficaz, e saibam realizar uma aprendizagem lógica, mais que memorística pois, desde o ponto de vista da retenção do aprendido, o primeiro tem grandes vantagens sobre o segundo.
      A aprendizagem é o processo de alteração de conduta de um indivíduo, por condicionamento operante, experiência ou ambos, de uma forma razoavelmente permanente. As informações podem ser absorvidas através de técnicas de ensino ou até pela simples aquisição de hábitos. O ato ou vontade de aprender é uma característica essencial do psiquismo humano, pois somente este possui o caráter intencional, ou a intenção de aprender; dinâmico, por estar sempre em mutação procurando informações para a aprendizagem; criador, por procurar novos métodos visando melhorar a própria aprendizagem, por exemplo, pela tentativa e erro. Um outro conceito de aprendizagem é uma mudança relativamente durável do comportamento, de uma forma mais ou menos sistemática, adquirida pela experiência, pela observação e pela prática motivada. Não há dúvida de que a motivação tem um papel primordial na aprendizagem. Ninguém aprende se não estiver motivado, se não desejar aprender…
Maria Helena Marques
Prof. Ens. Secundário
                                                                                         

"Vontade": força, poder, liberdade... senhorio!

      O processo de humanização do ser humano, consiste no desenvolvimento de um reto comportamento, que respeite e cumpra os deveres específicos da natureza humana. Esta humanização não se alcança sem auto exigência, sem esforço pessoal, sem a educação da vontade.

      A educação é uma perfeição que se adquire através do desenvolvimento adequado das faculdades especificamente humanas: memória, inteligência, vontade, afetividade. Mas toda a educação se faz através da vontade, na medida em que comanda toda a vida psíquica. A bondade e utilidade das outras faculdades e capacidades dependerá do modo como sejam utilizadas pela vontade.
      O problema crucial da educação é a educação da vontade.
      Vontade que deve ser educada sempre, em todas as épocas e em todas as pessoas. Na sociedade atual – sociedade de um modo geral permissiva – não se valoriza a vontade e, por isso, não se educa.
      Esta omissão educativa tem consequências evidentes na conduta das crianças e dos jovens. Muitos deles são pessoas de vontade débil, com as seguintes manifestações:
·         Incapacidade para tomar decisões pessoais (indecisão e dúvidas permanentes);
·         Incapacidade para atuar;
·         Incapacidade para continuar a tarefa iniciada.
      Essa falta de vontade conduz à fuga dos problemas habituais que surgem em qualquer vida, para se refugiarem em múltiplas formas de evasão:
·         Música estridente
·         Velocidade
·         Álcool
·         Droga, etc.
       Não dispõem de condições para enfrentar problemas, para conceber e elaborar projetos e aceitar compromissos. Vivem o momento presente e evitam tudo o que lhes pode complicar a vida. A aspiração máxima é a de uma “vida tranquila”. Mas por experiência todos constatamos que a vida sem problemas ou não existe ou não é vida.
      A ausência da educação da vontade tem vindo a originar atualmente diversas alterações e doenças da vontade, como por exemplo: a abulia, apatia, dispersão; a astenia (cansaço anterior ao esforço); a ansiedade, a conduta em função do capricho...
      Tudo isto tem repercussões imediatas e a médio e longo prazo.
      Em primeiro lugar, são jovens que sempre argumentam desculpas. Manifestam um relaxamento generalizado no esforço para aprender.
      As causas desse relaxamento residem, em grande parte, na menor exigência dos pais, associada à influência da televisão, que oferece uma informação passiva em que tudo é fácil... Parece que tudo “vem dado” pelos vídeo-jogos, Internet, etc.
      Os meios de comunicação social desempenham um papel negativo; há programas medíocres que criam nos jovens falsas expetativas de conseguir, sem esforço, uns objetivos ambiciosos. Eles, sem dúvida, comprovam que na vida real há que trabalhar muito para atingir as metas, e que nem sempre irão conseguir o que desejam.

      O esforço aprende-se, ensina-se e valoriza-se

      É necessário exigir desde muito cedo a colaboração e a prática da superação. Associar o esforço com a recompensa. Temos de educar para o esforço coletivo começando pelo nosso.
      Somos modelos de aprendizagem, devemos ter muito em conta os nossos comportamentos, ensinar com o exemplo; se lhes chamamos a atenção por algo, deveríamos pensar se nós faremos o mesmo; se damos instruções pensar se não poderiam ir acompanhadas de demonstrações práticas.
      Dar exemplo, sim! E educar no esforço diário, no crescente fortalecimento da vontade no que se refere ao aspeto afetivo, intelectual, desportivo, cultural, psicológico ou espiritual.
      Há que aumentar o nível de exigência pedindo-lhes autonomia e responsabilidade.
      No concernente à escola é necessário estabelecer metas, inocular o prazer de aprender, tornar o currículo atrativo, o poder saber mais, o entender as coisas, o poder explicá-las...
A valorização dos pais é essencial. É um erro dos adultos manifestar que o seu trabalho é mais meritório, intenso e esgotante que o dos adolescentes. Apreciemos o seu esforço, o seu progresso. Pensemos que o rendimento académico é importante, embora não seja a balança que calibra o valor global dos jovens.
      A prática desportiva é um hábito magnífico para desenvolver o esforço e a constância. Mas cabe aos pais e outros educadores a importante missão do desenvolvimento da vontade das crianças e jovens no sentido do dever. Quando isto não foi feito, é urgente induzir esses valores, privando-os de algumas comodidades e benefícios. E sendo intolerantes com a preguiça.
      Não se pode solucionar tudo aos filhos, mas sim proporcionar que se esforcem para que aprendam a resolver as suas dificuldades.
      Deve rechaçar-se a enganosa e simplista mensagem de que o êxito se consegue pela “sorte” e desmistificar o seu conteúdo.
      Para conseguir o êxito, é necessário acreditar em si próprio, aplaudindo o valor do esforço e da superação.

                                                                                                             Maria Helena Marques

                                                                                                                                              Prof.ª Ensino Secundário

A força do medo

      O medo é uma força de motivação condicionante em qualquer situação, em qualquer vida. Tem-se medo dos que são diferentes; do fracasso e da rejeição. Por medo de sofrer, excluímos da vida social todos aqueles que são diferentes de nós desperdiçando a oportunidade de ouvir o apelo do necessitado e de transformar o mundo num lugar melhor…

      O medo à Vida
      Ao inaugurar o seu pontificado, o Papa João Paulo II pôs em destaque algo que o homem moderno traz muito metido no seu pensamento: o medo. “Não tenhais medo!”, dizia o Papa, dirigindo-se ao mundo inteiro.
       Tem-se medo. Mas, tal como noutros tempos se temia a natureza ou a morte, o que hoje em dia mais atemoriza muitos, é a vida: a vida em potência, em gérmen (que medo de gerar!), a vida já concebida (outra gravidez, que horror!), a vida de sofrimento (“ porque é que Deus, sendo tão bom, não evita que haja deficientes, doentes, etc.), a vida que entra em decadência (os idosos? Que maçada! Para o lar!”).
       Esta atitude radica em dois princípios:
a)      A aversão, mais ou menos explícita, a tudo quanto não seja agradável, prazenteiro, confortável. Consideram-se escandalosos a dor e o sofrimento. Um sintoma: uma das realidades mais difíceis de fazer compreender aos adolescentes de hoje é a noção de sacrifício pessoal e luta contra o egoísmo.
b)      A noção errada que o homem contemporâneo tem de liberdade. Para muitos, liberdade é sinónimo de satisfação de instintos e caprichos; de ausência de obstáculos a vencer; de direito a suprimir o que incomoda. Um médico contava a propósito disto que foi consultado por uma senhora jovem que lhe pediu que “interrompesse a sua gravidez” (estava grávida de poucos meses). Quando o médico lhe perguntou a razão de tal pedido, ela respondeu: “é que vai perturbar o meu veraneio e o do meu marido”.
      A combinação destes dois princípios tem como resultante uma espécie de lei instintiva, inconsciente, não escrita, que os mais cínicos poderiam enunciar do seguinte modo: Cada um tem direito absoluto e inviolável à sua própria felicidade individual, segundo o seu ponto de vista, sem referência a qualquer norma exterior ao indivíduo e com a possibilidade de eliminar tudo quanto possa ser obstáculo a essa felicidade.
      Como consequência de semelhante atitude em cada indivíduo, a sociedade, formada por tantos egoísmos paralelos, torna-se cada vez mais permissiva e, ao mesmo tempo, mais conflituosa e violenta. É inevitável que a felicidade de uma pessoa, assim entendida, tarde ou cedo choque com a de outros. A tensão subsequente resolver-se-á de modo violento, sempre à custa dos mais débeis, dos mais desamparados, dos que nem sequer estão sindicalizados nem têm um grupo de pressão que os defenda: as crianças no ventre das mães, os deficientes, os inválidos, os idosos... Assim se desencadeia uma verdadeira “maré negra de morte”, cujos efeitos são incalculáveis. Como dar conta dos milhões de seres humanos assassinados pelo aborto?
      Há uma lógica espantosa nesta “obra de morte”, consequência do medo que alguns têm à vida: depois de eliminarem Deus ou de O porem de parte nas suas vidas, passam ao homem. Não estranha que esses autores não parem enquanto não o destruírem, sobretudo os seres que Deus prefere: os desvalidos, os pequenos , os “inúteis”…
      O primordial direito dos direitos humanos, é o direito à vida. Por isso, toda a cooperação na transmissão e promoção da vida humana, em todos os seus estádios, é uma tarefa que nobilita o homem.

      O medo à vida na legislação civil positiva
      Não deixa de ser surpreendentemente aberrante que os mesmos grupos de pressão que organizam campanhas contra a pena de morte e as guerras, se pronunciem depois a favor do aborto e da eutanásia!
      Onde estamos e para onde nos dirigimos?!
      O dever da lei positiva é colaborar na reforma da sociedade, melhorando as condições de vida de todos, começando pelos mais necessitados. E garantir que sempre e em toda a parte se acolha digna e favoravelmente uma nova vida. Que se ajudem as famílias e cada mãe – qualquer que seja o seu estado – a trazer ao mundo os seus filhos já concebidos e a educá-los. “ A família ocupa o próprio centro do bem comum nas suas várias dimensões, precisamente porque nela é concebido e nasce o homem. É necessário fazer o possível para que, desde o primeiro momento da sua conceção até ao derradeiro momento da sua morte natural, este ser humano seja querido, esperado, vivido como valor particular e irrepetível. Deve sentir-se importante, útil, amado, valorizado; inclusive, se está inválido, doente em fase terminal ou é deficiente; mais amado ainda precisamente por isso...” (S. João Paulo II)

                                                                                                                                   Maria Helena Marques

                                                                                                                                   Prof.ª Ensino Secundário

MAGNANIMIDADE, o antídoto da mesquinhez

       Neste mundo visivelmente acorrentado à mesquinhez, escasseia a generosidade e a nobreza de espírito. Assim, ao tomar-se consciência desta realidade não se pode deixar de reagir positivamente com magnanimidade e um forte exercício de liberdade.
     A magnanimidade é virtude dos corações magnânimos, que leva a perdoar, desculpar e compreender. É a tensão do ânimo para as coisas elevadas e belas da vida. Escreveu Pieper que é magnânimo quem exige o grande e se dignifica com isso, ainda que o consiga à custa de coisas pequenas. A magnanimidade apodera-se do impulso da esperança natural e conforma-o com destreza à realidade do ser humano. A carência de grandeza de ânimo conduz à acídia, que vem a ser uma espécie de humildade pervertida, como a mal humorada e triste renúncia ao que é nobre no ser humano.
      S. Tomás de Aquino escreve que “o magnânimo tende para aquilo que é grande” (Suma Teológica 2-2, 129,4) “O magnânimo é difícil de contentar…Ele vai atrás da perfeição das virtudes”…
      A magnanimidade, é a vitória do amor e da fortaleza sobre a pusilanimidade (alma pequena), a mesquinhez, o conformismo e o medo.

       Aspetos da magnanimidade
      Encontramos uma descrição bastante completa da magnanimidade no livro Amigos de Deus (n.80), de São Josemaria Escrivá.
       Diz: A magnanimidade “é a força que nos move a sair de nós mesmos, a fim de nos prepararmos para empreender obras valiosas, em benefício de todos”. A primeira obra valiosa em favor de muitos é lutarmos para ser santos (vocação de todo o batizado), pois é uma grande verdade que “essas crises mundiais são crises de santos” (Caminho, n. 301).
       Depois, há grandes metas, objetivos, iniciativas valiosas – familiares, culturais, profissionais, patrióticas, sociais… –, que é preciso encarar sem se encolher. E não esperar que outros as realizem e nos sirvam de bandeja tudo feito, para nós colaborarmos.
      O poeta António Machado, tinha razão quando escreveu: “Caminhante, são teus passos/ o caminho e nada mais; / caminhante, não há caminho, / faz-se caminho ao andar”.
      Perante a nossa resistência e o receio de aspirar a essas metas altas, far-nos-á bem meditar também os versos de Fernando Pessoa sobre a gesta marítima dos portugueses a caminho da Índia:”Valeu a pena? Tudo vale a pena / se a alma não é pequena. / Quem quer passar além do Bojador/ tem que passar além da dor”.
      O que custa – como já víamos – é superar o medo do sacrifício e do sofrimento, sem os quais não se faz nada grande.
       “O magnânimo dedica sem reservas as suas forças ao que vale a pena…Não se conforma com dar: dá-se”. Essa é a resposta vigorosa à tentação do calculismo.
       A alma grande é generosa. Por isso, detesta os vícios dos falsos magnânimos: a petulância, o exibicionismo, a vaidade, a ambição, a procura de compensações. Dá. Dá-se sem pedir nada em troca, e pratica o conselho de Jesus: Que a tua mão esquerda não saiba o que faz a direita (Mt 6,3).
   “ Magnanimidade é ânimo grande, alma ampla, onde cabem muitos”. Esta é uma das mais belas caraterísticas da magnanimidade. No coração do magnânimo não cabem apenas os familiares, os amigos e os colegas. “Cabem muitos”. Tem uma visão larga, enxerga longe, vê um campo enorme para fazer o bem, e alguém tem de fazê-lo. Por isso, sabe trabalhar para o futuro, sem pressa de saborear logo os resultados…
      Procurando entender melhor o que é a magnanimidade podemos dizer que a magnanimidade regula a mente em relação a tudo o que é grande e honorável; anima todas as demais virtudes, incitando-as a orientarem-se preferencialmente para tudo o que sabe a grandeza. Portanto, a magnanimidade é uma virtude humana que nos conduz a tudo aquilo que significa autêntica grandeza para as nossas vidas.

      Por meio da magnanimidade cultivamos a atitude acertada perante a grandeza da própria vida, perante as possibilidades que temos de conquistar grandes ideais. É a virtude que nos impulsiona a aspirar de modo realista e esforçado às coisas grandes.
      Longe de ser uma aspiração vã ou pretensiosa, é uma aspiração que corresponde à nossa própria identidade, às nossas capacidades e possibilidades.
       A magnanimidade implica muita humildade, quer dizer, um reto conhecimento e aceitação de si mesmo. Humildade é andar na verdade, conhecer-se e aceitar ser o que é: nem mais, nem menos.

                                                                                                                                 Maria Helena Marques

                                                                                                                                 Prof.ª Ensino Secundário

A Educação oportuna afasta e previne a violência...

       
      Sabemos que o termo educação é usado muitas vezes em sentido ativo ou dinâmico – como processo – outras vezes em sentido – estático como resultado.
      Pelo que se refere ao primeiro sentido, que é o mais adequado, a educação pode definir-se como a ajuda que uma pessoa (um grupo ou uma instituição) presta a outra (ou a outro grupo) para que se desenvolva e aperfeiçoe nos diversos aspectos -  materiais, espirituais, individuais e sociais – do seu ser, dirigindo-se  assim para o seu fim próprio.
      O termo deriva do latim e-ducare (ir conduzindo de um lugar para outro), ou também e-ducere (extrair). A primeira etimologia sublinha o progresso produzido pela educação; a segunda põe em relevo que os resultados alcançados se obtêm desenvolvendo as virtualidades contidas na interioridade do sujeito.
      O alarme social anda por aí. A expressão “ violência” é a mais repetida em todos os meios de comunicação social desde há muitos meses: violência na família (ou no agrupamento de pessoas a quem tem sido atribuída essa denominação), violência nas ruas, violência nas aulas. Agressões de pais a filhos, de filhos aos pais, entre pessoas da mesma idade, de grupos de jovens contra as lojas de ourivesaria, perfumarias, habitações, etc., de “bandos” organizados que demonstram que ninguém pode sentir-se seguro na sua própria casa...
      A escola não tem podido escapar a esta tremenda balbúrdia e, conforme as informações de determinado sindicato de professores de escolas públicas, um de cada quatro professores tem vindo a sofrer agressões físicas e psicológicas por parte dos seus alunos ou dos pais de alguns deles.
       O que é que está a acontecer? Abriu-se a caixa de Pandora e estão a saltar todos os impulsos perniciosos do ser humano? Recusamos envolver-nos nesse clima aterrorizador que se apoderou desta sociedade apegada ao consumismo como cartão de identidade, mas não podemos vendar os olhos evitando olhar a realidade. E a realidade diária é dura e persistente: uma e outra vez repete “violência”, “violência”. Acusamo-nos uns aos outros e procuram-se fórmulas para “curar” em vez de se pensar em “prevenir”, analisando com toda a honestidade quais são as fontes deste fenómeno.
      Levantam-se muitas vozes justificando que isto acontece também noutros países da União Europeia e do mundo, que estamos a caminho de avançar economicamente e que o bem-estar ilude os valores tradicionais porque não são sintoma de progressismo...
      Valores?! Talvez seja esta a chave.
      À escola pede-se-lhe que resolva todos os problemas que surgem e são molestos (drogas, educação vial, alcoolismo, sexualidade, violência contra as mulheres, etc.) e, esquece-se que um centro educativo tem a missão de dar formação integral aos seus alunos complementando a educação que é direito e dever da família.
       E a família educa? Ensina boas maneiras e fomenta a educação dos sentimentos, do coração? Não é ela que, em muitas circunstâncias, consente a má educação, os gestos desabridos e as palavras depreciativas de seus filhos?
      A sociedade mudará quando todos descobrirmos que o caminho para a violência se inicia com a primeira falta de educação desculpada e admitida. E quando os pais consciencializarem que jamais se poderão demitir da sua autoridade e responsabilidade na nobre e urgente tarefa que lhes cabe como primeiros educadores dos seus filhos... e os principais responsáveis pela sua educação.

                                                                           Maria Helena Marques

                                                                                                                          Prof.ª Ensino Secundário

EDUCAR, o mais humano e humanizador de todos os esforços

 No mundo em que nos cabe viver, onde nos angustia a crueldade, a barbárie, muitas vezes não muito longe de nós, colhemos uma expressão de quanto pode descer o ser humano e quanto pode fazer das suas capacidades, das suas potencialidades…Surpreende-nos sempre esta cultura destrutiva do século XXI, que o Papa Francisco já classificou como período de “Terceira guerra mundial aos pedaços”… Fixando-nos no desenvolvimento científico e tecnológico, verificamos que nas mãos de alguns ele pode ser elemento de destruição e de morte, mas nas mãos de outros é, sem dúvida, um instrumento privilegiado para conservar, preservar e enriquecer a vida humana.
      É paradoxal que tenhamos alcançado triunfos inigualáveis no campo da ciência, tecnologia, arte, que por vezes desencadeiam uma correria vertiginosa, que nos pode fazer perder o norte fundamental, o objetivo essencial de todo o esforço. Objetivo esse que consideramos primordial para o pleno desenvolvimento da pessoa humana e que deve estar acima de qualquer outro valor social.
      Educar, não é senão edificar a humanidade em cada homem, em cada mulher; educar é, sem sombra de dúvida, o mais humano e humanizador de todos os esforços, de todos os empenhos.
      Nascemos humanos mas isso não basta, temos de chegar a sê-lo! Os outros seres vivos nascem sendo já definitivamente o que são. Mas nós, homens e mulheres, nascemos para a humanidade, para sermos humanos. Mas só o seremos plenamente quando os demais nos contagiarem com a sua própria humanidade, e com a nossa participação.
      Assim, a educação significa um crescimento permanente nessa inefável e prodigiosa aventura compartilhada, sendo necessário que a ação educativa se fundamente na premissa de que o próprio do ser humano não é tanto o mero aprender, mas sim o que fica no final da educação, o que fica na alma e no coração, mesmo depois de esquecermos o que nos disseram. Ficam os rastos indeléveis feitos vida!...
      Educar é converter alguém em pessoa, mas é também a base para edificar uma trajetória pessoal adequada. Etimologicamente, significa acompanhar e extrair. Por isso, educar é cativar com argumentos positivos, entusiasmar com os valores, seduzir com o excelente. Isto significa comunicar conhecimentos e promover atitudes, isto é, informar e formar.
      Educar, não é apenas ensinar a alguém Matemática, Literatura, Arte ou Contabilidade, mas sim prepará-lo para que viva a sua biografia da melhor maneira possível. Apetrechá-lo de regras de urbanidade e convivência, hábitos para não ser sujeito amorfo, anónimo e impessoal…
      A educação é a estrutura do edifício pessoal; a cultura é a decoração, a estética da inteligência. A primeira ensina a nadar para não se ver arrastado pelas marés de todo o tipo que ameaçam o ser humano; a segunda ensina a viver com sabedoria.
      Assim, educação e cultura formam um tecido humano onde se dão influências recíprocas, com fronteiras difusas e limites mal definidos.
      Por tudo isso, a educação não pode entender-se como um mero aprender, mas antes aprender de outros seres humanos, ser ensinados por eles e, em consequência, a verdadeira educação não consiste em ensinar a pensar, – ainda que isso seja importante – mas sim em aprender a pensar sobre aquilo em que se pensa e, nesse momento de reflexão, é inevitável que nos consideremos parte de uma sociedade de outros seres pensantes.
      Na realidade, nada expressa melhor o que somos como povo, como país, como centro educativo, do que a forma como concebemos e realizamos as nossas tarefas educativas: teremos tanto mais êxito quanto mais êxito tenha o esforço educativo nacional; seremos também tanto mais desenvolvidos, quanto mais longe cheguemos no nosso esforço pela educação.
      Mas a fecundidade da vida não se consegue unicamente com o conhecimento, nem com o trabalho realizado através de uma atividade frenética mas, sobretudo, com os frutos do conhecimento impregnados e envolvidos em uma mais ampla cultura do amor.
      Necessitamos de evitar o risco de converter o homem e a mulher em escravos de valores puramente económicos, libertando-os da unilateralidade técnica e ajudando-os a transcender para os âmbitos do conhecimento da verdade: a valorização da beleza, do amor, do bem, da virtude!...

                                                                                                                       Maria Helena Marques

                                                                                                                       Prof.ª Ensino Secundário

Um gigantesco retrocesso civilizacional...

 Dura realidade, decorrente do acontecimento de 11 de Fevereiro de 2007, nos primórdios do século XXI, verificada em Portugal!
      A vitória do "Sim" no referendo ao aborto com uma percentagem real de 24,69% gerou uma nova lei que foi discutida e votada na Comissão de Assuntos Constitucionais, na Assembleia da República. Realmente, foi a Abstenção a grande “vencedora”! A maior parte dos portugueses demitiu-se das suas graves responsabilidades e agora aí temos o resultado! Da sua leitura ressalta que se manifestou uma cultura que não está impregnada de valores éticos fundamentais, que deveriam presidir a todo o comportamento individual, e inspirar o sentido das leis, como é o do carácter inviolável da vida humana consagrado, como todos bem deveríamos saber, na nossa Constituição.
      Esta mutação cultural teve e tem variadíssimas causas que importa a cada um aprofundar e assumir... As consequências por demais, previsíveis, resultaram na supressão da vida de muitos milhares de seres humanos inocentes e indefesos que jamais poderá ser considerada um “avanço”… como alguns se atrevem a definir! Antes pelo contrário: “um gigantesco retrocesso civilizacional” uma vez que se trata de uma tese inadmissível, tanto do ponto de vista dos crentes, como do ponto de vista puramente humano! Que riqueza incomensurável representariam todas estas vidas humanas em benefício da humanidade!...
      Não é o facto de o Estado elaborar uma lei que torna o “intrinsecamente mau” num bem para a sociedade, pois “o que pode ser legal, não é necessariamente moral”. A vida é o dom mais precioso que cada um de nós recebeu e não pode ser suprimida, nem no início, nem no seu fim natural. Como ninguém tem o direito de impedir que, quando a vida surge, se desenvolva. Fazê-lo é cometer um homicídio. Apesar da lei, que está aí, os princípios éticos mantêm-se, como é óbvio; assim como a questão do aborto não ficou encerrada. Antes pelo contrário. Não podemos esquecer que, em democracia, as leis emergem de consensos maioritários, e a nossa grande esperança é a de que as maiorias mudem. Os discordantes têm, entretanto, um papel importante a desempenhar: têm o direito e o dever de, intervindo no espaço público democrático, procurar alterar a opinião dessas maiorias.
      Se e quando a maior parte dos portugueses se convencer de que é intolerável pôr fim a uma vida humana distinta da vida da mãe, então a lei recuará na liberalização do aborto. Com ou sem referendo!
      O avanço das técnicas médicas (ecografias, etc., etc.), torna-as excelentes aliadas nesta batalha dos valores relacionados com a vida. Assim como a forte convicção de que a luta pela dignidade da vida humana, é uma das mais nobres tarefas civilizacionais!
      Deste modo, é claríssimo que não basta o novo contexto legal. É urgente dar uma resposta determinada ao drama do aborto: criar e / ou reforçar estruturas de apoio eficaz e amigo às mães em apuros com uma maternidade não desejada, e que consideram demasiado pesada para levar a seu termo. Estudos sérios, recentes, mostram que a maior parte das mulheres nessas circunstâncias se fossem ajudadas devidamente, não recorreriam ao aborto, que é anti-natural e desumano: para o filho e para a mãe.
      É dever de todos nós, de toda a sociedade, criar essas estruturas de apoio. Para longe, toda e qualquer ambiguidade num campo tão delicado como este.
      O verdadeiro sinal de progresso social e cultural consiste na elaboração e aplicação de uma sã política familiar que ajude a resolver efetivamente, os numerosos problemas concretos que muitas famílias de hoje encontram na sua vida de cada dia.                         
      Cabe portanto, ao Estado em última e primeira instância, a promoção e desenvolvimento de uma verdadeira e moderna “Cultura da Vida”, em cada uma das suas fases, desde o primeiro momento da conceção, até ao seu termo natural.

                                                                                                Maria Helena Marques
                                                                                                                             Prof.ª Ensino Secundário                         


Dia Internacional da Mulher...

 Depois de longa, árdua e difícil caminhada, eis que surge o dia 8 de Março comemorado, pelas Nações Unidas a partir de 1975, como Dia Internacional da Mulher!
      A luta pela igualdade entre os sexos, masculino e feminino no que se refere a direitos e deveres, foi dura e cruenta, demarcada pela morte de mulheres  que, em tempos difíceis, deram a sua vida pela consecução desse ideal.
      Recordamos Olympe Marie de Gouges, guilhotinada em 1791 por pretender que a Declaração de Direitos do “homem e do cidadão” se aplicasse também às mulheres.
      Em 8 de Março de 1857, as operárias têxteis de uma fábrica de Nova Iorque entraram em greve ocupando a fábrica, reivindicando a redução de um horário de mais de 16 horas por dia, para 10 horas. Estas operárias, que recebiam menos de um terço do salário dos homens, foram fechadas na fábrica onde, entretanto, se declarou um incêndio, e cerca de 130 mulheres morreram queimadas.
      Em 1908, mais de 14 mil mulheres marcharam nas ruas de Nova Iorque, exigindo o mesmo que as operárias no ano de 1857, bem como o direito de voto. Adotaram o slogan “Pão e Rosas”; em que o pão simbolizava a estabilidade económica e as rosas uma melhor qualidade de vida.
      Em 1910, numa conferência internacional de mulheres, realizada na Dinamarca, foi decidido, em homenagem àquelas mulheres, comemorar o dia 8 de Março como “Dia Internacional da Mulher”.
      É graças a elas, que existe atualmente uma igualdade, pelo menos formal, reconhecida em Carta Magna, que permite o acesso a qualquer dos trabalhos realizados pelos homens.
      Mas apesar da evolução, foram dados passos insuficientes, quando, no início do século XX, o movimento feminista se ocupou apenas dos benefícios e não preveniu os prejuízos da libertação. Ficou claro que neste árduo processo para a igualdade, as mulheres sofreram danos colaterais, ao deixarem pelo caminho algo que lhes é consubstancial: a essência feminina, a feminilidade.
      Foram assumidos de forma espontânea e sem queixa, os modos masculinos, considerando-os justos e oportunos e que deviam ser imitados para conseguir a igualdade. Este objetivo foi sendo procurado a troco do sacrifício da alma feminina, como contrapartida de serem aceites no universo masculino, imitando, inclusivamente, os seus comportamentos e maneiras de vestir.
      As feministas para a igualdade dos anos 70, com o pensamento de Simone de Beauvoir como bandeira, e os defensores do atual feminismo “de género”, foram conseguindo que a sociedade assumisse que a ideia de trabalhar em casa, ser boa esposa e mãe é um atentado contra a dignidade da mulher, algo humilhante que a degrada, escraviza e impede de desenvolver-se em plenitude. E que para ser uma mulher moderna, era preciso libertar-se previamente do jugo da feminilidade, em especial da maternidade, entendida como um sinal de repressão e subordinação: a tirania da procriação...
      Esta ideologia entrou nas instâncias políticas, provocando o desprestígio e o desrespeito para com as mulheres que trabalham em casa ou cuidam dos seus filhos, estigmatizando-as, considerando-as nada produtivas para a sociedade.
      Ao contrário, aquelas mulheres que renunciam à maternidade ou ao cuidado personalizado dos seus filhos, desde os primeiros dias de vida aparecem, perante alguma opinião pública como heroínas, autênticas mulheres modernas, que, “sem perderem o tempo” na atenção dos seus familiares, se entregam plenamente à sua profissão, pelo que sacrificam tudo o que as liberta… Mas longe do mundo idealizado de mulheres que gozam exultantes da sua elevada vida profissional, encontramos na vida real muitas mulheres que, apesar do seu enorme êxito profissional, se sentem pessoalmente frustradas e insatisfeitas, cansadas de imitar os modos masculinos...
      Estas mulheres anunciam à sociedade, um verdadeiro feminismo. Mulheres que sobejamente têm demonstrado ser tão capazes como qualquer homem de chegar ao topo da carreira profissional de forma brilhante e eficaz, mas que não querem disfarçar-se de homens, mas antes, ao contrário, querem ser elas mesmas.
      Flexibilidade; imaginação; cooperação; expressividade emocional; afectividade; pragmatismo; capacidade de improvisação; visão contextual; são algumas  das capacidades sociais inatas da mulher – em parte acentuadas pela maternidade – que segundo os especialistas, serão um valor acrescentado praticamente em todos os setores da economia do século XXI.
      O novo feminismo defende um reconhecimento social para o trabalho da mulher, cuja forma de ver a vida e compreender a realidade é um valor inquestionável que terá de se refletir em umas condições laborais favoráveis, não idênticas às dos homens; com uma especial atenção à maternidade que, longe de ser opressiva, é na maioria dos casos profundamente libertadora, enriquecedora e que torna a mulher um ser ainda mais pleno.
      A mulher atingirá a sua plena realização existencial quando se comportar com autenticidade e respeito pela sua condição feminina. Ser verdadeiramente Mulher, é realizar na Vida, a sua vocação, a sua missão integral – no Mundo, na Família e na Igreja – sempre de acordo com os planos do Criador!

                                                                                                                       Maria Helena  Marques

                                                                                                                       Prof.ª Ensino Secundário                              

sábado, 4 de fevereiro de 2017

E se nós ajudássemos os outros a viver

INTRODUÇÃO

Mafalda Ribeiro tem 32 anos de uma vida invulgar. Estudou jornalismo, mas foi técnica de comunicação numa empresa de ambiente. Não é jornalista na prática, mas é o gosto pelas letras que faz mover a sua cabeça, ainda que as pernas não lhe obedeçam. Convive com a doença rara congénita Osteogénese Imperfeita e desloca-se em cadeira de rodas desde sempre. Publicou em 2008 o seu primeiro livro “Mafaldisses – Crónicas sobre rodas” (4ª edição). É autora, cronista e interventiva na área da exclusão social. Fez uma certificação em Coaching Internacional e é oradora motivacional. É convidada para falar em público acerca da sua visão otimista da vida em empresas, escolas, seminários e foi ainda oradora numa Ignite e dois TEDx. É voluntária em projectos de solidariedade social, tem um olhar humanista e aguçado do mundo e por isso dá a cara e a voz pela inclusão e pela igualdade de oportunidades, sempre que lhe dão tempo de antena. Mafalda Ribeiro não vê limites diante das suas limitações. É uma mulher de palmo e meio, informada, atenta aos pormenores e grata por poder continuar a usufruir da viagem da vida. Celebra-a continuamente com um sorriso... sobre rodas! 
Mais em sorrirsobrerodas.pt

"Nunca fui autónoma, mas isso não me tornou menos digna em nenhum dos dias, desde que nasci. É por isso que não posso ficar em silêncio, numa altura em que nos preocupamos em como ajudar os outros a morrer

"Enquanto encararmos as nossas incapacidades como tragédias, terão pena de nós. Enquanto sentirmos vergonha de quem somos, as nossas vidas serão vistas como inúteis. Enquanto ficarmos em silêncio, serão outras pessoas a dizer-nos o que fazer” (Adolf Ratzka).
Sim, eu tenho 95% de incapacidade motora, avaliada por uma Junta Médica. Mas a minha vida nunca foi uma tragédia, apesar de todos os “tsunamis” que tive de enfrentar. A minha vida não é inútil porque sei que através dela posso ser relevante para quem acha que já perdeu a esperança. Os outros até podem dizer-me o que fazer, mas a minha liberdade individual levou sempre a melhor, ainda que “aprisionada” numa cadeira de rodas. Sabem porquê? Porque eu nunca tive vergonha de pedir ajuda, para viver. Nunca fui autónoma, mas isso não me tornou menos digna em nenhum dos dias, desde que nasci. É por isso que não posso ficar em silêncio, numa altura em que nos preocupamos em como ajudar os outros a morrer. E se ajudássemos os outros a viver?
Se calhar mais do que ser pró-vida - ao defender a vida independente e assistida e os cuidados continuados e paliativos, ao alcance de todos - sou fundamentalmente contra uma coisa: isto do ser-se “morno” e a descambar para o contraditório. Quem defende o chamado “direito a morrer com dignidade”, não me convence que é a favor da vida. A favor da vida é quem dá, se for preciso, a própria vida (e com isto quero dizer, o seu tempo, a sua entrega, dedicação, presença e atenção) aos outros. É quem ajuda os outros a viver.
Esta semana ouvi uma frase que contraria aquilo que considero óbvio: “SE eu não fizer pelos outros, quem o fará?” - basicamente o resumo de toda a vida de Jesus na terra, aquele que considero ser o maior Mestre da Inclusão, de todos os tempos. Em oposição a isto temos “o mantra da auto-ajuda” que defende: “SE eu não fizer por mim, quem o fará?”.
Achamos que estamos a ser profundamente solidários ao nos colocarmos do lado dos que dizem “sim” a ajudar alguém a acabar com o seu “sofrimento profundo”. Que acto de altruísmo este! Afinal, se não há auto-ajuda, nós damos uma mãozinha…! Pergunto: seremos nós alguma vez capazes, enquanto seres humanos limitados, de compreender o sofrimento de alguém? Seremos nós alguma vez capazes, enquanto seres humanos limitados, de decidir quando ele deve terminar?
Para aqueles que dizem que temos o direito à vida e à morte, não concordo que isto seja assim tão linear. Porque direito à vida, como eu o entendo, não foi uma decisão minha. Primeiro, existi; a seguir é que percebi que estava na vida, logo tinha o direito a vivê-la (no meu caso, prefiro considera-la um dever!), a partir do momento em que fui colocada cá. A vida é para todos uma viagem com principio, meio e fim. Agora, direito a querer morrer, a morrer de facto e a querer que me matem, são coisas totalmente diferentes.
Chamando as coisas pelos nomes: se eu quiser acabar com a minha vida, é suicídio. Se alguém acabar com a minha vida, é homicídio. O resto? Para mim está claro: o resto é um emaranhado de fios que confundem amor-próprio com egoísmo, compaixão com piedade, direitos com deveres, dor com sofrimento e o que significa realmente a tão repetida “dignidade”. Os defensores da eutanásia acham mesmo que ajudar uma pessoa a morrer é estar a fazer algo por ela? Sou obrigada a concordar: ajudar alguém a morrer é tirar-lhe a vida. É, sem eufemismos, matar essa pessoa.
Dentro de dias a agenda mediática vai falar da celebração internacional das Doenças Raras, como é a minha - e atenção que eu sou uma abençoada na minha condição de deficiente. Experimentem pesquisar sobre isso e vão ver que isto de ter uma doença rara é cada vez menos raro. Viver com uma doença terminal, também já deixou de ser raro. Raro é quem tem a capacidade de ajudar os outros a viver. Raro é quem está com o outro como uma extensão de si mesmo - como um leitor fiel e presente - em vez de ter um papel de co-autoria no fim da história. Raro é viver a vida como um milagre diário, agora e até à hora (natural) da nossa
morte.
Mafalda Ribeiro

MORRER


Gostava de morrer quando morrer. Receio dar ordens à morte. E se ela se enganar? E se eu me enganar? E se me faltar tempo? E se cortando a relação com todos ainda me faltar dizer alguma coisa a alguém?


Gostava de morrer como vivi. Com a mesma liberdade, com a mesma teimosia, com a mesma gratidão a quem cuidou de mim.
Gostava de morrer com a mesma liberdade (ou falta dela) com que nasci. Dizem que então chorei e que foi bom tê-lo feito. Dizem que também sofri, pois talvez tendesse a viver para sempre no ambiente fechado em que até então cresci.
Gostava de morrer como nasci. Rodeada do mesmo cuidado. Do mesmo carinho. Como vivi. Procurando beijar as mãos de que tantas vezes dependi. As mãos, os olhos, a atitude dos que, estando perto, me transmitiam certeza, segurança. Me repetiam e me repetem: é bom que existas; é bom que estejas aqui.
Gostava de morrer quando morrer. Receio dar ordens à morte. E se ela se enganar? E se eu me enganar? E se me faltar tempo? Liberdade? E se cortando assim a relação com os outros, com toda a gente, ainda me faltasse dizer alguma coisa a alguém: um pedido, umas palavras de amor, de perdão…? E se rompendo assim a relação comigo própria, não chegasse a encontrar o sentido de tudo isto, da minha vida e da minha morte?
Gostava de morrer quando morrer. Não quero programar o dia em que hão-de chorar por mim. E se não chorarem? E se chorarem pelo abandono a que os votei, não por mim? E as lágrimas forem de quem se dispunha a cuidar-me, tornando-se mais pessoa, mais capaz de sentir o que a une aos outros?
Agarro com as duas mãos, com senhorio, o meu ser em dor. Peço à minha liberdade que me acompanhe até ao fim. Autodetermino-me a morrer quando a morte vier. Quem disse que a dignidade é incompatível com sofrer?
Não permitirei que ninguém me mate. Não sou verso solto. E não quero que por mim, ou seja por quem for, alguns de entre os melhores comecem a desfazer o tecido social, a quebrar os fios da nossa coesão. A vida não é o valor mais alto da existência pessoal: pode dar-se a vida por uma causa, por alguém. Mas a norma das normas, a que estrutura e suporta o viver comunitário, não deve ser tocada e é esta: «não mates outra pessoa».
Cristina Líbano Monteiro
Professora da Faculdade de Direito de Coimbra

EUTANÁSIA: uma falsa compaixão

      A eutanásia é um termo de origem grega que significa boa morte ou morte sem dor; corresponde ao ato de provocar deliberadamente a morte a um doente incurável para que, através deste falso ato piedoso, se ponha fim ao seu sofrimento.

      Tudo indica que a Assembleia da República se prepara para discutir a legalização da Eutanásia… Mas à semelhança de outros acontecimentos mais ou menos recentes, não podemos esperar, que a discussão seja séria. A legalização da eutanásia conduz a um caminho perigoso, pois, como por vezes já ouvimos, há quem defenda, diante dos custos crescentes da saúde, que a medicina deveria suspender os tratamentos mais onerosos a alguns indivíduos, – por exemplo começando pelos idosos, doentes incuráveis, etc. – concedendo – lhes o “ falso benefício” de uma morte abreviada…

       Não há dúvida de que numa sociedade onde muitas vezes, se atropelam os outros pela ganância e corrupção, tudo pode servir de motivação. E por detrás desta aparente morte misericordiosa, corremos o risco de poderem estar interesses economicistas, pois ao Estado interessa ver-se livre destes encargos de saúde que considera inúteis.

      Outro argumento utilizado para a legalização da eutanásia, que não passa de uma falsidade ridícula, é o de que estas pessoas têm direito a uma morte digna, como se a morte daqueles que decidem de forma corajosa enfrentar os inúmeros sofrimentos e provações que a doença lhes acarreta, fosse uma morte indigna…antes pelo contrário! São heróis e heroínas!

      É bom ter presente que os defensores da eutanásia partem do pressuposto errado que a vida humana não tem sempre o mesmo valor, uma vez que se encontra afetada pelo sofrimento, associado a uma doença incurável que a torna indigna e prescindível…

      É lamentável que esta mesma justificação, tenha sido utilizada pelos nazis já há muitos anos atrás, para aplicarem o seu programa de eugenismo e eutanásia, durante o qual os médicos nazis assassinaram muitos milhares de doentes considerados como “incuráveis”.

     Fica claro que a eutanásia contradiz a própria ética médica, porque se opõe ao grave dever do médico de permanecer ao lado da vida, respeitando-a e procurando preservá-la em todas as situações. A eutanásia é, de verdade, uma compaixão falsificada…. As súplicas dos doentes graves que pedem a morte são, na maioria dos casos, pedidos de ajuda, de afeto, de carinho e de solidariedade. Necessitam do apoio humano e espiritual adequado ao momento de provação. É petição de ajuda para continuar a esperar, quando todas as esperanças humanas se desvanecem, exceto a de que “ a vida humana não se acaba, apenas se transforma “…
      Para um correto juízo moral sobre a eutanásia, é necessário antes de mais, defini-la com clareza. Por eutanásia, em sentido verdadeiro e próprio, deve entender-se como uma ação ou uma omissão que por sua natureza e na intenção causa a morte, com o fim de eliminar qualquer dor…
      S. João Paulo II, diz: “Feitas estas distinções, de acordo com o Magistério dos meus Predecessores, e em comunhão com os Bispos da Igreja Católica, confirmo que a eutanásia é uma grave violação da Lei de Deus, enquanto eliminação deliberada e moralmente inaceitável, de uma pessoa humana”.
      Assim, é por demais evidente, que a eutanásia deve considerar-se como uma falsa piedade, mais ainda, como uma preocupante `perversão` da mesma.  Não resta qualquer dúvida de que a verdadeira, a genuína `compaixão` nos torna solidários com a dor dos demais, e não elimina a pessoa cujo sofrimento é difícil suportar.
       Depois de uma análise clarividente e detalhada, o Papa João Paulo II demonstrou estar esperançado na vitória da “cultura da vida”, sobre a “cultura da morte”. E concluiu: “ Não faltam sinais que já antecipam essa vitória nas nossas sociedades e culturas”…

                                                                                                             Maria Helena Marques

                                                                                                                                                 Prof.ª Ensino Secundário