Neste mundo visivelmente acorrentado à
mesquinhez, escasseia a generosidade e a nobreza de espírito. Assim, ao
tomar-se consciência desta realidade não se pode deixar de reagir positivamente
com magnanimidade e um forte exercício de liberdade.
A
magnanimidade é virtude dos corações magnânimos, que leva a perdoar, desculpar
e compreender. É a tensão do ânimo para as coisas elevadas e belas da vida.
Escreveu Pieper que é magnânimo quem
exige o grande e se dignifica com isso, ainda que o consiga à custa de coisas
pequenas. A magnanimidade apodera-se do impulso da esperança natural e
conforma-o com destreza à realidade do ser humano. A carência de grandeza de
ânimo conduz à acídia, que vem a ser uma espécie de humildade pervertida, como
a mal humorada e triste renúncia ao que é nobre no ser humano.
S. Tomás de Aquino escreve que “o
magnânimo tende para aquilo que é grande” (Suma Teológica 2-2, 129,4) “O magnânimo
é difícil de contentar…Ele vai atrás da perfeição das virtudes”…
A magnanimidade, é a vitória do amor e da
fortaleza sobre a pusilanimidade (alma pequena), a mesquinhez, o conformismo e
o medo.
Aspetos da magnanimidade
Encontramos uma descrição bastante
completa da magnanimidade no livro Amigos de Deus (n.80), de São Josemaria
Escrivá.
Diz: A magnanimidade “é a força que nos
move a sair de nós mesmos, a fim de nos prepararmos para empreender obras
valiosas, em benefício de todos”. A primeira obra valiosa em favor de muitos é
lutarmos para ser santos (vocação de todo o batizado), pois é uma grande
verdade que “essas crises mundiais são crises de santos” (Caminho, n. 301).
Depois, há grandes metas, objetivos,
iniciativas valiosas – familiares, culturais, profissionais, patrióticas,
sociais… –, que é preciso encarar sem se encolher. E não esperar que outros as
realizem e nos sirvam de bandeja tudo feito, para nós colaborarmos.
O poeta António Machado, tinha razão
quando escreveu: “Caminhante, são teus passos/ o caminho e nada mais; /
caminhante, não há caminho, / faz-se caminho ao andar”.
Perante a nossa resistência e o receio de
aspirar a essas metas altas, far-nos-á bem meditar também os versos de Fernando
Pessoa sobre a gesta marítima dos portugueses a caminho da Índia:”Valeu a pena?
Tudo vale a pena / se a alma não é pequena. / Quem quer passar além do Bojador/
tem que passar além da dor”.
O que custa – como já víamos – é superar
o medo do sacrifício e do sofrimento, sem os quais não se faz nada grande.
“O magnânimo dedica sem reservas as suas
forças ao que vale a pena…Não se conforma com dar: dá-se”. Essa é a resposta vigorosa
à tentação do calculismo.
A alma grande é generosa. Por isso,
detesta os vícios dos falsos magnânimos: a petulância, o exibicionismo, a
vaidade, a ambição, a procura de compensações. Dá. Dá-se sem pedir nada em
troca, e pratica o conselho de Jesus: Que a tua mão esquerda não saiba o que
faz a direita (Mt 6,3).
“ Magnanimidade é ânimo grande, alma ampla, onde cabem muitos”. Esta é
uma das mais belas caraterísticas da magnanimidade. No coração do magnânimo não
cabem apenas os familiares, os amigos e os colegas. “Cabem muitos”. Tem uma
visão larga, enxerga longe, vê um campo enorme para fazer o bem, e alguém tem
de fazê-lo. Por isso, sabe trabalhar para o futuro, sem pressa de saborear logo
os resultados…
Procurando entender melhor o que é a
magnanimidade podemos dizer que a magnanimidade regula a mente em relação a
tudo o que é grande e honorável; anima todas as demais virtudes, incitando-as a
orientarem-se preferencialmente para tudo o que sabe a grandeza. Portanto, a
magnanimidade é uma virtude humana que nos conduz a tudo aquilo que significa
autêntica grandeza para as nossas vidas.
Por meio da magnanimidade cultivamos a
atitude acertada perante a grandeza da própria vida, perante as possibilidades
que temos de conquistar grandes ideais. É a virtude que nos impulsiona a
aspirar de modo realista e esforçado às coisas grandes.
Longe de ser uma aspiração vã ou
pretensiosa, é uma aspiração que corresponde à nossa própria identidade, às
nossas capacidades e possibilidades.
A
magnanimidade implica muita humildade, quer dizer, um reto conhecimento e
aceitação de si mesmo. Humildade é andar
na verdade, conhecer-se e aceitar ser o que é: nem mais, nem menos.
Maria Helena Marques
Prof.ª Ensino
Secundário
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