O medo é uma força de motivação condicionante em qualquer situação, em qualquer vida. Tem-se medo dos que são diferentes; do fracasso e da rejeição. Por medo de sofrer, excluímos da vida social todos aqueles que são diferentes de nós desperdiçando a oportunidade de ouvir o apelo do necessitado e de transformar o mundo num lugar melhor…
O medo à Vida
Ao
inaugurar o seu pontificado, o Papa João Paulo II pôs em destaque algo que o
homem moderno traz muito metido no seu pensamento: o medo. “Não
tenhais medo!”, dizia o Papa, dirigindo-se ao mundo inteiro.
Tem-se medo. Mas, tal como noutros
tempos se temia a natureza ou a morte, o que hoje em dia mais atemoriza muitos,
é a vida: a vida em potência, em gérmen (que medo de gerar!), a
vida já concebida (outra gravidez, que horror!), a vida de sofrimento (“
porque é que Deus, sendo tão bom, não evita que haja deficientes, doentes, etc.),
a vida que entra em decadência (os idosos? Que maçada! Para o lar!”).
Esta atitude radica em dois princípios:
a)
A aversão, mais ou menos explícita, a tudo quanto não
seja agradável, prazenteiro, confortável. Consideram-se escandalosos a dor e o
sofrimento. Um sintoma: uma das realidades mais difíceis de fazer compreender
aos adolescentes de hoje é a noção de sacrifício pessoal e luta contra o
egoísmo.
b)
A noção errada que o homem contemporâneo tem de
liberdade. Para muitos, liberdade é sinónimo de satisfação de instintos e
caprichos; de ausência de obstáculos a vencer; de direito a suprimir o que
incomoda. Um médico contava a propósito disto que foi consultado por uma
senhora jovem que lhe pediu que “interrompesse a sua gravidez” (estava
grávida de poucos meses). Quando o médico lhe perguntou a razão de tal pedido,
ela respondeu: “é que vai perturbar o meu veraneio e o do meu marido”.
A combinação destes dois princípios tem
como resultante uma espécie de lei instintiva, inconsciente, não escrita, que
os mais cínicos poderiam enunciar do seguinte modo: Cada um tem direito absoluto
e inviolável à sua própria felicidade individual, segundo o seu ponto de vista,
sem referência a qualquer norma exterior ao indivíduo e com a possibilidade de
eliminar tudo quanto possa ser obstáculo a essa felicidade.
Como consequência de semelhante atitude
em cada indivíduo, a sociedade, formada por tantos egoísmos paralelos, torna-se
cada vez mais permissiva e, ao mesmo tempo, mais conflituosa e violenta. É
inevitável que a felicidade de uma pessoa, assim entendida, tarde ou cedo
choque com a de outros. A tensão subsequente resolver-se-á de modo violento,
sempre à custa dos mais débeis, dos mais desamparados, dos que nem sequer estão
sindicalizados nem têm um grupo de pressão que os defenda: as crianças no
ventre das mães, os deficientes, os inválidos, os idosos... Assim se
desencadeia uma verdadeira “maré negra de morte”, cujos efeitos são
incalculáveis. Como dar conta dos milhões de seres humanos assassinados pelo
aborto?
Há uma lógica espantosa nesta “obra
de morte”, consequência do medo que alguns têm à vida: depois de eliminarem
Deus ou de O porem de parte nas suas vidas, passam ao homem. Não estranha que
esses autores não parem enquanto não o destruírem, sobretudo os seres que Deus
prefere: os desvalidos, os pequenos , os “inúteis”…
O primordial direito dos
direitos humanos, é o direito à vida. Por isso, toda a cooperação na
transmissão e promoção da vida humana, em todos os seus estádios, é uma tarefa
que nobilita o homem.
O medo à vida na legislação civil
positiva
Não deixa de ser surpreendentemente
aberrante que os mesmos grupos de pressão que organizam campanhas contra a pena
de morte e as guerras, se pronunciem depois a favor do aborto e da eutanásia!
Onde estamos e para onde nos dirigimos?!
O dever da lei positiva é colaborar na
reforma da sociedade, melhorando as condições de vida de todos, começando pelos
mais necessitados. E garantir que sempre e em toda a parte se acolha digna e
favoravelmente uma nova vida. Que se ajudem as famílias e cada mãe – qualquer
que seja o seu estado – a trazer ao mundo os seus filhos já concebidos e a
educá-los. “ A família ocupa o próprio centro do bem comum nas suas
várias dimensões, precisamente porque nela é concebido e nasce o homem. É
necessário fazer o possível para que, desde o primeiro momento da sua conceção
até ao derradeiro momento da sua morte natural, este ser humano seja querido,
esperado, vivido como valor particular e irrepetível. Deve sentir-se
importante, útil, amado, valorizado; inclusive, se está inválido, doente em
fase terminal ou é deficiente; mais amado ainda precisamente por isso...” (S.
João Paulo II)
Maria
Helena Marques
Prof.ª
Ensino Secundário
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