terça-feira, 7 de março de 2017

A força do medo

      O medo é uma força de motivação condicionante em qualquer situação, em qualquer vida. Tem-se medo dos que são diferentes; do fracasso e da rejeição. Por medo de sofrer, excluímos da vida social todos aqueles que são diferentes de nós desperdiçando a oportunidade de ouvir o apelo do necessitado e de transformar o mundo num lugar melhor…

      O medo à Vida
      Ao inaugurar o seu pontificado, o Papa João Paulo II pôs em destaque algo que o homem moderno traz muito metido no seu pensamento: o medo. “Não tenhais medo!”, dizia o Papa, dirigindo-se ao mundo inteiro.
       Tem-se medo. Mas, tal como noutros tempos se temia a natureza ou a morte, o que hoje em dia mais atemoriza muitos, é a vida: a vida em potência, em gérmen (que medo de gerar!), a vida já concebida (outra gravidez, que horror!), a vida de sofrimento (“ porque é que Deus, sendo tão bom, não evita que haja deficientes, doentes, etc.), a vida que entra em decadência (os idosos? Que maçada! Para o lar!”).
       Esta atitude radica em dois princípios:
a)      A aversão, mais ou menos explícita, a tudo quanto não seja agradável, prazenteiro, confortável. Consideram-se escandalosos a dor e o sofrimento. Um sintoma: uma das realidades mais difíceis de fazer compreender aos adolescentes de hoje é a noção de sacrifício pessoal e luta contra o egoísmo.
b)      A noção errada que o homem contemporâneo tem de liberdade. Para muitos, liberdade é sinónimo de satisfação de instintos e caprichos; de ausência de obstáculos a vencer; de direito a suprimir o que incomoda. Um médico contava a propósito disto que foi consultado por uma senhora jovem que lhe pediu que “interrompesse a sua gravidez” (estava grávida de poucos meses). Quando o médico lhe perguntou a razão de tal pedido, ela respondeu: “é que vai perturbar o meu veraneio e o do meu marido”.
      A combinação destes dois princípios tem como resultante uma espécie de lei instintiva, inconsciente, não escrita, que os mais cínicos poderiam enunciar do seguinte modo: Cada um tem direito absoluto e inviolável à sua própria felicidade individual, segundo o seu ponto de vista, sem referência a qualquer norma exterior ao indivíduo e com a possibilidade de eliminar tudo quanto possa ser obstáculo a essa felicidade.
      Como consequência de semelhante atitude em cada indivíduo, a sociedade, formada por tantos egoísmos paralelos, torna-se cada vez mais permissiva e, ao mesmo tempo, mais conflituosa e violenta. É inevitável que a felicidade de uma pessoa, assim entendida, tarde ou cedo choque com a de outros. A tensão subsequente resolver-se-á de modo violento, sempre à custa dos mais débeis, dos mais desamparados, dos que nem sequer estão sindicalizados nem têm um grupo de pressão que os defenda: as crianças no ventre das mães, os deficientes, os inválidos, os idosos... Assim se desencadeia uma verdadeira “maré negra de morte”, cujos efeitos são incalculáveis. Como dar conta dos milhões de seres humanos assassinados pelo aborto?
      Há uma lógica espantosa nesta “obra de morte”, consequência do medo que alguns têm à vida: depois de eliminarem Deus ou de O porem de parte nas suas vidas, passam ao homem. Não estranha que esses autores não parem enquanto não o destruírem, sobretudo os seres que Deus prefere: os desvalidos, os pequenos , os “inúteis”…
      O primordial direito dos direitos humanos, é o direito à vida. Por isso, toda a cooperação na transmissão e promoção da vida humana, em todos os seus estádios, é uma tarefa que nobilita o homem.

      O medo à vida na legislação civil positiva
      Não deixa de ser surpreendentemente aberrante que os mesmos grupos de pressão que organizam campanhas contra a pena de morte e as guerras, se pronunciem depois a favor do aborto e da eutanásia!
      Onde estamos e para onde nos dirigimos?!
      O dever da lei positiva é colaborar na reforma da sociedade, melhorando as condições de vida de todos, começando pelos mais necessitados. E garantir que sempre e em toda a parte se acolha digna e favoravelmente uma nova vida. Que se ajudem as famílias e cada mãe – qualquer que seja o seu estado – a trazer ao mundo os seus filhos já concebidos e a educá-los. “ A família ocupa o próprio centro do bem comum nas suas várias dimensões, precisamente porque nela é concebido e nasce o homem. É necessário fazer o possível para que, desde o primeiro momento da sua conceção até ao derradeiro momento da sua morte natural, este ser humano seja querido, esperado, vivido como valor particular e irrepetível. Deve sentir-se importante, útil, amado, valorizado; inclusive, se está inválido, doente em fase terminal ou é deficiente; mais amado ainda precisamente por isso...” (S. João Paulo II)

                                                                                                                                   Maria Helena Marques

                                                                                                                                   Prof.ª Ensino Secundário

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