domingo, 9 de setembro de 2007

“Reabilitar a Paternidade” II



  • Produto do divórcio

Nos Estados Unidos, a crise da paternidade é especialmente grave entre a população negra, que regista um índice de nascimentos extra-matrimoniais muito alto: 68%. Blankenhorn não acredita que seja uma coincidência que os jovens do sexo masculino negros apresentem as maiores taxas de delinquência, população presidiária e morte violenta de todo o país. Mas, quase três anos depois de publicar o seu livro, sublinhou que o problema não é apenas da população negra, mas sim da sociedade em geral: a taxa de nascimentos fora do matrimónio cresce mais rapidamente entre as mulheres brancas e, destas, especialmente nas maiores de 30 anos com mais instrução.


Blankenhorn, no fundo, não duvida de qual seja a causa: “O individualismo é o único e verdadeiro responsável desta situação”, declarava numa entrevista à revista canadiana L´Actualité (15-X-97). “O culto do ´eu primeiro`, em virtude do qual cada um dá prioridade às suas necessidades individuais, entranha a rejeição das responsabilidades e compromissos inerentes ao matrimónio e à família”.


Se o individualismo é um problema cultural, que afecta a todos, porquê golpear mais a paternidade do que a maternidade? Blankenhorn pensa que se deve ao facto do elemento masculino ter de aprender a função paterna quase por completo, ao contrário da mãe, que tem uma especial proximidade biológica e afectiva com os filhos.
  • Pôr travões ao divórcio fácil
Para Blankenhorn, o divórcio impede ou interrompe essa aprendizagem masculina, em prejuízo dos filhos. E, contrariamente ao que alguns acreditam, diz que um segundo casamento não costuma solucionar o problema.


Ainda que com uma nova união, as crianças possam recuperar os recursos económicos perdidos, a sua situação psicológica é mais difícil, porque têm que dividir lealdade entre dois pais. A presença do padrasto em casa confirma como impossível o regresso do pai.


“É verdade que há padrastos extraordinários que relevam os pais degenerados – comenta Blankenhorn na citada entrevista -. Mas numa sociedade onde quase uma de duas crianças vive sem pai, como encontrar um padrasto extraordinário para cada uma? Voltar a casar-se constitui uma segunda oportunidade para os pais, mas não para os filhos”.


Para travar a proliferação de meninos sem pai, Blankenhorn propõe não dar tantas facilidades para divorciar-se. Concretamente, considera imprescindível recuperar a noção de “culpa” nos processos de divórcio. Não lhe parece adequado que em quarenta Estados de EE.UU. seja possível obter o divórcio com a simples petição de uma parte, sem alegar culpa do outro cônjuge.


Nisto coincide com uma tendência que começa a estender-se no seu país: alguns Estados preparam leis para dificultar o divórcio quando há filhos pelo meio; em Luisiana foi aprovado um tipo de contrato matrimonial opcional que restringe os casos em que o casal pode separar-se.

  • Os pais de fim-de-semana

Como, geralmente, em três de cada quatro divórcios se concede a guarda dos filhos à mãe, muitos homens divorciados exercem a sua paternidade apenas nas férias ou nos fins-de-semana. Uma sondagem realizada no ano anterior em Quebec revela certa perplexidade na opinião pública acerca desta situação. 71% dos inquiridos considera que o pai ausente do lar pode ser um verdadeiro pai; por sua vez, praticamente a mesma percentagem afirmava que, sem o pai em casa, o menino terá mais problemas na sua vida.


Nessa mesma sondagem, os quebequenses assinalaram algumas causas da ausência do pai na família: “o divórcio é demasiado fácil” (67%), a “irresponsabilidade dos varões” (67%) e “a falta de apoio da sociedade às famílias jovens (59%) foram as mais repetidas.

À volta de 55% dos entrevistados estão a favor de que as leis do divórcio sejam mais restritas, e 60% são geralmente partidários de que o Estado favoreça a unidade familiar.
  • O Estado, pai substituto
Se faltam pais após o divórcio, muitos outros acabam por faltar porque não chegou a haver matrimónio. Em Quebec o índice de uniões de facto é o mais elevado do continente americano: só um terço dos casais está casado.

Metade das crianças nascidas em 1975 assistiu à separação dos seus pais; uma quarta parte dos menores de 18 anos não vive com os dois pais; dos menores de 10 a 14 anos, 17% vivem numa família monoparental e 11%, numa família reconstruída depois de um divórcio.


Na única pesquisa sobre a figura do pai realizada até agora nesta província canadiense, a directora, Nathalie Dyke, encontra diferenças significativas entre os casais de origem francófona e os casais de origem haitiana ou vietnamita.


Dyke surpreende-se de que “entre os quebequenses de raíz, não haja ética, nem regras morais; vivem apenas como casal com o objectivo de se realizar”. Contrariamente, os pais vietnamitas ou haitianos vêem na família uma certa obrigação social e têm vontade de perpetuar a sua cultura.

Por seu lado, o sociólogo Germain Dulac, da Universidade McGill (Canadá), fala não de moral, mas de dinheiro. Diz que o Estado reconhece que os subsídios às famílias mono-parentais estão a tornar-se uma carga pesada e por isso está interessado que os pais se responsabilizem pela subsistência dos filhos.

Aceprensa 107/98



Tradução e adaptação: Maria Helena H. Marques
Professora do Ensino Secundário

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