sexta-feira, 16 de novembro de 2007

A construção da disciplina interactiva na Escola



A sociedade tem vindo a transformar-se rapidamente nas últimas décadas, o que justifica que os modelos educativos ocidentais também tenham mudado.
Especialmente a partir de Maio de 68, passámos a assistir à imposição de uma concepção utópica e idealista, que considerava importantes as possibilidades dos alunos e desvalorizava os conflitos educativos.

Os métodos da educação tradicional passaram a ser substituídos por uma obsessiva democratização da escola a par de alterações funestas da pedagogia. Deste modo, na maior parte dos países que se deixaram arrastar por esta tendência, verificamos que o fracasso escolar e a deterioração do ambiente educativo estão na ordem do dia.

A família e a escola mudaram muito. Antes a família era cúmplice da escola. Actualmente, de um modo geral, muitos pais delegam na escola as suas próprias responsabilidades, demitindo-se completamente da sua autoridade e da missão de primordiais educadores dos seus filhos. Por um lado, os pais não se atrevem a educar os seus filhos e, por outro, a sociedade fomenta, especialmente, através dos meios de comunicação social, um amor-próprio descabido que deriva em cómoda autocompaixão e desleixo.
À Escola pede-se ou exige-se resultados!...

Mas a vida, a experiência têm-nos demonstrado as vantagens pedagógicas de uma educação baseada na segurança, na clareza, na autoridade e na disciplina. Sempre que na vida prática se reconhecem estes valores, ficam a ganhar, de modo especial, os alunos, que acabam por ver como se expandem as suas possibilidades humanas, sociais e intelectuais.

No entanto, tem faltado coragem para admitir e reconhecer que a exigência pode fortalecer e
que a super-protecção pode debilitar...
São as próprias crianças e os jovens que, normalmente, aceitam e valorizam muito mais do que parece, esta pedagogia, que não é, de forma nenhuma, sinónimo de desumanização, bem pelo contrário...

Por outro lado, a insegurança dos protagonistas da educação – pais e professores – contagia os alunos, que não vêem convicções sólidas em quem deveria motivá-los e educá-los!

Assim, não podemos perder de vista que a escola tem actualmente uma responsabilidade acrescida e uma importância fundamental na socialização das crianças e adolescentes que procedem, sobretudo, de famílias com um único filho (e que, por isso, podem ser hiper-protegidos), ou de famílias desestruturadas, que não recebem nenhum tipo de educação familiar.
Por tudo isto, os professores são unânimes em reconhecer que a função docente não pode reduzir-se apenas a garantir a ordem e a organização.
Se não impera um clima de autoridade, de trabalho e de disciplina – compatível com o oportuno sentido do humor, a amizade e a alegria – a educação estará a desvalorizar um dos seus mais importantes recursos.

É imperioso resgatar os valores do passado e estar abertos aos novos valores emergentes, em função das necessidades provocadas pelas contradições sociais, políticas, económicas e culturais, num processo de continuidade-ruptura, numa perspectiva dialéctica, visando o ideal:
  • uma disciplina consciente e interactiva;
  • uma disciplina construtiva marcada pela participação, respeito, responsabilidade na edificação do conhecimento, formação do carácter e da cidadania.

Maria Helena Henriques Marques
Professora do Ensino Secundário

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