domingo, 9 de setembro de 2007

“Reabilitar a Paternidade” III



Referência masculina


A atenção para com a paternidade estendeu-se também pela Europa. Em finais de Maio, na véspera de uma conferência sobre a família, publicou-se em França uma informação sobre “A vida diária das famílias” que põe em relevo o interesse pela reabilitação da figura do pai neste país. Afirma-se ali que “é necessário ajudar os progenitores, particularmente o pai, a assegurar a sua função paterna e a autoridade que lhes corresponde”.

A informação, dirigida pela ex – secretária de Estado Michèle André, contém sugestões sobre a paternidade, a vida profissional, a atenção das crianças, a morada... Mas também apresenta ideias mais gerais que Stéphane Durand-Souffland interpreta como uma maneira de reinventar a família clássica.
“Demasiadas crianças não têm um referente masculino positivo, demasiados pais delegam e deixam fazer as mães. Agora, os homens devem recuperar o seu posto”, adverte a informação de Michèle André.

A ausência do pai nota-se mais entre os meninos do que entre as meninas. “É imprescindível consolidar, para os meninos, a filiação: há demasiadas crianças que perdem o contacto com o seu pai, particularmente porque, quase sempre, a custódia –em caso de divórcio- se confia à mãe. Em 80% dos casos, as crianças de cuja custódia se encarrega a mãe, já não vêem os seus pais”.

Como evitar a ausência do pai de família? Evelyne Sullerot propõe, em primeiro lugar e para os casos de divórcio, que se reja a lei de maneira que a guarda dos filhos seja conjunta. Sugere também que nenhuma mãe possa registar o nascimento de um filho sem dar a identidade do pai.
E, no caso de nascimentos extra-matrimoniais (600 000 por ano), que a autoridade sobre os filhos seja compartilhada pelo pai e pela mãe. Na actualidade, a mãe tem a pátria potestade, enquanto que o pai, inclusivamente quando paga uma pensão, não tem autoridade legal sobre os filhos.
  • Recuperar a identidade do varão
Ainda na hipótese de baixarem os índices de divórcios, não se teria ganho, todavia, a batalha da paternidade. O que é que acontece aos pais que se conformam com uma ideia pobre da sua função familiar? Isso é o que aborda, com um enfoque antropológico, a quinta informação Cisf sobre a família em Itália, dirigido por Pierpaolo Donati. A questão é a diferença de género e de papéis masculino e feminino na família e sociedade.

A tese da informação é que as mulheres actualmente compartilham um modelo bem definido e firme, ainda que tenham de superar algumas barreiras sociais.
Ao contrário, o homem perdeu parte da sua identidade e está a conformar-se com uma imagem mais ou menos caricatural da paternidade: “Os pais teorizam muito sobre a sua figura e função, mas na prática estão ausentes todo o dia pelo trabalho e/ou as ocupações extra-profissionais”.
Então, o pai faz de mãe e deixa que a mãe faça de pai. A mãe suporta toda a parte dura, árdua, do papel familiar; o pai toma a parte suave, agradável, divertida. Estes pais, tão simpáticos com os seus filhos, não o são tanto com as suas mulheres, às que deixam a responsabilidade educativa”.

Assim, “muitos pais consideram a sua missão como a antítese da que corresponde à mulher, isto é, pensam numa função equilibradora, não propriamente educativa. Apontam-se ao mais cómodo: o pai é bom, a mãe é `má `; ela resmunga e grita, ele deixa fazer”. E este pai proclamará logo: “Eu descontraio os meus filhos, depois de terem passado o dia inteiro com a sua mãe”.

Para recuperar essa identidade masculina, a proposta da informação italiana consiste em repensar o género desde uma perspectiva relacional: isto é, não um a partir do outro, mas sim ambos na óptica do seu ser em relação de um com o outro.

Trata-se de redescobrir o que significa ser homem e ser mulher, fugindo de estereótipos culturais, mas sem cair no igualitarismo superficial que pensa superar as diferenças simplesmente por não tê-las em conta.
Pois a dialéctica entre os sexos difundida pelo feminismo radical e o igualitarismo simplista acabaram por diluir a figura paterna que agora a sociedade desvaloriza.



Aceprensa 107/98




Tradução e adaptação: Maria Helena H. Marques
Professora do Ensino Secundário

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