Em
crianças aprendemos que a beleza é fundamental. Temos de tomar banho, escovar
os dentes, pentear os cabelos, etc., para ficarmos “bonitinhos”, dizia a nossa
Mãe, a Tia, ou os Amigos. Isto porque no mundo ocidental, o conceito de beleza
esteve sempre ligado ao conceito de qualidade. Tudo o que é belo é bom...
Foram feitas
várias pesquisas e sempre ficou cabalmente demonstrado que os belos e as belas
têm mais oportunidades de sucesso. Uma dessas pesquisas revelou, por exemplo,
que os bebés olham mais tempo para as pessoas bonitas! Entre as raparigas e os
rapazes, os sorrisos e os gestos de simpatia são sempre, mais ou menos, diretamente
proporcionais à maior ou menor beleza irradiada, pelo sujeito contemplado...
No mundo do
trabalho profissional também não é diferente. São factores importantes de
selecção e ascensão na carreira, além dos específicos, a demonstração de que
nos conduzimos segundo os conceitos – padrão, atuais de beleza. Precisamos de
ser vistos pelos outros como estando na média das médias e, por isso, não
podemos destoar...
A psicóloga Nancy Edok, no seu trabalho
sobre o belo, lembra que, actualmente, o padrão de beleza física é multirracial.
Por outro lado acrescenta que, apesar da multiplicidade de recursos disponíveis
para conseguir a excelência da forma física, ela se revela insuficiente. As
pesquisas mais recentes e mais profundas mostram que a tendência é procurar no
semelhante inteligência, generosidade, fidelidade e optimismo, sublinhando que
a beleza física da pessoa, a aparência, não é tudo mas sobretudo, deverá ser
valorizada como ser humano.
Conta-se numa
determinada obra literária que a protagonista, Marieta, pergunta ao cego a quem
serve de guia se ele sabe distinguir o dia da noite. O cego responde: “É dia, quando
nós estamos juntos; é noite, quando nos separamos”...
Marieta, é uma
jovem deformada por um acidente sofrido quando era criança. Apenas o seu amigo
cego podia ver a beleza do seu interior, sem se limitar à superficialidade do
seu corpo deformado. A cegueira dos olhos físicos era o princípio da luz dos
seus olhos interiores para ver os outros. Não julgava pela impressão sensível.
Julgava pela beleza segundo a estatura moral da pessoa...
Uma
interessante forma de apreciar o mundo! Uma lição serena para esta sociedade
ocidental tão angustiada pelo cuidado estético e, paradoxalmente, tão
superficial no cultivo da interioridade...
Reconhecemos
que é difícil esquecer a aparência. Inquietam-nos os primeiros cabelos brancos,
as rugas, etc., porque, no fundo também nós identificamos juventude e beleza,
porque a nossa bandeira estética também se reduz, de algum modo, à margem do
superficial e sensível. Onde está a luz do dia interior de que fala o cego? Por
que não a vemos? Não será porque esta luz deve ser procurada com olhos interiores,
em silêncio e na quietude que permite ver o invisível, que é realmente
valioso?
É necessário
saber olhar bem: O rosto de uma pessoa que foi marcado por numerosas tormentas
da vida pode ser belo. Seja qual for a sua idade, a beleza de uma mulher que
resistiu às dificuldades, brilha com um esplendor que se destaca. Porque o
decorrer silencioso dos anos engrandece aquela que viveu em ordem ao “dar-se” e
não ao “ procurar-se”...
É por tudo
isto, que muitas vezes temos deparado com rostos atractivos de mulheres anciãs
que irradiam algo que não se “vende” no século XXI: uma beleza pacífica,
serena. Uma beleza que cresce, porque o tempo aquilata e purifica o que nos faz
grandes: a capacidade de amar que possui o ser humano.
E o amor não é
uma maquilhagem que se tira de noite; é antes uma marca indelével que não se
apaga com o tempo. Essa marca, a beleza interior, é uma moda que não passa!
Maria Helena H. Marques
Professora do Ensino
Secundário
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