Francis
Collins converteu-se à Fé depois de ter-se considerado ateu durante a sua juventude:
“Eu tinha 27 anos, mas não passava de um jovem insolente. Negava a
possibilidade de que houvesse algo capaz de explicar as questões para as quais
nunca encontramos respostas, mas que movem o mundo e fazem com que as pessoas
superem os obstáculos”. São “questões filosóficas que transcendem a ciência e
fazem parte da existência humana”. Por isso, acrescenta Collins, “os cientistas
que se dizem ateus têm uma visão empobrecida acerca das questões que todos os seres
humanos nos apresentamos todos os dias”.
Collins
adverte que é perigoso opor a ciência à fé. “Necessitamos da ciência para
compreender o mundo e usar esse conhecimento para melhorar as condições
humanas. Mas a ciência deve permanecer em silêncio acerca dos assuntos
espirituais”.
“A sociedade
necessita tanto da religião como da ciência. Não são incompatíveis, mas sim
complementares. A ciência investiga o mundo natural. Deus pertence a outra
esfera. Deus está fora do mundo natural. Usar as ferramentas da ciência para
discutir a religião é uma atitude imprópria e equivocada”.
A
entrevistadora objecta que, em nome de Deus, se têm cometido barbaridades ao
longo da história. Para Collins, “o problema é que a água pura da fé religiosa circula
pelas veias defeituosas e oxidadas dos seres humanos e, por vezes, enturva-se.
Isso não significa que os princípios estejam equivocados, ainda que haja
pessoas que usam esses princípios de forma inadequada para justificar as suas
acções. A religião é um veículo para a fé, que é, sim, imprescindível para a
humanidade”.
Collins não é
partidário da teoria do “desenho inteligente” que, segundo ele, cai no erro de
preencher as lacunas do conhecimento científico com a intervenção divina, ao
argumentar que a evolução não explica estruturas tão complicadas como as
células. “Todos os sistemas complexos que cita o desenho inteligente (o mais
citado é o flagelo bacteriano, um pequeno motor externo que permite à bactéria
mover-se em meio líquido) são um conjunto de trinta proteínas. Podemos juntar
artificialmente essas trinta proteínas, mas não acontecerá nada. A razão é que
esses mecanismos se formaram gradualmente mediante a adição de outros componentes.
A maquinaria molecular desenvolveu-se no decorrer de largos períodos de tempo,
mediante o processo que vislumbrou Darwin: a evolução”.
Deus actua
O que
foi dito atrás não supõe a negação de que Deus actue no mundo, inclusivamente
de modo sobrenatural. Não é contraditório para um cientista acreditar em
milagres, contesta Collins a outra pergunta. “A questão dos milagres está
relacionada com a forma como acreditamos em Deus. Se uma pessoa acredita e
reconhece que Ele estabeleceu as leis da natureza e está, ao menos em parte,
fora da natureza criada, então é totalmente aceitável que Deus seja capaz de
intervir no mundo natural.
Por
outro lado, Collins não encontra incompatibilidade entre a evolução e a
criação. “Se no início dos tempos Deus decidiu usar o mecanismo da evolução para
criar a diversidade de vida que existe no planeta, para fazer criaturas à sua
imagem que tenham livre arbítrio, alma e a capacidade de discernir entre o bem
e o mal, quem somos nós para dizer que Ele não deveria ter criado o mundo dessa
forma?”. O que Collins não compartilha é a ideia de que a evolução explica
tudo, inclusive o altruísmo e outras propriedades da livre conduta humana.
“Esses argumentos podem parecer plausíveis, mas não há provas de que o
altruísmo seja uma característica do ser humano que lhe permita sobreviver e
progredir, como sugerem os evolucionistas que querem justificar tudo por meio
da ciência”.
No estudo das
bases genéticas da conduta “há muitas teorias interessantes, mas não chegam a
explicar os nobres atos altruístas que admiramos. Por que motivo acontecem este
tipo de coisas? Se caminhando à beira de um rio, vejo uma pessoa que se vai
afogar e decido ajudá-la, ponho em risco a minha vida, mas de onde vem este
impulso? Nada na teoria da evolução pode explicar a noção de bom e mau, a
moral, que parece exclusiva da espécie humana”. Aceprensa, 14-02-2007.
Tradução de Maria Helena H.
Marques
Professora do Ensino
Secundário
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