domingo, 15 de julho de 2012

A Ciência não exclui Deus

      Francis Collins, médico e genetista, é autor do livro “The Language of God”. Numa entrevista de Gabriela Carelli para a revista brasileira “Veja” fala de ciência e fé.

      Francis Collins converteu-se à Fé depois de ter-se considerado ateu durante a sua juventude: “Eu tinha 27 anos, mas não passava de um jovem insolente. Negava a possibilidade de que houvesse algo capaz de explicar as questões para as quais nunca encontramos respostas, mas que movem o mundo e fazem com que as pessoas superem os obstáculos”. São “questões filosóficas que transcendem a ciência e fazem parte da existência humana”. Por isso, acrescenta Collins, “os cientistas que se dizem ateus têm uma visão empobrecida acerca das questões que todos os seres humanos nos apresentamos todos os dias”.
      Collins adverte que é perigoso opor a ciência à fé. “Necessitamos da ciência para compreender o mundo e usar esse conhecimento para melhorar as condições humanas. Mas a ciência deve permanecer em silêncio acerca dos assuntos espirituais”.
      “A sociedade necessita tanto da religião como da ciência. Não são incompatíveis, mas sim complementares. A ciência investiga o mundo natural. Deus pertence a outra esfera. Deus está fora do mundo natural. Usar as ferramentas da ciência para discutir a religião é uma atitude imprópria e equivocada”.
      A entrevistadora objecta que, em nome de Deus, se têm cometido barbaridades ao longo da história. Para Collins, “o problema é que a água pura da fé religiosa circula pelas veias defeituosas e oxidadas dos seres humanos e, por vezes, enturva-se. Isso não significa que os princípios estejam equivocados, ainda que haja pessoas que usam esses princípios de forma inadequada para justificar as suas acções. A religião é um veículo para a fé, que é, sim, imprescindível para a humanidade”.
      Collins não é partidário da teoria do “desenho inteligente” que, segundo ele, cai no erro de preencher as lacunas do conhecimento científico com a intervenção divina, ao argumentar que a evolução não explica estruturas tão complicadas como as células. “Todos os sistemas complexos que cita o desenho inteligente (o mais citado é o flagelo bacteriano, um pequeno motor externo que permite à bactéria mover-se em meio líquido) são um conjunto de trinta proteínas. Podemos juntar artificialmente essas trinta proteínas, mas não acontecerá nada. A razão é que esses mecanismos se formaram gradualmente mediante a adição de outros componentes. A maquinaria molecular desenvolveu-se no decorrer de largos períodos de tempo, mediante o processo que vislumbrou Darwin: a evolução”.
       Deus actua
      O que foi dito atrás não supõe a negação de que Deus actue no mundo, inclusivamente de modo sobrenatural. Não é contraditório para um cientista acreditar em milagres, contesta Collins a outra pergunta. “A questão dos milagres está relacionada com a forma como acreditamos em Deus. Se uma pessoa acredita e reconhece que Ele estabeleceu as leis da natureza e está, ao menos em parte, fora da natureza criada, então é totalmente aceitável que Deus seja capaz de intervir no mundo natural.
      Por outro lado, Collins não encontra incompatibilidade entre a evolução e a criação. “Se no início dos tempos Deus decidiu usar o mecanismo da evolução para criar a diversidade de vida que existe no planeta, para fazer criaturas à sua imagem que tenham livre arbítrio, alma e a capacidade de discernir entre o bem e o mal, quem somos nós para dizer que Ele não deveria ter criado o mundo dessa forma?”. O que Collins não compartilha é a ideia de que a evolução explica tudo, inclusive o altruísmo e outras propriedades da livre conduta humana. “Esses argumentos podem parecer plausíveis, mas não há provas de que o altruísmo seja uma característica do ser humano que lhe permita sobreviver e progredir, como sugerem os evolucionistas que querem justificar tudo por meio da ciência”.
       No estudo das bases genéticas da conduta “há muitas teorias interessantes, mas não chegam a explicar os nobres atos altruístas que admiramos. Por que motivo acontecem este tipo de coisas? Se caminhando à beira de um rio, vejo uma pessoa que se vai afogar e decido ajudá-la, ponho em risco a minha vida, mas de onde vem este impulso? Nada na teoria da evolução pode explicar a noção de bom e mau, a moral, que parece exclusiva da espécie humana”. Aceprensa, 14-02-2007.



Tradução de Maria Helena H. Marques

Professora do Ensino Secundário

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