Numa perspectiva geral, reconhecemos que
a educação é uma combinação de aprendizagem e aperfeiçoamento.
Há várias décadas atrás a educação, dita
informal, era a principal responsável pelo desenvolvimento humano e moral das
pessoas como preparação básica para a vida em sociedade.
O ritmo de vida de então, mais calmo e
lento, possibilitava um maior contato das crianças e jovens com os seus pais e
avós, que tinham como objetivo fundamental a sua formação, transmitindo-lhes
princípios e valores, costumes e tradições da família.
No mundo atual, a realidade é bem
diferente. O estilo de vida orientado por uma visão capitalista e globalizada,
dificulta o convívio normal das famílias, nas quais a grande parte dos adultos
passa muito tempo fora de casa, num movimento incessante entre trabalho e/ou
estudo formal. Atitudes cada vez mais valorizadas pela rápida difusão dos
conhecimentos científicos e técnicos.
Deste modo, a entrada das crianças nas
escolas acontece cada vez mais cedo, o que determina que convivam mais no
ambiente escolar do que com os pais e parentes, normalmente ocupados com
obrigações extra familiares.
Esta realidade está envolta em enormes
sacrifícios, na medida em que se considera indispensável a boa formação
escolar geradora de oportunidades para a conquista de novos relacionamentos,
de melhores postos de trabalho, de uma remuneração mais digna e,
consequentemente, de projeção social.
É nesta perspetiva de consecução de
satisfação pessoal e social que se encara o direito à educação tanto na família
como na escola, direito fundamental da pessoa humana.
Por tudo isso, a possibilidade
educacional não pode estar vinculada apenas ao nível socioeconómico de alunos e
professores, mas antes que outros factores devem ser tidos em consideração: os
valores dominantes na sociedade, costumes, tradições, a própria religião como
elementos a serem usados de forma direta ou indireta na educação de qualquer
nível, constituindo um conjunto, isto é, um sistema educacional homogéneo. Um
sistema educacional capaz de ultrapassar as barreiras socioeconómicas da
aprendizagem e da educação, utilizando adequadamente os meios necessários,
imprescindíveis, como um mínimo de verbas específicas para investimentos
estruturais e para capacitação técnica e científica dos professores…
Outra exigência para a melhoria da
educação, consiste em criar condições de oportunidades para todos, sem
distinção. Não adianta nada dizer que todos têm direito de ir à escola se não
se lhes proporcionam possibilidades de concretização desse direito.
Também não são suficientes programas de
inclusão social para resolver os problemas tão diversos com que deparam os
profissionais da educação. O professor vê-se continuamente envolvido em
situações simultâneas de gerir e evitar conflitos de classes, discriminações e
preconceitos, enquanto não pode descurar as suas ações primordiais que visam o
aproveitamento do máximo tempo para o ensino e aprendizagem dos seus alunos.
Assim sendo, como remover
verdadeiramente, a barreira socioeconómica do ensino e aprendizagem?
Uma publicação especializada em temas
educativos – o periódico “Magistério” – recolhe uma informação recentemente
elaborada pela OCDE, em que se destaca que o tempo dedicado a cada disciplina
na escola, quer seja estudo pessoal ou de turma, é um elemento determinante.
Não pretende ser uma receita infalível, mas antes um confronto entre algumas
ideias chave das grandes teorias educativas e as simples aplicações práticas
que melhoram, efetivamente, a educação.
A informação “Against the Odds”, baseada
nos resultados das últimas edições da prova PISA, destaca que uma importante
percentagem de alunos de ambientes socioeconómicos baixos, obtém bons
resultados, com o que se matiza a importância deste fator. Concretamente, uma
média de quase 31% dos alunos desfavorecidos do âmbito da OCDE, situa-se pelo
menos no quarto nível mais alto dos resultados no exame. São os que o informe denomina
“resilient students”: estudantes com a fortaleza suficiente para superar uma
situação desfavorável.
A percentagem aumenta até 56% no caso da
Coreia ou 45,6% no da Finlândia. A Espanha situa-se acima da média com
36,16%.
De acordo com a investigação da OCDE a
receita em quase todos os casos, é muito parecida: mais tempo na aula e mais
tempo de estudo.
No que se refere ao tempo na aula, a
informação recomenda que se ponham em ação “diferentes formas de assegurar que
os alunos desfavorecidos passem tempo suficiente estudando na aula por exemplo,
através de aulas obrigatórias”. Recolhe o caso dos Estados Unidos, onde a
obrigatoriedade das aulas de ciências, supôs um incremento geral de 15 pontos
percentuais, nesta parte da prova PISA. Entre os mais desfavorecidos, o aumento
é de quase 40 pontos.
Os “resilient students” estudam mais, mas
também estão mais motivados e confiam nas suas capacidades. Por isso, a OCDE
propugna métodos de ensino “que fomentem a motivação e a autoconfiança dos
alunos”, a auto-estima.
Uma terminologia psicologicista que
muitas vezes desvanece ou substitui a reconhecida e tão bem conceituada,
educação do caráter.
Maria Helena Henriques Marques
Professora do Ensino Secundário
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