Este tempo litúrgico, como tempo de
preparação que é, é tempo de escuta da palavra de Deus, de conversão pessoal,
de recordação do nosso Batismo, de reconciliação com Deus e com todos os nossos
irmãos, recorrendo com mais frequência às “armas da penitência cristã”: a
oração, o jejum e a esmola (cf. Mt 6,1-6. 16-18).
Embora seja um tempo penitencial, a
Quaresma não é um tempo triste e depressivo. É ocasião de sermos mais dóceis à
graça de Deus para derrotarmos `o homem velho` que atua em nós; ocasião de
renunciarmos ao pecado que habita nos nossos corações e de nos afastarmos de
tudo o que nos separa da vontade de Deus e, por conseguinte, da nossa
verdadeira felicidade.
A sua duração inspira-se na simbologia
do número quarenta na tradição da Sagrada Escritura: quarenta foram os dias que
durou o dilúvio, quarenta foram os anos que o povo hebreu passou no deserto;
quarenta dias que Moisés e Elias passaram nas montanhas. Há ainda muitas outras
passagens da Bíblia em que aparece o número quarenta, e todas estão sempre
associadas á ideia de tempo de penitência. Durante a Quaresma, a Igreja “quer
convidar-nos, sobretudo, a reviver com Jesus os quarenta dias que passou no
deserto, rezando e jejuando, antes de empreender a sua missão pública” (Papa
Bento XVI).
Como viver a Quaresma
Durante este tempo especial de purificação, a Igreja propõe-nos uma
série de meios concretos que nos ajudam a viver a dinâmica quaresmal e que já
mencionámos atrás: a oração, o jejum e a esmola.
Em primeiro lugar, a oração, é condição indispensável para o encontro
com Deus. Mas na Quaresma, além do diálogo com o Senhor, devemos meditar a Sua palavra
com mais profundidade, de modo especial temas relacionados com a Paixão de
Cristo e os próprios relatos evangélicos. Se pudermos (e quase sempre podemos),
façamos o esforço de frequentar mais vezes os Sacramentos, especialmente o da
Confissão. E não nos esqueçamos de que a Igreja também nos pede neste tempo
litúrgico que rezemos mais pela conversão de todas as pessoas (principalmente
daquelas que nos são mais próximas).
O jejum e as demais mortificações que podemos fazer nas circunstâncias
ordinárias da nossa vida, também constituem um meio concreto de viver o
espírito da Quaresma. Não devemos procurar fazer grandes penitências. O que,
sim, podemos fazer é oferecer a Deus os incidentes diários que nos incomodam,
aceitando com alegria os contratempos que podem apresentar-se: o trânsito
lento, a chuva inoportuna, o frio ou o calor… Além disso, podemos renunciar às
nossas pequenas comodidades – uma sobremesa de que gostamos mais, um programa
de televisão, etc. Vale a pena lembrar que a Quarta-feira de Cinzas e a Sexta –
feira da Paixão são dias em que a Igreja pede que todos os fiéis jejuem e se
abstenham de carne.
Por fim, de entre as práticas
quaresmais que a Igreja nos propõe, o exercício da caridade ocupa um lugar
primordial. É o que nos recorda S. Leão Magno: “Estes dias da Quaresma
convidam-nos de maneira premente ao exercício da caridade; se devemos chegar à
Páscoa santificados no nosso ser, devemos pôr um interesse especialíssimo em
adquirir esta virtude, que contém em si todas as outras e cobre uma multidão de
pecados”.
A caridade deve ser vivida de maneira
especial com aqueles que estão mais perto de nós, no ambiente concreto em que
nos movemos. Trata-se de sorrir àqueles com quem não nos damos tão bem (talvez
por nossa culpa), de aumentar o espírito de serviço…. Principalmente, pode ser
uma oportunidade para aproximarmos de Deus os nossos familiares e amigos: esse
é o maior bem que lhes podemos fazer.
A Quaresma é também um tempo propício
para lutarmos contra os nossos defeitos mais arraigados. Aproveitar esta época
litúrgica para crescermos em humildade que pressupõe o conhecimento próprio,
fazendo um exame mais aprofundado da nossa vida, descobrindo o que nos aproxima
ou afasta de Deus. A seguir marcaremos metas concretas de melhoria e
esforçar-nos-emos para atingi-las…Se alguma vez falharmos, recorreremos com
humildade e contrição ao Sacramento da Penitência e recomeçaremos com alegria.
Se fizermos da nossa parte o que podemos, Deus ajudar-nos-á dando-nos as graças
necessárias para uma verdadeira conversão…
Maria Helena H. Marques
Prof.ª Ensino Secundário
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