sexta-feira, 25 de maio de 2007

Motivação/Dificuldades de Aprendizagem (III)




Ensinar ou aprender? Aprender ou ensinar?

Era esta a questão que serviu de pretexto à mobilização dos contributos de Vgotski e outros pedagogos no sentido de se discutir se estávamos, ou não, perante uma falsa questão.


Em conclusão, podemos referir que consideramos a valorização do acto de aprender aqui expressa, como uma opção que confere uma maior centralidade ao aluno no âmbito do processo ensino-aprendizagem, assim como a atribuição de um outro papel aos professores porque, deste modo, os termos da relação entre o ensino e a aprendizagem são concebidos em função de outros pressupostos.


Por tudo isto, as interrogações formuladas remetem-nos para a necessidade da articulação entre o ensinar e o aprender que implica que se tenha de afirmar mais uma vez que as perspectivas inovadoras não pressupõem a recusa do acto de ensinar.


Procurando sintetizar brevemente a análise que nos propusémos desenvolver em redor do binómio "motivação/dificuldades de aprendizagem" e que se tem vindo a revelar como o fio condutor desta reflexão, somos levados a admitir que estas duas grandezas variam na razão inversa.


O termo motivação é definido como o processo que provoca certo comportamento, mantém a actividade ou a modifica e tem por fim estabelecer conexão entre o que o professor pretende ensinar e os reais interesses dos alunos.


É, por outro lado, incontestável que muitos alunos, face á proposta curricular, têm vindo a manifestar dificuldades crescentes de aprendizagem quer de natureza cognitiva quer de natureza afectiva.

Sendo assim, os objectivos da EDUCAÇÃO deverão ter como prioridade a formação de alunos que sejam...
  • autónomos

  • auto-suficientes

  • seguros de si mesmos

  • capazes de tomar decisões

  • que se aceitam a si próprios

  • que se sintam bem consigo mesmos

  • que encontrem a sua própria identidade na crise de adolescência

  • que saibam orientar-se

  • que saibam intervir no seio de uma sociedade em permanente mutação

Para isso é necessário desenvolver, previamente e de forma continuada, um auto-conceito e uma auto-estima intensamente positivos assentes no esforço por conseguir a excelência académica e as virtudes.

Assim a auto-estima surgirá como que por si própria. Assumir a sua transcendência é um pressuposto determinante de eficácia.

Portanto... MOTIVAR é promover nos alunos

  • o auto-conceito académico


  • a auto-estima


  • a capacidade de resolução da maior parte das dificuldades de que seriam portadores


  • o verdadeiro sucesso educativo


  • a auto-realização pessoal e social.


Maria Helena Henriques Marques

Professora do Ensino Secundário

Motivação/Dificuldades de Aprendizagem (II)



A - O que fazer? Como Fazer?


Fazer uma pedagogia diferenciada à escala de uma ou mais turmas, pode ser um trabalho de vários anos. Por isso é importante:

  • saber escolher
  • dar prioridade ao mais urgente
  • fixar objectivos razoáveis

  • limitar as ambições a certas noções fundamentais

  • construir e organizar materiais diversificados (tendo todos os alunos ocupados)

  • negociar regras de funcionamento (para obter uma dinâmica com um mínimo de disciplina)

Pretende-se cultivar um salutar espírito de cooperação


B - Como aprendem?


Considerando o pensamento de importantes psicólogos e pedagogos constatamos haver três níveis básicos de aprendizagem:

  1. Percepção - aprender factos, eventos e experiências

  2. Conceptualização - manejar e ier-relacionar conceitos, leis, e sistemas conceptuais

  3. Representação - imaginar, construir imagens mentais

São estes os níveis que determinam o verdadeiro sentido do que é o aprender e é neles que devem centrar toda a atenção do profissional do ensino.

De pouco nos adianta termos definidos nos programas de aulas grandes e eloquentes objectivos, se não se encontrar todo o processo mental que o aluno deve percorrer para os alcançar.

Sói-se afirmar que as sociedades só progridem na medida em que os seus elementos deixem de repetir; entende-se como principal finalidade da educação dar asas a quem tem mãos e mãos a quem tem asas.

Nesta afirmação reside toda a essência do processo de reivindicação para que, enquanto profissionais de educação, deixemos de ser meros transmissores do saber e passemos a ajudar o aluno a construir o seupróprio saber.

Assim todo o acto de ensinar a aprender deixa de estar marcado pelo alcance imediato de objectivos, para estar orientado pelo desenvolvimento de competências, capacidades e valores que o aluno deve trabalhar sob a forma de destrezas (desenvolvimento de elementos cognitivos) e de atitudes (desenvolvimento de elementos afectivos).

Da conjugação dos resultados alcançados em cada uma das vertentes resultará, numa segunda fase, a consecução dos objectivos definidos. Estas ideias implítas na teoria psicopedagógica de Vigotski começam a ganhar espaço, demonstrando-se que, no paradigma cognitivo-contextual a elas inerentes, pode estar o verdadeiro sentido da reinvenção dos processos de aprendizagem e ensino.



C - O saber com um fazer

Consultando um dicionário encontramos: "Aprender é adquirir conhecimentos".



A noção de aprender ou efeito de aprender constitui a aprendizagem. Neste sentido, é importante desencadear iniciativas capazes de potenciar experiências de aprendizagem a partir das quais se possam concretizar projectos de intervenção educativa que, de um modo geral, permitam

  • valorizar o protagonismo dos alunos enquanto produtores do saber

  • favorecer a construção de situaações significativas de trabalho

  • estimular as relações interpessoais (tanto no decurso desse processo como no das tarefas em que todos se possam envolver).




Maria Helena Henriques Marques

Professora do Ensino Secundário

domingo, 20 de maio de 2007

Motivação/Dificuldades de Aprendizagem (I)

Reflexão

Partindo da realidade plenamente constatada de que a escola - tal como a sociedade - é um universo heterogéneo em que os alunos são todos diferentes no que se refere às suas capacidades, motivações , interesses, ritmos evolutivos, estilos de aprendizagem, situações ambientais, etc. e entendendo que todas as dificuldades de aprendizagem são, em si mesmas, contextuais e relativas, é necessário colocar o acento no próprio processo de interacção ensino/aprendizagem.

Sabemos que se trata de um processo complexo em que se incluem inúmeras variáveis: aluno, professor, concepção e organização curricular, metologias, estratégias, recursos.

Por tudo isto, a aprendizagem do aluno não depende somente dele, mas também do grau em que a orientação prestada pelo professor estiver ou não ajustada ao nível que o aluno apresenta em cada tarefa de aprendizagem. Se o ajuste entre o professor e o aluno for apropriado, o aluno fará progressos e efectuará aprendizagens qualquer que seja o seu nível.

As dificuldades face às propostas curriculares

É sabido e por demais evidente, que as pessoas não aprendem todas do mesmo modo. No entanto, vale a pena debruçarmo-nos um pouco sobre as diferentes formas de aprender.

A análise dos resultados de uma avaliação diagnóstica, confrontou-nos com a necessidade de praticar uma diferenciação pedagógica-didáctica. Diferenciar é, por definição, dar uma atenção, tanto quanto possível, individualizada a cada um, é tratar os alunos de maneira "diferente", consoante as suas necessidades.

Como identificar correctamente as dificuldades dos alunos e saber o que convém a cada um?
Como pode o professor, com várias turmas e um número elevado de alunos por turma, praticar a diferenciação de ensino para ir de encontro às diferentes maneiras de aprender?

No sistema de ensino há vários níveis de actuação em alguns dos quais, nós professores, não podemos intervir. Por isso, a questão correcta deverá ser:


O que poderemos fazer ao nível de ensino em que nos situamos?
Normalmente, os professores vão de encontro às diferentes necessidades e potencialidades dos seus alunos por intuição. Isto acontece, por exemplo, quando fazemos propostas diferenciadas de trabalho que podem traduzir-se em exposições, pesquisas, realização de trabalhos individuais, debates, projectos, etc..
Para alguns especialistas todas as formas de diferenciação concreta de ensino, situam-se num "continuum" entre dois pólos, ou seja, entre uma diferenciação espontânea e uma diferenciação planeada.
No primeiro pólo, situam-se as intervenções imediatas que o professor utiliza face à diversidade de atitudes, ritmos de participação, esforços e difuculdades dos diferentes alunos. Esta forma de actuação é limitada pela falta de tempo e pela necessidade de ter todos os alunos interessados, ocupados e interessados, em simultâneo, não permitindo senão ajustamentos superficiais e circunstanciais.
No outro pólo, situam-se as intervenções mais ambiciosas que além de levar mais tempo exigem maior controlo e mais apoios.
Situar-se-ão mais perto do primeiro pólo as acções mais rápidas e, muitas vezes, inconsistentes enquanto ficarão mais próximas do segundo as que exigem maior tranquilidade e ponderação e, portanto, mais tempo. O que determina a actuação mais próxima de um ou outro pólo será o tempo, a energia disponível, a ocasião e a gravidade da situação.
Os sonhos pedagógicos, os sonhos de diferenciação fazem avançar a reflexão do professor, integram-se na sua experiência, tal como a acção concreta, animam a fragilidade de certas esperanças, podendo renascer numa situação análoga e assim, realizarem-se. No entanto estes sonhos de diferenciação podem ser vividos com uma certa frustração, e até culpabilidade, por parte do professor, quando entre o que sonhou e o que conseguiu ver realizado existe uma grande distância.
Pela nossa experiência pessoal sabemos que sonhar a diferenciação é a condição essencial para a tornar realidade.
De sonho em sonho, se pode ir mais longe...
Maria Helena Henriques Marques
Professora do Ensino Secundário

segunda-feira, 7 de maio de 2007

Super-amados



São eles, são os nossos filhos. E nós somos os pais mais zelosos, por isso dormimos de consciência tranquila.

Gostamos mesmo muito destes meninos. Temos muito orgulho neles. Planeámos tudo cuidadosamente, e não vamos ter mais filhos para que nada falte a estes. Damos-lhes tudo. Tudo aquilo que merecem, tudo o que nós nunca ousámos sequer desejar na nossa infância, pois os nossos pais não tinham, infelizmente, as mesmas possibilidades que hoje nós temos.

Não sem esforço: Deus sabe os sacrifícios que por vezes fazemos para conseguir dar-lhes o que há de melhor. Deus sabe também o que passamos para lhes evitar as contrariedades.

Suportamos calados as suas birras, os seus amuos e atendemos de imediato às suas exigências. Não iremos repetir os erros das gerações anteriores, já passou a era da autoridade, agora os tempos são outros. Queremos que os nossos filhos cresçam livres da opressão a que os nossos pais nos sujeitaram.

Não lhes impomos as obrigações domésticas que tivemos de cumprir, de fazermos a nossa cama e arrumarmos as nossas coisas. Eles têm hoje muitas solicitações em casa que antigamente não existiam, como a televisão, a internet e as consolas de jogos, e por isso não podem perder tempo com essas tarefas.

Nós fomos obrigados a levar a cabo missões demasiado pesadas para simples crianças: buscar água à fonte, despejar o lixo, ajudar os irmãos mais novos a vestirem-se ou dar-lhes de comer, imagine-se que até nos faziam varrer o chão.

Damos-lhes a liberdade de fazerem as suas opções desde muito pequenos e procuramos corresponder aos seus anseios, desde a hora a que se devem deitar até aos alimentos de que mais gostam, que todos os dias preparamos para o jantar. Levamo-los connosco às compras, deixamo-los escolher os presentes que vão receber nos anos e no Natal, e não resistimos por vezes a dar-lhos de imediato, pedindo nova sugestão para a prenda a oferecer na data própria.

Tentamos nestes casos não olhar a custos, não queremos que fiquem com a impressão de que não podem ter as mesmas coisas que os seus colegas.

Tomamos todas as precauções para que não apanhem frio, não andem à chuva e não transpirem demasiado quando está muito calor. Temos o cuidado de os deixar todos os dias à porta da escola e não vamos embora sem nos certificarmos de que entraram e que o portão ficou fechado. Somos conscienciosos, e alertamos a escola para as deficientes condições de segurança e para os todos os potenciais riscos, pois sabemos que aquelas cabecinhas têm uma imaginação prodigiosa, sobretudo quando se trata de disparatar.

Acorremos em sua defesa e evitamos as suas quedas, todas as vezes que tropecem nas dificuldades da vida. Apagamos cuidadosamente os seus erros para que não tenham que sujeitar-se às críticas e comentários alheios.

Tentamos por tudo escolher-lhes as companhias, sabemos bem como podem influenciá-los negativamente. Queremos que fiquem nas turmas melhores, junto com os filhos dos nossos amigos, longe de gente diferente e estranha, com modos de vida para nós esquisitos ou maneiras de pensar desconhecidas.

Não queremos também que se deparem com a crueldade da natureza que produz crianças com dificuldades e diferenças, pelo que procuramos evitar contactos muito próximos. Terão tempo mais tarde para encarar a dura realidade.

Exigimos que a escola os ensine a estudar e a fazer os trabalhos de casa,
lhes incuta as noções de cidadania
e que os ajude a protegerem-se das doenças sexualmente transmissíveis e gravidezes indesejadas.

Foi nossa a vitória
neste campo, com a
implementação do estudo acompanhado,
da formação cívica
e da educação sexual nas escolas.

Foi nossa a vitória da criação de uma escola a tempo inteiro,
onde os nossos filhos são educados de uma forma abrangente e global.

Compramos-lhes computadores e telemóveis de última geração, roupa de marca, queremos que eles se sintam integrados entre os seus amigos, e sabemos que essas coisas são importantes para eles. E nesses computadores até mandamos instalar uns programas daqueles que impedem que eles visitem sítios impróprios para a idade deles.

Damos-lhes todos os dias um dinheirinho para que possam comprar um bolo e um sumo e, no Verão, um gelado. Não hão-de sentir-se como nós, quando ficámos a ver aquele menino do papá, que tanto esbanjou naquela visita de estudo, a comprar recordações e a encomendar o mais vistoso bolo que havia na pastelaria e que desprezou depois, porque era enjoativo.

Não.
Os nossos filhos hão-de ser respeitados e reconhecidos pelos colegas, hão-de ter muitos amigos, não queremos que sofram as angústias por que passámos na nossa adolescência por não termos a certeza de sermos aceites pelo grupo, porque não saíamos à noite ou não tínhamos namorados.

Serão miúdos cheios de sucesso toda a sua vida, terão uma profissão digna e nunca sujarão as suas mãos ou chegarão a casa cansados, transpirados, sujos. Ganharão o suficiente para terem quem faça por eles as tarefas menores.

Tivemos uma infância difícil, uma juventude complicada. Tudo faremos para que os nossos filhos cresçam sem se cruzarem com as dificuldades que nós tivemos que enfrentar.


Enganamo-nos ao pensar que os estamos a ajudar a crescer retirando-lhes os obstáculos do seu percurso. A vida real não é fácil, mas as pedras que encontramos no nosso caminho são os degraus que nos fazem subir mais alto.

Falhamos ao impedi-los de aprender a assumir os próprios erros, a reconhecer as suas falhas e ter a humildade de pedir desculpa, sempre que nos ocupamos em disfarçar as suas asneiras, por mais insignificantes que possam parecer. Às vezes apenas porque sabemos ser também atingidos pelos olhares críticos que lhes são dirigidos.

Iludimo-nos ao pensar que a imposição de regras lhes limita a liberdade: a verdadeira liberdade é a liberdade consciente de quem conhece e sabe respeitar os limites. Ao permitir que vivam sem regras estamos a enganá-los a eles também, criando-lhes a falsa impressão de que tudo podem.

Quais as consequências futuras, como reagirão quando se depararem com as inflexíveis imposições da sociedade?

Fugimos às nossas responsabilidades ao antecipar o seu poder de decisão sem que sejam ainda capazes de distinguir entre o que desejam e o que lhes é mais favorável. Sem que previamente lhes demonstremos por palavras e exemplos quais as melhores opções.

Esquecemo-nos de que a família é a primeira escola de vida. E de que os irmãos são os nossos iguais com os quais damos os primeiros passos na aprendizagem da partilha, da solidariedade, mas também da luta pelos nossos interesses e da defesa própria.

Os irmãos são a nossa melhor escola de relações humanas, são o primeiro exemplo da diversidade, são os nossos melhores companheiros de brincadeiras, os nossos maiores confidentes, e também os nossos mais duros críticos.

Teremos o direito de retirar aos nossos filhos essa mais-valia desculpando a nossa atitude com o argumento de que teremos mais para dar a menos filhos? Mais de quê?

Escusamo-nos a lembrar que é em família e no cumprimento das mais pequenas tarefas que aprendemos o sentido da cooperação e da entreajuda, que compreendemos que temos que ter um papel activo na sociedade, e que, mesmo alguns trabalhos que nos parecem secundários, são parte integrante e essencial para o bom funcionamento geral.

Ignoramos que sacrificamos a sua autonomia e a sua responsabilidade por não permitirmos a sua gradual incursão no mundo nem a experimentação de situações em que estejam completamente sozinhos, por sua conta e risco, mantendo-os sempre sob o nosso olhar protector ou aprisionados dentro das grades da escola.

Não os preparamos para enfrentar o mundo,
não os ensinamos a tomar decisões,
a ponderar os prós e os contras das atitudes que possam tomar nem a fazer opções conscientes.

Admirar-nos-emos talvez quando, na ânsia de se libertarem, correrem irreflectida e desenfreadamente na direcção de tudo o que lhes está vedado.

Fechamos os olhos à importância que terá na sua vida futura a facilidade que possam desde já adquirir em se relacionar com quem pensa e vive de outro modo, ou simplesmente tem um corpo diferente do seu, privando-os da aprendizagem de valores tão fundamentais como o respeito pela diferença e a solidariedade, mas sobretudo da descoberta da individualidade de cada ser humano, longe das sombras que os preconceitos projectam nas relações entre as pessoas.

Cremos em falsos ideais, associando a auto-confiança e a auto-estima dos nossos filhos aos objectos e bens que possam exibir, levando os nossos filhos a convencerem-se que valem pelo que têm mais do que pelo que são.

Deixamo-nos engolir pelo consumismo, ao aceitar e seguir a regra estabelecida de que os sentimentos de inferioridade e a insegurança estão directamente relacionados com o que se possui.

Negamos-lhes a possibilidade de construção de um amor-próprio alicerçado no conhecimento pessoal, na consciência das próprias capacidades não só intelectuais mas sobretudo de influência positiva à sua volta, na certeza de que cada pessoa é um ser único e insubstituível, e em que nada pesa aquilo que se tem, mas o que se é, e em que importa sobretudo o que se faz para, mesmo em pormenores aparentemente insignificantes, mudar o mundo para melhor.

Retiramos-lhes a faculdade de reconhecer o valor do que têm, de saborear as pequenas conquistas, porque tudo conseguem sem o menor esforço, conduzindo-os a uma permanente insatisfação, que poderão
procurar compensar buscando o prazer fácil e imediato no álcool, nas drogas e numa sexualidade irresponsável.

Demitimo-nos do nosso papel de educadores ao passar para a escola as responsabilidades que são nossas e exclusivas.

  • São os pais quem deve acompanhar os filhos na execução dos trabalhos de casa, para melhor compreenderem a vida escolar dos filhos, para poderem prever e entender as suas dificuldades, para aprofundar a relação de proximidade entre as gerações.

  • São os pais quem lhes deve ensinar as mais básicas regras da vivência em sociedade, são o seu primeiro e mais marcante modelo - é connosco, pais, e seguindo o nosso exemplo que se tornam Homens e Mulheres.

  • São os pais quem deve, procurando auxílio externo se disso sentirem necessidade, num clima de intimidade familiar, aconselhar e orientar os filhos para uma sexualidade responsável e indissociada dos valores, não abdicando desta sua missão em favor de um modelo generalista que não poderá respeitar a individualidade e a intimidade de cada um.

Talvez devamos parar para pensar que se as vitórias se conseguem à custa das derrotas de outrem, neste caso os principais derrotados são os nossos filhos.

Negamos a evidência da eficácia do diálogo e da proximidade, como o mais básico meio de prevenção contra os todos os riscos da actualidade. Está nas suas cabecinhas o disco rígido onde com a maior segurança poderemos instalar todo o software de segurança, é aí que devemos colocar a base de dados do conhecimento, dos riscos, dos caminhos, das opções e dos objectivos e onde devemos inserir os valores pelos quais devem orientar a sua vida.

Só com proximidade, cumplicidade e intimidade se constroem os sólidos pilares sobre os quais se erguerão.

Super-amamos os nossos filhos.


Será que os amamos da melhor maneira?




Helena Azeredo, Mãe

Os pais são para os filhos, mas os filhos não são para os pais.



Os filhos são a glória e a alegria dos esposos. Mas a missão dos pais exige uma renúncia porque o amor paterno - e a própria felicidade, que é a sua recompensa - só se realizam pelo dom de si próprio.

Nisto vamos encontrar a regra de todo o amor: mas a oposição entre o amor egoísta que recebe e o amor desinteressado que dá é mais acentuada ainda no amor paternal do que no amor conjugal, porque não há entre os pais e os filhos a mesma reciprocidade que há entre os esposos.

Os pais devem viver para os filhos, mas os filhos não devem viver para os pais. Devem aos pais afecto, reconhecimento, respeito, mas estes deveres não postulam que lhes consagrem as suas vidas, ao passo que os pais, durante todo o tempo em que os filhos necessitam deles, têm o dever de lhes consagrar a vida.

Porque a lei da natureza lança o género humano para a frente. Os pais são o passado; os filhos, o futuro. O papel dos pais é transmitir a vida e desaparecer depois de haverem confiado aos filhos todos os bens que possuem. A transmissão da fortuna não é mais do que o símbolo da transmissão dos bens do corpo, da alma e do coração, que os filhos recebem dos pais, primeiramente por nascimento e, depois, pela educação.

E é lei da natureza que, tendo os pais dado tudo aos seus filhos, lhes não entreguem estes o que receberam, mas por sua vez o transmitam aos seus filhos, e se dediquem a estes, como os seus pais se dedicaram a eles. Os pais são, pois, para os filhos. E os filhos não são para os pais. A natureza é impiedosa: nada há para os pais na missão paterna; é tudo para os filhos. Os pais encontram nela a sua recompensa, mas com a condição de a não procurarem e de nem sequer pensarem nisso. Todo o volver sobre si mesmos da sua parte diminui o afecto e o respeito que os filhos lhes dedicam e, por consequência, as verdadeiras satisfações que os filhos lhes poderão dar. As famílias em que os filhos fazem o impossível por agradar aos pais, por lhes satisfazer os desejos, por lhes testemunhar o seu afecto, são precisamente aquelas em que os filhos têm a consciência de que os pais viveram para eles e só neles pensaram.

Talvez em nenhum outro domínio se verifique com mais rigor a lei da vida moral que afirma não encontrar o homem a felicidade senão com a condição de a não procurar, e de que a preocupação da felicidade mata a felicidade. Porque o filho é um ser humano jovem, necessariamente orientado para o seu próprio desenvolvimento, e os pais têm a função de lhe assegurar esse desenvolvimento, criando as necessárias condições e conduzindo o filho pelo caminho que lhe convém. Digo bem: que lhe convém, não o que lhes convém.

E, logo, quando o filho, tendo tirado aos pais tudo o que podia tirar, chega à idade em que é senhor do seu destino, manda a lei da natureza que deixe os seus pais e vá realizar a sua missão de homem com a companheira que tiver escolhido.

A felicidade dos pais reside em serem as testemunhas da felicidade dos filhos, as testemunhas do seu êxito e em sentir orgulho desse êxito, porque os seus filhos são os seus filhos e a sua felicidade, os seus êxitos são, de algum modo, os dos seus pais.

Já vimos que os pais são ajudados a este desinteresse pelos próprios laços naturais que os unem aos seus filhos.

O amor dos pais é desinteressado por natureza, no sentido de que é natural nos pais considerar a felicidade e a infelicidade dos filhos, os seus sucessos e os seus fracassos, como próprios. Mas em muitos pais de alma mais ou menos vulgar, este desinteresse só se manifesta nas grandes ocasiões. Devotar-se-ão, por exemplo, ou farão grandes sacrifícios monetários para cuidar do filho doente mas, na vida corrente, só pensarão em si próprios e só procurarão no filho a sua satisfação pessoal.

Os pais também devem aprender a amar. Como os esposos. Mas os pais são esposos, esposos primeiramente, pais depois. Do mesmo modo que o amor conjugal se deve purificar, o amor dos pais deve tomar a forma inteiramente desinteressada que lhe convém.




(Jacques Leclercq)
(http://www.aldeia.net/)

domingo, 6 de maio de 2007

Família, ontem, hoje, amanhã... sempre!






A família constitui, desde sempre, uma célula fundamental da sociedade e assume uma preponderância decisiva no desenvolvimento integral das pessoas, com repercussões no desenvolvimento harmonioso das comunidades em que se integram, sendo imperioso reconhecer as funções específicas que desempenha e estimular a realização plena dessas funções.

A Declaração Universal dos Direitos do Homem assim como a Constituição da República Portuguesa, não só reconhecem a família como célula fundamental, mas também como um valor inalienável e vital da sociedade, factos que atestam a importância que a mesma assume no desenvolvimento da pessoa humana.

Foi sempre considerada a primeira sociedade natural, titular de direitos próprios e originários, colocada no âmago da vida social e que nasce da íntima comunhão de vida e de amor fundada no matrimónio entre um homem e uma mulher.

Mas hoje, como sempre, as palavras continuam a ser muito importantes uma vez que arrastam consigo um mundo de significados, emoções e valorizações axiológicas que - embora não se explicitem- transmitem mais do que o significado oficial que cada termo indica. Por isso, nos grandes debates actuais sobre questões de fundo de natureza social e moral, há uma tendência para se apropriar daquelas palavras que vêm carregadas de conotações positivas para a maior parte das pessoas.

É o que acontece com a palavra família: os que têm vindo a atacá-la e a desprezá-la, tentam apropriar-se deste termo para designar outras realidades bem diferentes que querem valorizar.

Temos vindo a assistir a tentativas de designar como família, tanto à que sempre reconhecemos como tal (marido e mulher com os seus filhos e as pessoas relacionadas com eles pelos laços do parentesco) como a outras realidades que se lhe parecem em algo e, inclusivamente, a formas de relação interpessoal que nada têm que ver com a família, como as uniões homossexuais.

Quando perdemos ou deturpamos o significado preciso de uma palavra e passamos a designar com ela várias realidades diferentes ainda que relacionadas a partir de algum ponto de vista, perdemos clareza de ideias e ofuscamos o nosso conhecimento da realidade.

Se eu digo, por exemplo, “coisa”, ninguém sabe de que estou a falar; se digo “animal”, sabe-se um pouco mais embora não demasiado; se digo “humano”, a precisão é muito maior.

Se queremos não perder de vista a Família como algo digno de apreço, respeito e protecção não podemos renunciar a que este termo, família, continue a designar a plenitude do ideal familiar de forma específica; isto é, por família devemos entender única e exclusivamente essa realidade valiosa que surge do compromisso matrimonial entre um homem e uma mulher com vontade de estabilidade e aberta à vida que se amplia nos filhos e, pelas relações de consanguinidade, ao resto dos parentes.

É evidente que na realidade social existem outras formas mais ou menos familiares de organizar núcleos interpessoais que se parecem mais ou menos com a família. A estes grupos poderemos designá-los núcleos familiares, formas familiares ou de qualquer outro modo, mas impõe-se reservar o termo “Família” para a plenitude desta realidade.

Isto não é discriminar, é usar termos precisos para conservar clareza de ideias.

A família é a realidade permanente mais importante para a pessoa e para a sociedade, porque é no âmbito da família que o homem recebe as primeiras noções do BEM e da VERDADE, aprende a AMAR e SER AMADO e o pleno significado de SER PESSOA.



Maria Helena Henriques Marques
Professora do Ensino Secundário

Leis da aprendizagem




1 - Motivação

A pedagogia científica considera que a aprendizagem activa, em contraste com a aprendizagem passiva (ser instruído), é psicologicamente mais adequada para conseguir maior rendimento e assimilação.

A aprendizagem depende das leis da motivação, da activação da vontade de retenção, do efeito positivo que traz consigo o conhecimento do êxito e da experiência dos resultados satisfatórios, do exercício ou prática – que é indispensável – e da organização do material apreendido, a fim de que esteja bem integrado no esquema geral de conhecimento do sujeito.

Também há variados factores que influenciam a aprendizagem, mas todos eles têm uma clara projecção para o rendimento, aumentando-o ou diminuindo-o. Além dos factores intelectuais já assinalados, há que considerar factores psicológicos pessoais como a atenção que se considera, muitas vezes, “factor selectivo” com uma função fundamental; e as atitudes de boa disposição que facilitam a aprendizagem.

Outros factores como as motivações e incentivos são determinantes no processo de aprendizagem, porque têm sempre repercussões positivas ou negativas...

As pressões sociais, sob qualquer forma, são factores condicionantes da aprendizagem e alargam-se a toda e qualquer situação educativa. Salientamos, por exemplo: má nutrição, privação de experiências precoces, códigos linguísticos familiares restritos e valores e estratégias educativas inadequadas.

A personalidade do aluno que exerce uma acção catalítica é determinante uma vez que a força impulsora é a vontade inexorável da pessoa de se ultrapassar a si mesma. O dinamismo básico do homem é a sua auto-realização. A experiência tem vindo a demonstrar que determinados métodos modernos de ensino são mais eficazes do que por exemplo, algumas técnicas tradicionais que, mesmo excelentes, já fizeram a sua época...

2 - Influências da globalização e do desenvolvimento tecnológico

Vivemos um profundo e acelerado processo de mudanças e transformações que nos têm desafiado a encontrar novas maneiras de pensar e agir em muitas áreas da actividade humana. A globalização e o desenvolvimento tecnológico fazem-nos cidadãos do mundo, alteram valores e relações sociais, tendentes a transformar verdades absolutas em relativas e trazem grande complexidade e incertezas...

A velocidade e o carácter permanente destas mudanças, e a quantidade de informações disponíveis demandam do homem, cada vez mais, uma nova postura e o desenvolvimento de habilidades para conviver e compreender a sociedade, a chamada sociedade do conhecimento.

A habilidade mais importante na determinação do padrão de vida de uma pessoa, já se tornou a capacidade de aprender novas destrezas, de assimilar novos conceitos, de avaliar novas situações e de lidar com o inesperado.

Deste modo, com a valorização do conhecimento, da criatividade e a exigência de novas habilidades e competências, torna-se URGENTE continuar a repensar a educação, caracterizada como processo contínuo e permanente.

Educar, para esta sociedade, significa

  • dominar e transcender os recursos tecnológicos,
  • desenvolver a capacidade de questionar,
  • de analisar criticamente e tomar decisões,
  • desenvolver competências para enfrentar situações inesperadas e
  • desenvolver valores éticos e morais permitindo ao cidadão harmonizar os conteúdos aprendidos na escola com a cultura de um mundo globalizado...

Estas mudanças implicam novas fórmulas de conceber a educação, pois o sentido da escola está na transformação da vida e da sociedade.

Assim, de uma educação que enfatizou durante anos a transmissão de conteúdos, a instrução, o “empurrar” informações para os alunos, devemos mudar para

uma educação que crie ambientes de ensino/aprendizagem, em que o educando é agente activo do seu processo de aprender, “puxa” informações, processa e constrói o seu conhecimento por meio de actividades significativas e contextualizadas.


Esta mudança aponta para um novo paradigma em educação, que enfatiza a aprendizagem como processo contínuo de elaboração pessoal do conhecimento.

Maria Helena Henriques Marques
Professora do Ensino Secundário

Aprender, reflectindo e comunicando




O processo de aprendizagem, em qualquer fase da vida, pode ser definido, de forma sintética, como o modo de os seres adquirirem novos conhecimentos, desenvolverem competências e mudarem o comportamento.
Assim, diz-se que há aprendizagem quando o comportamento sofre modificações aumentativas de carácter, mais ou menos permanentes, em resultado de uma actividade, de um adestramento particular ou de uma observação. De uma forma mais geral, aprender é adquirir conhecimentos sobre a base de representações repetidas.

A aprendizagem não é um tipo específico de actividade. É uma mudança que ocorre no organismo, em consequência de diversos tipos de actividades, mostrando-se, como um pós-efeito: uma actividade posterior é diferente por causa de uma actividade anterior. Por isso, são tão numerosas as variedades da aprendizagem humana, como o são as diferentes experiências por que o homem passa ao longo da vida. Não é, pois, um processo próprio da infância e da juventude.

A aprendizagem constitui um dos terrenos mais frutíferos e activos da experimentação psicológica que se justifica pela grande importância que tem em todas as formas e variedades da educação.
  • Aprendizagem intelectual

Ainda que cada passo da aprendizagem apresente um problema a resolver, é indubitável que, adquirir conhecimentos, é uma actividade de um nível psicológico mais elevado que o necessário para aprender habilidades sensório-motoras. Na aprendizagem intelectual, a consecução da meta tem de se realizar através de actividades específicas superiores: raciocínio, observação das relações, apreensão das ideias e generalização.

Neste tipo de aprendizagem o papel da inteligência é fundamental: organiza e estrutura o material que deve ser apreendido. Este, salvo raras excepções, possui forma e significado; por isso, o principal valor educativo consiste em conseguir este significado. Pode-se dizer que quem aprende de forma lógica vai captando gradualmente o significado do material e, ao mesmo tempo, vai-o organizando e relacionando com outros conhecimentos que já tinha; quem o faz de uma forma mecânica não realiza uma aprendizagem consequente pois não emprega os esforços necessários mesmo sendo suficientemente inteligente para compreender. O que aprende, mecanicamente, não suscita uma ressonância significativa na personalidade. A aprendizagem mecânica ocorre a cargo da memória.

Uma importante função da escola e a da orientação escolar, é o de ensinar a estudar, a fim de que os alunos apliquem os princípios de um estudo eficaz, sabendo realizar uma aprendizagem lógica, mais que memorística pois, do ponto de vista da retenção do aprendido, a primeira (aprendizagem lógica) tem grandes vantagens sobre a segunda (aprendizagem memorística).

A aprendizagem é o processo de alteração de conduta de um indivíduo, por condicionamento operante, experiência ou ambos, de uma forma razoavelmente permanente. As informações podem ser absorvidas através de técnicas de ensino ou até pela simples aquisição de hábitos. O acto ou vontade de aprender é uma característica essencial do psiquismo humano, pois somente este possui o carácter intencional, ou a intenção de aprender; é dinâmico, por estar sempre em mutação e procurar informações para a aprendizagem; é criador, por procurar novos métodos visando melhorar a própria aprendizagem, por exemplo, pela tentativa e erro.

Um outro conceito de aprendizagem é uma mudança relativamente durável do comportamento, de uma forma mais ou menos sistemática, ou não, adquirida pela experiência, pela observação e pela prática motivada. Não há dúvida de que a motivação tem um papel primordial na aprendizagem.

Ninguém aprende se não estiver motivado, se não desejar aprender!





Maria Helena Henriques Marques
Professora do Ensino Secundário

sexta-feira, 4 de maio de 2007

A ciência não exclui Deus



Numa entrevista de Gabriela Carelli para a revista brasileira “Veja” o médico Francis Collins fala de Ciência e Fé. O médico diz que se converteu à Fé depois de se ter considerado ateu durante toda a sua juventude.

Assim conta: "Eu tinha 27 anos, mas não passava de um jovem insolente. Negava a possibilidade de que houvesse algo capaz de explicar as questões para as quais nunca encontramos respostas, mas que movem o mundo e fazem com que as pessoas superem os obstáculos". São "questões filosóficas que transcendem a ciência e fazem parte da existência humana".

Por isso, acrescenta Collins, "os cientistas que se dizem ateus têm uma visão empobrecida acerca das questões que todos os seres humanos nos apresentamos todos os dias". E adverte que a ciência não se opõe à fé: "Necessitamos da ciência para compreender o mundo e usar esse conhecimento para melhorar as condições humanas. Mas a ciência deve permanecer em silêncio acerca dos assuntos espirituais".

"A sociedade necessita tanto da religião como da ciência. Não são incompatíveis, mas sim complementares. A ciência investiga o mundo natural. Deus pertence a outra esfera. Deus está fora do mundo natural. Usar as ferramentas da ciência para discutir a religião é uma atitude imprópria e equivocada".

A entrevistadora objecta que, em nome de Deus, se têm cometido barbaridades ao longo da história mas para Collins, "o problema é que a água pura da fé religiosa circula pelas veias defeituosas e oxidadas dos seres humanos e, por vezes, enturva-se. Isso não significa que os princípios estejam equivocados, ainda que haja pessoas que usam esses princípios de forma inadequada para justificar as suas acções. A religião é um veículo para a fé, que é imprescindível para a humanidade".

Collins não é partidário da teoria do "desenho inteligente" que, segundo ele, cai no erro de preencher as lacunas do conhecimento científico com a intervenção divina, ao argumentar que a evolução não explica estruturas tão complicadas como as células.
Para ele, "Todos os sistemas complexos que cita o desenho inteligente (o mais citado é o flagelo bacteriano, um pequeno motor externo que permite à bactéria mover-se em meio líquido) são um conjunto de trinta proteínas. Podemos juntar artificialmente essas trinta proteínas, mas não acontecerá nada. A razão é que esses mecanismos se formaram gradualmente mediante a adição de outros componentes. A maquinaria molecular desenvolveu-se no decorrer de largos períodos de tempo, mediante o processo que vislumbrou Darwin: a evolução”.

Deus actua. O que foi dito atrás não supõe a negação de que Deus actue no mundo, inclusivamente de modo sobrenatural. Não é contraditório para um cientista acreditar em milagres, responde Collins a outra pergunta: "A questão dos milagres está relacionada com a forma como acreditamos em Deus. Se uma pessoa acredita e reconhece que Ele estabeleceu as leis da natureza e está, ao menos em parte, fora da natureza criada, então é totalmente aceitável que Deus seja capaz de intervir no mundo natural".

Por outro lado, Collins não encontra incompatibilidade entre Evolução e Criação: "Se no início dos tempos, Deus decidiu usar o mecanismo da evolução para criar a diversidade de vida que existe no planeta, para fazer criaturas à sua imagem que tenham livre arbítrio, alma e a capacidade de discernir entre o bem e o mal, quem somos nós para dizer que Ele não deveria ter criado o mundo dessa forma?"

O que Collins não compartilha é a ideia de que a evolução explica tudo, inclusive o altruísmo e outras propriedades da livre conduta humana: "Esses argumentos podem parecer plausíveis, mas não há provas de que o altruísmo seja uma característica do ser humano que lhe permita sobreviver e progredir, como sugerem os evolucionistas que querem justificar tudo por meio da ciência".

No estudo das bases genéticas da conduta "há muitas teorias interessantes, mas não chegam a explicar os nobres actos altruístas que admiramos. Por que motivo acontecem este tipo de coisas? Se caminhando à beira de um rio, vejo uma pessoa que se vai afogar e decido ajudá-la pondo em risco a minha vida, de onde vem este impulso? Nada na teoria da evolução pode explicar a noção de bom e mau, a moral, que parece exclusiva da espécie humana".




1) Médico geneticista, autor do livro "The Language of God"



Aceprensa, 14-02-2007

Tradução de Maria Helena H. Marques
Professora do Ensino Secundário