Com todos os avanços da ciência e da
moderna tecnologia com que se lida no dia a dia nas mais diversas latitudes e
longitudes, não deveria ficar a mínima dúvida – como acontecia em princípios do
século passado –, acerca do início da vida humana no ventre materno.
A dignidade humana de que essa vida é
titular a partir da fecundação é única, e irrenunciável, que acompanhará o ser
humano em todas as etapas da sua vida.
Por isso, sempre deve ser respeitada e
considerada como fonte originária dos direitos humanos.
Assim, só na medida em que as diferentes
legislações dos países sejam um reflexo da lei natural que deriva de este plano
de Deus para nós, é que estaremos realmente a fazer do mundo um lugar plenamente
humano …
Todo o homem aberto à verdade, com a luz
da razão e da fé pode chegar a descobrir na lei natural escrita no seu coração
(cf. Rom. 2, 14 – 15) o valor sagrado da vida humana desde o seu início na
conceção, até ao seu termo pela morte natural.
Descobrimos que o novo ser humano, apesar
das suas dimensões microscópicas, não muda em nada o seu ser plenamente novo e
independente. Desde esse momento, o novo ser é já uma individualidade, em corpo
e alma, única e irrepetível com toda a informação genética necessária para
continuar a desenvolver-se até chegar a ser uma pessoa adulta. Um ser portador
de caraterísticas insubstituíveis, que o individualizam: como a consciência, a
capacidade para expressar-se através da linguagem; é titular de conhecimento
sobre si mesmo e sobre o que acontece em redor, permitindo-lhe transformar a
realidade; tem conhecimento dos seus estados emocionais; tem tendência para a
auto – realização; capacidade de escolha, criatividade e desenvolvimento em uma
sociedade de algum modo condicionante…
Mas para além das normais alterações em
consequência de uma atividade plena desenrolada em determinada envolvente
social, o ser humano é também caraterizado por uma forte dimensão religiosa
desde as suas origens.
As expressões conaturais de religiosidade,
manifestam uma forte convicção de que existe um Deus Criador, do qual depende o
mundo e a nossa existência pessoal.
Apesar de o politeísmo ter acompanhado
muitas fases da história do homem, a verdade é que a dimensão mais profunda da
religiosidade humana e da sabedoria filosófica procuraram e encontraram a
justificação radical do mundo e da vida humana num único Deus, fundamento da
realidade e cumprimento da nossa aspiração à felicidade (cf. Catecismo da
Igreja Católica, 28).
O ser humano é religioso por natureza. A
crença e a vivência da fé são necessidades “inatas”, são os pontos de partida
inevitáveis na vida e caminhada da pessoa neste mundo.
O gesto de crer não é privilégio de
alguns. O normal é que cada pessoa se sinta sedenta de “algo mais”, para além
da simples objetividade. Como ser portador de consciência, procura a razão da
própria existência e, nessa busca, encontra-se diante de um grande mistério…
Esta caraterística única da sua religiosidade,
distingue-o de todos os demais seres deste mundo que habita. “O homem religioso
relaciona a sua existência com um princípio supremo que rege e dá sentido a
tudo o que existe. Este princípio tem um caráter absoluto, incondicionado. É
Deus (…). Assim, o
homem religioso quer que a sua vida esteja em consonância com esta ordem
universal – a sua ética – os princípios que regem a sua conduta interpessoal e os
objetivos válidos da sua vida, subordinados aos postulados e mandamentos da sua
doutrina religiosa”. (Romero, 1998: 310-11).
É
evidente que o homem, na sua singularidade mais genuína e profunda, se destaca
de toda a natureza pelas suas capacidades cognitivas, afetivas, estéticas e
religiosas. Possui a faculdade de se ligar ao sobrenatural transcendente – Deus
–, por exemplo, pela reflexão, pelas atitudes de submissão, reverência e
adoração através da oração…
Maria Helena H. Marques
Prof.ª Ensino Secundário