quinta-feira, 17 de dezembro de 2009

A Ciência não exclui Deus



Francis Collins, médico e genetista, é autor do livro “The Language of God”, numa entrevista de Gabriela Carelli para a revista brasileira “Veja” fala de ciência e fé.



Francis Collins converteu-se à Fé depois de ter-se considerado ateu durante a sua juventude. “Eu tinha 27 anos, mas não passava de um jovem insolente. Negava a possibilidade de que houvesse algo capaz de explicar as questões para as quais nunca encontramos respostas, mas que movem o mundo e fazem com que as pessoas superem os obstáculos”. São “questões filosóficas que transcendem a ciência e fazem parte da existência humana”. Por isso, acrescenta Collins, “os cientistas que se dizem ateus têm uma visão empobrecida acerca das questões que todos os seres humanos nos apresentamos todos os dias”.




Collins adverte que é perigoso opor a ciência à fé. “Necessitamos da ciência para compreender o mundo e usar esse conhecimento para melhorar as condições humanas. Mas a ciência deve permanecer em silêncio acerca dos assuntos espirituais”.


“A sociedade necessita tanto da religião como da ciência. Não são incompatíveis, mas sim complementares. A ciência investiga o mundo natural. Deus pertence a outra esfera. Deus está fora do mundo natural. Usar as ferramentas da ciência para discutir a religião é uma atitude imprópria e equivocada”.


A entrevistadora objecta que, em nome de Deus, se têm cometido barbaridades ao longo da história. Para Collins, “o problema é que a água pura da fé religiosa circula pelas veias defeituosas e oxidadas dos seres humanos e, por vezes, enturva-se. Isso não significa que os princípios estejam equivocados, ainda que haja pessoas que usam esses princípios de forma inadequada para justificar as suas acções. A religião é um veículo para a fé, que é, sim, imprescindível para a humanidade”.


Collins não é partidário da teoria do “desenho inteligente” que, segundo ele, cai no erro de preencher as lacunas do conhecimento científico com a intervenção divina, ao argumentar que a evolução não explica estruturas tão complicadas como as células. “Todos os sistemas complexos que cita o desenho inteligente (o mais citado é o flagelo bacteriano, um pequeno motor externo que permite à bactéria mover-se em meio líquido) são um conjunto de trinta proteínas. Podemos juntar artificialmente essas trinta proteínas, mas não acontecerá nada. A razão é que esses mecanismos se formaram gradualmente mediante a adição de outros componentes. A maquinaria molecular desenvolveu-se no decorrer de largos períodos de tempo, mediante o processo que vislumbrou Darwin: a evolução”.




Deus actua.




O que foi dito atrás não supõe a negação de que Deus actue no mundo, inclusivamente de modo sobrenatural. Não é contraditório para um cientista acreditar em milagres, contesta Collins a outra pergunta. “A questão dos milagres está relacionada com a forma como acreditamos em Deus. Se uma pessoa acredita e reconhece que Ele estabeleceu as leis da natureza e está, ao menos em parte, fora da natureza criada, então é totalmente aceitável que Deus seja capaz de intervir no mundo natural.


Por outro lado, Collins não encontra incompatibilidade entre a evolução e a criação. “Se no início dos tempos Deus decidiu usar o mecanismo da evolução para criar a diversidade de vida que existe no planeta, para fazer criaturas à sua imagem que tenham livre arbítrio, alma e a capacidade de discernir entre o bem e o mal, quem somos nós para dizer que Ele não deveria ter criado o mundo dessa forma?”. O que Collins não compartilha é a ideia de que a evolução explica tudo, inclusive o altruísmo e outras propriedades da livre conduta humana. “Esses argumentos podem parecer plausíveis, mas não há provas de que o altruísmo seja uma característica do ser humano que lhe permita sobreviver e progredir, como sugerem os evolucionistas que querem justificar tudo por meio da ciência”.


No estudo das bases genéticas da conduta “há muitas teorias interessantes, mas não chegam a explicar os nobres actos altruístas que admiramos. Por que motivo acontecem este tipo de coisas? Se caminhando à beira de um rio, vejo uma pessoa que se vai afogar e decido ajudá-la, ponho em risco a minha vida, mas de onde vem este impulso? Nada na teoria da evolução pode explicar a noção de bom e mau, a moral, que parece exclusiva da espécie humana”.

In Aceprensa, 14-02-2007


Tradução de Maria Helena H. Marques
Professora do Ensino Secundário


Trata-se de eutanásia ou não?



A retirada do respirador de Inmaculada Echevarria e a sedação terminal para aliviar as dores da sua agonia, com o resultado final da sua morte, provocou diversas reacções e interpretações.
Há quem fale de...
... eutanásia,
... eutanásia passiva,
... suicídio assistido ou
... limitação do esforço terapêutico.

O “ABC” é o jornal diárioque recolhe o maior número de opiniões acerca disso.

César Nombela, Catedrático de Microbiologia, considera que “é impossível subtrair-se à ideia de que o respirador supõe a aplicação de um tratamento, tão estabelecido e comum como poderia ser a alimentação mediante sonda gástrica ou por via parentérica, ao enfermo incapaz de alimentar-se de forma normal. É muito difícil, portanto, evitar a conclusão de que o que se praticou é uma eutanásia, até mesmo voltando a insistir naquilo que defendem os que pensam que simplesmente se omitiu uma terapia desproporcionada”.

Alfonso López de la Osa, professor de Direito Administrativo, defende a mesma opinião ao dizer que “é uma constatação que a execução do acto, a desconexão, é um acto directo que tem como fim imediato acabar com a vida de uma pessoa consciente”.

Direito à retirada de um tratamento

José Miguel Serrano, professor de Filosofia do Direito, declara que depois do consentimento para receber tratamento através do respirador, Inmaculada “mantinha o seu direito de opor-se a tal tratamento em qualquer momento”, a decisão do Conselho Consultivo de Andaluzia seria “correcta”, embora reconhecendo que “estamos nos limites”.

Xavier Gómez-Batiste, presidente da Sociedade Espanhola de Cuidados Paliativos, afirma com firmeza que “não é eutanásia” porque “se trata de uma decisão individual legítima de limitação do esforço terapêutico”, embora reconhecendo que “este caso tem características que o tornam mais chocante, pelo facto de que a relação entre o abandono de tratamento é imediata (e mediática), comparada com um doente que decide abandonar a hemodiálise ou não tratar-se de uma obstrução intestinal”. Miguel Bajo, catedrático de Direito Penal, salienta que esta morte “não é punível porque existe um direito a rechaçar o tratamento conforme o artigo 2.4 da nova Lei de Autonomia do Paciente”. De modo que “tal como um paciente hospitalizado pode recusar em qualquer momento a ingestão do medicamento mediante uma decisão racional, quem mantém os seus constantes vitais mediante aparatos técnicos pode igualmente opor-se à conexão”.

Enrique Molina, professor de Teologia Moral da Universidade de Navarra, afirma que “retirar a um paciente em estado terminal os meios terapêuticos que o mantêm com vida, não pode ser considerado eutanásia: não se causa nem induz directa ou indirectamente a sua morte. A dificuldade está em avaliar se os meios que permitem a conservação da sua vida são proporcionados ou não ao fim que se pretende. A respiração assistida é um meio que pode ter mais de desproporcionado que de proporcionado”, ainda que “à hora da verdade, somente quem conhece muito bem a situação médica do enfermo e a sua evolução passada e previsível, está em condições de valorizar o meio terapêutico, e, portanto, se a actuação médica que o retira, contando sempre com o paciente, é ou não eutanásia”.

Manuel Gómez Sancho, director da Unidade de Cuidados Paliativos do Hospital Doctor Negrín, nega categoricamente a possibilidade de considerá-lo eutanásia, porque “era uma enferma e como tal tinha direito a recusar um tratamento com o que não estava de acordo. Noutro momento em que o poderia ter feito não o fez, mas talvez tenha sido este o momento adequado para fazê-lo. Ninguém pode ser obrigado a submeter-se a receber um tratamento, salvo algumas excepções e nenhuma dessas é este caso”.

Dolores Espejo, presidente da Fundação Bioética, defende no “El País” que “neste caso não se trata de um tratamento médico mas sim de uma medida de suporte vital. É evidente que a eliminação de uma vida é um modo desproporcionado para tratar a dor, qualquer outra doença, ou uma deficiência. Assim como o sofrimento de uma pessoa não justifica a sua eliminação”.


Maria Dolores Vila-Coro, titular da cátedra de bioética da Unesco, discorda: “Não é eutanásia libertar a pessoa do aparato que a mantém artificialmente, se o deseja, para que a natureza siga o seu curso normal e actue por si mesma, quando o processo de morte já é irreversível. Ao desconectar a Inmaculada não se abre nenhuma porta à eutanásia pois tudo depende do uso que se faça e do alcance que se lhe outorgue”.

Outras opiniões


Numa nota de imprensa, a Federação de Associações Provida manifestou “o seu profundo desgosto e preocupação pela morte de Inmaculada Echevarria pois reconhece tratar-se de um claro caso de eutanásia passiva, por omissão de um meio proporcionado e necessário”.

Por outro lado, a plataforma Hay Alternativas, através do seu porta-voz, a Dra. Gádor Joya, afirma que “temos de evitar cair na armadilha que nos querem preparar os partidários da morte, tentando aproveitar este caso para trazer a debate o tema da eutanásia, uma vez que o caso de Inmaculada poderia situar-se dentro de um quadro de limitação do esforço terapêutico”.

In Aceprensa, 16-03-2007



Tradução de Maria Helena H. Marques
Professora do Ensino Secundária

quarta-feira, 16 de dezembro de 2009

Tranquilidade na ordem







A estrutura da personalidade compreende, entre outros elementos psicológicos, um conjunto de virtudes que tornam o ser humano mais perfeito, íntegro, humanitário. Uma virtude representa sempre mais rectidão, probidade, excelência moral. As pessoas podem ser avaliadas pela riqueza das suas virtudes.




A virtude da ordem, por exemplo, entronca na disciplina, na organização, na aceitação de preceitos e normas. O próprio Universo é obediente a uma ordem estabelecida, implacável, caso contrário não poderia existir. Para assimilar, manter e fazer crescer esta virtude, o indivíduo precisa de corrigir, moldar e aperfeiçoar o seu carácter. Para isso, não poderá prescindir do concurso de outras virtudes, como paciência, tolerância e perseverança. Terá também que afastar hábitos nocivos, como rebeldia e inconformidade, porque na ausência da disciplina, a vida torna-se impossível.



Possuir esta virtude é comportar-se de acordo com algumas normas lógicas, necessárias para o êxito de algum objectivo desejado e previsto, na organização das coisas, na distribuição do tempo e na realização das actividades, com iniciativa própria e sem que seja necessário recordá-lo.




A ordem não é apenas o que cada um de nós pensa num primeiro momento, como a ordem referente à nossa mesa de trabalho com mais ou menos papéis; ao armário ou aos livros amontoados... Esse aspecto utilitário da ordem não é e nem deve ser um fim em si mesmo, mas a consequência de outra ordem fundamental, interior, que se traduz e se projecta no que se faz.


Sem ir mais longe, podemos afirmar que, uma ordem que se limitasse à mera organização de coisas e materiais, bem como de ocupações pessoais, vendo nela uma lei suprema, a ponto de converter-se em obsessão ou mania, como um ídolo ao qual se sacrificassem valores mais importantes, seria na realidade uma grave desordem. Por isso, é importante conhecer e viver os critérios da ordem que hão - de regular a vida e as coisas da vida. Não basta obedecer às leis do menor esforço ou do gosto pessoal. Ou ordenar as actividades a um nível segundo critérios de generosidade ou de egoísmo; ou conforme o que mais agrada aos sentidos, ou que se coaduna com critérios morais...


A ordem, digna deste nome, tem de partir e apontar para um objectivo muito alto: o de conseguir que todos os nossos actos se ordenem para uma vida virtuosa, que se proponha traduzir nesses actos a ordem geral querida por Deus para nós e para as coisas que dependem de nós, do melhor modo que consigamos apreendê-la. Assim, a ordem não será apenas uma virtude, mas a resultante de um conjunto de virtudes que reflectirão a vontade expressa de nos ajustarmos à ordem universal estabelecida pelo Criador para todo o Universo, e à ordem que Ele estabeleceu para o nosso caso.



Nada existe no Universo sem finalidade, quer se trate de seres inanimados ou de seres vivos, e muito menos o homem dotado de uma alma imortal. E não só o homem em geral, mas cada um de nós, em particular, titular de dons e talentos específicos que deve ordenadamente desenvolver e fazer frutificar...


As normas gerais, como princípios de ordem para o género humano e, por conseguinte para cada um de nós, encontram-se resumidos nos Dez Mandamentos. Cumpri-los é o primeiro elemento ordenador da nossa vida. Não os cumprir é a desordem, ou antes a fonte de todas as desordens... A infracção ou transgressão de leis superiores a que chamamos pecado...


O Catecismo da Igreja Católica diz, em resumo, que “Os Dez Mandamentos fazem parte da revelação de Deus. Ao mesmo tempo que nos ensinam a verdadeira humanidade do homem. Põem em relevo os deveres essenciais e, por conseguinte, indirectamente, os direitos fundamentais inerentes à natureza da pessoa humana. O Decálogo encerra uma expressão privilegiada da «lei natural» “.

Ordem pessoal e previsão
Quando não há ordem na mente, acabamos sempre por escolher o que mais nos apetece, ou o que mais chama a nossa atenção e, assim, é natural que em bastantes ocasiões não coincidam com o que devemos fazer nesse momento. Isto gera habitualmente perdas de tempo e, muitas vezes, de paz e de serenidade...



A ordem é um factor multiplicador do tempo. Por isso vale a pena parar e reflectir: Procurar detectar os aspectos importantes, concretizá-los e estabelecer uma ordem de prioridades adequada.




Ver se o que fazemos é o que realmente temos de fazer nós, ou se não seria mais útil que, nessas circunstâncias, outros o fizessem.


Se sabemos cortar a tempo tarefas que, sendo menos importantes, nos podem levar a deixar outras mais urgentes de forma sistemática.


Pensar se poderemos mudar algumas ocupações menos relevantes para horas menos apertadas, por exemplo, para momentos que não sejam cruciais para atender a família, para podermos estudar ou trabalhar com mais tranquilidade e eficácia.


Maria Helena H. Marques

Prof.ª do Ensino Secundário

40º Aniversário da Encíclica Humanae Vitae


Vários canais dos mais diversos meios de comunicação social se referiram a este facto, designando-o como um “sinal de contradição”. A encíclica Humanae Vitae, publicada e assinada pelo Papa Paulo VI em 25 de Julho de 1968, suscitou forte oposição dentro e fora da Igreja Católica.
Neste Documento, o Papa Paulo VI agradece o contributo da Comissão constituída em Março de 1963, pelo Papa João XXIII, bem como os contributos dos Bispos, mas reservou para si a última palavra: “Porque tinham aflorado alguns critérios de soluções que se afastavam da doutrina moral sobre o Matrimónio, proposta, com firmeza constante, pelo Magistério da Igreja”.
Em 23 de Junho de 1978, reafirmava ao Colégio Cardinalício, “após as confirmações da ciência mais séria”, as decisões tomadas então, que procuravam afirmar o princípio do respeito às leis da natureza e o “de uma paternidade consciente e eticamente responsabilizada”.
Em 29 de Junho seguinte, numa espécie de balanço do seu pontificado, o Papa Montini “citou as encíclicas Populorum Progressio e Humanae Vitae como expressões daquela defesa da vida humana que definiu como elemento imprescindível no serviço à verdade da fé”. A Humanae Vitae, foi e “é coerente com importantes novidades conciliares sobre o conceito de matrimónio”, mas foi ainda uma profecia para os tempos actuais, conforme constatamos...
Apesar das contradições de que foi alvo, também se levantaram vozes autorizadas, a favor do que o Papa escreveu. Por exemplo, o Cardeal Jean Daniélou, sublinhava que o documento “nos fez sentir o carácter sagrado do amor humano”, expressando uma “revolta contra a tecnocracia”. De entre os que, expressamente, apoiaram Paulo VI, salientam-se o Cardeal Karol Wojtyla, arcebispo de Cracóvia - futuro Papa, João Paulo II – que teve um papel importante na comissão ampliada e que teria depois inovado muito com o seu Magistério pontifício sobre o corpo e a sexualidade, e Joseph Ratzinger, outro ilustre purpurado, o actual Papa Bento XVI.

Quarenta anos depois, a Igreja não cessou de caminhar nos rastos profundos traçados nas consciências pelos princípios da Humanae Vitae.
No dia 10 de Maio de 2008, ao receber os participantes do Congresso sobre os 40 anos da Humanae Vitae promovido pela Pontifícia Universidade Lateranense, o Papa Bento XVI observou que “ aquele documento se havia tornado logo sinal de contradição”. Nessa ocasião, o Papa explicou que na Encíclica de Paulo VI “o amor conjugal é descrito dentro de um processo global que não se detém na divisão entre alma e corpo, nem subjaz somente no sentimento, muitas vezes fugaz e precário, mas assume a unidade da pessoa”.

Eliminada esta unidade, advertiu Bento XVI, perde-se o valor da pessoa e cai-se no perigo grave de considerar o corpo como objecto que se pode comprar e vender: “Numa cultura submetida à prevalência do ter sobre o ser, a vida humana corre o risco de perder o seu valor”.

O Papa Bento XVI, referiu ainda que se o exercício da sexualidade se transforma numa droga que visa sujeitar o parceiro aos seus próprios desejos e interesses, então aquilo que se deve defender não é apenas o verdadeiro conceito de amor, mas, em primeiro lugar, a dignidade da pessoa.

Doutrina moral da Igreja bem actual e sintetizada na Encíclica Humanae Vitae, de Paulo VI, há 40 anos assenta, basicamente, em quatro vectores:
  • O amor conjugal é um amor plenamente humano, isto é, sensível e espiritual
  • O amor conjugal é total, é dádiva mútua.
  • O amor conjugal é fiel, exclusivo, até à morte.
  • O amor conjugal é fecundo, está ordenado para a procriação e a educação dos filhos.

Neste ensinamento do Magistério da Igreja, o Matrimónio é, simultaneamente, unitivo dos esposos e procriador como consequência da união.
E ao proclamar este ensinamento, o Magistério exclui quaisquer considerações médico-biológicas ou sociológicas.

A Humanae Vitae considera, contudo, que os esposos podem usar para as suas uniões corporais os períodos infecundos naturais “e, deste modo, regular a natalidade sem ofender os princípios morais” que a Humanae Vitae recorda e reitera.

Por conseguinte, ao casal católico, “quando existam motivos sérios para distanciar os nascimentos”, a Igreja permite que os esposos realizem a finalidade unitiva do matrimónio, mesmo escolhendo dias nos quais o carácter procriativo estará ausente.
Decorridos quarenta anos da sua publicação, temos podido vir a constatar que o desrespeito pelas leis da natureza previsto por Paulo VI, com a máxima clarividência e que motivou a sua encíclica, se tornou realidade em muitos sectores da nossa sociedade.

Em nome da modernidade foram-se ultrapassando todos os limites e, de passo em passo, caiu-se no labirinto da pornografia em massa, na cegueira mais cega que promoveu e promove o aborto, o divórcio; o deboche e perversão... Com incidências nefastas na educação, na vida de família e em muitos outros aspectos da vida social que os meios de comunicação diariamente denunciam.

Em síntese, podemos concluir que, a par de uma relativa prosperidade material da sociedade ocidental, ela se debate com angustiantes problemas desde o SIDA ao insucesso escolar e à decadência populacional, que advêm dessa suposta e denominada “revolução sexual”.

Aquilo que para muitos seriam apenas umas quantas questões menores, era o princípio do mais agressivo e brutal ataque à Família e à Vida... Não há dúvida de que este texto do Papa Paulo VI veio colocar a Igreja, de forma serena, no centro da questão decisiva da nossa era.
Por tudo isso, impõe-se a necessidade de ler ou reler, meditar e dar a conhecer...

"Encíclica Humanae Vitae" de Paulo VI.
Adaptação: Maria Helena Henriques Marques
Professora do Ensino Secundário

"A Família", alicerce sólido do futuro...


Não resta a mínima dúvida, de que a Família é e será sempre o espaço privilegiado para se viver, celebrar, transmitir e educar para o dom e o valor da vida. Um dom que reclama de todas as pessoas de boa vontade a congregação de esforços, para que juntos fomentemos e promovamos uma verdadeira cultura da vida...

Contra ventos e marés e cada um a seu modo, procuremos colaborar no sentido de um acolhimento alegre e responsável da vida que surge, no respeito e defesa de cada existência humana, no cuidado por quem sofre ou passa necessidades, na solidariedade com os idosos e os doentes, na promoção de melhor qualidade de vida, na responsabilidade com a segurança na estrada e no trabalho...
Idêntico empenhamento, reclamam certas leis e instituições do Estado que lesam ou visam lesar, de algum modo, o direito à vida desde a sua concepção até à morte natural.

Está na nossa mão a inversão das tendências actuais, se utilizarmos oportuna e devidamente os mecanismos lícitos ao nosso alcance, num Estado de direito, com regime democrático! O que é próprio das leis e das instituições do Estado, é defender e promover esses valores humanos imutáveis, ao contrário do que tem vindo a acontecer e que as estatísticas e os meios de comunicação social vão revelando...
Sabemos que o futuro da humanidade está intimamente ligado ao desenvolvimento das novas gerações:
  • Pais preparados para dar aos filhos um boa formação moral e espiritual,
  • Escolas construídas para transformar crianças e jovens em cidadãos úteis e responsáveis
são os factores essenciais que promovem o progresso real , verdadeiro.
No entanto, essa teoria, que levaria o mundo a ser um lugar melhor para se viver em paz e harmonia, não se verifica na prática. Po outro lado, a população está a envelhecer como comprovam as estatísticas. Os recursos da medicina, felizmente, têm contribuído para o incremento percentual de pessoas em idade mais avançada, inclusivamente nos países menos desenvolvidos...

Ao chegarem à maturidade, as pessoas deveriam poder sentir-se a actuar como transmissores de ensinamentos e cultura às novas gerações de forma a que estas pudessem promover a renovação.
Aos jovens cabe o papel preponderante da incessante busca do que é novo para ser integrado no antigo. No entanto, as novas gerações têm vindo a envelhecer precocemente. O impulso revitalizante da adolescência e juventude tem sido desviado para caminhos inadequados, ao contrário do que deveria ser vivido de forma plena, perdendo-se com isso a oportunidade da conquista de melhores condições gerais de vida e felicidade.

Mas para além do que se tem vindo a constatar em diversos países, a Rússia também está a demonstrar ter aprendido algo útil com os próprios erros. Preocupa-se actualmente com o declive demográfico, que provoca uma diminuição da população na ordem de mais de meio milhão de pessoas em cada ano. Este facto tem levado à congregação de esforços do Governo e das principais confissões religiosas. Começa já a verificar-se um aumento do índice de natalidade de 9 a 11 nascimentos por mil habitantes. Um avanço a que se acrescenta o facto da reabertura do debate sobre o aborto, uma prática nefasta e desumana muito em voga durante o domínio comunista.

Como medidas urgentes para travar a crise demográfica, Vladimir Putin já em 2006, lançou um plano de ajudas às famílias. E antes de deixar a presidência, declarou o ano de 2008 o “Ano da Família” para todo o País. Esta iniciativa foi secundada tanto pela Igreja católica como pela ortodoxa, que apoiaram também a decisão governamental de declarar o dia 8 de Julho como “Dia da Família, do amor e da fidelidade”. A Primeira Dama, Svetlana Medvedeva, encabeçou o comité organizador.

As festividades comemorativas, que se têm vindo a multiplicar, têm como objectivo redesenhar a identidade da Rússia na época pós – soviética, explicava um jornalista da NBC. Por isso, é significativa a fixação desta festividade de origem civil, mas apoiada pela Igreja com o patrocínio dos santos medievais, Pedro e Fevrónia, dois esposos cuja vida em casal é considerada, pelos crentes, como modelo para os matrimónios.

Olga Sminova, directora de uma revista especializada em estilos de vida em Moscovo, demonstrando não haver qualquer incompatibilidade, declara: “O Dia de S. Valentim, festeja o enamoramento. As pessoas têm muitos amores, mas uma só família. E isto é uma tarefa, não apenas um sentimento”!

Como em qualquer comemoração, não faltaram neste “Dia da Família, do amor e da fidelidade”, os prémios para as figuras mais significativas. Mas neste caso os premiados não foram os casais ilustres recém-casados. As medalhas foram para casais que celebravam naqueles dias as bodas de prata ou de ouro.

A Família é realmente, o alicerce e o baluarte do futuro, a fonte emergente de todos os valores humanos e, em palavras do saudoso Papa, João Paulo II, “o manancial da humanidade do qual brotam as melhores energias criadoras do tecido social”...

Mas em muitos casos, esta família está doente!

No entanto é, continua a ser e será, a célula básica, o “núcleo natural e fundamental da sociedade” (Declaração Universal dos Direitos Humanos). Assim temos de reconhecer que se as células estão enfermas o corpo inteiro também adoece. Todos os problemas sociais são provocados por homens, homens que nascem numa família, homens que amadurecem ou se aviltam numa família, homens que se pervertem ou se santificam numa família.
Mas esta visão realista não pode levar-nos a uma atitude negativa ou pessimista...
Antes pelo contrário, deverá ser um estímulo para encontrarmos juntos – de forma consciente e activa – o antídoto capaz de debelar doença tão perniciosa...


Maria Helena H. Marques
Professora do Ensino Secundário

Os Avós



Durante a Assembleia do Conselho Pontifício para a Família, o Cardeal Tarcísio Bertone, assegurou, na sua intervenção, que numa sociedade marcada pelo hedonismo e superficialidade, o papel dos avós é chave na transmissão da fé. Alertou para a situação de muitos jovens cujas vidas manifestam claramente que os seus valores éticos “são cada vez mais superficiais, e dominados pelo hedonismo imperante”, reconhecendo como é importante a função dos avós, como “autêntica cadeia de transmissão da fé às novas gerações”.


Expressou também a sua preocupação pela tendência das famílias a “desagregarem-se cada vez mais, conforme os esposos se aproximam da idade madura”, uma fase em que necessitam de “amor e compreensão recíprocos”. Do mesmo modo, ressaltou a “força reconfortante e o seguro apoio moral” dos avós e precisou que estes, na maior parte dos casos, “transmitem valores perenes às novas gerações”.


Chamou ainda a atenção para a realidade de os anciãos nos recordarem que a vida na terra é uma parábola com um início, um desenvolvimento e um fim, e que para achar a plenitude da vida, esta deve ter como referência valores não efémeros, valores que perdurem...
Era geral a convicção dos participantes ao manifestar que os idosos jamais deveriam ser marginalizados por serem considerados um problema ou “uma carga”, mas antes apreciados como um recurso muito valioso.


Em vez de votados ao abandono ou esquecimento, ultrapassados pela cultura dominante em muitos sectores da sociedade, que não vê para lá do material ou do benefício imediato... os mais idosos devem ser reconhecidos como um recurso positivo para a família e para toda a sociedade. São os fiéis depositários de uma memória colectiva que pode ajudar a contemplar com esperança o presente e o futuro; são intérpretes privilegiados de ideais e de valores comuns que regem a convivência civil; são idóneos para compreender a complexidade da vida desde os acontecimentos que tiveram de afrontar, e ensinam de forma convincente a evitar os erros do passado.
Se de um modo geral, os avós têm vindo a proporcionar uma importante ajuda na atenção aos netos, nos países de emigração é também frequente que os avós desempenhem uma indispensável substituição quando o pai ou a mãe faltam. Por isso uma das exposições, a cargo de Mons. Agostino Marchetto, ocupou-se da “figura dos avós na família dos migrantes”.


Marchetto,que na Santa Sé se ocupa da Pastoral dos Migrantes, destacou que, no que se refere aos valores, a contribuição educativa dos avós é fundamental, uma vez que com a sua vivência e experiência ajudam as crianças a olhar as vicissitudes terrenas com mais sabedoria. “Pode afirmar-se –disse o arcebispo- que estes avós são pessoas disponíveis na colaboração com os pais na formação dos netos, a quem comunicam conselhos e apoio na educação, conforme as tradições do país de origem”.

Acontece com frequência que nos países de tradição católica os avós têem vindo a ter um novo papel na transmissão da fé. A isto se referiu o secretário de Estado, o cardeal Tarcísio Bertone, que salientou o apoio seguro que oferecem umas pessoas que “transmitem valores perenes às novas gerações”. Os anciãos recordam-nos que a vida na terra deve ter como referência valores perduráveis, não efémeros.
Este papel dos avós na família e na Igreja, foi também abordado por Bento XVI na audiência que concedeu aos participantes na assembleia.


Sublinhou que “a velhice, com os problemas ligados também aos novos contextos familiares e sociais, por causa do desenvolvimento moderno, deve ser avaliada com atenção e sempre à luz da verdade sobre o homem, sobre a família e sobre a comunidade. Há que reagir sempre com força aquilo que desumaniza a humanidade”. O Papa reiterou que os avós “continuam a ser um testemunho de unidade, de valores baseados na fidelidade a um único amor que gera a fé e a alegria de viver”.


Maria Helena Henriques Marques

Professora do Ensino Secundário