segunda-feira, 28 de janeiro de 2013

6ª Meta - CAPÍTULO SEGUNDO - CREIO EM JESUS CRISTO, FILHO ÚNICO DE DEUS

A BOA-NOVA: DEUS ENVIOU O SEU FILHO
Quando chegou a plenitude dos tempos, Deus enviou o seu Filho, nascido de uma mulher e sujeito à Lei, para resgatar os que estavam sujeitos à Lei e nos tornar seus filhos adotivos (Gl 4, 4-5). Esta é a Boa-Nova de Jesus Cristo, Filho de Deus. Nós cremos e confessamos que Jesus de Nazaré, judeu nascido duma filha de Israel, em Belém, no tempo do rei Herodes o Grande e do imperador César Augusto, carpinteiro de profissão, morto crucificado em Jerusalém sob o procurador Pôncio Pilatos no reinado do imperador Tibério, é o Filho eterno de Deus feito homem; que Ele saiu de Deus (Jo 13, 3), desceu do céu (Jo 3, 13; 6, 33) e veio na carne, porque o Verbo fez-Se carne e habitou entre nós. Nós vimos a sua glória, glória que Lhe vem do Pai como Filho Unigénito, cheio de graça e de verdade [...] Na verdade, foi da sua plenitude que todos nós recebemos, graça sobre graça (Jo 1, 14, 16).
Movidos pela graça do Espírito Santo e atraídos pelo Pai, nós cremos e confessamos a respeito de Jesus: Tu és o Cristo, o Filho de Deus vivo (Mt 16, 16). Foi sobre o rochedo desta fé, confessada por Pedro, que Cristo edificou a sua Igreja.
«ANUNCIAR A INSONDÁVEL RIQUEZA DE CRISTO»
A transmissão da fé cristã é, antes de mais, o anúncio de Jesus Cristo, para levar à fé n'Ele. Desde o princípio, os primeiros discípulos arderam no desejo de anunciar Cristo e convidam os homens de todos os tempos a entrar na alegria da sua comunhão com Cristo.
NO CORAÇÃO DA CATEQUESE: CRISTO
No coração da catequese, encontramos essencialmente uma Pessoa: Jesus de Nazaré, Filho único do Pai [...], que sofreu e morreu por nós e que agora, ressuscitado, vive connosco para sempre [...]. Catequizar [...] é revelar, na Pessoa de Cristo, todo o desígnio eterno de Deus [...]. É procurar compreender o significado dos gestos e das palavras de Cristo e dos sinais por Ele realizados. O fim da catequese é pôr em comunhão com Jesus Cristo: somente Ele pode levar ao amor do Pai, no Espírito, e fazer-nos participar na vida da Santíssima Trindade.
Aquele que é chamado a «ensinar Cristo» deve, portanto, antes de mais nada, procurar «esse lucro sobre-eminente que é o conhecimento de Jesus Cristo». Tem de «aceitar perder tudo [...] para ganhar Cristo e encontrar-se n'Ele» e «conhecê-Lo, a Ele, na força da sua ressurreição e na comunhão com os seus sofrimentos, conformar-se com Ele na morte, na esperança de chegar a ressuscitar dos mortos» (Fl 3, 8-11). Deste conhecimento amoroso de Cristo brota o desejo de O anunciar, de «evangelizar» e levar os outros ao «sim» da fé em Jesus Cristo. Mas, ao mesmo tempo, faz-se sentir a necessidade de conhecer sempre melhor esta fé. Com esse objetivo, seguindo a ordem do Símbolo da fé, primeiro serão apresentados os principais títulos de Jesus: Cristo, Filho de Deus, Senhor (Artigo 2). O Símbolo confessa, em seguida, os principais mistérios da vida de Cristo: da sua Encarnação (Artigo 3), da sua Páscoa (Artigos 4 e 5) e, por fim, da sua Glorificação (Artigos 6 e 7).
ARTIGO 2 - «E EM JESUS CRISTO, SEU ÚNICO FILHO, NOSSO SENHOR»
I. Jesus
Em hebraico, Jesus quer dizer Deus salva. Quando da Anunciação, o anjo Gabriel dá-Lhe como nome próprio o nome de Jesus, o qual exprime, ao mesmo tempo, a sua identidade e a sua missão. Uma vez que «só Deus pode perdoar os pecados» (Mc 2, 7), será Ele quem, em Jesus, seu Filho eterno feito homem, «salvará o seu povo dos seus pecados» (Mt 1, 21). Em Jesus, Deus recapitula, assim, toda a sua história de salvação em favor dos homens. Nesta história da salvação, Deus não Se contenta com libertar Israel «da casa da escravidão» (Dt 5, 6), fazendo-o sair do Egipto. Salvou-o também do seus pecados. Porque o pecado é sempre uma ofensa feita a Deus, só Ele é que pode absolvê-lo. É por isso que Israel, tomando cada vez mais consciência da universalidade do pecado, só poderá procurar a salvação na invocação do nome do Deus Redentor.
O nome de Jesus significa que o próprio nome de Deus está presente na pessoa do seu Filho feito homem para a redenção universal e definitiva dos pecados. Ele é o único nome divino que traz a salvação e pode desde agora ser invocado por todos, pois a todos os homens Se uniu pela Encarnação, de tal modo que «não existe debaixo do céu outro nome, dado aos homens, pelo qual possamos ser salvos» (Act 4, l2) (17). O nome de Deus salvador era invocado apenas uma vez por ano, pelo sumo sacerdote, para expiação dos pecados de Israel, depois de ter aspergido o propiciatório do «santo dos santos» com o sangue do sacrifício (o propiciatório era o lugar da presença de Deus). Quando São Paulo diz de Jesus que Deus O «ofereceu para, n'Ele, pelo seu sangue, se realizar a expiação» (Rm 3, 25), quer dizer que, na sua humanidade, «era Deus que em Cristo reconciliava o mundo consigo» (2 Cor 5, 19).
A ressurreição de Jesus glorifica o nome de Deus salvador porque, a partir daí, é o nome de Jesus que manifesta em plenitude o poder supremo do nome que está acima de todos os nomes» (Fl 2, 9-10). Os espíritos maus temem o seu nome e é em seu nome que os discípulos de Jesus fazem milagres, porque tudo o que pedem ao Pai, em seu nome, Ele lho concede. O nome de Jesus está no centro da oração cristã. Todas as orações litúrgicas se concluem com a fórmula «per Dominum nostrum Jesum Christum – por nosso Senhor Jesus Cristo». A Ave-Maria culmina nas palavras «e bendito é o fruto do vosso ventre, Jesus». A oração-do-coração dos Orientais, chamada «oração a Jesus», diz: «Jesus Cristo, Filho de Deus, Senhor, tem piedade de mim, pecador». E muitos cristãos morrem, como Santa Joana d'Arc, tendo nos lábios apenas uma palavra: «Jesus».
II. Cristo
Cristo vem da tradução grega do termo hebraico «Messias», que quer dizer «ungido». Só se torna nome próprio de Jesus porque Ele cumpre perfeitamente a missão divina que tal nome significa. Com efeito, em Israel eram ungidos, em nome de Deus, aqueles que Lhe eram consagrados para uma missão d'Ele dimanada. Era o caso dos reis, dos sacerdotes e, em raros casos, dos profetas. Este devia ser, por excelência, o caso do Messias, que Deus enviaria para estabelecer definitivamente o seu Reino. O Messias devia ser ungido pelo Espírito do Senhor, ao mesmo tempo como rei e sacerdote mas também como profeta. Jesus realizou a expectativa messiânica de Israel na sua tríplice função de sacerdote, profeta e rei.
O anjo anunciou aos pastores o nascimento de Jesus como sendo o do Messias prometido a Israel: «nasceu-vos hoje, na cidade de David, um salvador que é Cristo, Senhor» (Lc 2, 11). Desde a origem, Ele é «Aquele que o Pai consagrou e enviou ao mundo» (Jo 10, 36), concebido como «santo» no seio virginal de Maria. José foi convidado por Deus a «levar para sua casa Maria, sua esposa», grávida d'«Aquele que nela foi gerado pelo poder do Espírito Santo» (Mt 1, 20), para que Jesus, «chamado Cristo», nascesse da esposa de José, na descendência messiânica de David (Mt 1, 16).
Numerosos judeus, e mesmo alguns pagãos que partilhavam da sua esperança, reconheceram em Jesus os traços fundamentais do messiânico «filho de David», prometido por Deus a Israel. Jesus aceitou o título de Messias a que tinha direito, mas não sem reservas, uma vez que esse título era compreendido, por numerosos dos seus contemporâneos, segundo um conceito demasiado humano, essencialmente político. Jesus aceitou a profissão de fé de Pedro, que O reconhecia como o Messias, anunciando a paixão próxima do Filho do Homem. Revelou o conteúdo autêntico da sua realeza messiânica, ao mesmo tempo na identidade transcendente do Filho do Homem «que desceu do céu» (Jo 3, 13) e na sua missão redentora como Servo sofredor: «O Filho do Homem [...] não veio para ser servido, veio para servir e dar a vida como resgate pela multidão» (Mt 20, 28). Foi por isso que o verdadeiro sentido da sua realeza só se manifestou do cimo da cruz. E só depois da ressurreição, a sua realeza messiânica poderá ser proclamada por Pedro perante o Povo de Deus: «Saiba, com absoluta certeza, toda a casa de Israel, que Deus fez Senhor e Messias esse Jesus que vós crucificastes» (Act 2, 36).
  III. Filho único de Deus
Filho de Deus, no Antigo Testamento, é um título dado aos anjos, ao povo eleito aos filhos de Israel e aos seus reis. Nestes casos, significa uma filiação adotiva, que estabelece entre Deus e a sua criatura relações de particular intimidade. Quando o Rei-Messias prometido é chamado «filho de Deus», isso não implica necessariamente, segundo o sentido literal de tais textos, que Ele seja mais que um simples ser humano. Os que assim designaram Jesus, enquanto Messias de Israel, talvez não tenham querido dizer mais. Mas não é este o caso de Pedro, quando confessa Jesus como «Cristo, o Filho de Deus vivo», porque Jesus responde-lhe solenemente: «não foram a carne nem o sangue que to revelaram, mas sim o meu Pai que está nos céus» (Mt 16, 17). Se Pedro pôde reconhecer o carácter transcendente da filiação divina de Jesus-Messias, foi porque Este lha deixou perceber nitidamente. Diante do Sinédrio, à pergunta dos seus acusadores: «Então, tu és o Filho de Deus?» Jesus respondeu: «É como dizeis, sou» (Lc 22, 70). Já muito antes, Ele Se designara como «o Filho» que conhece o Pai, diferente dos «servos» que Deus anteriormente enviara ao seu povo, superior aos próprios anjos. Ele distinguiu a sua filiação da dos Seus discípulos, nunca dizendo «Pai nosso», a não ser para lhes ordenar: «vós, quando rezardes, dizei assim: Pai nosso» (Mt 6,9); e sublinhou esta distinção: «o meu Pai e vosso Pai» (Jo 20, 17).
Os evangelhos referem, em dois momentos solenes, no batismo e na transfiguração de Cristo, a voz do Pai, que O designa como seu «filho muito-amado». Jesus designa-Se a Si próprio como «o Filho único de Deus» (Jo 3, 16), afirmando por este título a sua preexistência eterna. E exige a fé «no nome do Filho único de Deus» (Jo 3, 18). Esta profissão de fé cristã aparece já na exclamação do centurião diante de Jesus crucificado: «Verdadeiramente, este homem era o Filho de Deus!» (Mc 15, 39); porque somente no Mistério Pascal o crente pode dar pleno significado ao título de «Filho de Deus». É depois da ressurreição que a filiação divina de Jesus aparece no poder da sua humanidade glorificada: «Segundo o Espírito santificante, pela sua ressurreição de entre os mortos, Ele foi estabelecido como Filho de Deus em poder» (Rm 1, 4) (62). E os Apóstolos poderão confessar: «Nós vimos a sua glória, glória que Lhe vem do Pai como a Filho único, cheio de graça e de verdade» (Jo 1, 14).
IV. Senhor
Na tradução grega dos Livros do Antigo Testamento, o nome inefável sob o qual Deus Se revelou a Moisés, YHWH, é traduzido por « Kyrios» («Senhor»). Senhor torna-se, desde então, o nome mais habitual para designar a própria divindade do Deus de Israel. É neste sentido forte que o Novo Testamento utiliza o título de «Senhor», tanto para o Pai como também – e aí é que está a novidade – para Jesus, assim reconhecido como sendo Ele próprio Deus. O próprio Jesus veladamente atribui a Si mesmo este título, quando discute com os fariseus sobre o sentido do Salmo 110, e também, de modo explícito, ao dirigir-Se aos Apóstolos. Ao longo de toda a vida pública, os seus gestos de domínio sobre a natureza, sobre as doenças, sobre os demónios, sobre a morte e o pecado, demonstravam a sua soberania divina.
Muitíssimas vezes, nos evangelhos, aparecem pessoas que se dirigem a Jesus chamando-lhe «Senhor». Este título exprime o respeito e a confiança dos que se aproximam de Jesus e d'Ele esperam socorro e cura. Pronunciado sob a moção do Espírito Santo, exprime o reconhecimento do Mistério divino de Jesus. No encontro com Jesus ressuscitado, transforma-se em adoração: «Meu Senhor e meu Deus» (Jo 20, 28). Assume então uma conotação de amor e afeição, que vai ficar como típica da tradição cristã: «E o Senhor!» (Jo 21, 7). Ao atribuir a Jesus o título divino de Senhor, as primeiras confissões de fé da Igreja afirmam, desde o princípio, que o poder, a honra e a glória, devidos a Deus Pai, também são devidos a Jesus, porque Ele é «de condição divina» (Fl 2, 6) e o Pai manifestou esta soberania de Jesus ressuscitando-O de entre os mortos e exaltando-O na sua glória.
Desde o princípio da história cristã, a afirmação do senhorio de Jesus sobre o mundo e sobre a história significa também o reconhecimento de que o homem não deve submeter a sua liberdade pessoal, de modo absoluto, a nenhum poder terreno, mas somente a Deus Pai e ao Senhor Jesus Cristo: César não é o «Senhor». «A Igreja crê... que a chave, o centro e o fim de toda a história humana se encontra no seu Senhor e Mestre».
A oração cristã é marcada pelo título de «Senhor», quer no convite à oração: «O Senhor esteja convosco», quer na conclusão da mesma: «Por nosso Senhor Jesus Cristo», quer ainda pelo grito cheio de confiança e de esperança: «Maran atha» («O Senhor vem!») ou «Marana tha» («Vem, Senhor!») (1 Cor 16, 22): «Amen, vem, Senhor Jesus!» (Ap 22, 20).

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