terça-feira, 18 de março de 2008

Famílias rebeldes e numerosas III


Aliados secretos


Na guerra cultural, as famílias têm também os seus aliados secretos.


Quando, de repente, aparecem uns desconhecidos que dizem ”tem uns meninos preciosos!” ou “é um valente!” ou “que sorte tem!”, ao pai abatido se lhe eleva a moral, como a um soldado nas trincheiras depois de saber que os reforços vêm a caminho.


Sabendo isto, faço, agora, um esforço consciente para felicitar os pais e mães com filhos pequenos, para os ajudar a abrir uma porta ou para os ajudar com o carrito. Um sorriso cúmplice que diga “a paternidade não é para pusilânimes” é, por vezes, o elixir que um pai necessita de ouvir para superar um ou outro “desastre infantil”.


Conto um episódio que aconteceu comigo:

Por causa de uma série de circunstâncias complicadas, há pouco tempo a minha mulher teve de ir sozinha à igreja com a nossa filha pequena. No final da Missa, a pequena Catarina chorava tão alto que muitos voltaram a cabeça. Minha mulher corou e pareceu-lhe eterno o caminho até à porta. Mas o que de mais importante sucedeu neste episódio foi que um desconhecido se aproximou dela, felicitou-a por ter solucionado o problema dizendo-lhe que sabia quão difícil era a sua tarefa.


Apesar de se ter sentido tão mal, quando mais tarde me contou, estava radiante. Nunca é demais que se dê ânimo!


No mundo actual, os pais e as mães necessitam disso mais do que nunca.

Aceprensa, 20-06-2007


Tradução e adaptação: Maria Helena Henriques Marques

Professora do Ensino Secundário

Famílias rebeldes e numerosas II



O recurso mais valioso: a geração futura



Se dissipamos a cortina de fumo, veremos o que os índices de natalidade mostram: uma sociedade contrária às crianças.




Qualquer país necessita de um mínimo de 2,1 filhos por mulher (Estados Unidos, por exemplo) só para sobreviver. Uma sociedade que ama as crianças não pode ter uma taxa de fecundidade de apenas 1,5 filhos por mulher, como no Canadá, ou de 1,3, como em Espanha, Itália e Grécia. De facto, toda a Europa tem populações implosivas, a julgar pelas suas taxas de fecundidade.



Até há pouco tempo, quando numerosos países ocidentais se depararam com a crise de natalidade, não se oferecia qualquer tipo de benefício fiscal às famílias que geravam o recurso mais valioso: a geração seguinte.



O que acontece, hoje em dia, em quase todos os países ocidentais, momentos após uma mulher ter dado à luz uma criança, é uma enfermeira dar-lhe uma palestra sobre os métodos anticonceptivos. As Nações Unidas disponibilizam fundos, colocando-os à disposição da organização de planeamento familiar Planned Parenthood que gasta mais dinheiro em pôr fim às gravidezes que em qualquer outra coisa, mas quando os casais têm filhos, escondem esses recursos.




Enviam-se crianças para os infantários, mas não há nenhum adulto que levante a mão quando se pergunta: Quem teria preferido o infantário a estar com a sua mãe quando era menino?



O mundo ocidental padece de algo pior que um desdobramento da personalidade: o que é uma bênção para uns, é uma carga para outros.



Quando as duas partes se encontram, os acontecimentos podem dar uma volta curiosa.




Certa pessoa bem conhecida levou todos os seus cinco filhos às compras. Quando o funcionário da caixa se inteirou de que todos os meninos eram dela, comentou: “há grandes avarentos”.




Que estranho!...Não?



Porém, os comentários depreciativos de que são alvo as mães, em muitos casos, não são dirigidos a elas, mas sim à pessoa que os pronuncia. São, muitas vezes, justificações para a mulher que decidiu não ter filhos e agora se arrepende porque esperou demasiado.



Geralmente, a hostilidade dos homens não é mais que o mesmo egocentrismo de sempre.




Deparei-me com esta situação, pela primeira vez, quando o meu primeiro filho tinha seis meses e o levei a um restaurante onde me encontrei com pessoas conhecidas. Para o jovem casal que tinha ao lado, ter família não entrava nos seus planos devido às consequências para a figura dela, à vida sexual de ambos, às noites de hóquei dele e aos seus planos de viagem de ambos. O marido, inclinando-se para nós para expressar a sua opinião, cruzou os indicadores das mãos, colocou-os à frente da cara do meu filho e como se se protegesse de algum mal, disse desafiante que, para eles, ter filhos estava, absolutamente, fora de toda e qualquer discussão. Ela nada disse.



Vendo agora este episódio à distância, creio que esta cena foi uma mensagem para ela, não para mim.

Aceprensa, 20-06-2007



Tradução e adaptação: Maria Helena Henriques Marques
Professora do Ensino Secundário

Famílias rebeldes e numerosas I


As mães e os pais de famílias numerosas necessitam de um arsenal de ideias e frases para responder à mentalidade anti-natalista. Quem tem filhos encontra-se na primeira linha de fogo da guerra cultural. Contrastando com o ditado “um filho é uma bênção”, há casos de uma patente hostilidade.

Contemos um caso:

Maria López e seu marido, Alex vivem na capital do Canadá, Otava, e quando vão ao restaurante com os seus 4 filhos recebem mais sorrisos do que más caras, mais elogios que menosprezo. Porém, assombra-os que tenham também de ouvir críticas.


Num mundo em que a maioria nos tem ensinado que, quando não temos nada de agradável para dizer, é melhor não nos pronunciarmos, não deixa de ser revelador que as pessoas condenem abertamente as famílias que tomaram a decisão de ter mais filhos quando, segundo parece, não se deve ter mais do que dois.


Em certa ocasião, uma mulher, referindo-se a um homem com cinco filhos, disse a López: “Será que este não ouviu falar de controlo de natalidade?” López restorquiu-lhe do modo mais suave que pôde: “Afinal, não é a favor da liberdade de escolha? Pois isto foi o que ele escolheu”.

Frases com gancho - é a resposta!


Na era das frases curtas com gancho, as mães e os pais encontram-se na primeira linha de fogo na batalha das ideias tentando defender a família.


Como pai que sou de quatro filhos, estava eu com um pequeno grupo de famílias canadianas, quando a conversa girou para o tema da hostilidade que existe contra os que têm mais de dois filhos. A nossa conversa converteu-se, então, numa sessão estratégica improvisada acerca do modo como responder, de maneira coerente, a esses ataques. Todos estávamos de acordo em que, depois do insulto, o melhor é actuar com rapidez.


Os que atacam, apresentam-se com um sorriso complacente mas, na realidade, não querem discutir a filosofia da norma (regra) não escrita dos dois filhos. Ao contrário, os pais atacados gostariam de poder responder, prontamente, com uma máxima que conduzisse, posteriormente, a uma reflexão. “Creio que o melhor presente que podes oferecer a um menino é dar-lhe irmãos” foi a resposta ganhadora.

Agora, imagine que tem, por exemplo, dez filhos. Ora, um casal do Texas com dez filhos conta que a maior parte das pessoas fica maravilhada ao vê-los. É frequente nos restaurantes, perguntar-se-lhes a que acampamento pertence o grupo.


Contudo, uma vez, disseram-lhes: “Acham que são pessoas responsáveis tendo dez filhos?”
A esta inusitada pergunta a mãe, Catherine Musco Garcia-Prats, respondeu: “Nós não medimos o nosso sentido de responsabilidade pelo número de filhos que temos, mas sim pelo que fazemos com eles”. (Por esta resposta, nota-se que tem prática em responder às críticas).


Quando, noutra ocasião, lhe perguntaram se tem tempo para amar a tantos, Garcia-Prats responde: “O amor multiplica-se. Cada um deles conta com nove irmãos que o adoram. Eu não digo que ter filhos significa contar com alguém que venha ver-me quando for velho. Esta é que é uma resposta egoísta! Prefiro dizer que as crianças convidam ao sacrifício e estimulam a bondade das pessoas. Os meninos fazem do mundo um lugar melhor na medida em que obrigam os pais a amadurecer ao fazer-lhes pensar nas necessidades dos outros.

Aceprensa, 20-06-2007



Tradução e adaptação: Maria Helena Henriques Marques
Professora do Ensino Secundário

“Diz-me como te vestes, dir-te-ei quem és”

Começo por contar uma pequena história.

Um dia, um jovem professor contratado, de brinco na orelha e piercing no sobrolho, foi substituir uma colega do 1º ciclo numa aldeia. Os pais das crianças, quando o viram, tiveram uma imediata reacção de desconfiança, aliás apercebida pelo professor que se apressou a falar com eles para lhes transmitir serenidade e confiança. É que a aparência, sem ser o mais importante, conta.

Os psicólogos sociais demonstraram, por exemplo, que a imagem do conferencista é o factor mais importante para o êxito de uma conferência, estando acima do próprio conteúdo e do tom de voz.

Inconscientemente, quando não conhecemos alguém, fazemos um juízo dessa pessoa, rapidamente, em poucos segundos – como um flash fotográfico – baseando-nos nessa aparência.

Os fins do vestuário podem-se resumir a três: o principal é o de servir de protecção ao frio, ao calor, etc. Outro é o de resguardar a intimidade. O terceiro pode referir-se como o de adorno, já que pode de algum modo contribuir para elevar a dignidade humana.

Uma boa peça de vestuário consegue os três fins ao mesmo tempo. Um bom estilista não precisa servir-se do sexo para chamar a atenção. Se numa moda o que se observa primeiro é o sexo, estamos perante um modelo escasso de ideias e originalidade.

A moda hoje é suficientemente versátil para que cada qual – sobretudo a mulher, eternamente atraída pela beleza – saiba encontrar na panóplia de cortes, padrões, materiais, cores, acessórios o seu estilo próprio.

Ser elegante mais do que usar o que está “in fashion” é saber tirar o melhor partido do que a natureza nos concedeu. “Diz-me como te vestes, dir-te-ei quem és”. O modo como cada qual se apresenta, tem muito a ver com a interioridade da pessoa, embora haja excepções à regra.
Uma “Maria mal pronta” demonstra pouca cortesia, provavelmente falta de diligência ou reflexão.
Noutro extremo, as “fashion victims” demonstram falta de espírito crítico, por vezes futilidade e escassa intimidade.

Actualmente a mulher e sobretudo na estação quente que se aproxima, necessita de ideias muito claras e uma forte personalidade para não se deixar arrastar pelo ambiente.
Uma mulher, esclarecida, sabe ser e parecer aquilo que é.

Rosa Lopes