sexta-feira, 27 de março de 2015

Um sentimento de infelicidade...

                S. Tomás de Aquino fala da inveja como uma tristeza, como um sentimento de infelicidade diante da felicidade alheia, ou de felicidade, diante  da infelicidade dos outros: “ sendo a inveja uma tristeza pela glória do outro, considerada como certo mal, segue-se que, movido pela inveja, tenda a fazer coisas contra a ordem moral, para atingir o próximo”. Ela é um dos muitos frutos da natureza humana decaída. A inveja produz profundos estragos na vida espiritual e na vida de relação com o próximo. Porque requer a comparação entre o Eu e o Outro implica o desejo de suprimir as diferenças. Assim, nivelamos por baixo: se eu não posso ter, não suporto conviver com alguém que tenha!
      A cobiça, ao contrário, é mais saudável: nivela por cima; se o outro tem, eu também quero ter! A questão é conjugar esforços e meios lícitos e adequados.

  Recordamos como em 2008, o Papa Bento XVI proclamou oficialmente, o Ano Paulino, que decorreu até 29 de Junho de 2009, festa de S. Pedro e S. Paulo.
      Promoveu-se uma reflexão profunda sobre a herança teológica e espiritual que S. Paulo deixou à Igreja, através da sua vasta obra de evangelização.
      Desse património riquíssimo destacamos um pequeno texto da 1.ª Carta aos Coríntios, sobre a caridade, como ponto de partida para a nossa reflexão. Diz S. Paulo: “Ainda que eu fale as línguas dos homens e dos anjos, se não tiver caridade, sou como o bronze que ressoa, ou como címbalo que tine. Ainda que eu tenha o dom da profecia e conheça todos os mistérios e toda a ciência, ainda que possua a fé em plenitude, se não tiver caridade, nada sou... “A Caridade é benigna, não é invejosa!”

      Um texto magnífico que é sempre útil reler e meditar…
      A caridade é um antídoto radical da “inveja”, que consiste num descontentamento e má vontade acerca da felicidade, vantagens, posses, beleza, bondade, etc., de outros.
      Do latim invidere – significa “não querer ver” o bem-estar dos outros. Trata-se, portanto, de uma negação radical da bondade, da beleza e da verdade.
      Levados pela inveja, negamos as virtudes e qualidades dos outros. Porque a inveja gera “ desgosto ou tristeza perante o bem do próximo” (S. T., II-II, 36), considerado como mal próprio, porque se pensa que diminui a nossa própria grandeza, felicidade, bem-estar ou prestígio.
      A Caridade, ao contrário, alegra-se com o bem dos outros construindo a sua união…
      A inveja brota, geralmente, da soberba (cf. S. T., II- II...) e surge, especialmente, entre aqueles que desejam desordenadamente uma honraria, ansiosos de consideração e elogios. Como sabemos, é pecado capital… por ser origem de muitos outros: o ódio, a murmuração, o gozar com o mal dos outros, o ressentimento, a tristeza diante do seu sucesso … Quando se trata de um sentimento que nos faz procurar o trilho de um caminho que nos leve a ter as mesmas oportunidades que cobiçamos do nosso semelhante, dizemos que “essa cobiça é saudável “, porque nos faz crescer, sem desejar o mal de outrém, sem odiar, sem maldizer...
      No entanto, há inveja que mata! Não mata a quem é dirigida mas sim a quem a possui e cultiva, uma vez que mina o seu espírito, a sua vida de paz, o seu trabalho, os seus amigos, os seus amores e, finalmente, mina a si próprio, porque corrói.
      Ninguém está livre desse sentimento, mas está ao nosso alcance vigiar e utilizar os meios disponíveis para afastá-lo... Procurar ser suficientemente humildes para reconhecer e apreciar o valor de outras pessoas e para aceitar que nem sempre se pode ganhar.
      Ser inteligente, para tentar aprender com quem é melhor, numa determinada área.
      Ter a coragem de despir a própria vaidade para oportunamente, e com verdade, elogiar... Procurar ver as outras pessoas com bons olhos, porque “muitas vezes os defeitos que julgamos descobrir e apontamos nos outros, são simplesmente as suas qualidades vistas com maus olhos” . (Dr. H. Azevedo).
      “ Contra a inveja, Caridade “, diz-nos com uma frase clássica o Catecismo. A caridade permite sair da prisão do egoísmo, da prisão interior criada pelas comparações e aprender a admirar-se com as outras pessoas, sabendo amá-las com generosidade e entusiasmo e fazendo de cada contacto pessoal, uma aprendizagem.
      Somos criaturas humanas e, por isso, é inevitável que haja dificuldades no nosso caminho. Havemos de ter sempre tendências que nos puxem para baixo e sempre precisaremos de nos defender desses delírios mais ou menos veementes...


                                                                                                          Maria Helena  Marques

                                                                                                                                                                       Prof.ª Ensino  Secundário

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