S. Tomás de Aquino fala da inveja
como uma tristeza, como um sentimento de infelicidade diante da felicidade
alheia, ou de felicidade, diante da
infelicidade dos outros: “ sendo a inveja uma tristeza pela glória do outro,
considerada como certo mal, segue-se que, movido pela inveja, tenda a fazer
coisas contra a ordem moral, para atingir o próximo”. Ela é um dos muitos
frutos da natureza humana decaída. A inveja produz profundos estragos na vida
espiritual e na vida de relação com o próximo. Porque requer a comparação entre
o Eu e o Outro implica o desejo de suprimir as diferenças. Assim, nivelamos por
baixo: se eu não posso ter, não suporto conviver com alguém que tenha!
A cobiça, ao contrário, é mais saudável:
nivela por cima; se o outro tem, eu também quero ter! A questão é conjugar
esforços e meios lícitos e adequados.
Recordamos como em
2008, o Papa Bento XVI proclamou oficialmente, o Ano Paulino, que decorreu até
29 de Junho de 2009, festa de S. Pedro e S. Paulo.
Promoveu-se uma reflexão profunda sobre a
herança teológica e espiritual que S. Paulo deixou à Igreja, através da sua
vasta obra de evangelização.
Desse património riquíssimo destacamos um
pequeno texto da 1.ª Carta aos Coríntios, sobre a caridade, como ponto de
partida para a nossa reflexão. Diz S. Paulo: “Ainda que eu fale as línguas dos
homens e dos anjos, se não tiver caridade, sou como o bronze que ressoa, ou
como címbalo que tine. Ainda que eu tenha o dom da profecia e conheça todos os
mistérios e toda a ciência, ainda que possua a fé em plenitude, se não tiver
caridade, nada sou... “A Caridade é benigna, não é invejosa!”
Um texto magnífico que é sempre útil
reler e meditar…
A caridade é um antídoto radical da
“inveja”, que consiste num descontentamento e má vontade acerca da felicidade,
vantagens, posses, beleza, bondade, etc., de outros.
Do latim invidere – significa “não querer
ver” o bem-estar dos outros. Trata-se, portanto, de uma negação radical da bondade,
da beleza e da verdade.
Levados pela inveja, negamos as virtudes
e qualidades dos outros. Porque a inveja gera “ desgosto ou tristeza perante o
bem do próximo” (S. T., II-II, 36), considerado como mal próprio, porque se
pensa que diminui a nossa própria grandeza, felicidade, bem-estar ou prestígio.
A Caridade, ao contrário, alegra-se com o
bem dos outros construindo a sua união…
A inveja brota, geralmente, da soberba
(cf. S. T., II- II...) e surge, especialmente, entre aqueles que desejam
desordenadamente uma honraria, ansiosos de consideração e elogios. Como
sabemos, é pecado capital… por ser origem de muitos outros: o ódio, a
murmuração, o gozar com o mal dos outros, o ressentimento, a tristeza diante do
seu sucesso … Quando se trata de um sentimento que nos faz procurar o trilho de
um caminho que nos leve a ter as mesmas oportunidades que cobiçamos do nosso
semelhante, dizemos que “essa cobiça é saudável “, porque nos faz crescer, sem
desejar o mal de outrém, sem odiar, sem maldizer...
No entanto, há inveja que mata! Não mata
a quem é dirigida mas sim a quem a possui e cultiva, uma vez que mina o seu
espírito, a sua vida de paz, o seu trabalho, os seus amigos, os seus amores e,
finalmente, mina a si próprio, porque corrói.
Ninguém está livre desse sentimento, mas está ao nosso alcance vigiar e
utilizar os meios disponíveis para afastá-lo... Procurar ser suficientemente
humildes para reconhecer e apreciar o valor de outras pessoas e para aceitar
que nem sempre se pode ganhar.
Ser
inteligente, para tentar aprender com quem é melhor, numa determinada área.
Ter a coragem de despir a própria vaidade
para oportunamente, e com verdade, elogiar... Procurar ver as outras pessoas
com bons olhos, porque “muitas vezes os defeitos que julgamos descobrir e
apontamos nos outros, são simplesmente as suas qualidades vistas com maus
olhos” . (Dr. H.
Azevedo).
“ Contra a inveja, Caridade “, diz-nos
com uma frase clássica o Catecismo. A caridade permite sair da prisão do egoísmo,
da prisão interior criada pelas comparações e aprender a admirar-se com as
outras pessoas, sabendo amá-las com generosidade e entusiasmo e fazendo de cada
contacto pessoal, uma aprendizagem.
Somos criaturas humanas e, por isso, é
inevitável que haja dificuldades no nosso caminho. Havemos de ter sempre
tendências que nos puxem para baixo e sempre precisaremos de nos defender
desses delírios mais ou menos veementes...
Maria Helena Marques
Prof.ª Ensino Secundário