Deixando-nos
levar pela contínua preocupação de buscar
a verdade e partilhá-la, encontrámo-nos a reler a Encíclica do Papa João
Paulo II, O Esplendor da Verdade.
Numa nota introdutória, o Papa reconhece
que esse esplendor brilha em todas as obras da Criação, particularmente no
homem criado à imagem e semelhança de Deus (Gn. I, 26): verdade que ilumina
a inteligência e modela a liberdade do homem, que, deste modo, é levado a conhecer e a amar o seu Criador...
Na
Encíclica, o Pontífice falecido alertou para a “decadência do sentido moral” na
sociedade e suas consequências dramáticas para a democracia.
“Uma democracia sem valores,
transforma-se com facilidade num totalitarismo visível ou encoberto”, afirma o
texto com grande realismo. “A origem do totalitarismo moderno deve ser vista na
negação da dignidade transcendente da pessoa, sujeito natural de direitos que
ninguém pode violar; nem o indivíduo, nem a família, nem a sociedade, a Nação
ou o Estado”. Manifesta-se antes a necessidade de uma vibrante defesa da
liberdade e dos direitos humanos!
Dirigindo-se aos Bispos do mundo inteiro
afirma que o seu objectivo “é o de preservar a sã doutrina, para debelar aquela
que constitui, sem sombra de dúvida, uma verdadeira crise, tão graves são as
dificuldades que acarreta para a vida moral dos fiéis e para a comunhão da
Igreja”.
No centro da “crise”, o Papa vê uma grave
“contestação ao património moral da Igreja”. Diz: “Não se trata de contestações
parciais e ocasionais, mas de uma discussão global e sistemática do património
moral... Rejeita-se, assim, a doutrina tradicional sobre a lei natural, sobre a
universalidade e a permanente validade dos seus preceitos e consideram-se
simplesmente inaceitáveis alguns ensinamentos morais da Igreja...” (n. 4).
Nas razões que geram esta crise moral, o
Papa vê o questionamento que se faz aos “Mandamentos de Deus, inscritos no
coração do homem e que têm capacidade para iluminar as opções diárias dos
indivíduos e das sociedades inteiras”.
No centro desta crise, o Santo Padre
aponta a separação que alguns querem fazer entre a moral e a fé do Evangelho.
Preocupado em resolvê-la, o Papa reafirma
que “ o mistério do homem só se esclarece verdadeiramente no Mistério da
Encarnação de Jesus Cristo, Caminho, Verdade e Vida” (Jo 14,6); sem Ele o homem
permanece desconhecido para si mesmo, um mistério insondável, um enigma
indecifrável. Sem a verdade de Jesus, “ a luz que ilumina todo o homem que vem
a este mundo”, o homem não é verdadeiramente livre, e não tem uma consciência
esclarecida para viver a vontade divina
expressa nos Mandamentos.
Diz o Papa: “A liberdade do homem,
encontra a sua plena e verdadeira realização na lei moral que Deus deu ao
homem. Deus, que “só é bom”, conhece perfeitamente o que é bom para o homem, e,
devido ao seu mesmo amor, propõe-no nos Mandamentos.
Por isso, não é lícito que cada cristão
queira fazer a fé e a moral segundo o “seu” próprio juízo do bem e do mal...
Pode viver-se sem a verdade? Qual é o
sentido da vida humana? Quais são os valores que lhe dão autenticidade e
grandeza? O que leva o homem a ser feliz, realmente?
Diante destas questões, não estranhamos
que João Paulo II se tenha empenhado infatigavelmente em dar doutrina clara,
ideias esclarecedoras sobre as questões morais em que mais se desorienta e
claudica o católico actual, sujeito à vertigem de erros que gritam fortemente.
Verificamos como são colocados
diariamente sobre um pedestal, elogiados pelo materialismo laicista e
incentivados pela mídia, comportamentos morais que destroem a dignidade do
homem e da mulher, criados à imagem de Deus; que aviltam a grandeza do amor, do
casamento e da família; e a do caráter sagrado da vida e da morte...
Estamos perante questões essencialmente
éticas!...
Então, qual é a luz, o referencial ao
qual nos reportamos para emitir um parecer correcto sobre estes temas?
Quem é que define o bem e o mal, o certo
e o errado das atitudes e comportamentos? Com que critérios deve ser definido o
bem e o mal?
Através de uma ”moral de consenso”
conducente a autênticas aberrações – conforme temos presenciado (casamento
homossexual, aborto, eliminação de fetos e até de crianças portadoras de deficiência,
de idosos, etc.).
Concluímos que, na realidade, existe um
referencial claro, o esplendor da verdade contida nos Mandamentos da Lei de
Deus, proclamados no Sinai, mandamentos que “nos ensinam a verdadeira
humanidade do homem” e “enunciam as exigências do amor de Deus e do próximo”;
mandamentos que resumem a lei divina natural, válida para todos os povos e
todas as crenças, e que foram elevados até
ao máximo nível do amor pelos ensinamentos e o exemplo de Jesus Cristo
que, verdadeiramente, nos trouxe a luz da vida! (Jo 8,12).
Maria Helena Marques
Prof.ª Ensino secundário