Viajando pelos
caminhos do passado, somos levados a constatar que cada época se tem caracterizado
por uma determinada barbaridade…E apesar da visível e magnífica evolução da
humanidade em tantos aspectos, surpreende-nos, de forma confrangedora, o
retrocesso civilizacional que se verifica em matérias de Direitos Humanos.
Ao longo dos
séculos, a História foi registando diversas ocorrências de “escravaturas” sob
formas diferentes, praticadas por civilizações em que os homens dessas épocas,
as vêem como acontecimentos normais.
Aconteceu também
entre nós, durante quatro séculos (séc. XV a finais do séc. XIX), com a
escravatura propriamente dita; com o desconhecimento da igualdade entre homem e
mulher, etc. e assim acontece hoje com o absurdo do aborto e outras aberrações
aviltantes…
Mas decorridos
que sejam mais alguns anos, os vindouros olharão o século XX e XXI com assombro
e, perguntar-se-ão, como fomos capazes de conviver pacificamente com milhões de
vidas humanas inocentes, eliminadas no seio materno ao abrigo de leis iníquas, na
presença da Ciência e de uma sociedade indiferente ao drama imenso da barbárie
violenta, mais ou menos silenciosa e contínua!...
Nos últimos
tempos, têm-nos chegado ecos de alguns países, através dos meios de comunicação
social, de relatos comoventes acerca do que tem acontecido nas chamadas
“clínicas abortistas ”: diz-se que ali, e noutros lugares semelhantes, –
infelizmente também entre nós – se aplica com frialdade a “pena de morte” a
inocentes indefesos através de métodos industriais, a troco de dinheiro! Quanto
tempo durará esta comoção?! Quanto tempo levará a nossa sociedade a esquecer-se
destas revelações? De um modo geral, fará qualquer sentido o aborto?! Estará
esta realidade, de acordo com o espírito do nosso tempo? Contribuirá ela para
uma sociedade mais feliz e mais justa, mais respeitadora do outro, mais
solidária e mais desenvolvida que dizemos querer construir?!
Recordamos que,
felizmente, fomos um dos primeiros países a abolir a escravatura e a pena de
morte por crimes civis! No entanto, temos andado nos últimos tempos a `reboque`
de outros como os Estados Unidos da América, a Inglaterra, Espanha, etc., no
concernente a direitos fundamentais, nomeadamente no que toca ao direito à
vida…
Para os nossos
dias, o aborto é, como sabemos, o preço da “libertinagem sexual”; é como a
escravidão para os antigos que não podiam conceber uma sociedade sem escravos!
Assim, diante destas realidades, podemos concluir que, nestes temas, o
argumento não actua como arma da razão para esclarecer-se, mas antes como
recusa do coração para converter-se...
A luta contra
o aborto que vai progredindo em muitos países, deve passar por recuperar uma
visão responsável da sexualidade... Não restam dúvidas de que será um caminho
mais árduo do que o empenho directo para mudar o Código Penal em matéria de
aborto, mas parece ser o único possível!
Acabar com a
escravidão levou séculos de esforço pedagógico e antropológico acerca da
dignidade universal de todos os seres humanos; acabar com o aborto levar-nos-á os anos que sejam necessários de esforço político e pedagógico sobre a
nobreza e dignidade da sexualidade humana. Quanto mais depressa nos ponhamos a
caminho, mais cedo chegaremos à meta. E, enquanto avançamos, reduzamos tanto quanto
possível, o terrível ambiente de desumanidade legalizada por uma pequena
minoria, que promoveu essa lei infame na nossa sociedade!
Actuar com
todos os meios lícitos disponíveis contra a bárbara instrumentalização da vida
humana, é e será, necessariamente, a maior e mais nobre causa mobilizadora dos
novos Homens e Mulheres do nosso tempo, qualquer que seja a sua matriz
política, religiosa ou cultural.
É, sem dúvida,
o desafio prioritário que nos anima! …
Maria
Helena Henriques Marques
Professora Ensino Secundário
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