"Na Quaresma deste Ano Santo [que se inicia a 8 de dezembro de 2015 e que decorre até 30 de novembro de 2016], é minha intenção enviar os
Missionários da Misericórdia. Serão um sinal da solicitude materna da Igreja
pelo povo de Deus, para que entre em profundidade na riqueza deste mistério tão
fundamental para a fé. Serão sacerdotes a quem darei autoridade de perdoar
mesmo os pecados reservados à Sé Apostólica, para que se torne evidente a
amplitude do seu mandato. Serão sobretudo sinal vivo de como o Pai acolhe a
todos aqueles que andam à procura do seu perdão. Serão missionários da
misericórdia, porque se farão, junto de todos, artífices dum encontro cheio de
humanidade, fonte de libertação, rico de responsabilidade para superar os
obstáculos e retomar a vida nova do Baptismo. Na sua missão, deixar-se-ão guiar
pelas palavras do Apóstolo: «Deus encerrou a todos na desobediência, para com
todos usar de misericórdia» (Rm 11, 32). Na verdade todos, sem excluir ninguém,
estão chamados a acolher o apelo à misericórdia. Os missionários vivam esta
chamada, sabendo que podem fixar o olhar em Jesus, «Sumo Sacerdote
misericordioso e fiel» (Hb 2, 17).
Peço aos irmãos bispos que convidem e acolham estes
Missionários, para que sejam, antes de tudo, pregadores convincentes da
misericórdia. Organizem-se, nas dioceses, «missões populares», de modo que
estes Missionários sejam anunciadores da alegria do perdão. Seja-lhes pedido
que celebrem o sacramento da Reconciliação para o povo, para que o tempo de
graça, concedido neste Ano Jubilar, permita a tantos filhos afastados encontrar
de novo o caminho para a casa paterna. Os pastores, especialmente durante o
tempo forte da Quaresma, sejam solícitos em convidar os fiéis a aproximar-se «do
trono da graça, a fim de alcançar misericórdia e encontrar graça» (Hb 4, 16).
19. Que a palavra do perdão possa chegar a todos e a chamada
para experimentar a misericórdia não deixe ninguém indiferente. O meu convite à
conversão dirige-se, com insistência ainda maior, àquelas pessoas que estão
longe da graça de Deus pela sua conduta de vida. Penso de modo particular nos
homens e mulheres que pertencem a um grupo criminoso, seja ele qual for. Para
vosso bem, peço-vos que mudeis de vida. Peço-vo-lo em nome do Filho de Deus
que, embora combatendo o pecado, nunca rejeitou qualquer pecador. Não caiais na
terrível cilada de pensar que a vida depende do dinheiro e que, à vista dele,
tudo o mais se torna desprovido de valor e dignidade. Não passa de uma ilusão.
Não levamos o dinheiro connosco para o além. O dinheiro não nos dá a verdadeira
felicidade. A violência usada para acumular dinheiro que transuda sangue não
nos torna poderosos nem imortais. Para todos, mais cedo ou mais tarde, vem o
juízo de Deus, do qual ninguém pode escapar.
O mesmo convite chegue também às pessoas fautoras ou
cúmplices de corrupção. Esta praga putrefacta da sociedade é um pecado grave
que brada aos céus, porque mina as próprias bases da vida pessoal e social. A
corrupção impede de olhar para o futuro com esperança, porque, com a sua
prepotência e avidez, destrói os projectos dos fracos e esmaga os mais pobres.
É um mal que se esconde nos gestos diários para se estender depois aos
escândalos públicos. A corrupção é uma contumácia no pecado, que pretende
substituir Deus com a ilusão do dinheiro como forma de poder. É uma obra das
trevas, alimentada pela suspeita e a intriga. Corruptio optimi pessima: dizia, com razão, São Gregório Magno,
querendo indicar que ninguém pode sentir-se imune desta tentação. Para a
erradicar da vida pessoal e social são necessárias prudência, vigilância,
lealdade, transparência, juntamente com a coragem da denúncia. Se não se
combate abertamente, mais cedo ou mais tarde torna-nos cúmplices e destrói-nos
a vida.
Este é o momento favorável para mudar de vida! Este é o
tempo de se deixar tocar o coração. Diante do mal cometido, mesmo crimes
graves, é o momento de ouvir o pranto das pessoas inocentes espoliadas dos
bens, da dignidade, dos afectos, da própria vida. Permanecer no caminho do mal
é fonte apenas de ilusão e tristeza. A verdadeira vida é outra coisa. Deus não
se cansa de estender a mão. Está sempre disposto a ouvir, e eu também estou,
tal como os meus irmãos bispos e sacerdotes. Basta acolher o convite à
conversão e submeter-se à justiça, enquanto a Igreja oferece a misericórdia. (...)"
Papa Francisco
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