quinta-feira, 28 de fevereiro de 2008
Uma história deliciosa
quinta-feira, 7 de fevereiro de 2008
As incertezas da mudança climática
John R. Christy, um dos cientistas que trabalham no Painel Intergovernamental sobre Mudança Climática (IPCC), não tem tanta segurança como Al Gore no que respeita às mudanças climáticas.
Num artigo publicado em The Wall Street (1 de Novembro 2007), explica que os prognósticos acerca do aquecimento da Terra e suas consequências são, meramente, hipotéticas.
Christy é director do Centro de Ciências da Terra na Universidade de Alabama e membro da equipa de cientistas do IPCC que, com Al Gore, recebeu o Nobel da Paz de 2007.
O IPCC e Al Gore foram premiados por difundir a mensagem de que a temperatura da Terra está a aumentar devido a causas humanas:
- o consumo de combustíveis fósseis
- e outras emissões de gases de efeito estufa...
O comité Nobel teceu elogios, a ambos, por alertarem contra uma possível catástrofe e por estimularem mudanças para uma economia de baixo consumo de carvão.
Christy diz que não vê a potencial catástrofe nem a pistola fumegante que assinala a actividade humana como culpável da maior parte do aquecimento que observamos. Mas antes vê uma dependência de modelos climáticos que são úteis, mas que nunca serão uma prova – "a coincidência de que as mudanças na concentração de dióxido de carbono e as temperaturas terrestres se correspondem aproximadamente”.
“Não há dúvida – precisa Christy – de que o dióxido de carbono atmosférico aumenta principalmente por causa da produção de energia à base de carbono”.
O que não está claro são as consequências que daí se podem extrair.
“Alguns continuamos tão sobrecarregados com a tarefa de medir e entender o extraordinariamente complexo sistema do clima, que somos cépticos acerca da nossa capacidade de entender o que está a acontecer e porquê. Sou eu quem agora sente uma certa vergonha quando vejo a presunção com que alguns descrevem a evolução prevista das tendências climáticas nos próximos cem anos, sobretudo quando considero o quão difícil é predizer com exactidão o comportamento do sistema nos próximos cinco dias”.
Não é a primeira vez
Contra as conclusões precipitadas que se costumam ouvir, disse Christy, não é verdade que tudo se deve às acções humanas, pois que todas as mudanças que se observam no clima já aconteceram antes:
- o nível do mar varia continuamente;
- não é a primeira vez que se reduz a casquete polar árctica...
Outra dificuldade que o estudo do clima global apresenta, é a de se poder ter uma perspectiva global, uma vez que grande parte das investigações se baseia em dados obtidos em pontos dispersos da Terra. Por exemplo, uma recente reportagem da CNN, intitulada “Planeta em perigo”, dá muita atenção à diminuição do gelo do Árctico, mas não mencionou o facto de, no mês anterior, a extensão do mar gelado à volta da Antárctida ter alcançado o valor mais alto registado desde que se fazem medições.
Por isso, Christy não acredita que seja tão urgente reduzir as emissões de dióxido de carbono, como atender outras necessidades da humanidade, se se avaliar a realação custos-benefícios.
"Imaginemos", disse, "que no mundo inteiro se iria aplicar a recente lei californiana que obriga a melhorar o rendimento dos automóveis, de modo a que gastem, em média, não mais que 5,5 litros de combustível por 100 quilómetros. O que se conseguiria? Segundo os modelos usados pelo IPCC, o aquecimento previsto no final deste século reduzir-se-ia em 3 centésimas de grau. Ou então se se construíssem mil centrais nucleares para substituir os 10% da produção de energia que actualmente resulta de combustíveis fósseis, conseguir-se-ia uma forte redução de emissões, mais ou menos como se as dos Estados Unidos se reduzissem a metade; de acordo com as projecções elaboradas pelo IPCC, o aquecimento apenas diminuiria 0,1 graus por século.
Em contrapartida, Christy acredita, seguindo Bjorn Lomborg, que haverá muito mais proveito por cada dólar investido para remediar necessidades cruciais no Terceiro Mundo tais como o fornecimento de água potável à população do que investir na redução das emissões do dióxido de carbono. O que importa é analisar e avaliar a relação custos-benefícios!...
“Há que ponderar e comparar as incertas consequências do aquecimento do planeta num futuro distante com os desastres actuais que temos à vista...
Dada a incerteza científica e a nossa relativa impotência no que se refere à mudança climática, o imperativo moral parece-me claro”.
Tradução e adaptação: Maria Helena Henriques Marques
Professora do Ensino Secundário
“Spe salvi” (salvos na esperança),
O Papa indica quatro lugares nos quais a esperança se pode aprender e exercitar.
Outros lugares são o actuar humano e o sofrimento. Também aqui recorda um vietnamita, o mártir Pablo Le-Bao-Thin (1857), que escrevia: “Em meio destes tormentos, que aterrorizariam a qualquer pessoa, pela graça de Deus estou cheio de gozo e alegria, porque não estou só, mas sim que Cristo está comigo”. O Papa afirma que “a grandeza da humanidade está determinada essencialmente pela sua relação com o sofrimento e com o que sofre”.
“Também a capacidade de aceitar o sofrimento pelo amor do bem, da verdade e da justiça, é constitutiva da grandeza da humanidade porque, em definitivo, quando o meu bem estar, a minha incolumidade, é mais importante que a verdade e a justiça, então prevalece o domínio do mais forte; então reinam a violência e a mentira”.
Juízo final
Particularmente sugestivas são as passagens que o Papa dedica ao Juízo Final como lugar de aprendizagem e exercício da esperança. “Já desde os primeiros tempos, a perspectiva do Juízo teve influência nos cristãos, também na sua vida diária, como critério para ordenar a vida presente, como chamada à sua consciência e, ao mesmo tempo, como esperança na justiça de Deus”.
O Papa refere que na época moderna a ideia do Juízo final se desvaneceu. A incompreensão do que significa o Juízo Final demonstra-se no ateísmo dos séculos XIX e XX, e na sua pretensão de estabelecer a justiça no mundo: “Uma vez que não há Deus que crie justiça, parece que agora é o mesmo homem que está chamado a estabelecer a justiça”. Desta premissa, sem dúvida, derivaram as maiores crueldades e violações da justiça.
“A fé no Juízo Final é antes e acima de tudo esperança, essa esperança cuja necessidade se tornou evidente precisamente nas convulsões dos últimos séculos. Estou convencido de que a questão da justiça é o argumento essencial e o argumento mais forte em favor da fé na vida eterna.
Tradução e adaptação: Maria Helena Henriques Marques
Professora do Ensino Secundário
terça-feira, 5 de fevereiro de 2008
O matrimónio está a salvo; o homem em perigo
(Ricardo Benjumea)
Passará esta geração à história como a que destruiu o matrimónio? Não.
Em “The Meaning of Marriage. Family, State, Market and Morals”, editado por Robert P. George y Jean Bethke Elshtain, um grupo de especialistas propõe-se abordar este tema submetendo, todos os postulados, à prova. A premissa é que “falta rigor intelectual” às partes nesta discussão por demais influenciada por preconceitos ideológicos e por excesso “moralista”. A aprovação por via judicial do chamado “casamento homossexual” no Estado de Massachusetts gerou, nos Estados Unidos, o “debate público mais polémico das últimas décadas”, no dizer Elshtain, professora de Filosofia Política.
I – A noção de matrimónio não é indiferente
No prefácio, Jean Bethke Elshtain apresenta uma linha argumental que se repete em vários ensaios: toda a sociedade tem tido uma concepção determinada do matrimónio, que experimentou variações no tempo. “Contudo, a flexibilidade tem limites”, e sempre existiram características comuns, que certas sociedades, culturas e religiões souberam realizar, proteger e potenciar melhor que outras.
O matrimónio é, em todo o caso, a união de um homem e uma mulher, e a mais adequada para procriar e educar os filhos,bem como moralizar o comportamento sexual humano.
Roger Scruton, da Universidade de Buckingham, sustenta que o matrimónio sempre foi mais que um “contrato para se viver juntos”. “Um casamento é, antes de mais, um rito de passagem de uma condição social para outra” que tem, desde as suas origens, “uma aura sagrada” inclusivamente quando, com o direito romano, surgiu o matrimónio civil, nunca equiparável a um contrato.
David F. Forte analisa as características do vínculo matrimonial ao longo da história e chega à mesma conclusão.
Já Aristóteles tinha também descoberto que a forma de matrimónio determina o tipo de sociedade, e que “ os bárbaros não possuíam uma pólis porque tinham famílias imperfeitas, onde a mulher era escrava do marido”.
Não é indiferente, ao desenvolvimento do potencial humano, a definição que se quiser dar desta instituição, tal como não o é viver sob uma tirania ou sob um governo justo.
Segundo Scruton, a união matrimonial chegou à sua máxima perfeição com o cristianismo: “os pais compreenderam a sua relação para com os filhos como ‘ágape’ (a forma mais elevada de amor)”, ao mesmo tempo que “a combinação de consentimento livre com o componente espiritual converteu o sacramento do matrimónio na forma mais elevada de amizade”. Nem sempre os esposos viveram assim a sua relação, mas os princípios estavam definidos, e o papado moderno soube depurar o sacramento e denunciar os costumes que o profanavam.
II – Nas mãos do Estado
Simultaneamente, surgiu uma contestação filosófica e cultural de primeira ordem. A ilustração escocesa e, depois, a francesa introduziram, pouco a pouco, a concepção do matrimónio como contrato, e com ele o Estado se arrogou da potestade de fazer e desfazer uma instituição que apenas, tangencialmente, tinha pertencido à sua esfera de poder.
Como expõe Jennifer Roback Morse, foi esta a lógica que abriu as portas a todas as formas experimentais de “família” que hoje conhecemos, e tem conduzido à própria dissolução do matrimónio. Em muitos lugares, entre eles, a Espanha, a união matrimonial está ainda menos protegida que um contrato. Do lado contrário, “ o juiz estaria muito interessado em saber quem o rompeu e porquê”. Morse acredita que esta tendência pode chegar a devastar a sociedade desde os seus fundamentos, e se o processo ainda não se precipitou, com toda a sua força, é devido à influência de muitas pessoas viverem de acordo com uma concepção do matrimónio distinta da que o Estado propõe.
III – A perda de significado do matrimónio só pode conduzir ao empobrecimento da vida em comum.
Para reflectir sobre esta realidade, sugere-se uma imagem ilustrativa:
§ Uma empresa encomenda um camião de cimento, mas este não chega, e todos os empregados passam o dia desocupados. O transportador, ao ser chamado à atenção, alega que não lhe apeteceu respeitar o contrato, dizendo: “Este é um país livre! Não sou teu escravo”.
Extrapolada esta forma de actuar ao matrimónio, o que é que aconteceria?
§ “Exactamente o que teria previsto um economista: menos filhos, menos qualidade e mais custos”. E no final, mais Estado e mais impostos, uma vez que alguém deve resolver os problemas que, anteriormente, o costume e a lei educavam e incentivavam para que fossem resolvidos dentro do matrimónio.
Quando chegam esses problemas, diga o que se disser a lei, não resta mais remédio que admitir que o matrimónio não é apenas uma coisa de dois. Maggie Gallagher, presidente do Institute for Marriage and Public Policy, sintetiza um dos aspectos mais politicamente incorrectos hoje: os efeitos da ruptura matrimonial – e, mais ainda: da inconsistência das uniões de facto – para a mulher e para os filhos, e a importância de haver um rol masculino e outro feminino na educação dos filhos.
IV – Os fundamentos biológicos
A questão sobre o matrimónio é também uma questão acerca do ser humano.
Robert P. George, de Princeton, põe à prova a tese do sociólogo James Q. Wilson que concebe o matrimónio como “aliança reprodutiva”, e diversas outras ideologias que questionam o núcleo matrimonial, desde os pensadores ilustres até à teoria de géneros. Há em qualquer caso, uma questão prévia que exige resposta.
Se partirmos do princípio de que o matrimónio é mais uma invenção social, ou que é uma criação do Estado, as consequências serão bem diferentes do que se chegarmos a demonstrar que nasce por necessidade do mesmo homem: da sua divisão sexual, da sua natureza social e moral e do desamparo com que nasce.
Este último aspecto, exposto em quase todos os ensaios, acarreta um paradoxo nada fácil de assumir para a mentalidade ocidental contemporânea: a situação da radical dependência com que nasce o homem e que é também o fundamento biológico da sua liberdade e da sua sociabilidade. Até as espécies animais evoluídas têm uma ínfima margem de manobra diante dos ditames da natureza física. O bébé, contudo, nasce incompleto, porque não dispõe de um manual de instruções nos seus genes. Tem é acesso ao que aprenderam milhares de milhões de seres humanos que nasceram antes dele. E tem, em primeiríssimo lugar, o exemplo dos que o rodeiam que talvez, inconscientemente, lhe transmitem um legado cultural de muitas gerações bem como uma panóplia de valores essenciais pelos quais se poderá orientar ou não, em função da coerência e da autenticidade que perceber na forma de viver dessas pessoas. Por isso é livre, e por isso está aberto ao sentido, à transcendência e à moral. Mas há um requisito para que o bebé se converta num adulto livre: necessita da presença constante de outras pessoas. A conclusão, pela negativa, é que não existe o homem solitário.
V – A favor da criança
Mas há agora outra resposta no sentido positivo: sabemos com certeza que o ingrediente necessário para o desenvolvimento saudável de uma criança é o clima de amor e de estabilidade. Ora, são estas as necessidades do bébé que, dificilmente, poderão ser satisfeitas pelo Estado ou pelo mercado. No entanto, salvo raras excepções, o homem e a mulher que o conceberam estão capacitados para o fazer.
Assim se cria uma nova realidade: a família que adquire uma identidade própria muito para além da soma dos seus membros. Por tudo isto, é este o lugar onde se recebe a primeira e fundamental educação.
Os deputados norte-americanos, explica Forte, tiveram muito presente esta ideia da família como escola da virtude, ideia a que, na Europa Continental, Montesquieu não foi alheio: a família é a instituição fundamental para educar os indivíduos na virtude pública necessária para a sustentação de uma república, em contraste com o governo despótico, regido pelo medo.