quarta-feira, 20 de junho de 2007

Vontade: Força, Poder, Liberdade... Senhorio!


O processo de humanização do ser humano, consiste no desenvolvimento de um recto comportamento, que respeite e cumpra os deveres específicos da natureza humana. Esta humanização não se alcança sem auto exigência, sem esforço pessoal, sem a educação da vontade.


A educação é uma perfeição que se adquire através do desenvolvimento adequado das faculdades especificamente humanas: memória, inteligência, vontade, afectividade. Mas toda a educação se faz através da vontade, na medida em que comanda toda a vida psíquica. A bondade e utilidade das outras faculdades e capacidades dependerá do modo como sejam utilizadas pela vontade.
O problema crucial da educação é a educação da vontade.


Vontade que deve ser educada sempre, em todas as épocas e em todas as pessoas. Na sociedade actual – sociedade de um modo geral permissiva – não se valoriza a vontade e, por isso, não se educa.


Esta omissão educativa tem consequências por demais evidentes na conduta das crianças e dos jovens. Muitos deles são pessoas de vontade débil, com as seguintes manifestações:


· Incapacidade para tomar decisões pessoais (indecisão e dúvidas permanentes);
· Incapacidade para actuar;
· Incapacidade para continuar a tarefa iniciada.


Essa falta de vontade conduz à fuga dos problemas habituais que surgem em qualquer vida, para se refugiarem em múltiplas formas de evasão:


· Música estridente
· Velocidade
· Álcool
· Droga, etc.


Não dispõem de condições para enfrentar problemas, para conceber e elaborar projectos e aceitar compromissos. Vivem o momento presente e evitam tudo o que lhes pode complicar a vida. A aspiração máxima é a de uma “vida tranquila”. Mas por experiência todos constatamos que a vida sem problemas ou não existe ou não é vida.


A ausência da educação da vontade tem vindo a originar actualmente diversas alterações e doenças da vontade, como por exemplo: a abulia, apatia, dispersão; a astenia (cansaço anterior ao esforço); a ansiedade, a conduta em função do capricho... Tudo isto tem repercussões imediatas e a médio e longo prazo.


Em primeiro lugar, são jovens que sempre argumentam desculpas. Manifestam um relaxamento generalizado no esforço para aprender.


As causas desse relaxamento residem, em grande parte, na menor exigência dos pais, associada à influência da televisão, que oferece uma informação passiva em que tudo é fácil... Parece que tudo “vem dado” pelos vídeo-jogos, Internet, etc.. Um mundo cada vez mais cómodo que exige menos esforço físico, quase reduzido ao digital, à ordem dada em voz alta, convida à lassidão...


Os meios de comunicação social desempenham um papel negativo; há programas medíocres que criam nos jovens falsas expectativas de conseguir, sem esforço, uns objectivos ambiciosos. Eles, sem dúvida, comprovam que na vida real há que trabalhar muito para atingir as metas, e que nem sempre irão conseguir o que desejam.


O esforço aprende-se, ensina-se e valoriza-se.


É necessário exigir desde muito cedo a colaboração e a prática da superação. Associar o esforço com a recompensa. Temos de educar para o esforço colectivo começando pelo nosso.
Somos modelos de aprendizagem, devemos ter muito em conta os nossos comportamentos, ensinar com o exemplo; se lhes chamamos a atenção por algo, deveríamos pensar se nós faremos o mesmo; se damos instruções, poderiam ir acompanhadas de demonstrações práticas.
Dar exemplo, sim! E educar no esforço diário, no crescente fortalecimento da vontade no que se refere ao aspecto afectivo, intelectual, desportivo, cultural, psicológico ou espiritual.


Há que aumentar o nível de exigência pedindo-lhes autonomia e responsabilidade.
No que à escola diz respeito, é necessário estabelecer metas, inocular o prazer de aprender, tornar o currículo atractivo, o poder saber mais, o entender as coisas, o poder explicá-las...


A valorização dos pais é essencial. É um erro dos adultos manifestar que o seu trabalho é mais meritório, intenso e esgotante que o dos adolescentes. Apreciemos o seu esforço, o seu progresso. Pensemos que o rendimento académico é importante, mas não é a balança que calibra a importância global dos jovens.


A prática desportiva é um hábito magnífico para desenvolver o esforço e a constância. Mas cabe aos pais e outros educadores a importante missão do desenvolvimento da vontade das crianças e jovens no sentido do dever. Quando isto não foi feito, é urgente induzir esses valores, privando-os de algumas comodidades e benefícios. E sendo intolerantes com a preguiça.


Não se pode resolver tudo aos filhos; deve-se antes propor que se esforcem de modo a serem capazes de resolver as suas próprias dificuldades.

Deve-se afastar a enganosa e simplista mensagem de que o êxito só se consegue pela “sorte” e desmistificar o seu conteúdo.

Para conseguir o êxito, é necessário acreditar em si próprio, aplaudindo o valor do esforço e da superação.


Maria Helena Henriques Marques
Professora do Ensino Secundário

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