segunda-feira, 13 de agosto de 2012

Velhos e novos registos da História...


        Viajando pelos caminhos do passado, somos levados a constatar que cada época se tem caracterizado por uma determinada barbaridade…E apesar da visível e magnífica evolução da humanidade em tantos aspectos, surpreende-nos, de forma confrangedora, o retrocesso civilizacional que se verifica em matérias de Direitos Humanos.
      Ao longo dos séculos, a História foi registando diversas ocorrências de “escravaturas” sob formas diferentes, praticadas por civilizações em que os homens dessas épocas, as vêem como acontecimentos normais.
      Aconteceu também entre nós, durante quatro séculos (séc. XV a finais do séc. XIX), com a escravatura propriamente dita; com o desconhecimento da igualdade entre homem e mulher, etc. e assim acontece hoje com o absurdo do aborto e outras aberrações aviltantes…
      Mas decorridos que sejam mais alguns anos, os vindouros olharão o século XX e XXI com assombro e, perguntar-se-ão, como fomos capazes de conviver pacificamente com milhões de vidas humanas inocentes, eliminadas no seio materno ao abrigo de leis iníquas, na presença da Ciência e de uma sociedade indiferente ao drama imenso da barbárie violenta, mais ou menos silenciosa e contínua!...
      Nos últimos tempos, têm-nos chegado ecos de alguns países, através dos meios de comunicação social, de relatos comoventes acerca do que tem acontecido nas chamadas “clínicas abortistas ”: diz-se que ali, e noutros lugares semelhantes, – infelizmente também entre nós – se aplica com frialdade a “pena de morte” a inocentes indefesos através de métodos industriais, a troco de dinheiro! Quanto tempo durará esta comoção?! Quanto tempo levará a nossa sociedade a esquecer-se destas revelações? De um modo geral, fará qualquer sentido o aborto?! Estará esta realidade, de acordo com o espírito do nosso tempo? Contribuirá ela para uma sociedade mais feliz e mais justa, mais respeitadora do outro, mais solidária e mais desenvolvida que dizemos querer construir?!
      Recordamos que, felizmente, fomos um dos primeiros países a abolir a escravatura e a pena de morte por crimes civis! No entanto, temos andado nos últimos tempos a `reboque` de outros como os Estados Unidos da América, a Inglaterra, Espanha, etc., no concernente a direitos fundamentais, nomeadamente no que toca ao direito à vida…
      Para os nossos dias, o aborto é, como sabemos, o preço da “libertinagem sexual”; é como a escravidão para os antigos que não podiam conceber uma sociedade sem escravos! Assim, diante destas realidades, podemos concluir que, nestes temas, o argumento não actua como arma da razão para esclarecer-se, mas antes como recusa do coração para converter-se...
      A luta contra o aborto que vai progredindo em muitos países, deve passar por recuperar uma visão responsável da sexualidade... Não restam dúvidas de que será um caminho mais árduo do que o empenho directo para mudar o Código Penal em matéria de aborto, mas parece ser o único possível!
      Acabar com a escravidão levou séculos de esforço pedagógico e antropológico acerca da dignidade universal de todos os seres humanos; acabar com o aborto levar-nos-á os anos que sejam necessários de esforço político e pedagógico sobre a nobreza e dignidade da sexualidade humana. Quanto mais depressa nos ponhamos a caminho, mais cedo chegaremos à meta. E, enquanto avançamos, reduzamos tanto quanto possível, o terrível ambiente de desumanidade legalizada por uma pequena minoria, que promoveu essa lei infame na nossa sociedade!
      Actuar com todos os meios lícitos disponíveis contra a bárbara instrumentalização da vida humana, é e será, necessariamente, a maior e mais nobre causa mobilizadora dos novos Homens e Mulheres do nosso tempo, qualquer que seja a sua matriz política, religiosa ou cultural.
      É, sem dúvida, o desafio prioritário que nos anima! …
                                                                                                Maria Helena Henriques Marques

                                                                                                                    Professora Ensino Secundário