quinta-feira, 19 de fevereiro de 2009

TV atrapalha o sono das crianças



Em reportagem de Jeffrey Kluger, a edição on line da revista Time (02/06/06) publicou que as crianças dormem melhor se assistem menos televisão.
Essa foi a conclusão de um novo estudo finlandês, veiculado no Journal of Sleep Research. Os pesquisadores analisaram 321 pais de crianças entre os cinco e os seis anos, com o objectivo de identificar os hábitos familiares e relação com a TV bem como os efeitos que causam no sono das crianças.
De acordo com a reportagem, todas as famílias do estudo tinham pelo menos um televisor em casa e mantinham-no ligado durante cerca de 4,2 horas por dia. As crianças assistiam à volta de 1,4 horas e estavam expostas passivamente a outras 1,4 horas. Em 21% dos lares, as crianças tinham TV no quarto.
O estudo ressaltou que quanto mais tempo a criança assiste ou está exposta às imagens televisas, mais problemas terá para dormir, acordar e evitar o cansaço durante o dia.
Contudo, os especialistas afirmam que nem todo modo de assistir TV tem o mesmo impacto. Assistir sozinho ou durante o horário de dormir causa maior mal.
De acordo com o estudo, os pais devem limitar o número de horas que as crianças assistem TV e manter o aparelho desligado o máximo possível.


Eduardo Gama (adaptado), in http://www.portaldafamilia.org/

Auto-estima



A auto-estima é a maneira como a pessoa se vê, isto é, o conceito que tem de si mesma. A auto-estima não está formada somente pelo que podemos ver no espelho, mas também inclui como se se sente em relação às próprias capacidades, qualidades, limites e amizades. Consiste em querer bem a si mesmo, valorizar-se e aceitar-se, com o seu corpo, a sua personalidade, qualidades, defeitos e com a sua experiência de vida.
A imagem corporal e a auto-estima
A imagem corporal que se tem durante a puberdade envolve três factores problemáticos que fazem com que um jovem se sinta impopular, inseguro ou sem confiança em si mesmo:
1• A aparência física: quando chegamos à puberdade, muitas vezes não estamos contentes com nosso corpo ou, como se fosse pouco, aparecem algumas espinhas na face. Estas mudanças podem trazer insegurança, mas é preciso saber que isto acontece com todas as pessoas do mundo que têm a mesma idade.
2• Os problemas criados pelo desenvolvimento das características sexuais secundárias (erecções, menstruação, etc.).
3• Imagem corporal, identidade, auto-estima: isto fica a dever-se ao facto de ainda cada jovem não saber bem quem é nem quem será no futuro; por isso as crise de identidade geram baixa auto-estima. Quanto à imagem corporal, por causa das constantes mudanças, cada um ainda não consegue assimilar toda esta transformação.A satisfação com a imagem corporal vai ser atingida conforme puderem ir aceitando e conhecendo as habilidades que cada um possui.Por isso, o reconhecimento do próprio corpo, a aceitação e o desporto favorecerão a auto-estima e a segurança.


Adaptação do original de Diana García, inhttp://www.portaldafamilia.org

segunda-feira, 16 de fevereiro de 2009

Valores - Discrição

Nos dias de hoje, é comum pensar-se que aqueles que são famosos têm mais valor do que a generalidade das pessoas. Mas tudo não passa de ilusão. Aqueles que têm verdadeiro valor não são os que se evidenciam em programas medíocres ou em espectáculos desportivos alienantes, mas os que se esforçam, de um modo muitas vezes anónimo, por tornar melhor o mundo em que vivem.



Como posso ajudar?

Quando isto aconteceu, Rom Dass era um jovem americano de visita ao Japão. Praticava Aikido, uma arte marcial japonesa. Sentia-se orgulhoso das suas capacidades e estava ansioso por pô-las em prática.
O comboio trepidava e oscilava pelos subúrbios de Tóquio, numa sonolenta tarde de Primavera. A nossa carruagem ia relativamente vazia – apenas algumas donas de casa com os filhos a reboque e alguns velhotes que iam às compras. Eu olhava distraído para as casas monótonas e para as sebes poeirentas.
Numa das estações, as portas abriram-se e, de repente, a tarde calma foi perturbada por um homem que praguejava violenta e incompreensivelmente. Cambaleou para dentro da nossa carruagem. Era alto, vestia um fato-macaco e estava bêbedo e sujo. Aos berros, deu um soco a uma mulher que trazia um bebé. O golpe fê-la rodopiar e cair no colo de um casal de idade. Foi um milagre o bebé não se ter magoado.
Aterrorizado, o casal levantou-se e precipitou-se para a outra extremidade da carruagem. O operário tentou pontapear o traseiro da senhora de idade mas falhou. Isto enfureceu-o de tal forma que agarrou o varão de metal do centro da carruagem e tentou arrancá-lo do lugar. Pude ver que tinha um corte numa das mãos e que sangrava. O comboio pôs-se subitamente em marcha, com os passageiros transidos de medo. Mantive-me firme.
Naquela altura, há cerca de vinte anos, eu era jovem e estava em muito boa forma. Ao longo dos últimos três anos tinha praticado oito horas de Aikido, quase diariamente. Gostava de agarrar os adversários e de os derrubar. Considerava-me um duro. O problema é que nunca testara a minha arte marcial em combates reais. Enquanto alunos de Aikido, não nos era permitido lutar.
― O Aikido — dizia constantemente o meu professor — é a arte da reconciliação. Quem tem a intenção de lutar quebra a sua ligação com o universo. Se tentarmos dominar as pessoas, já estamos derrotados. Queremos resolver conflitos, não criá-los.
Eu prestava atenção ao que ele dizia. Esforçava-me. Cheguei até a atravessar a rua para evitar os chimpira, um dos muitos bandos de jovens japoneses marginais que se juntam nas estações de comboio. A minha paciência enchia-me de orgulho. Sentia-me simultaneamente forte e santo. Contudo, no meu coração, ansiava por uma oportunidade totalmente legítima em que pudesse salvar os inocentes e ao mesmo tempo acabar com os culpados.
“É agora!”, disse a mim próprio enquanto me levantava. “Há pessoas em perigo. Se eu não agir depressa, alguém ficará magoado.”
Ao ver-me levantar, o bêbedo viu em mim um alvo contra o qual dirigir a sua raiva.
― Eh! ― gritou ― Um estrangeiro! Precisas de uma lição japonesa de boas maneiras.
Agarrei-me à correia da carruagem e olhei-o fixamente com desprezo e rejeição. Já tinha planeado arrumar de vez com aquele palerma, mas teria de ser ele a tomar a iniciativa. Como queria enfurecê-lo, juntei os lábios e atirei-lhe um beijo insolente.
― Muito bem! Vou dar-te uma lição — gritou. Preparou-se para me atacar.
Uns segundos antes dele se mexer, alguém gritou muito alto: ― Eh!
Lembro-me daquele som estranhamente alegre, luminoso. O som que soltamos quando encontramos algo que tínhamos procurado com afinco: ― Eh!
Virei-me para a esquerda e o bêbedo para a direita. Olhámos espantados para um Japonês velho e pequenino. Era um cavalheiro magro, que devia ter setenta e tal anos, e que estava vestido com um quimono imaculado. Não me prestou atenção, mas sorriu encantadoramente para o operário, como se tivesse um segredo muito importante e agradável para partilhar com ele.
― Venha cá ― chamou o velho. ― Venha cá falar comigo. ― E acenou ligeiramente.
O grandalhão fez o que ele disse, como se estivesse enfeitiçado. Plantou-se em frente do homem e gritou:
― Por que diabo tenho de falar consigo?
O bêbedo estava agora de costas voltadas para mim. Se o seu cotovelo se mexesse um milímetro que fosse, dava cabo dele.
O cavalheiro continuava a sorrir para ele.
― Que “teve” a beber? ― perguntou cheio de interesse.
― “Tive” a beber sake ― rosnou o operário, cobrindo-o de perdigotos ― e não é nada consigo!
― Oh, mas é maravilhoso, mesmo maravilhoso! É que eu também adoro sake. Todas as noites, eu e a minha mulher (ela tem 76 anos) aquecemos uma pequenina garrafa de sake, levamo-la para o jardim e sentamo-nos num velho banco de madeira. Admiramos o pôr- do-sol e vemos como se está a dar o nosso diospireiro. Foi plantado pelo meu bisavô e preocupa-nos se recuperará das tempestades de gelo do último Inverno. A nossa árvore tem-se portado melhor do que eu esperava, sobretudo tendo em conta a má qualidade da terra. É um grande prazer olhar para ela enquanto tomamos o nosso sake e desfrutamos do entardecer, mesmo quando chove.
Olhou para o operário, com os olhos a brilhar.
À medida que tentava seguir a conversa do velho senhor, a expressão do bêbedo começou a suavizar. Os punhos descerraram-se lentamente.
― É, eu também gosto muito de diospireiros…
A voz foi-se apagando.
― Pois é ― anuiu o velho senhor ― e tenho a certeza de que também tem uma mulher maravilhosa.
― Não, a minha mulher morreu.
Pouco a pouco, e à medida que se balouçava ao ritmo do comboio, o grandalhão começou a soluçar:
― “Num” tenho mulher, “num” tenho casa, “num” tenho emprego. Tenho tanta vergonha.
As lágrimas corriam-lhe pela cara abaixo e um espasmo de desespero percorreu-lhe o corpo.
Chegara a minha vez. Ali especado, com a minha inocência lavada de fresco e a minha arrogância de democrata militante, senti- me, de repente, mais sujo do que ele.
Logo de seguida, o comboio chegou à minha estação. Enquanto as portas se abriam, ouvi o velho senhor dizer de forma compreensiva:
― Meu Deus, que situação tão difícil. Sente-se aqui e fale-me disso.
Olhei-os pela última vez. Enquanto o comboio se afastava, sentei-me num banco. O que quisera fazer com os músculos, tinha sido conseguido com palavras gentis. Acabara de ver o Aikido testado em combate, e a sua essência era o amor. Teria de praticar a arte com um estado de espírito totalmente diferente. Ainda demoraria muito tempo até poder falar de resolução de conflitos.

Ram Dass e Paul Gorman
M. Clark; E. Briggs; C. Passmore (eds.)Lighting candles in the darkPhiladelphia, FGC, 2001tradução e adaptação

Valores - Solidariedade


A ausência de diálogo leva à solidão. Muitas pessoas deprimidas acabaram no suicídio por não terem encontrado ninguém capaz de se interessar pelos seus problemas e de lhes incutir alguma esperança. O egoísmo, associado à mecanicidade do dia-a-dia, não permite a atenção ao outro, o gesto de delicadeza, a palavra que encoraja, a manifestação de afecto. Mas, sem isso, a vida torna-se árida.



Laura Flor

— Laura Flor, vem cá!
A Laura veio e era como uma flor. Delicada e suave flor igual ao nome.
Depois, foi a Maria Clara de tranças belas, castanhas, nariz arrebitado, sorriso claro – e Clara se chamava. A apertar a bata, na cintura, um cinto feito de papéis de lustro de cor, arco-íris naquela cintura de menina.
Depois, a Maria Odete, figurinha que parece ter saído de uma jarra, sempre com muitos cuidados a andar, a falar, jeito que lhe ficou de estar dentro da jarrinha. Uns olhos orientais, um sorriso que é quase choro, franjinha negra sobre os olhos à flor da pele.
— Maria Odete, se eu fosse ao Oriente e encontrasse uma flor, lembrava-me logo de ti!
— Pois é! Ela tem os olhos em bico! — diz uma companheira, pronta a tirar conclusões.
Maria Odete começa a chorar. A caírem-lhe as lágrimas devagarinho, brilhantes, também com cuidado, lentas, luminosas.
Eu não sei o que vou dizer, mas digo. Não sei o que disse, mas Maria Odete sorri. Devagarinho, também as lágrimas acabam de cair.
A que disse que a Maria Odete tinha os olhos em bico é tal e qual uma maçã dourada, redonda, toda muito por igual: maçã suspensa, nítida, decidida.
As meninas todas olharam com admiração a flor do Oriente.
Eu é que não devia dizer estas coisas, eu é que tenho a culpa – pensar alto. Mas havia reparado ontem na Maria Odete a dizer-me que não tinha livro nenhum.
— Foi tudo na cheia de ontem, minha senhora…
— E nunca mais os viste?
— Nunca mais! A minha bata, apanhei-a hoje na valeta… Até o dinheiro que ficou está a secar, preso por molas.
Diz isto com uma vozinha de quem canta dentro da tal jarra.
— Sabe a senhora? As minhas vizinhas dizem que vão reclamar ao Ministro…
—…?
— Porque não arranjaram aquele cano… É por isso que eu hoje não trago bata nem tenho livro…
— …
— … nem tenho dinheiro para comprar outro…
Diz isto tudo muito serena, com um ar de quem está a contar a história mais natural deste mundo. História tão cinzenta que na voz dela até parece um conto de fadas ao contrário.
A menina linda com os olhos à flor da pele, transparentes e escuros ao mesmo tempo. Puros. A infância desarmada.
— Senhor Ministro, devia ter mandado arranjar o cano. Não tenho livro, não tenho bata, o pouco dinheiro está a secar, preso por molas…
Tão serena. As lágrimas vagarosas de hoje – como meninas que saíram a passear para uma ilha imaginária.
Senhor Ministro, desça abaixo ao seu jardim…
Mas o Senhor Ministro não ouviu. Não desceu. Sabe lá o que é ter o pouco dinheiro preso por molas e os livros a irem na cheia.
E deve ter aprendido na escola, no liceu, que Camões salvou os Lusíadas a nado. E que deixou o fim do poema para Laura Flor escrever. Com uma peninha de rouxinol.



Matilde Rosa AraújoAs botas de meu paiLisboa, Livros Horizonte, 1977

Valores - Perseverança



Há capacidades que ficam por desenvolver devido à falta de perseverança. Os verdadeiros sucessos são feitos de esforços, de desilusões, de novas tentativas e, por vezes, de muitos sacrifícios. Se as diversões forem colocadas em primeiro lugar, é provável que os frutos a colher se tornem bastante amargos.


A pedra no caminho


Conta-se a lenda de um rei que viveu há muitos anos num país para lá dos mares. Era muito sábio e não poupava esforços para inculcar bons hábitos nos seus súbditos. Frequentemente, fazia coisas que pareciam estranhas e inúteis; mas tudo se destinava a ensinar o povo a ser trabalhador e prudente.
— Nada de bom pode vir a uma nação — dizia ele — cujo povo reclama e espera que outros resolvam os seus problemas. Deus concede os seus dons a quem trata dos problemas por conta própria.
Uma noite, enquanto todos dormiam, pôs uma enorme pedra na estrada que passava pelo palácio. Depois, foi esconder-se atrás de uma cerca e esperou para ver o que acontecia.
Primeiro, veio um fazendeiro com uma carroça carregada de sementes que ele levava para a moagem.
— Onde já se viu tamanho descuido? — disse ele contrariado, enquanto desviava a sua parelha e contornava a pedra. — Por que motivo esses preguiçosos não mandam retirar a pedra da estrada?
E continuou a reclamar sobre a inutilidade dos outros, sem ao menos tocar, ele próprio, na pedra.
Logo depois surgiu a cantar um jovem soldado. A longa pluma do seu quépi ondulava na brisa, e uma espada reluzente pendia-lhe à cintura. Ele pensava na extraordinária coragem que revelaria na guerra.
O soldado não viu a pedra, mas tropeçou nela e estatelou-se no chão poeirento. Ergueu-se, sacudiu a poeira da roupa, pegou na espada e enfureceu-se com os preguiçosos que insensatamente haviam deixado uma pedra enorme na estrada. Também ele se afastou então, sem pensar uma única vez que ele próprio poderia retirar a pedra.
Assim correu o dia. Todos os que por ali passavam reclamavam e resmungavam por causa da pedra colocada na estrada, mas ninguém lhe tocava.
Finalmente, ao cair da noite, a filha do moleiro passou por lá. Era muito trabalhadora e estava cansada, pois desde cedo andara ocupada no moinho. Mas disse consigo própria: “Já está quase a escurecer e de noite, alguém pode tropeçar nesta pedra e ferir-se gravemente. Vou tirá-la do caminho.”
E tentou arrastar dali a pedra. Era muito pesada, mas a moça empurrou, e empurrou, e puxou, e inclinou, até que conseguiu retirá-la do lugar. Para sua surpresa, encontrou uma caixa debaixo da pedra.
Ergueu a caixa. Era pesada, pois estava cheia de alguma coisa. Havia na tampa os seguintes dizeres: “Esta caixa pertence a quem retirar a pedra.”
Ela abriu a caixa e descobriu que estava cheia de ouro.
A filha do moleiro foi para casa com o coração cheio de alegria. Quando o fazendeiro e o soldado e todos os outros ouviram o que havia ocorrido, juntaram-se em torno do local onde se encontrava a pedra. Revolveram com os pés o pó da estrada, na esperança de encontrarem um pedaço de ouro.
— Meus amigos — disse o rei — com frequência encontramos obstáculos e fardos no nosso caminho. Podemos, se assim preferirmos, reclamar alto e bom som enquanto nos desviamos deles, ou podemos retirá-los e descobrir o que eles significam. A decepção é normalmente o preço da preguiça.
Então, o sábio rei montou no seu cavalo e, dando delicadamente as boas-noites, retirou-se.



William J. BennettO Livro das Virtudes IIEditora Nova Fronteira, 1996